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Kaio

 

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14 julho 2018

Os finalistas da Copa - e os que quase chegaram lá


A Copa do Mundo chega à final com um duelo que poderia ter acontecido já nas oitavas-de-final: França x Croácia. Antes da Copa, em 23 de Maio, fiz uma simulação dos possíveis confrontos de oitavas, quartas, semi e final. Como os franceses provavelmente liderariam o grupo C e os croatas ficariam atrás dos argentinos no grupo D, acreditei que as duas seleções tinham chances de se encontrar no primeiro mata-mata.

Já na segunda rodada da Copa o duelo foi postergado para uma hipotética (mas ainda pouco provável) final, devido à contundente vitória da Croácia sobre a Argentina. A seleção balcânica ainda não sabia, mas aquele triunfo – que praticamente assegurou o 1º lugar no grupo - também estava colocando ela no lado mais fácil do chaveamento da Copa, pois as seleções mais cotadas para entrar nele ou foram eliminadas já na 1ª fase (Alemanha), ou caíram nas oitavas (Espanha). Os croatas não repetiram o ótimo desempenho na 1ª fase contra Dinamarca e Rússia, mas mostraram notável resistência física e emocional ao sobreviver a duas prorrogações seguidas de pênaltis. O bom futebol, contudo, voltou quando mais precisava: na semifinal contra a Inglaterra, com uma vitória de virada – novamente precisando do tempo extra, mas desta vez o jogo foi resolvido na prorrogação.
Talvez nem a própria torcida croata esperasse que sua seleção fosse chegar tão longe, ainda mais dado o turbulento contexto pré-Copa; para não entrar em questões políticas e jurídicas e me ater às futebolísticas, cabe lembrar que a Croácia passou raspando nas eliminatórias; precisou trocar de técnico às vésperas da última rodada e, mesmo vencendo a Ucrânia fora de casa, ficou atrás da Islândia (sim, a mesma seleção que a Croácia iria eliminar em seu grupo nesta Copa!) no grupo I e precisou encarar a repescagem contra a Grécia. Oito meses depois, Modrić, Rakitić, Mandžukić (que caiu em cima de um fotógrafo na comemoração do 2º gol contra a Inglaterra, rendendo fotos hilárias como a postada abaixo), Perišić e cia. conseguiram chegar mais longe no mundial do que a fantástica equipe de 1998 (formada por craques Šuker, Jarni, Boban e Bilić); podem até não ganhar a Copa, mas o vice-campeonato já deixaria a equipe no mesmo patamar de outras duas lendárias seleções do Leste Europeu: a Tchecoslováquia (1934 e 1962) e a Hungria (1938 e 1954). Aliás, comentaristas como Jonathan Wilson (autor de “A Pirâmide Invertida”, livro sobre a história dos esquemas táticos que estou lendo com prazer nos últimos dias) notaram que a Croácia é o finalista mais surpreendente em uma Copa desde justamente os tchecoslovacos em 62.



A França, com um ótimo elenco e mais madura depois do frustrante vice na Euro 2016, sempre foi cotada como um time que tinha boas chances de chegar à final, mas para isso teve que encarar um chaveamento difícil: enfrentou argentinos (ressuscitados após uma vitória dramática sobre os nigerianos), uruguaios (que tinham eliminado os portugueses) e belgas (os quais vinham de uma vitória sobre os brasileiros). A seleção francesa sobreviveu incólume a esses três duelos; teve pouco trabalho contra um Uruguai sem Cavani e uma Bélgica resignada após o 1x0. Curiosamente o jogo em que teve que se esforçar mais foi contra a caótica Argentina: após tomar a virada no início do 2º tempo, a França fez 3 gols em 11 minutos, e podia até ter feito mais; porém, tomou outro gol nos acréscimos e quase levou o empate no último lance do jogo.
Os franceses vêm sendo bem econômicos na Copa; craques como Pogba, Mbappé e Griezmann não precisaram jogar tudo o que sabem na maioria das partidas, e a equipe se dá ao luxo de ter um centroavante medíocre como Giroud (que, segundo me contou uma amiga que mora na França, é considerado por seus próprios conterrâneos “um bom zagueiro para um atacante”) – afinal até o zagueiro Umtiti fez gol. É um bom presságio, pois a França campeã de 98 também não tinha um bom centroavante, e seus 15 gols foram feitos por 10 jogadores diferentes. Resta saber se na final a França vai manter a serenidade e a segurança que vem mostrando ao longo de toda essa Copa ou se, tal como fez contra Portugal dois anos atrás, irá “amarelar” logo no jogo decisivo.

