06 julho 2018
Faltam apenas alguns minutos para começar o 1º jogo das quartas. Ainda dá tempo de expor minhas expectativas em relação a cada um dos confrontos, assim como comentar o que cada seleção classificada teve que passar nas oitavas.
Uruguai x França: Os uruguaios vêm evoluindo ao longo da Copa, e passaram bem no teste complicado que tiveram contra Portugal. É incrível que, mesmo com Tabárez há 12 anos no cargo e já tendo passado por um ápice (4º lugar na Copa do Mundo de 2010 e título da Copa América de 2011), a seleção uruguaia continue forte: não só fez sua melhor campanha nas eliminatórias em décadas (finalmente não teve que disputar repescagem), mas também vem apresentando uma campanha bem consistente no mundial, com defesa segura e uma ótima dupla de ataque. Pena que justamente Cavani, autor dos 3 últimos gols uruguaios, tenha sofrido uma lesão muscular nas oitavas, e portanto não estará no jogo decisivo contra a França. Resta saber como a seleção uruguaia irá reagir a esse desfalque; talvez a responsabilidade caia nos pés de Suárez, que precisará de uma atuação à la Uruguai 2x1 Inglaterra (2014) – quando fez os 2 gols – para reverter o favoritismo francês. A propósito, Les Bleus finalmente acordaram para a Copa no eletrizante jogo contra a Argentina, mostrando tudo o que ficaram devendo na 1ª fase. O placar de 4x3 não representa tão fielmente o que foi a partida, pois a superioridade francesa poderia ter sido transformada em goleada se não fossem alguns vacilos defensivos (como a falta de marcação a Di María no gol de empate argentino). Mbappé teve uma performance espetacular, tendo feito 2 gols e sofrido o pênalti de outro. Após o promissor 7º lugar na Copa passada e o decepcionante vice na Euro 2016, a “ótima geração francesa” tem uma nova chance de provar que o elenco talentoso também pode ser vitorioso.
Brasil x Bélgica: Uma final antecipada. Um duelo entre o melhor ataque (belgas) e a melhor defesa (brasileiros). O fim do caminho para uma seleção que mereceria chegar mais longe, não fosse o cruel chaveamento. Do ponto de vista tático será um interessante embate entre o 4-3-3 de Tite e o 3-4-3 de Martínez (embora, dependendo das situações de jogo, possa também ser um duelo entre um 4-2-3-1 ou 4-4-2 e um 3-4-2-1); será que prevalecerá a resiliência do escrete canarinho (o famoso “saber sofrer” implantado pelo técnico gaúcho) ou o ímpeto ofensivo (embora por vezes defensivamente suicida) dos Diabos Vermelhos? E qual astro do Manchester City finalmente brilhará na Copa: De Bruyne ou Gabriel Jesus? O Brasil fez sua melhor partida na Copa até agora contra o México, mostrando um notável controle emocional do jogo e fazendo os gols em momentos cruciais (poderiam até ter sido mais se não fosse outra atuação fantástica de Ochoa); os destaques foram Willian, que enfim desencantou no mundial, e Neymar, que participou dos dois gols. Por sua vez, a Bélgica tomou um susto nas oitavas, pois chegou a estar perdendo de 2x0 para o Japão até os 20 minutos do 2º tempo, e esteve a segundos de ter de encarar uma prorrogação; não fosse a inocência japonesa de partir para cima no último escanteio (e, com isso, ficar exposto a um contra-ataque mortal), talvez os belgas teriam sofrido mais para avançar às quartas; a entrada de Fellaini foi decisiva para a virada, ainda mais porque saiu da cabeça dele o gol de empate. É preciso ressaltar que a seleção belga mostrou poder de reação, e que o Brasil de Tite ainda não foi testado por uma equipe com suas características táticas (e seu alto nível técnico); portanto, não se pode prever se os “20 minutos de pressão” que sofreu contra México e Sérvia novamente passarão em branco. Depois das últimas Copas aprendi a ser mais cético com relação à seleção brasileira, portanto não vou ficar surpreso caso sejamos eliminados; entretanto, é a primeira vez desde 2005 (ano da histórica vitória por 4x1 sobre a Argentina na Copa das Confederações, e de uma boa reta final de eliminatórias) que estou de fato torcendo para o Brasil. Eu me incomodei com o oba-oba de Parreira em 2006, o excessivo pragmatismo e a postura arrogante de Dunga em 2010 e uma mistura das duas coisas com Felipão em 2014; com Tite voltou o bom futebol e veio uma postura mais “pé-no-chão”. Mesmo se a seleção perder hoje, espero que o senhor Adenor continue como técnico.
