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Kaio

 

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14 setembro 2008

Fechando as comemorações do #500

AMANHÃ #2 - Política e economia são métodos; o objetivo é mudar corações e mentes

Pois é, após uma semana de atraso - afinal, meu plano inicial era colocar os cinco 'capítulos' em um só post - finalmente estou a escrever o quinto tópico ao qual a 500º postagem me levou a refletir.
Antes de mais nada, uma rápida recapitulação. Em Ontem #1, discorri sobre um fato de meu passado recente (o show do Hives) como pretexto para retomar um dos assuntos mais recorrentes no blog: música. Não, aquele show não mudou minha vida, sendo apenas uma boa consequência das preferências tanto artísticas quanto de 'nightlife' que defini para a minha vida.
Ontem #2 tratou sucintamente de um tema mais abrangente: a importância que atribuo ao blog como representação sintomática dos meus últimos três anos. Claro que eu poderia passar mais 5 textos só com esse exercício metalinguístico, mas preferi resumir em cinco parágrafos o quanto eu amo Racio Símio.
Hoje utilizou duas situações contemporâneas (SINUS 2009 e PET/POL) como metonímia de minhas pretensões acadêmicas e até mesmo profissionais. De quebra, deixei vazar algum remorso pelos meus sentimentos tão mesquinhos quanto ao fato tão óbvio de a realidade não ser sempre como eu acho que deveria ser.
Amanhã #1 foi um espaço para discutir o que diabos eu penso e quero com/do Anfisismo, assim como explicitar alguns de seus pressupostos teóricos. É até mesmo o prenúncio de uma arquitetada volta aos posts filosóficos - afinal, até mesmo eu já estou cansado de gastar tantas linhas falando simplesmente da minha "rotina idiossincrática".

O ensaio (?) que vocês estão a ler, Amanhã #2, continuará seguindo a mescla de intimismo e temas 'macro'. Desta vez, falaremos de dois dos meus maiores interesses: política e economia. Para começar, nada mais adequado do que uma adaptação de uma frase de uma dos maiores representantes da política britânica e mundial no século passado: Margareth Thatcher ("Economics are the method; the object is to change heart and soul").

Pensei em várias maneiras de iniciar este post, e decidi pela seguinte: comecemos por uma prolixa exposição de estudos de caso para depois entrar na parte mais teórica:

I) Go for it, GOP!
Pois é, quatro anos mudam muita coisa na vida da pessoa... Nos últimos meses de 2004, eu torci para John Kerry ser o presidente dos EUA. Não exatamente pelo candidato em si, mas por outros motivos, como minha simpatia pelo discurso mais carismático, pop e "voltado para o social" dos democratas, repúdio a George W. Bush (quem diria, até eu segui a modinha de ódio a Bush!) e meu desejo sincero de que acabasse logo a Guerra do Iraque e outras "investidas do imperialismo ianque". Não nego que fiquei frustrado quando os republicanos ganharam aquela eleição, e nem liguei muito para manifestações da imprensa que, outrora, eu acharia ridículas (como a capa da Carta Capital com uma foto de Bush e a manchete "Dane-se o mundo").
Antes mesmo do pleito, eu estava ligeiramente sintonizado com as observações da Caros Amigos de que nenhum dos dois maiores partidos dos EUA prestava, afinal foram logo os democratas que estavam no poder quando se iniciaram certas investidas bélicas (Wilson e a 1ª Guerra Mundial, Roosevelt e a 2ª Guerra, Truman e a Guerra Fria, Kennedy e a Guerra do Vietnã etc.). Ou seja, estive muito próximo do anti-americanismo - até parei de comer no McDonald's durante alguns meses de '04, hehe. Porém, não cheguei a tal absurdo: a despeito de ter continuado a me referir a eles como "estadunidenses" ou "ianques", mantive grande respeito pela história sociopolítica e as grandes personalidades que surgiram nos Estados Unidos.
Como vocês bem sabem, no ano seguinte rompi com os ideais de esquerda que cultivava e comecei uma transição rápida, porém cadenciada, para o libertarianismo de direita. 'Nowadays', já estou mais do que bem assentado no quarto quadrante do espectro político-ideológico.
E então, o que o Kaio de 2008 pensa sobre a política americana? Oras, de uma maneira mais sensata, pois ele já não cai no conto do vigário de que o Partido Democrata é "do bem", ao contrário do que insistem tantos formadores de opinião do planeta inteiro. Aliás, uma análise mais fria dos próprios fundamentos e propostas dos mesmos revelando um claro "populismo" (no que diz respeito a políticos mais "populare(sco)s", com discursos voltados diretamente para as camadas mais pobres, com promessas mirabolantes e demagógicas que constituem o que eles chamam de 'estado previdenciário'). De quebra, tornou-se mais compreensivo, e não é mais intolerante com as posições conservadoras dos republicanos em questões polêmicas, por mais que lamente que eles não sejam "pro-choice" quanto ao aborto, a favor da união civil e da adoção de crianças por casais homossexuais, tolerantes quanto à descriminalização (responsável) de certas drogas e não-intervencionistas na política externa.
Aliás, no caso desta última até vê algum sentido, afinal a agressividade de sua política externa é um mal menor perante a tantos problemas, como o terrorismo internacional e a necessidade de reconstrução de governos e trazer democracia e liberdade econômica para países subdesenvolvidos. Os métodos são questionáveis? Sem dúvidas, mas quando se vê que a situação do Iraque poderia ser muito pior se eles resolvessem 'largar' a intervenção abruptamente, até se vê algum sentido na manutenção da intervenção, defendida por John McCain, com a inegável vantagem de que este parece ser bem menos unilateral e 'mente fechada' que Bush.
Enfim, disse tudo isso para comunicar a seguinte decisão: embora eu seja libertário e discorde de algumas propostas do Partido Republicano (inclusive na economia, pois, embora direitistas, eles encampam certas idéias intervencionistas que podem mais atrapalhar do que ajudar em crises como a do setor imobiliário), estarei do lado deles por um dia: em 4 de Novembro, "I'm with McCain-Palin". Outro dia falo mais sobre como o estilo moderado do maverick, a surpreendente Sarah Palin, e o programa de governo do GOP (Grand Old Party, apelido do PR) faz deles bem mais aceitáveis que a farsa chamada Barack Obama, mas este post já está ficando longo demais e eu ainda não falei nem metade do que pretendia.

