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Kaio

 

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13 novembro 2013

Vanishing Point

Em 13 de Novembro de 2006 eu assisti a um show que mudou minha vida. Naquela época eu estava no momento mais “aborrecente” de minha adolescência: 1) não tinha saco para ser sociável no colégio; 2) escrevia textos arrogantes e solipsistas no meu blog; 3) havia acabado de sair de mais uma desilusão amorosa (desta vez, para aumentar o caráter tragicômico, havia sido por uma amiga online que morava em SP); 4) tive até um flerte com a estética gótica (e se eu disser que até criei um perfil fake no Orkut, além de um MSN e até um blog para o meu “dark side”?).
Foi quando viajei para São Paulo com minha mãe para ver a New Order, duas das minhas bandas preferidas (afinal eles são ¾ da Joy Division), ao vivo na Via Funchal. Compramos nossos ingressos em Setembro, de tão ansioso que eu estava. Tudo bem que semanas depois a banda confirmaria um show extra em Brasília, mas não importa: eu não quis ficar à mercê do destino e decidi que iria ao de SP mesmo. 
Por que tanta empolgação? Oras, Joy Division e New Order me "salvaram" em 2005. Em meio à crise existencial (ou, em termos menos dramáticos, em meio ao meu "mimimi adolescente") que eu senti no 2º semestre daquela ano, ouvir a melancolia dançante de ambas era  uma trilha sonora para os maus (e bons) momentos. "Isolation" superou "I Am The Walrus" (Beatles) como minha música favorita, e até escrevi uma redação inspirada em "Love Will Tear Us Apart" e um post apontando "Blue Monday" como a 1ª música do Século XXI.

A viagem foi ótima, com direito a muitos CDs comprados na Galeria do Rock (já virou uma tradição: das sete vezes em que viajei para São Paulo, dei uma passada na Galeria em cinco delas) e na Fnac. 
O show, então, foi apoteótico: a banda estava impecável ao vivo, com direito às dancinhas esquisitas de Bernard Sumner e Peter Hook solando com seu baixo pertinho do público. Assistir ao vivo a clássicos como "Ceremony", “Love Will Tear Us Apart”, “Bizarre Love Triangle” e "Temptation" foi inesquecível. Na época eu disse que era o melhor dia da minha vida; ainda hoje ele entraria no meu top 5. Para maiores detalhes sobre o 13 de Novembro, leiam o post que escrevi na época.
Esta apresentação da New Order foi tão importante para mim que me infundiu sentido existencial: cansei de ficar resmungando sobre mim mesmo e o mundo, e renovei minhas energias para 2007, o último e decisivo ano do ensino médio. Em outras palavras, voltei ao meu "estado natural" de otimismo. Não só estudei com muito mais afinco, como também avancei no meu auto-cultivo e na minha formação cultural. Cheguei bem preparado na UnB, e nela as coisas progrediram em velocidade maior ainda. Sinal disso é que, quando leio textos que escrevi antes de entrar na faculdade, sinto até certo estranhamento com o Kaio de outrora. Por mais que certas marcas estilísticas permaneçam (principalmente em minhas resenhas de discos), meus escritos tinham uma "certeza provinciana", coisa típica de quem tem muita teoria e pouca experiência de vida. Não que hoje eu seja um Bukowski da vida, mas passei por várias situações nestes sete anos - desde relacionamentos amorosos até participação em grupos de pesquisa e no movimento estudantil - que me ajudaram a crescer.

Além disso, esta viagem para São Paulo em 2006 me permitiu respirar novos ares, e voltei revitalizado; desde então aproveitei toda oportunidade que tinha para viajar, seja para congressos acadêmicos ou para shows. Talvez o que sociólogo Georg Simmel disse sobre a aventura tinha alguma razão... Cabe citar um texto de meu amigo Glauber que parafraseia Simmel: 
"A aventura surge como uma perspectiva da vida com contornos próprios, uma espécie de península ligada ao continente cultural da vida moderna apenas por um pequeno trecho de terra, sem se articular com o todo de forma homogênea. Se na aventura a vida não encontra continuidade com o mundo, contudo, ela também não está completamente isolada dele. Experiência fugidia, trata-se mesmo de outra maneira de se lidar com o cotidiano que, nesse sentido, produz um espaço à margem, mas não completamente estranho a ele".

Duas semanas depois do show ainda tive uma recaída (em 24/11, no festival Goiânia Noise, portei-me como um autista e passei horas sentado numa escada ouvindo música e lendo), mas isso é normal; ninguém amadurece de uma só vez. E meu amadurecimento ainda nem acabou; por mais que hoje eu me sinta uma pessoa melhor do que eu era em 2006, ainda estou muito longe do meu telos, do meu ideal formativo. Tornei-me menos egocêntrico e misantrópico, mas uma comparação favorável com meu passado se daria mais pelo negativo (ou seja, o que eu não sou mais - ou, o que sou de forma menos intensa) do que pelo positivo (i.e., algo que "adquiri"). 
Muitas das angústias que me afligiam naquela época continuam a me atormentar - sendo que uma delas até se sobrepôs à política (assunto no qual eu mais pensava durante boa parte da minha adolescência) e se tornou a maior: a minha dúvida sobre a existência de Deus e da mortalidade da alma. Ok, isso soa pretensioso (algo do tipo "Quero soar dostoievskiano"), mas a resposta para ambas as perguntas traz grandes implicações existenciais. Já estive mais próximo da negativa de Ivan Karamázov, mas ainda não tenho a fé inabalável de Aliócha. Sou um agnóstico mais próximo de crer na transcendência do que de me resignar - e muito menos celebrar - a imanência.
No fundo, estudei Doutor Fausto porque queria fortalecer minha certeza de que a "solução" não está no Mal, no esteticismo, na arte que escarnece da moral. Felizmente estou do lado de Thomas Mann e contra Adorno: não acho que cabe à arte expressar somente as fraturas de nossa época, mas também ter um papel pedagógico, além de ser capaz libertar a alma humana do medo e do ódio, e assim auxiliar o homem em sua viagem pela vida (P.S.: estou citando um trecho da minha dissertação, rs).

Acho que, no fundo, o motivo deste post auto-reflexivo é minha insegurança diante das duas seleções de doutorado que terei nas próximas semanas. Nem estou tão ansioso pela defesa da dissertação (que será no dia 18) quanto normalmente estaria. Ainda não comecei a escrever o projeto para a PUC nem a carta de intenções para o IESP, embora já tenha uma noção do que pretendo desenvolver. O medo de não passar em nenhuma das seleções talvez seja até maior do que aquele que eu nutria em 2011, antes de ser aceito no mestrado. Embora eu confie no meu potencial e esteja longe de ter baixa auto-estima, a importância de entrar no doutorado não é meramente acadêmica, mas também para me dar uma certeza sobre como será minha vida nos próximos anos. A última vez que eu senti tal tranqüilidade e segurança foi no primeiro ano de UnB. Seria bom ter essa sensação novamente ano que vem, nem que seja por apenas alguns meses...

Este texto ficou com um tom mais sombrio do que eu imaginava. Talvez minha "transição" da Joy Division para a New Order não tenha sido completa... Sendo assim, como epígrafe para este post citarei "Ceremony", uma das últimas músicas escritas por Ian e que virou o primeiro single da nova banda:

This is why events unnerve me
They find it all a different story
(...)
Oh I'll break them down, no mercy shown
Heaven knows it's got to be this time

 

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