Rússia x Croácia: os russos protagonizaram a única zebra das oitavas-de-final, mas o resultado foi justo, pois eles anularam taticamente a Espanha, que trocou mais de 1000 passes, mas foi incapaz de oferecer perigo – tanto que o único gol espanhol foi contra, em um lance esquisito. Apesar da estréia promissora contra Portugal, a cada jogo nesta Copa os espanhóis se mostraram mais abalados pela ausência do técnico Julen Lopetegui; é preciso culpar não só a ele pelo desastre hispânico, mas também à atitude impulsiva da federação espanhola e ao Real Madrid, pela proposta tentadora que fez a Lopetegui às vésperas da Copa. Todos esses fatores racharam o grupo e fizeram a Espanha, diante do empate russo, ter que recorrer a uma espécie de tiki-taka degradado, uma “retranca com bola” (André Rocha). Mesmo assim, é preciso reconhecer o mérito da Rússia, que já foi mais longe do que talvez eles próprios esperassem. A essa altura, o que vier é lucro, e não seria impossível vencer os croatas – que, mais uma vez, perderam ritmo no mata-mata, mas, ao contrário de anos anteriores, conseguiram sobreviver via decisão de pênaltis. Nem as defesas incríveis de Schmeichel Jr. foram o bastante para salvar a Dinamarca, pois seus batedores foram bloqueados três vezes pelo goleiro croata, Subašić. A Croácia tem uma equipe melhor, cheia de craques como Rakitić, Mandžukić, Perišić e Modrić (este, aliás, perdeu um pênalti na prorrogação, mas conseguiu se redimir acertando outro na decisão de penalidades); porém, precisa voltar a jogar como jogou contra a Argentina para conseguir superar a equipe anfitriã, que, embora tecnicamente limitada, vem empolgada após o triunfo histórico nas oitavas.
Suécia x Inglaterra: os suecos perderam muitos gols contra os suíços, mas acabaram vencendo pelo placar mínimo uma seleção cuja segurança defensiva, pela 4ª Copa consecutiva, não foi o bastante para compensar o ataque pouco eficaz. A Suécia vem sendo uma das sensações da Copa, e provavelmente fará uma partida bem equilibrada contra os ingleses, que saíram ao mesmo tempo combalidos e aliviados do embate contra a Colômbia. Combalidos, porque jogaram mal, fizeram muitas simulações (os colombianos também, diga-se de passagem) e foram castigados pelo milagroso gol de Mina nos acréscimos (o terceiro dele na Copa, tornando-se assim o improvável artilheiro colombiano), que impediu que vencessem no tempo normal graças a um mísero gol após mais um pênalti infantil cometido por Sánchez. A Inglaterra teve que encarar uma temida decisão de pênaltis, e considerando o histórico desfavorável (havia perdido todas as três vezes que decidiu por penalidades nas Copas, e 3 de suas eliminações nas últimas 6 Eurocopas também vieram desta maneira), o temor de um novo fracasso era grande – e foi potencializado depois que a Colômbia abriu 3x2 com o erro de Henderson. Aliviados, porque o técnico Southgate (que, aliás, errou o pênalti que desclassificou os ingleses na semifinal da Euro em que foram anfitriões, em 96) treinou bem a equipe nas penalidades, tanto do ponto de vista técnico quanto do psicológico, e logo veio a virada – iniciada com a bola no travessão de Uribe e consolidada com a defesa de Pickford na cobrança de Bacca. A Inglaterra exorcizou o primeiro fantasma, agora falta o segundo: passar das quartas-de-final em uma Copa após 28 anos. Para vencer a Suécia terá que oferecer muito mais do que mostrou no tenso duelo com a Colômbia; elenco para isso ela tem, mas falta superar o “jogo feio” que tão freqüentemente os Three Lions mostram quando mais se espera deles.