Six Different Ways
Com isso, 18 de Maio foi o dia em que eu fechei mais uma etapa da minha vida - terminei a trilogia de obras-primas do escritor russo. "Crime e Castigo" foi o primeiro que eu li, em Agosto de 2005, sendo uma leitura que simbolizou o início de um, hã, "novo Kaio". Foi naquele mês que eu comecei uma série de ótimas leituras (por exemplo, "!984" e "Assim Falou Zaratustra", os quais eu li assim que terminei "Crime e Castigo"), uma sofisticação do meu gosto musical (comecei a ouvir Joy Division, Smiths, Cure, Sonic Youth, Placebo, Interpol, New Order etc.), uma revisão das minhas posturas ideológicas e filosóficas (como o afastamento do ideário da esquerda e a gradual aproximação de idéias politicamente libertárias e economicamente direitistas), uma progressiva melhora dos meus textos (nisso o Racio Símio me ajudou, visto que eu pude moldar melhor meus 'fluxos de consciência' para aprimorar meu estilo e técnica)... enfim, uma nova maneira de encarar o mundo.
Voltando ao Dostoiévski, o segundo da trilogia que eu li foi "Os Irmãos Karamazovi", entre Outubro e Novembro de 2005. Dos três, este foi o meu predileto, porque contém em seu enredo três personagens muito bem construídos e completamente compatíveis com o contexto da Rússia do século XIX e, quem sabe, válidos até pro mundo atual. Ivan era o ateu niilista, Aliócha era o cristão de moral elevada e Dmitri era o romântico porra-louca. Vale ressaltar também o incrível desenvolvimento e desfecho do livro em suas mais de 700 páginas, constituindo-se em um autêntico romance filosófico e, acima de tudo, uma obra-prima da literatura mundial.
"O Idiota" foi o que eu levei mais tempo para ler, talvez porque eu fiquei meio confuso com tantos personagens aparecendo na história de uma só vez. Parei a leitura há cerca de um ano, e resolvi voltar agora, em Maio/07, porque sentia-me preparado e maduro o suficiente para vencer, derrotar, triunfar sobre tal 'desafio literário'. E consegui, com menos dificuldades do que esperava.
Gostaria, aliás, de agradecer a várias pessoas por isso. Ao Príncipe Míchkin, por representar tão bem um idiota (tal alcunha é em razão de sua epilepsia) que encarna o espírito dos eslavistas cristãos. Sua exaltação ao falar, sua "sábia ingenuidade" ao lidar com as situações mais excêntricas (duas em especial: a que envolvemBurdóvskii - o suposto filho de Pavlíchtchev, que criou o príncipe - e um discurso exagerado de Ippólit que quase terminou muito mal), sua postura admirável perante as peripécias de Nastássia, Agláia e Rogójin... enfim, em tudo ele é um personagem inesquecível, um autêntico Dom Quixote russo.
Também pretendo agradecer justamente às outras três criaturas citadas no parágrafo anterior. Agláia, com sua instabilidade e inocência, levou o livro a ter várias situações impagáveis; Rogójin encarnou de maneira impecável o "típico" sujeito perigoso e perturbado, que sempre está disposto a cometer os atos mais cruéis, como se verificará em duas cenas do livro; e Nastássia (ou Natascha), uma mulher linda, promíscua, cínica e, acima de tudo, leviana. Menções honrosas também para o tuberculoso e exaltado Ippolít, o gaiato Liebediév, a brava e contundente Lizavéta Prokófievna e o inteligente e arrogante Evguénii Pávlovich.
Talvez essa seja a obra mais auto-biográfica de Fiodor, até mesmo porque não só os personagens, mas várias das situações relatadas em "O Idiota" ocorreram na vida do autor. Isso só aumenta ainda mais a mágica do livro. Imperdível para todos que queiram uma leitura densa e ímpar.
5 - Fui espancado, esmagado e destruído pelo 2º simulado Poliedro, que fiz ontem. Acertei apenas 55 das 90 questões da prova, 5 pontos a menos do que no 1º destes simulados. O exame era extremamente exaustivo, visando a vencer o aluno não pela dificuldade, mas sim pelo tempo. Pela primeira vez na minha vida, entreguei uma prova às 19h10, faltando vinte minutos para estourar o horário.Para piorar, quando comecei a marcar no cartão de respostas, lá pelas 18h30, eu ainda não havia feito quase nenhuma das questões de Física e Química! Em razão da pressa e da pressão (péssimo trocadilho, hein?), acabei acertando apenas 20% dos exercícios desta e 30% daquela.
Felizmente, fui bem nas questões que eu pude fazer com maior cuidado. Fechei História e Inglês (que, aliás, tinha um texto sobre o Aqua Teen para ser interpretado! Adorei!), errei só uma de Geografia e tive 70% de aproveitamento em Biologia e em Matemática. Quanto a Português e Interdisciplinares, tive desempenho mediano - 7/16 e 5/9, respectivamente. Não foi por acaso, visto que já pelas 16h30 eu já estava estressado com a prova, e isso prejudicou a minha concentração.
O que me consola (bem, talvez nem tanto) é o fato de que minha nota e meu stress foram até pequenos perto dos outros alunos. Houve até quem errasse 25, 26 questões a mais do que no 1º simulado - e estou falando de bons estudantes; os ruins devem ter chutado quase tudo, hehe.
