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Kaio

 

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21 agosto 2008

Czech

Hoje e ontem são os dias que compõem o quadragésimo 'aniversário' da intervenção russa em Praga, com os poderes do Pacto de Varsóvia. Mais uma das muitas opressões à liberdade e à soberania cometidas pelo socialismo soviético; então, o que há de tão especial nela?
Há vários fatores: por exemplo, o caso sui generis que eram os tchecos dentre os países da Cortina de Ferro; haviam sido o único a experimentar uma relativamente sólida democracia pluripartidária no Entreguerras. Além disso, leve-se em conta a mentalidade mais liberal que lhe é característica; isso seria inclusive um dos motivos para a divisão do país em 93, considerando-se que a República Tcheca era mais 'independente e subversiva' que a Eslováquia em relação ao regime soviético.
É claro, também, que o fato de ter ocorrido no ano de 1968 colaborou para formar o mito que há por trás da Primavera de Praga. Enquanto, nos países capitalistas, a esquerda estava incendiária e querendo revolução, na Tchecoslováquia a luta era justamente para tentar "humanizar" o socialismo. É verdade, no entanto, que, em ambos os casos, há uma rejeição ao dogmatismo e às atrocidades do modelo propagado pela URSS.
No Ocidente buscava-se em Mao, Fidel ou outro socialista 'alternativo' um novo ícone e paradigma para os "canhotos políticos" - e, como se sabe, anos depois descobriu-se que todos esses ídolos terceiro-mundistas eram tão sanguinários quanto um Stálin da vida. A 'esquerda festiva', que estava em seu apogeu, regia a orquestra das barricadas, frases de efeito e protestos.
Enquanto isso, no Leste Europeu, a tônica era outra: percebia-se claramente que o socialismo soviético era uma cilada, promovendo a igualdade socioeconômica
(em termos, afinal a burocracia do PC era uma verdadeira oligarquia) a custo de violência, perseguição, terrorismo de Estado e supressão da liberdade individual. Aquilo que Dubcek e outros reformistas queriam era justamente aplicar mecanismos que promovessem uma gradual abertura em tal sistema: liberdade de expressão, de circulação e de imprensa, pluripartidarismo e o retorno do investimento em bens de consumo. Porém, o sonho teria de ser adiado até 1989 (ano da Revolução de Veludo), pois aquilo era muito ousado para uma época em que a União Soviética, no auge da Guerra Fria, sentia-se na necessidade de reprimir qualquer agitação em seus países-satélite que prenunciasse instabilidade e os tais valores burgueses.

Milan Kundera retrata muito bem esses tempos tão soturnos em sua obra "A Insustentável Leveza do Ser", a qual estou a ler. Predomina a sutileza, mas às vezes o autor explicita o totalitarismo que tomava contava de seu país natal:
"Aqueles que pensam que os regimes comunistas da Europa Central são obra exclusiva de criminosos deixam na sombra uma verdade fundamental: os regimes criminosos não foram feitos por criminosos, mas por entusiastas convencidos de ter descoberto o único caminho para o paraíso. Defendiam corajosamente esse caminho, executando para isso centenas de pessoas. Mais tarde ficou claro como o dia que o paraíso não existia e que, portanto, os entusiastas eram assassinos. (...)
Tomas acompanhava esse debate (como dez milhões de tchecos) e dizia consigo mesmo que haveria certamente entre os comunistas alguns que não eram assim tão ignorantes. (...) Mas é provável que a maior parte deles não soubesse mesmo de nada. (...) Mas: alguém é inocente apenas por não saber?" (pág. 202)

Mais uma vez, acomete-me o ponto lançado naquela discussão sobre o idiota latino-americano: é muito fácil culpar os outros pelo infortúnio, mas o mais difícil - assumir seus erros e falácias - é exatamente o primeiro passo para readquirir a honestidade intelectual.


Pois bem, é isto que quero começar a fazer. Desejo voltar a ser um livre-pensador. Já que não tenho mais dúvidas (tampouco meus colegas de universidade, que já devem ter se cansado de ouvir minhas pregações) de que o libertarianismo é a teoria em que mais acredito, sendo portanto próxima daquilo que constitui minha visão de mundo, por que não abrir minha mente para novas possibilidades e idéias?
Eu transitava mais desimpedidamente por várias linhas de pensamento entre 2005 e 2006. Até o Anfisismo é um reflexo disso. Acredito que é o momento adequado para retomar essa livre circulação - sem, é claro, renegar minhas idiossincrasias. Posso até usar as metáforas sobre amor de Tomas para que meu ato não vire uma espécie de infidelidade, promiscuidade ideológica, mas apenas experiências despretensiosas.
Enfim, antes que eu continue com trocadilhos infames, boa noite.

 

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