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Kaio

 

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27 setembro 2007

27 Set

O Brasil (não) acabou

Não é nada fácil para um brasileiro discorrer sobre o seu país. O Brasil é um exemplo de nação que é, simultaneamente, das mais dignas de orgulho e vergonha. Um caso atípico na História, e um povo com uma saga excêntrica, para bem e para mal. Resta a cada um fazer a sua opção sobre como pensar o Brasil, inclusive com alguns (famigerados) dualismos, do tipo otimismo ou pessimismo.
Já tivemos momentos decisivos, oportunidades de reviravoltas que foram abortadas. A própria Independência poderia ter sido executada de outra maneira. 1889, 1930, 1964 e, mais recentemente, 1989 foram algumas datas que trouxeram mudanças conjunturais (e algumas até estruturais) que ocorreram de maneira bem mais conservadora do que poderiam ter sido. É claro que divagar sobre o "se", o hipotético na História, é uma mera especulação que não traz resultados, apenas lamentações. Mesmo assim, é frustrante constatar que raramente - ou mesmo nunca - o povo brasileiro fez a opção pelas reformas profundas, pela alteração sensível e intensa dos paradigmas. Seria um tolo temor ou algo mais sério do que isso?
É impossível enaltecer a elite sociopolítico-econômica pelo que ela contribuiu até hoje pelo país. Ela nunca foi realmente ambiciosa, pois sempre optou pelo que era mais fácil de se executar - e, conseqüentemente, mais excludente. Já vestiu a máscara das mais diversas tendências ideológicass, mas jamais abandonou seu eterno comodismo.
Também não se pode elogiar a classe média pelo seu passado. Durante toda a construção histórica do Brasil, ela jamais cumpriu o seu papel de renovadora de valores, de mercado consumidor expressivo que tem voz política. O próprio Golpe de 64 mostrou uma "mid-class" que fez uma marcha "da Família com Deus e pela Liberdade". O nome bonito esconde a faceta hipócrita, pseudomoralista e letárgica de seus participantes. Os militares agradeceram, pois foi o apoio popular que precisavam para derrubar Jango e tomar o poder.
Poder-se-ia até poupar os mais pobres da culpa pelos fracassos do país, mas tal perdão não procede. É claro que a nação já passou pelas mais diversas humilhações e repressoões a qualquer tipo de movimentação popular, mais isso não é uma exclusividade nossa. O que torna a situação brasileira ímpar é que a classe baixa nunca se levantou contra a opressão e buscou tentar mudar o seu destino. É como se a tão celebrada alegria do povo brasileiro exterminasse a sua capacidade de lutar por direitos e justiça social. Volto a repetir: não somos ambiciosos.
Após todas essas linhas, seria provável acreditar que nosso país não tem solução, só restando o conformismo, certo? Errado. O Brasil tem um potencial inexplorado de proporções colossais. Nossa cultura é uma das mais ricas e sincréticas da Terra. Recursos naturais e humanos não faltam. Somos elogiados no exterior por algumas iniciativas interessantíssimas (por exemplo, os biocombustíveis, a postura conciliadora nas relações internacionais e pequenos e médios empreendimentos dos mais inovadores). A desigualdade começou a diminuir. A liberdade já é soberana em várias frentes. E patriotismo não falta, até mesmo para os que se consideram céticos. Em um mundo cosmopolita, ainda há espaço para a valorização do Brasil. Poderíamos ser maiores e melhores, mas são justamente as expectativas e as tentativas de fazer acontecer que poderão gerar a tão desejada Mudança.

