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17 janeiro 2011

Erasmo, a Loucura e os Filósofos

Seriam os estóicos as "rãs do Pórtico"?Segundo um dos textos mais divertidos do período do Renascimento, sim. Selecionei algumas passagens de "O Elogio da Loucura" em que Erasmo zomba dos filósofos, teólogos e intelectuais em geral. E não deixem de ler este tratado que mais parece uma comédia grega!

- A inaptidão social e prática dos filósofos (p. 37-38)
Basta consultar os historiadores para mostrar que o “rei filósofo” desejado por Platão é um funesto malogro; vários estadistas iluminados (os irmãos Graco, Cícero...) perturbaram a paz da República. O ar grave e severo dos filósofos os impede de um ter uma vida social agradável.
- Conselhos irritantes dos filósofos (p. 43)
Os belos discursos e aconselhamentos dos sábios muitas vezes são impertinentes. “Não há prudência mais perniciosa que a que não sabe adaptar-se aos tempos e às circunstâncias, e que gostaria que a comédia não fosse uma comédia. ‘Bebam, ou vão embora! ’”
- Imortalidade através dos livros x escritores de bagatelas e plagiadores (p. 81-82)
Os autores que escrevem obras refletidas sofrem muito para compô-las e morrem prematuramente. Tanto esforço só será apreciado por um reduzido número de leitores. “Feliz, ao contrário, é o autor que compõe sob meus auspícios!” O escritor de bagatelas consegue arrancar elogios com suas frivolidades. O mesmo vale para aqueles que plagiam – pelo menos até serem descobertos.
- Filósofos, sofistas (p. 84) e as disputas mesquinhas dos teólogos (p. 85-89)
Sofistas, além de tagarelar, brigam e teimam pelas coisas mais vãs e ridículas. Filósofos, tão auto-confiantes quanto à grandiosidade de seu pensamento, não conhecem nem a si próprios; a natureza zomba deles. “Não conhecem absolutamente nada e orgulham-se de saber tudo”.
Teólogos “são pessoas que não admitem brincadeiras e que se enfurecem por uma ninharia”. Ocupam-se com proposições implícitas e explícitas, noções, relações, formalidades... Certamente criticaram a definição de fé de São Paulo por pecar contra regras da lógica. Os apóstolos precisariam freqüentar as escolas aristotélicas e de Duns Scotus para aprender certas distinções conceituais.
- Sugestão – um exército de teólogos (p. 90); exageros que estes cometem (p. 91-92)
Na próxima cruzada, talvez seja interessante enviar um exército de escolásticos, cujas disputas por picuinhas levariam a uma fácil vitória. Os teólogos, “ocupados dia e noite com essas deliciosas mesquinharias, não têm um instante livre para percorrer, uma única vez na vida, o Evangelho...”
- Sutilezas teológicas (p. 98-100)
Os sábios conseguem, a partir da análise das palavras, descobrir sutilezas superiores às de um Demóstenes ou Cícero. Recorrem a várias estratégias retóricas para causar maior impressão. Ex.: os casos latinos para J. Cristo -> Jesus, Jesum, Jesu indicam palavras iniciadas em S (summum), M (medium) e U (ultimum) que indicam que Jesus é o princípio, o meio e o fim.
- Loucos pagãos (p. 113) e cristãos (p. 114-117)
Muitos sábios gregos e romanos enalteciam a Loucura. “É doce desvairar no momento certo”, já diria Horácio. Quanto aos exemplos judaico-cristãos: Eclesiastes (“O número dos loucos é infinito”), Salomão (“... numa alma em que há muito bom senso, há também muitos motivos de descontentamento”), São Paulo (“Falo como louco, e o sou mais que ninguém”).
- Interpretação sofística de passagens bíblicas (p. 119-122)
Estes hábeis doutores conseguem fazer interpretações curiosas das palavras de Cristo; vêem espada onde se clama por desapego aos bens materiais. Outros conseguem analisar uma expressão latina (“devita”) de tal forma que “evitar o herege” vira “suprimir a vida”, queimar hereges.

 

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