II) Eleição sui generis na roça asfaltada
Desde 1988 as eleições para prefeito em Goiânia costumam ser bem equilibradas. Naquela ocasião, Nion Albernaz (PMDB) venceu Pedro Wilson (PT) por 30 a 27%. Quatro anos depois, começa uma sequência de quatro eleições decididas no segundo turno: Darci Accorsi (PT) bate Sandro Mabel (PMDB) por uma margem de dez pontos; em 96, Nion, desta vez pelo PSDB, volta ao poder após superar Luis Bittencourt (outro peemedebista) por 56 a 44%; oito anos atrás, Pedro Wilson derrota Accorsi (agora pelo PTB), com 55% dos votos válidos; Iris Rezende (PMDB), em '04, supera o petista com quase 57%.
Iris, aliás, vinha de duas derrotas históricas: para governador, em 1998 (foi surpreendentemente batido pelo tucano Marconi Perillo, atualmente senador por Goiás), e para senador, em 2002 (por menos de dez mil votos foi superado por Lúcia Vânia). Já setentão, um pouco mais modesto e com vontade de recomeçar seu domínio no estado, ele tentou voltar à prefeitura da capital, três décadas e meia após a primeira experiência no cargo (eleito em 65 e deposto quatro anos depois pelos poderes do AI-5). Foi uma vitória relativamente tranquila, facilitada pela fraca divulgação de Wilson em relação às suas obras durante seus quatro anos de mandato. Com o mesmo apelo populista e personalista de sempre, Rezende entrou no pleito deste ano como franco favorito. A oposição ajudou, com uma base aliada completamente fragmentada que não conseguia chegar em um consenso sobre o candidato. O apoio do PT, que em troca ganhou a vaga de vice na chapa peemedebista foi mais uma ótima notícia para Iris, afinal sabe-se muito bem que o eleitorado petista em Goiânia é relativamente forte, tendo obtido pelo menos 1/4 do eleitorado no 1º turno em todas as eleições desde a supracitada de 88.
Quem concorre contra o 'irismo', então? Os governistas (no âmbito estadual, afinal o governador Alcides Rodrigues é do PP) definiram-se pelo também pepista Sandes Junior, deputado federal e radialista popular. A esquerda mais exaltada lançou Martiniano Cavalcante (PSOL). O 'candidato a último colocado' (mas, bem mais interessante do que o termo possa sugerir) é Gilvane Felipe (PPS), apoiado também pelo PV.
As pesquisas colocam Iris Rezende com cerca de 70% das intenções de voto, contra 15% de Sandes, 2% de Cavalcante e 1% de Gilvane. Ou seja, ceteris paribus, teremos um prefeito reeleito - e com pique para, quem sabe, abandonar o cargo daqui a 2 anos e concorrer ao governo estadual. Infelizmente, minha cidade natal provavelmente terá que continuar a engolir mais do mesmo paternalismo, com a desagradável novidade de que dessa vez em uma duplinha: PMDB-PT; ou seja, se o velhinho tentar ser governador de novo, o vice petista assumirá. Credo.
"Em quem você pretendo votar, KF?" No candidato do PPS, por incrível que pareça. Sim, uma ironia monstruosa está prestes a acontecer: em minha 1ª vez como eleitor, votarei justamente no ex-Partidão! Acho que preciso justificar bem essa decisão extemporânea, não acham? Pois bem, em primeiro lugar Gilvane está em sintonia com o ex-governador Marconi Perillo, que pode ser tudo, menos esquerdista. O próprio Felipe tem uma plataforma bem centrista - não é um liberal, mas está longe do populismo e do planejamento econômico-social (no sentido em que tal expressão é utilizada por Hayek, ou seja, 'no mau sentido') visado pelos seus três adversários. Isso sem falar que, pelo menos pelas entrevistas dele que eu li, ele parece ser alguém confiável. Além de ser professor universitário, ter como público-alvo o eleitorado de classe média, ele foi bem direto ao ponto em algumas considerações. Destaque para três, sendo a primeira uma síntese de seu programa de governo e as outras duas, críticas pertinentes a seus oponentes:

