Sargento Pimenta, um quarentão
Lançado em 1º de Junho de 1967, este disco foi muito mais do que uma nova fase na carreira dos Beatles. Há vários outros apostos possíveis para ele, desde coisas mais situacionistas como 'o LP que melhor simboliza o fim da década de 60 e sua loucura psicodélica' até megalomanias como 'o divisor temporal no rock e na música contemporânea (a.S.P e d.S.P, hehe)'. Tudo isso é justificável, pois o Fab-Four realmente estava inspiradíssimo durante aqueles quatro meses e meio em que idealizaram e gravaram o Sgt. Pepper's. George Martin, produtor da banda, ajudou (e muito) o quarteto a consolidar essa mudança de sonoridade. Deram-se até ao luxo de lançar, em Fevereiro de 67, um compacto com duas obras-primas que poderiam muito bem figurar no álbum; "Strawberry Fields Forever" / "Penny Lane" foi um susto para os fãs e a crítica, e já indicava o nível ao qual a banda havia chegado àquela altura.
O disco é composto por 13 faixas, que se estendem por 40 prazerosos minutos. A faixa-título é uma das mais pulsantes já gravadas pelo quarteto. É seguida pela linda e irônica "With a Little Help From My Friends", cantada por Ringo Starr. "Lucy In The Sky With Diamonds" mescla uma letra dúbia com uma sonoridade viajante, constituindo-se em uma das mais marcantes obras de John Lennon.
"Getting Better" tem a melodia mais alegre e viciante de Sgt. Pepper's. "Fixing a Hole" faz interessantes analogias envolvendo o buraco da chuva e o da mente, contando ainda com um instrumental impecável. "She's Leaving Home" é melancólica e doce, bem típica do estilo das canções de Paul McCartney. "Being for the Benefit of Mr. Kite!" pode até causar uma certa tontura com seus arranjos malucos, que realmente lembram a atmosfera de um circo.
"Within You, Without You" prova o quanto George Harrison estava evoluindo como compositor, levando ainda mais a fundo o experimentalismo com a música indiana. "When I'm Sixty-Four" poderia ser definida como, hã, 'extremamente fofa e nostálgica', rs. Já "Lovely Rita" aparenta ingenuidade, mas isso não a impede de ter um refrão grudento e uma batida ligeiramente dançante. "Good Morning Good Morning" é ideal para acordar alguém (ou a si mesmo) da maneira mais alegre e beatlemaníaca possível; destaque para a 'cadeia alimentar sonora' que ocorre no minuto final dela.
"Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)" tem um andamento mais rápido e um nítido clima de fim de show. As palmas ao final, no entanto, antecipam mais uma faixa, que é para muitos a melhor do disco: "A Day In The Life". Densa, intensa, melodia inesquecível, letra incrível e, claro, uma orquestra oportuna que parece vir do nada e encerrar a canção do jeito mais poderoso e apocalíptico possível. Está encerrada a audição de um álbum que provavelmente marcará para sempre o seu ouvinte.
Em off:
1. Comprei o meu Sgt. Pepper's em Março de 2004, seis meses depois que eu comecei a adorar o som dos Beatles. Aliás, estou ouvindo-o enquanto estou escrevendo esse post, hehe.
2. Ah, saí em uma matéria sobre jovens à moda antiga em um jornal, o Diário da Manhã. Se quiser dar uma olhada, clique aqui.