Duas décadas e meia atrás, em 24 de Setembro de 1991, o Nirvana lançou seu segundo disco, Nevermind. A primeira faixa, "Smells Like Teen Spirit", foi também o primeiro single. Tendo como trunfos um riff lendário, uma dinâmica à la Pixies de versos calmos e refrão barulhento e uma letra que soou como hino de uma juventude entediada e angustiada ("I feel stupid and contagious (...) I'm worse at what I do best"), o anárquico clipe da canção foi ganhando destaque na MTV, o single subia nas paradas e o álbum começou a receber ótimas resenhas dos dois lados do Atlântico.
Não demorou para público e crítica descobrirem que estavam diante de um clássico instantâneo: Nevermind ia muito além de "Smells Like Teen Spirit", e continha várias outras canções excelentes, das quais três viraram singles (a soturna "Come As You Are", a maníaco-depressiva "Lithium" e a debochada "In Bloom"), duas mostravam uma faceta mais acústica e melancólica ("Polly" e "Something in the Way") e três figuram entre as favoritas de muitos fãs ("Lounge Act" e "Drain You" - faixas de melodias irresistíveis que tratam do relacionamento de Kurt com Tobi Vail, do Bikini Kill - e o furioso punk "Territorial Pissings").
O som da banda, além da supracitada influência de Pixies, misturava a sensibilidade pop dos Beatles e do R.E.M. com a fúria dos Sex Pistols, o peso do Black Sabbath e o equilíbrio entre melodia e distorção do Sonic Youth (banda que, aliás, levou o Nirvana para a gravadora Geffen e fez uma turnê histórica com Kurt, Krist e Dave em meados de 91, registrada no documentário 1991: The Year Punk Broke).
A expectativa da Geffen era que Nevermind vendesse um pouco mais do que Goo (Sonic Youth), o qual havia alcançado 250 mil cópias. Quatro meses após o lançamento, contudo, Nevermind já estava no 1º lugar das paradas americanas e vendia cerca de 300 mil unidades por semana; hoje em dia já são mais de 10 milhões nos Estados Unidos e 30 milhões no mundo inteiro.
A carreira do Nirvana foi meteórica; entre o lançamento de "Nevermind" e o suicídio de Kurt Cobain passaram-se apenas 2 anos e meio, e nesse meio tempo a banda ainda lançaria outra obra-prima (In Utero), teria uma relação de amor e ódio com a fama e faria shows espetaculares, dentre eles o belíssimo acústico para a MTV em 93.
De certa maneira o sucesso do trio foi ao mesmo tempo o início de uma era (o rock alternativo ganhou maior visibilidade comercial, o que permitiu a ascensão de bandas como Smashing Pumpkins e Pavement, e a cena grunge virou o Zeitgeist da juventude da 1ª metade da década de 90) e o fim de outra (de certa maneira o Nirvana, com sua postura rebelde, anti-comercial e niilista, foi o último ato do movimento punk, pois desde então nenhuma banda de rock conseguiu causar tanto impacto cultural quanto eles; isso sem falar que, desde então, a linha que separa o rock alternativo do mainstream se tornou tênue).