The Future is Mine (ou Aceitando o meu Destino Manifesto)
Gracejos à parte, não vou negar que quero mesmo ir tão longe quanto minha "megalomania psíquica" (não virou nome de livro, mas nem por isso deixará de ser incorporada ao meu vocabulário!) almeja. Tudo bem que é muito provável que meus melhores livros, discursos e atitudes estejam reservados para minha maturidade - quem sabe, só depois dos 40, 50 anos de idade. Isso, no entanto, não me impede de, já os 18, tentar trilhar o caminho que me levará à consecução de meus objetivos.
Sendo otimista, pode ser que, em 2038, quando eu for presidente da mais importante think tank libertária do Brasil e da América Latina, e tiver contribuído com idéias (veja bem, não estou partindo do pressuposto de que serão adotadas imediatamente) para políticas inteligentes de liberalização econômica e respeito aos direitos individuais, e estiver relendo o blog que redigia em minha juventude ("Hum, Racio Símio... pois é, sempre tive sagacidade para escolher os nomes de meus projetos!"), eu venha a rir bastante de meus textos. Porém, ao mesmo tempo constatarei que foi por ter pensado grande desde minha infância intelectual que terei conseguido chegar tão longe.
Ok, faltam trinta anos para que isso aconteça, então... mãos à obra!
E então, por onde começar?
Ah, sim, atacando três bons e velhos alvos: política, filosofia e literatura. Tangenciar economia, música e cinema também vale, mas, por enquanto, os três são atores coadjuvantes no roteiro do filme de minha vida.
Comecemos por aquela que, sob um viés meramente academicista, eu estaria mais legimitado a discutir. Nos próximos posts, falo sobre o que, jocosamente, poderia chamar 'amor ao saber' e 'belas letras'.
Por mais que tenha passado por isso desde que aderi a tal corrente ideológica, ainda não estou farto de ouvir as pessoas dizerem que o libertarianismo, por melhor que seja, é "inútil para o mundo atual", "sem aplicabilidade", "utópico", "um conceito que pode ser aplicado da pior maneira possível", "não traz soluções para os problemas sociais", "exigiria uma sociedade evoluída demais" etc.
Como não sou tão profundo quanto gostaria de ser, farei o seguinte: tentarei refutar de maneira bem rasa cada um destes argumentos, ao mesmo tempo que elucidarei a teoria libertária - bem, pelo menos a versão kaionista dela:
1. Inútil não é; afinal, se fôssemos descartar todas as idéias a partir de uma concepção meramente utilitarista da realidade, o ser humano sequer se prestaria a pensar. Sendo menos dramático: qualquer teoria pode contribuir para o mundo, e o verdadeiro desafio, ao meu ver, é muito mais ter consistência lógica e, para que não se abra margem para totalitários (afinal, as ditaduras socialistas e fascistas tinham um corpo teórico consistente, embora doentio), um mínimo de 'humanismo e humanidade' faz bem.
2. Sem aplicabilidade? Oras, não é equivocado dizer que há um pouco de ótica (e ética) libertária em países prósperos e bem-sucedidos como Cingapura, Hong Kong, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e, é claro, Estados Unidos. "Como assim? Tais países tiveram governos e polítiicas liberais!" Oras, a filosofia de vida que guia o liberalismo mais sofisticado é, na minha opinião, bem libertária, justamente por ir além do liberalismo clássico em suas ambições. Entram nisso as crenças em liberdade econômica e individual, respeito aos direitos civis constitucionalmente estabelecidos, propriedade privada, democracia como meio e não como fim em si mesma e, é claro, estado-mínimo*.
3. Utópico? Impossível não é, porque não há nada nele que exigiria situações sobrehumanas ou sobrenaturais. Tudo é bem adequado ao que a humanidade pode alcançar, mesmo que a longo prazo. Além do mais, por mais que haja um teor bem idealista, não é um 'pecado' que tantas outras linhas de pensamento já não tenham cometido. Novamente: desconsiderar algo por motivações tão materialistas soa niilista.