4 - Felizmente terminei "O Idiota", porque agora posso pegar obras mais curtas (entenda 'menos de 250 páginas') para otimizar o meu horário de estudos. Já li 12 livros em 2007 (na verdade 12 e meio, pois só li "A Montanha Mágica" até a pág. 506, já que tive de devolvê-lo para uma amiga que foi fazer faculdade em outro estado), marca ainda muito distante dos 40 lidos no ano passado, mas é um número até compreensível pelos seguintes motivos: I - Ainda estamos em Maio; II - Estou estudando bem mais do que no ano passado, por razões óbvias; III - Todos os doze livros eram excelentes e, por incrível que pareça, úteis; para a minha sorte, o professor de História cobrou na prova passada uma questão sobre a defesa do monge Las Casas quanto à natureza humana dos índios. Lembram-se que, mês passado, eu li "A Controvérsia", que por coincidência falava justamente sobre isso? Pois é, agora ninguém vai ter o direito de dizer que só leio obras inúteis! Hohohohoho!
Creio que, analisando esta dúzia, o pior dos ovos foi "Pornopolítica", de Arnaldo Jabor. Não que seja realmente ruim (pelo contrário, é muito bom, com crônicas bem reflexivas e interessantes), mas não vamos comparar o Jabor com um Frank Kafka ("O Processo"), um Max Weber ("Ciência e Política"), um Jack Kerouac ("Vagabundos Iluminados") ou mesmo um Cícero ("As Catilinárias") da vida, certo?
3 - No tópico 6, eu falei que "18 de Maio foi o dia em que eu fechei mais uma etapa da minha vida". Sim, é verdade, mas também por outros motivos. Um deles é mais musical - há 27 anos, faleceu Ian Curtis, vocalista do Joy Division, uma das minhas bandas favoritas e que me marcou bastante nos últimos dois anos. É sempre bom relembrar isso; me ajuda a pensar no quanto foi bom ouvir JD nos bons e nos maus momentos dessa fase Ago/05 - Mai/07...
O motivo principal para que eu dissesse tal frase, no entanto, não se refere especificamente a Dostoiévski ou Ian Curtis. Começou em tal data o que eu considero o prefácio, o preâmbulo de algo novo e maior.
Em outras palavras, começaram os 8 meses de transição da minha adolescência para a minha fase adulta. Em Janeiro de 2008, caso eu tenha passado no vestibular, poderei iniciar um momento decisivo de minha existência, no ambiente universitário. A vida acadêmica será importantíssima para que eu exerça a individualidade que construí durante toda a minha infância e adolescência.
Não gosto nem de pensar na hipótese de eu não passar, mas se ela ocorrer, eu terei uma fase meio sombria - "os 6 meses de purgatório". Provavelmente estarei conciliando algum curso universitário de engodo; pretendo prestar para vestibulares menores, como o de Ciências Sociais na UFG e Relações Internacionais na UCG para não precisar fazer cursinho no 1º semestre e ao menos iniciar, mesmo que com o pé esquerdo, a vida na universidade. Conciliarei os estudos em um desses cursos com uma preparação metódica e sistemática para entrar na UnB no vestibular de meio de ano, em Junho/08.
Ok, independentemente do meu destino após esses próximos oito meses, uma coisa é certa - eu já serei um adulto. Com 17 anos e meio, já terei boa parte da autonomia tão desejada, e poderei guiar totalmente os rumos de minha vida. Até os 25 anos, terei um projeto a ser concluído - utilizar a juventude para acumular o máximo de conhecimento e intelecto possíveis. Ao completar o meu vigésimo quinto ano, tenho como certa a chegada à minha "idade da razão", ou seja, o momento em que deixarei de idealizar a liberdade e passar a praticá-la. Posso até começar a pensar em namorar, constituir família, ter um trabalho fixo e de boa remuneração e ser um cientista político com todas as idiossincrasias de um "literato pretensioso e 'burguesinho'".
O plano já está traçado, e amanhã será o início prático dessa, hã, Introdução à Vida Adulta. Que estes sejam os oito melhores meses da minha vida!
2 - Quanto à rotina desses próximos dias e semanas, uma coisa é certa - menos internet, livros não tão longos e, acima de tudo, mais estudos. Quero terminar 2007 como uma espécie de PhD em 'matérias que caem no vestibular'. Os conteúdos e diretrizes escolares não são patéticos, logo, eu não terei que acreditar que ficarei chateado por ter que estudá-los. Depois que descobri que podia muito bem me apaixonar pela Biologia e pela Física, nada mais me soa realmente difícil. Se for preciso ter pontuações altíssimas nas provas e simulados, farei de tudo para obtê-las.
Meu lema, a partir de agora, é o mesmo dos jovens franceses de 68 (tudo bem que eles eram esquerdistas e eu sou direitista, mas deixemos as picuinhas de lado, certo?): "Sejamos realistas: exijamos o impossível!". E o meu 'impossível', assim como o deles, é bem possível. Eles conseguiram mudar toda a cultura e comportamento da sociedade da época, assim como redefinaram várias questões político-ideológicas, mesmo não tendo chegado de fato ao poder. E eu vou ser o melhor que puder nos meus estudos, pois nada me desviará do meu sonho de iniciar bem a minha idade adulta! (Palmas para esse discurso, hehe)
1 - Eis um post longo, prolixo e exagerado! E nem pude falar sobre o PoliONU (aguardem pelo próximo post, hehe). Estas são 6 diferentes maneiras de eu exaltar meu pedantismo, inclusive esta, de apenas duas linhas, e que encerra aqui esse 'texto-jumbo'.