Sobre as equipes eliminadas nas quartas e semifinais, eis alguns comentários:

1) Como já disse anteriormente, a seleção uruguaia não resistiu à ausência de Cavani, que teve uma lesão no jogo contra Portugal. Faltou uma referência ofensiva, inclusive para fazer dupla com Suárez. Restou ao Uruguai entrar no “modo Libertadores”, e distribuir botinadas nos franceses, na esperança de ganhar o jogo na raça e na força física. Não deu muito certo, pois a equipe levou um gol ainda no 1º tempo, e precisou correr atrás do resultado. O golpe de misericórdia foi a falha bisonha do goleiro Muslera, que mantém a sua sina de oscilar entre o gênio (como nos pênaltis entre Uruguai x Gana, em 2010, ou mesmo no jogo contra Portugal) e o grotesco; é uma espécie de Taffarel uruguaio. De toda forma, o Uruguai terminou a Copa em 5º lugar (uma posição acima do Brasil), e se esta foi a despedida de Óscar Tabárez do comando técnico da Celeste, a sensação de dever cumprido é evidente.

2) Antes do jogo do Brasil eu já estava resignado à possibilidade de uma derrota, como demonstra o tom quase de despedida do meu post anterior sobre a Copa. Ainda que esta fosse a primeira Copa em muito tempo na qual gostei do técnico da nossa seleção e dos jogadores escolhidos, do outro lado haveria uma seleção jogando no meu esquema tático favorito (3-4-3) e com alguns dos maiores craques dos últimos 5 anos (Hazard, De Bruyne, Lukaku, Courtois...). Mesmo assim, a derrota para a Bélgica foi um pouco melancólica. Em primeiro lugar, jogadores remanescentes do 7x1 falharam novamente: Marcelo não teve pique para a marcação, Fernandinho fez um gol contra e não fez uma falta que impediria o 2º gol belga, Paulinho novamente foi mal e conseguiu a proeza de ser substituído em todos os jogos da Copa... Em segundo lugar, foi uma má idéia tirar Filipe Luís para recolocar Marcelo; o Brasil venceu bem a Sérvia e o México com ele no time, pois dava segurança defensiva, e em uma partida em que o time já estaria desfalcado de Casemiro, essa troca deixou brechas para os contra-ataques mortais dos belgas. Em terceiro lugar, do ponto de vista tático, a seleção brasileira levou um nó da disciplinada Bélgica – como bem apontaram analistas como Cuca e Jonathan Wilson, os belgas oscilaram entre o 3-4-3, o 4-3-3 e o 4-4-2, sendo que as duas últimas formações permitiram à equipe se recompor defensivamente e anular a movimentação do Brasil (que insistiu no 4-2-3-1 em vez de tentar o 4-4-2 que deu certo contra o México). Em quarto lugar, como bem apontou Mauro Cezar Pereira, Tite se ateve à sua “panelinha” (por mais que Paulinho, Gabriel Jesus e Willian tivessem ido bem nas eliminatórias, eles renderam pouco ao longo da Copa - embora o último até tenha jogado bem contra a México) e abriu mão de jogadores que poderiam ter ido melhor, como Firmino, Douglas Costa e Renato Augusto (no caso dos dois últimos estavam machucados em jogos anteriores, mas poderiam ter entrado antes contra a Bélgica, pois nos poucos minutos que estiveram em campo o time melhorou significativamente e quase chegou ao empate). Cabe ressaltar que foi 4ª derrota seguida do Brasil para uma seleção européia em mata-matas de Copas; desta vez, contudo, mostrou mais raça do que nas três anteriores. Espero que haja aprendizado tático e maior maturidade emocional no próximo mundial.

