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Kaio

 

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02 março 2010

O porquê da Loucura Sentimental

Tudo começou quando, em meados de Janeiro de 19 d.M., Júlia descobriu que estava gostando de um garoto, e que isso era recíproco. Não diria apaixonada, pois ela não perdia a sua pose de fria nem quando o coração batia por alguém. De qualquer maneira, ela sabia que era apenas questão de tempo para que um dos dois tomasse a iniciativa e o namoro fosse iniciado.
Sabendo que era a primeira vez em quase três anos que tinha chances reais de ficar com alguém, ela resolveu comunicar a seu melhor amigo o tão temido teste ao relacionamento dos dois:
- César, aconteceu. Depois de amanhã, dia 17, eu vou sair com o Guilherme. Sim, é aquele menino da Economia sobre o qual lhe falei dia desses. Acho melhor lhe avisar que, muito provavelmente, ele vai me pedir em namoro, ou vice-versa. Sendo redundante, nós talvez iremos nos beijar.
- Isso... isso quer dizer que...
- Exatamente. Acho que é com ele que vou... desafiar o nosso pacto. Tenho atração física e psicológica por ele, então não tenho nada a perder.
- Entendo... sendo assim, você vai... hã...
- Já sei o que você quer me perguntar. E a resposta é "sim" e "não". Sim, provavelmente perderei minha virgindade nos próximos dias. E não; ao contrário da Alice, eu não irei namorar um garoto só para ter a minha 1ª vez. Vejo qualidades no Guilherme que me fazem ter convicção de que posso ter um bom relacionamento com ele. Portanto, nem de longe estou entrando nessa por motivos meramente pragmáticos. E sei que você também não faria isso, no meu lugar.
- Sim, é verdade... tudo bem que... minha opinião não alterará seu veredicto... ainda bem, pois odiaria ser um estorvo para seus planos de vida... mas, pelo pouco que conheço dele, acho que você tem... sei lá, bom gosto.
- Pois é. Ele é refinado, elegante, aprecia música clássica, fala bem, estudioso, economicamente liberal (quase um Manchesteriano), também quer morar na Europa... Enfim, é quase o Goethe pelo qual eu estava procurando. E tem bom gosto, pois quer me namorar, hehe. Brincadeiras à parte, é por causa dele que passarei minhas férias inteiras em Cosmopólia. Eu já tinha outros motivos - estava farta da minha família e preciso adiantar as leituras de Teoria Literária. Agora, com mais esse, acho inevitável ficar por aqui nessas férias. Tudo bem se as coisas se encaminharem como estou lhe avisando? Não tem nenhum problema em eu ficar com o Guilherme?
- Mas é claro... eu sei que você faria... o mesmo por mim se eu estivesse na mesma situação... acho que somos... maduros o suficiente para lidar com essa mudança na nossa relação.
- Que bom, então. Obrigado, César! Sinto-me mais aliviada agora. Porém, acho que eu estou em dívida com você. Se já não bastasse você ter que voltar para Pastória semana que vem, ainda apareço com essa bomba! Portanto, vou lhe dar um conselho. E não tenho nenhuma 2ª intenção com ele, eu juro! Apenas acho que seria bom para você se divertir um pouco, e não ficar entediado nesse fim de semana.
- Diga... estou até curioso depois dessa... explanação...
- Chama a Flor pra sair. Vão na Livraria Zeitgeist. Você nunca foi lá, né? Aproveita para comprar o "Loveless" do My Bloody Valentine que você viu no site deles.
- Ah, mas... você não está insinuando que eu...
- Não, que é isso! Eu sei que ela é só sua amiga. Eu disse, sem 2ªs intenções! É que ela é a única pessoa bacana da UNICOS que está aqui em Pastória nessas férias, e vocês podiam ir à livraria. Você já me disse que ela é simpática e inteligente, portanto com certeza vocês podem trocar dicas preciosas de livros e filmes! E, o melhor, podem ir para lá de metrô, já que a última vez que você andou em um foi há quase um ano. Por favor, não pense que estou sendo condescendente, ou que quero "arrumar" a sua vida. É só uma sugestão, tá?
- Tudo bem... eu até conversei com ela no MSN hoje, que coincidência... acho que vou mesmo chamá-la pra ir na Zeitgeist... afinal, preciso daquele CD, hehe. De qualquer maneira, boa sorte no seu encontro, tá? E lembre-se da "lei do silêncio"!
- Sim, só falaremos de nossos relacionamentos quando estivermos quites. Mesmo que isso demore dias, semanas ou anos. Prometo que evitarei ao máximo comentar das coisas com o Guiherme com você, tá? Até mais.