4. Quanto aos temores relativos à aplicação, preciso novamente diferenciar liberdade positiva e negativa? Pelo visto, sim. Vejam o que distingue nosso objeto de estudo do anarquismo vulgar e do próprio marxismo e derivados:
"Ausência de coerção (controle exercido sobre uma pessoa em circunstâncias tais que, para evitar maiores danos, aquela seja forçada a agir a serviço da vontade desta, e não de acordo com seus próprios objetivos), e não de restrição.
Ou seja, é uma liberdade negativa (permissão), e não positiva (poder): “Liberdade não é o poder de fazer o que gostaríamos, mas o direito de fazer o que necessitamos.” (Lord Acton)" (post de 19/06/08)
Além disso, venhamos e convenhamos: é muito pessimismo duvidar tanto da capacidade dos seres humanos, a ponto até de desconfiar de qualquer projeto que os deixe mais livres e bem mais responsáveis pelos seus próprios atos. É até desnecessário dizer até onde tal concepção tão negativista pode levar...
5. Sinto-me tentado a resolver esta questão dos problemas sociais de uma maneira bem (vejam só, o conservadorismo tem semelhanças conosco) thatcheriana: "Sociedade? Não existe essa coisa de sociedade; existem homens e mulheres, e existem famílias. Governo algum nada pode fazer exceto por intermédio das pessoas, e as pessoas devem cuidar primeiramente de si mesmas. É nosso dever cuidar de nós mesmos para, então, cuidar do nosso vizinho.", diria a ex-primeira ministra britânica.
Porém, discursos tão geniais não são o bastante para resolver empecilhos que assolam todos os mais de 6 bilhões de terráqueos. O que fazer, então? Para início de conversa, a teoria libertária preocupa-se, sim, com 'social issues'. A diferença entre nós e os setores mais estatistas (notalvemente, quase toda a esquerda) é que não trocamos as causas pelas conseqüências, assim como não acreditamos que será possível mudar o quadro de extrema pobreza se a própria mentalidade dos indíviduos (e o espaço que lhes é dado para isso pelo estado) não mudar. Sim, é um pouco daquela história de "Ensinar a pescar ao invés de dar o peixe", mas é mais do que isso: verbas e boa vontade política - tampouco o lamentavelmente vaga discurso pela educação - não bastam para salvar o planeta se as pessoas continuarem a seguir um altruísmo destrutivo (tanto 'auto' quanto 'alter') ou, pior, o relativismo cultural. Porém, ficarei devendo uma resposta mais objetiva para este problema.
6. Por último, vamos falar um pouco sobre evolução. Não acredito inteiramente na tese judaico-cristã, consolidada na Modernidade, de progresso linear e ininterrupto, mas também não confio na visão cíclica dos greco-romanos, que Nietzsche chamaria de "eterno retorno". Porém, tenho certeza de algo: a despeito de tantas tragédias, infortúnios e desgraças, e do ritmo lento e cadenciado, a humanidade continua melhorando a cada dia. Tal processo não dá sinais de recessão, e é por isso que deposito tanta confiança no Século XXI: depois de tantas realizações (coloque aqui o marco temporal que quiser, o raciocínio continuará valendo), só posso crer que ainda teremos muitos motivos para confiar na capacidade de nossa espécie em adquirir feitos notáveis e memoráveis. E, quem sabe, uma conquista mais firme da liberdade e da individualidade não poderiam estar nesta lista?
Encerro por aqui, com mais uma citação da Maggie Thatcher, que já utilizei em dois posts de quatro meses atrás: "This is what WE believe!" (não vou colocar 'I', porque seria muita presunção dizer que apenas eu acredito no projeto libertário. Torço para que você, querido(a) leitor(a), mesmo que daqui a muitos anos, compartilhe de minha posição. Boa noite.)
*Assim como Hans-Hermann Hoppe e outros pensadores, resolvi utilizar a palavra 'Estado' com letra minúscula. Isso pode soar muito "1984", mas, para encarar o 'monstro' é preciso não superestimá-lo na própria maneira de denominá-lo, não acham?