3) A Suécia fez sua pior atuação na Copa contra a Inglaterra. Desde o início jogou de forma retranqueira, muito longe da proposta ofensiva que mostrou contra México, Suíça e no 1º tempo contra a Alemanha. Não foi difícil para os ingleses despachá-los com 2 gols em bolas aéreas, e poderiam até ter feito mais se Sterling não fosse tão fominha. Mesmo assim, os suecos saem da Copa com um desempenho bem acima do esperado; Ibrahimovic não fez falta, e os suecos tiveram sua melhor performance em competições internacionais desde 1994.

4) A Rússia também termina o mundial com saldo positivo. Conseguiu uma surpreendente classificação para as quartas-de-final, e por muito pouco não chegou à semifinal. O gol de empate de Mário Fernandes na prorrogação até deu ânimo para os russos vencerem nos pênaltis, mas o erro do próprio brasileiro em sua cobrança e a defesa de Subašić na cobrança de Smolov deram a vaga à Croácia. Os russos foram valentes ao longo de toda a Copa, e superaram toda a desconfiança após os maus desempenhos competitivos nos últimos 10 anos. Jogadores como Dzyuba e Cheryshev saem em alta.

5) A Bélgica, após a notável reação contra o Japão nas oitavas e a aula de tática contra o Brasil nas quartas, não mostrou nenhuma dessas virtudes na partida contra a França. A mudança para o 3-5-2 até parecida prudente, mas a equipe não conseguiu traduzir a superioridade em meados do 1º tempo em gols, e isso é fatal contra uma equipe tão eficiente contra a França. Depois que esta fez o gol, os belgas se abateram, e ofereceram pouco perigo a Lloris; os franceses estiveram mais perto do 2º gol do que os belgas do empate. Fellaini, um dos heróis contra o Japão, voltou a ser digno da posição de mascote do “Corneta Europa” após o erro de marcação no gol francês e na temeridade com que subia para o ataque, deixando a defesa desprotegida. A Bélgica conseguiu um grande feito contra o Brasil, mas diante da França mostrou os seus limites. Esta tem um time tão bom quanto o belga, mas soube se defender melhor, foi mais eficaz no ataque e cozinhou bem o jogo depois de fazer seu gol. Resta aos belgas ganhar dos ingleses nos próximos minutos para encerrar bem a sua melhor campanha em Copas até hoje.

6) A Inglaterra vinha do seu melhor jogo em Copas em 16 anos: a vitória contra a Suécia foi a melhor atuação inglesa desde o 3x0 contra a Dinamarca nas oitavas de 2002. Pareciam ter se redimido depois do sufoco contra a Colômbia e, exorcizado o fantasma dos pênaltis, enfim jogando bem (em especial o goleiro Pickford, que fez boas defesas). No jogo seguinte, contudo, os Three Lions fizeram um gol logo no início (aliás, uma bela cobrança de falta do Trippier) e infelizmente retomaram uma das suas piores tradições: se contentar com um 1x0 e fazer cera pelo resto do jogo. Os ingleses ainda por cima esbanjaram gols perdidos, em especial um de Harry Kane ainda no 1º tempo. Essa postura displicente pôs a vaga na final em risco, pois a Croácia voltou melhor no 2º tempo – em vez de ficar sorumbática como a Bélgica, ela partiu para cima. Quanto aos ingleses, em vez de controlar tão bem a partida como fizeram contra a Suécia, eles se retrancaram e atraíram o empate como já ocorrera contra a Colômbia. O castigo veio com o gol de empate de Perišić, e por pouco a Croácia não virou ainda no tempo regulamentar, dado o nervosismo que se instalou os ingleses depois que perderam a vantagem. Mesmo com o joelho machucado após uma dividida com Pickford, Mandžukić fez o gol da virada no 2º tempo da prorrogação, despachando os ingleses para casa – quer dizer, depois de hoje, pois ainda estão jogando a decisão de 3º lugar. A Inglaterra tem motivos para se orgulhar da seleção treinada por Southgate (melhor técnico da equipe em décadas), mas não foi além da semifinal por insistir em erros de Copas anteriores (outro caso de 1x0 que foi revertido foi justamente contra o Brasil, em 2002).

P.S.: Sobre a final, a França é a favorita, mas a Croácia não pode ser subestimada – ainda mais considerando que Portugal também passou por várias prorrogações na Euro 2016 e derrotaram os franceses na final. A equipe treinada por Deschamps, contudo, está mais equilibrada e parece propensa a não repetir o vice de dois anos atrás.

 

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