Redação de hoje. Tirei 98. Foi até mais do que eu esperava, visto que não gostei muito do texto. Achei ele muito morno, chato. O tema era bom, mas eu paguei o preço de continuar fazendo as redações às 5 da manhã, logo após acordar. Estava muito cansado e nem fiz rascunho antes de passar a limpo. Tanto que provavelmente um dos décimos que 'perdi' foi em razão das rasuras.
No geral, meu dia foi muito bom. Estou lendo um livro escrito meses antes da eleição de 89, chamado "Collor: A Cocaína dos Pobres", de Gilberto Vasconcellos. Apesar de muito esquerdista em suas opiniões, o autor analisa muito bem o contexto do fim dos anos 1980, inclusive com a imensa influência da televisão e as grandes possibilidades de polarização ideológica em um eventual segundo turno (o que, aliás, foi justamente o que ocorreu). Olha, acredito que, se eu pudesse votar em tal pleito, provavelmente teria optado pelo liberal Afif Domingos no primeiro turno e pelo Fernando Collor no 2º. É óbvio que eu teria lá minhas suspeitas quanto ao discurso fabricado e midiático dele, mas seria um mal menor perante um Lula e um PT que ainda falavam em 'organização da sociedade civil' e desprovidos de experiência e capacidade para assumir a Presidência. Se a Era Collorida já foi uma catástrofe, as coisas não teriam sido melhores com petistas que ainda acreditavam em socialismo e estatização da economia.

Ah, terminei anteontem de ler "Incidente em Antares". Foi o sexto livro consecutivo de um autor brasileiro que eu li nas últimas semanas. É quase uma fase nacionalista para Kaio Felipe, não? Quase isso, já que ontem eu tentei ler "O Ateneu" e o achei muito maçante, assim como também não passei de 30 páginas lidas de "Policarpo Quaresma". Creio que ainda não é momento para me afundar de vez na literatura tupiniquim. Assim que terminar "Cocaína dos Pobres", lerei "O Beijo no Asfalto" (Nelson Rodrigues) e partirei para uma obra indicada para o PAS - "Brás, Bexiga e Barra Funda", de Antônio de Alcântara Machado. Ah, e achei na biblioteca do colégio um ensaio que quero ler há tempos: "Raízes do Brasil", do Sérgio Buarque de Holanda.
Mesmo assim, é provável que eu retorne em breve para o internacionalismo literário costumeiro. Há vários livros que comprei nos últimos meses e ainda não li, Tenho planos ambiciosos, passando por nomes como Anaïs Nin ("Henry & June"), Dostoiévski ("Recordações da Casa dos Mortos"), Tolstoi ("Anna Karênina"), Michael Cunningham ("Laços de Sangue") e até um que eu ando injustamente atrasando a leitura: "A Montanha Mágica", do Mann. Em meados de Fevereiro, eu estava a elogiar efusivamente o romance, até apontando-o como provável melhor livro que eu já havia lido; no entanto, parei na pág. 502 quando fui devolvê-lo para a amiga que havia me emprestado. Ganhei um de aniversário da minha mãe, mas praticamente nem toquei nele, rs.
Enfim, é quase indubitável que passarei dos 40 livros lidos até o fim do ano. E os estudos não serão prejudicados, até porque resolvi marcar agendamentos durante todas as próximas semanas para tirar dúvidas sobre "As Quatro Matérias", o quarteto Bio-Fis-Qui-Mat. Hoje mesmo resolvi uns trinta exercícios da UnB de Química.

Boa noite, este post já está longo demais.

 

Comentários:

 

 

Gostei do texto, mas nao do ultimo paragrafo... ja se ouve falar do "potencial inexplorado" ha muito tempo. Eu pessoalmente teria colocado um final mais ironico :)
Sobre patriotismo, eu acho que eh uma coisa que em excesso eh mais perigosa do que em falta... mas ha controversias. Talvez voce discorde.
Dos livros que voce falou, soh tenho a dizer que qualquer coisa por Tolstoi ou Dostoievski vale a pena. Eu queria comprar acoletanea das anotacoes e diarios de Dostoievski, deve ser genial.
Bom, boa sorte com os estudos.
PS.: onde eu estou nao tenho acentos no teclado :P


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