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Kaio

 

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22 abril 2007

Por uma vitória dos liberais na França

Como já era previsto pelas pesquisas, Nicolas Sarkozy (UMP) e Ségolène Royal (PS) irão para o segundo turno das eleições presidenciais na França. O centro-direitista obteve cerca de 31% dos votos, contra 25,7% de Royal. Os azarões não tiveram chance dessa vez, ao contrário da zebra ocorrida em 2002, quando Jean-Marie Le Pen, que representa a extrema-direita e os nacionalistas radicais, foi para o 2º turno. Ele, dessa vez, foi apenas o quarto colocado, com 11% dos votos. O terceiro foi o centrista François Bayrou, com 18,5%.
A imprensa francesa é majoritariamente a favor de uma vitória do Partido Socialista, o que não é novidade para ninguém, já que jornais influentes como o Le Monde e o Liberátion sempre tiveram uma tendência à esquerda. Alega-se que Sarkozy é assaz pragmático e seria mais rígido quanto ao controle da imigração, e que Sègoléne enfatiza o assistencialismo e a "justiça social" em suas propostas. Oras, mas é justamente por isso que eu torço pelo triunfo de Nicolas.
Em primeiro lugar, dizer que o candidato do UMP é tão xenófobo assim é uma distorção dos fatos. Comecemos pelo fato de que o próprio Sarkozy é filho de um húngaro e uma francesa de descendência judia. Em segundo lugar, ser condolescente com a entrada maciça de estrangeiros na França é uma estupidez; o país não tem capacidade e nem precisa ser tão flexível quanto aos imigrantes. Os vândalos das periferias (sim, aqueles que fizeram até incêndios no ano passado) são uma ótima mostra disso, e provam que o governo não estaria incorrendo em erro se fosse mais rigoroso a respeito da imigração. Se um 'foreigner' vai para a pátria francesa, que seja um profissional qualificado ou que quer qualificar-se, e não ficar posando de "vítima de preconceito" e usar isso como argumento para promover o caos e a instabilidade social. Sarkozy já fez a parte dele quando era Ministro do Interior - reduziu a criminalidade. Espera-se que os imigrantes também façam a deles e provem que são competitivos no mercado de trabalho.
Outro ponto fundamental é que Sarkozy é ambicioso o suficiente para buscar "romper" com o passado francês. Para quê continuar defendendo hipocritamente coisas anacrônicas como o Welfare State se o país está com tantos problemas sócio-econômicos que não se resolvem com um mero Estado de Bem-Estar Social? A crise do Airbus, o desemprego, a dívida pública, e o fraco crescimento não se resolverão com medidas apenas da parte do Estado, como se a iniciativa privada e a sociedade civil fossem setores desprezíveis. Estamos em um mundo globalizado; manter instituições que mais atrapalham do que ajudam o país é uma imbecilidade - vide Brasil e a sua 'tradição burocrática'.
As propostas liberais de Nicolas para a economia também são interessantes. Ele demonstra ser preparado para gerar os empregos que a França precisa, e sem apelar para o assistencialismo como propõe a sua adversária. O Estado francês não precisa gastar ainda mais, mas sim ser reciclado, já que o déficit público por lá é considerável, ao ponto de travar há anos o crescimento econômico. Lembrando que estamos falando de um dos pouquíssimos países que tem uma carga tributária maior que a brasileira, com espantosos 46%. Sabe-se muito bem o quanto tantos impostos podem aumentar o desemprego, já que desestimulam as empresas (sejam elas pequenas, médias ou grandes) a contratar e a sustentar novos funcionários.
O centro-direitista não é antiamericano na retórica (além de ser assumidamente admirador da gestão de Tony Blair, o que o impede também de ser antibritânico), o que é um grande avanço, se levarmos em conta que a maioria esmagadora dos políticos franceses - desde Le Pen até os esquerdistas radicais - fazem coro a um discurso nacionalista e avesso aos EUA. John Lennon ficaria feliz em saber que alguém parece estar botando em prática a sua famosa frase "Pense globalmente, atue localmente". O ódio irracional aos Estados Unidos - o qual é comum a várias nações de língua latina - é um retrocesso diplomático. Os americanos podem ter feito muitas besteiras nos últimos anos, mas a União Européia precisa, mais do que nunca, ter um estadista disposto a estreitar as relações com os Estados Unidos. É até uma questão de bom senso, se levarmos em conta a interdependência dos blocos econômicos.
Finalmente, outro aspecto que me faz apoiar Sarkozy é a sua proposta de aumentar a jornada de trabalho de sua nação, que está atualmente em 35 horas semanais. Como um país pode ter progresso com tão ínfima carga horária? Pois é justamente isso que o liberal notou. Como disse a matéria da Veja (sim, aquela revista cínica e mau-caráter, mas nem por isso indigna de ser lida) da semana passada, "Sarkozy quer uma França que acorde cedo e trabalhe". E isso é ótimo.
Se o pragmatismo vai ou não vencer por lá, já não depende de mim. Apenas torço para que, nesse interessantíssimo embate entre direita e esquerda, o eleitor francês não vote na tradição e na hipocrisia social-democrata, mas sim na renovação e nas reformas imprescindíveis para um futuro melhor (e possível) para a França.

 

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