Júlia, que não chorava há tanto tempo que nem sequer lembrava mais de sua última lágrima, cedeu. Toda a calmaria e tranqüilidade que transmitiu no tête-à-tête com o amigo desabaram assim que ela abriu a porta de sua kit-net. Sentia raiva de si mesma, por fingir que estava tudo bem, e que podia sair ilesa depois de entrar um relacionamento, mesmo tendo um vínculo tão forte, por mais assexuado que fosse, com outra pessoa. "Eu banquei a Ayn Rand! Como sou hipócrita! Fingi uma frieza e um desapego que não tenho! Até quando usarei essa máscara?"
Não que estivesse amando loucamente César, pois tanto ele quanto ela evitaram ao máximo "libertar" o que sentiam um pelo outro. Felizmente, era só cumplicidade. Portanto, ela não sentia que o estava "traindo", ou coisa do gênero. Da mesma forma, por mais que o admirasse, sendo a recíproca verdadeira (ela não precisou de muito esforço para constatar que C. ainda a tratava pedestalticamente), era óbvio que ele tinha muitos defeitos. Embora fosse menos arrogante que Júlia, era tão autoritário, egoísta e angustiado quanto ela, e muito mais utópico e ansioso. Inclusive, era por saber que ele era humano, demasiadamente humano, que ela recentemente desistira de querer que ele fosse um Deus -ainda mais ela, atéia convicta, "com o perdão da analogia tosca", Júlia diria. Porém, ela não aplicou o mesmo valor para os demais homens, e logo estava à caça de um novo ideal a ser atingido.
Eis que surgiu Guilherme, o austero e aristocrático estudante de Ciências Econômicas que ela conhecera em Agosto, mas com o qual só começou a conversar freqüentemente em Novembro.
Acima de tudo, ela confiava no futuro de seu relacionamento com Guilherme. Quando eles estavam no restaurante, durante um silêncio constrangedor que parecia antecipar algo, Júlia disse para si mesma: "Acho que esse pode ser meu adeus ao pacto. And I feel fine". Ele nunca veio a saber, mas naquela noite de sábado beijaria uma garota que esperava dele nada menos do que... perfeição.

César ainda estava abalado pela notícia, mas até reagiu bem; pelo menos melhor do que imaginava. Sabia que Júlia certamente namoraria antes dele, então não havia surpresa. O problema era o vazio que isso criava, pois agora ele não tinha nenhum impedimento para sentir algo por outra garota. A última vez havia sido em 16 d.M., semanas após o "pacto", mas foi por uma amiga virtual.
Agora podia ser diferente. Ele não tinha ninguém em mente. Pela Flor, era mesmo só amizade. De fato, aquela noite na livraria foi agradável, e compensou por antecipação o fim de semana entediante que ele teve - um autêntico "coffee & TV".

Quando voltou para Pastória, continuou com uma mistura de ansiedade com consternação. Chegou a passar dias inteiros na internet. Sabia, e sentia até certo alívio por isso, que Júlia não era o único motivo para aquele mal-estar. Sinceramente, parecia que seu mundo já estava meio diferente desde o impacto existencial daquela viagem acadêmica de Outubro. O namoro de sua melhor amiga era apenas parte de uma série de eventos atípicos em sua vida recente.
A maresia passou, e transformações radicais estavam prestes a acontecer... mas isso é assunto para a trama de 1º de Maio de 19 d.M., seus antecedentes e conseqüências.

 

Comentários:

 

 

Dica de quem nunca escreveu mais de 10 páginas, mas que já leu dezenas de milhares: corte, edite. seus trechos são sempre extensos demais, cansativos e até meio pedantes.

Outra: considerando seu publico alvo e a idade dos seus personagens, eu usaria um pouco mais de coloquialismo nos dialogos, se não fica tão forçado quanto uma episódio de malhação.

Abraços


Algumas valiosas dicas sobre como escrever ficção:

http://www.guardian.co.uk/books/series/howtowrite


Obrigado pela dica. Estou lutando contra a prolixidade dos meus textos. =)
Pena que a profª de Oficina Literária, por mais ótima que fosse, tenha sido pouco rigorosa. Aprendi pouco na matéria a como escrever melhor.


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