"Mapeei seis grandes temas para que priorizemos: trânsito, transporte coletivo, educação, saúde, cultura e meio ambiente. O caminho da transformação deles em ações concretas é: planejamento, tecnologia e participação. São questões urgentes."

"O fato dele [Iris] não ter se afastado da administração durante uma hora, e veja que ele fez uma cirurgia séria, demonstra o velho centralismo de UDN e PSD. Ele tentou se cercar de pessoas novas, isso é o que ele fez de novo, do ponto de vista político. Mas em termos de inovação mesmo o que Iris fez? Asfalto? Asfalto é inovação desde quando? Isso não é novo."

"A classe média [de Goiânia] hoje se vê no seguinte dilema: votar no pai dos pobres, [Iris Rezende] no rei das empregadas domésticas [Sandes Júnior] ou no líder máximo do proletariado revolucionário [Martiniano]."

Eu sei que ele terá dificuldades para sequer chegar em terceiro lugar, tampouco parece difícil Rezende não faturar a reeleição já no primeiro round. Porém, 'voto pragmático e útil' (neste caso, por exemplo, em Sandes) não é algo que eu irei levar em conta em meu debut como eleitor. Prefiro dar um 'voto ideológico', por mais que ele seja para um candidato que não está exatamente no mesmo espectro de pensamento político que o meu. Ou isso, ou votar nulo. What d'you think?

III) Todos querem ser rei-tor
Já estou muito cansado (afinal, comecei este texto duas horas e meia atrás e até agora não terminei!), então buscarei ser mais sucinto. As eleições para reitor da UnB estão aí, e o cenário não é nada animador. Assim como nas eleições para presidente dos EUA (em que não voto, mas, hã, torço) e prefeito de Goiânia (em que voto), mais uma vez não há candidatos libertários ou pelo menos liberais; logo, novamente tenho que fazer sacríficios e concessões, e escolher o melhor entre os piores.
Quando cinco das seis chapas são esquerdistas, é óbvio que eu escolheria a sexta, por mais que ela seja, segundo seus detratores, 'timothista' (ou seja, interessada em dar continuidade ao estilo administrativo do ex-reitor, Timothy Mulholland, pivô da crise que resultou na invasão da reitoria). Márcio Pimentel, chapa 73, têm propostas que enfatizam pontos que eu também defendo, como meritocracia, ênfase na eficiência administrativa, na estabilidade institucional e em uma universidade ágil e dinâmica, captação de recursos (afinal, qualquer um com um pingo de bom senso sabe que universidades públicas não conseguem sobreviver só com a verba estatal, e é até melhor que seja assim), preocupação com a infra-estrutura, liberdade acadêmica (fundamental!), compromisso com a ligação entre pesquisa, ensino e extensão etc.
Michelângelo, da 72, o único realmente desvinculado de partidos políticos e/ou dos 'governistas', é a minha segunda opção; é 'principista', simultaneamente seu ponto forte e fraco. Jorge Antunes, 74, além de muito parecido com o Mendonça (personagem de Tonico Pereira em "A Grande Família), é extremamente caricato com suas propostas radicais de descredenciamento das fundações, combate à 'mercantilização' e ao 'REUNI neoliberal' (?). Isso sem falar que ele é apoiado explicitamente (a ponto de parecer 'fabricado') pelos comunistinhas do DCE e do Conlutas; ou seja, coisa boa não pode ser. Também temos José Geraldo, 76, professor de Direito que banca o bonzinho, mas é ligado ao PT e ao MST, além de insistir em falar de "ruptura" quando o que a universidade mais precisa é de união. A chapa 71, capitaneada por Maria Ortiz, é a mais inexpressiva de todas, ainda mais quando cai em uma retórica feminista bem rasa. Por último, Volnei Garrafa, 75, é demagogia elevada à enésima potência. Além de contraditório e mal educado, já disse pérolas como "A UnB precisa de um reitor sindicalista." Vade retro!
'Timothista' e reacionário ou não, o fato é que Pimentel é o candidato em quem votarei no dia 17.


E então, gastei estas dezenas de linhas para chegar a que conclusão? De alguma utilidade foram estes exemplos para elucidar minha idéia?
Em primeiro lugar, como não se cansam de salientar há tempos alguns colegas e amigos meus, eu preciso ficar menos preso ao 'mundo das idéias'. Creio que um dos passos para me livrar deste apego excessivo ao idealismo seja justamente votar em políticos não-libertários, mesmo que sejam eles conservadores ou centro-esquerdistas. Não é flexibilidade moral, mas sim capacidade de exercer aquilo de melhor que ação humana proporciona: a liberdade de escolha entre as alternativas - escassas e nem sempre maravilhosas, é verdade - possíveis.
Segundo, é uma maneira de mostrar para mim mesmo que me sinto tão bem com as linhas de pensamento nas quais acredito, a ponto de não cair na ortodoxia, no dogmatismo. Claro que não pretendo abrir mão de princípios como propriedade privada, livre mercado, livre comércio, individualismo ético (ou egoísmo racional) liberdade de expressão, estado-mínimo, democracia representativa e governo limitado por leis. Porém, na medida em que eu encontrar pessoas que discordem, desprezem o mínimo possível tais pontos, posso começar a acreditar que elas estão do meu lado na luta por um mundo melhor.
Terceiro, eu amo demais política e economia, e preciso constantemente relembrar-me que, como diria Max Weber em "A Política como Vocação", só a paixão não é o bastante pois o senso de responsabilidade e proporção é fundamental, também. Logo, um pingo de distanciamento e frieza (no bom sentido) é imprescindível para que eu aproveite a minha vida (não só acadêmica e profissional, como também no 'resto') da melhor forma possível.
Quarto, minha própria produção literária depende de um maior esclarecimento meu em relação à minha realidade. "O quê? Este post não era sobre política e economia? Pipocas! Cadê o pretexto para falar de "(Des)construção Psíquica, hein?" Oras, caro interlocutor, não é porque escreverei um romance que ele não pode ter elementos mais filosóficos e de conotação política. Afinal, meus personagens representam idéias, utopias, maneiras de pensar o mundo. Logo, posso utilizar muito do que aprendi em tais áreas para enriquecê-los - por mais que, por enquanto, eu ainda não tenha descoberto uma boa maneira de fazê-lo... Não por acaso, algumas de minhas leituras neste ano vêm em tal direção: assim que eu terminar "Ação Humana", "A Mentalidade Anticapitalista" (ambos do Mises) e "Falhas de Governo" (Tullock, Seldon e Brady), lá pelo dia 22 ou 23, começarei a ler a gigantesca (900 páginas) obra-prima de Ayn Rand: "Quem é John Galt?" ("Atlas Shrugged", no original). Ela fez um romance panfletário com vários personagens que expressam ideais libertários/objetivistas, e eu acredito que posso aprender muito sobre como encaixar este tipo de caracteres em uma obra de ficção para que ela não fique maçante e pedante.
Por último, algumas palavrinhas antes de me despedir. Continuo consciente de meu "destino manifesto", de minha missão de fazer tudo que me for possível para ajudar o mundo, nem que seja "só" com idéias ou, porventura, também através de práticas. Logo, por mais exagerado que seja o papel que estou a atribuir a mim mesmo, continuo com a confiança de que posso, sim, contribuir para que o século XXI seja realmente tão bom quanto se possa desejar. Boa noite.

 

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