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Kaio

 

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12 novembro 2013

The Universal

Desde 2010 desenvolvi uma tradição de ir a São Paulo em novembro (ou outubro) para assistir ao festival de rock mais bem organizado do Brasil: o Planeta Terra. 
Na primeira edição em que fui, eu vi Of Montreal, Mika, Phoenix, Pavement e The Smashing Pumpkins (e, num "combo", assisti no dia seguinte, no Morumbi, a um inesquecível show de Paul McCartney); em 2011 acompanhei Toro y Moi e o finalzinho do show do Garotas Suecas, mas fui mesmo para ver Interpol e The Strokes; no ano passado me diverti com Banda Uó e vi apresentações inesquecíveis de Suede, Garbage e Gossip. 
Desta vez, havia dois motivos secundários (Beck e Travis) e um principal: Blur, uma das minhas cinco bandas favoritas de todos os tempos. Comprei o ingresso apenas algumas horas depois que foram iniciadas as vendas, e minha namorada - que também adora esta banda - fez o mesmo.

Após três meses e meio de ansiedade, no dia 9 de Novembro eu e Carolina saímos às 6h30 da rodoviária do Rio de Janeiro em direção à capital paulista. Durante a viagem de seis horas li bastante As Idéias e as Formas, excelente coletânea de ensaios de José Guilherme Merquior; dormi um pouco também, é claro. 
Chegamos em São Paulo ao meio-dia. Pegamos metrô para a estação República e, após algumas andanças pela rua São João, encontramos o hostel em que ficaríamos hospedados. Ele fica bem localizado, perto de vários lugares do centro da cidade. Almoçamos no Habib's e depois fomos à Galeria do Rock. Comprei dois CDs - a coletânea dupla The Best Of (Suede) e o clássico Disintegration (The Cure) - e uma camiseta do New Order, com a capa do Substance

Em torno das 15h30, mais uma viagem de metrô (aliás, o subway de São Paulo é muito mais complexo - e legal - do que o do Rio), e pouco depois chegamos na estação Santana, a que fica mais perto do local do festival, o aeroporto Campo de Marte. 
A fila foi surpreendentemente curta, e pouco depois já estávamos nos divertindo no tobogã do Banco do Brasil. Desci tão rápido que até quiquei, haha.


Após fazermos nosso estoque de água (compramos 4 copos), eu e minha namorada nos ajeitamos na platéia para ver Travis, a banda que é um elo entre as baladas à la "Wonderwall" do Oasis e o Coldplay. As músicas são muito parecidas entre si, mas a banda é simpática - principalmente o baixista, metido a galã. Destaques para "Selfish Jean" (talvez a única realmente agitada), "Sing" (a mais famosa e cantarolável), a versão acústica de "Flowers In The Window" (que ficou melhor do que a de estúdio) e "Why Does It Always Rain On Me?" (um hino loser). 

A organização do Planeta Terra teve a péssima idéia de colocar Beck como atração do palco "alternativo" ao invés daquilo que seria mais sensato, isto é, entre Travis e Blur. Essa decisão em si não seria tão ruim não fosse a atração musical que ficou nesse "gap": a patética Lana Del Rey. Sua única qualidade é a semelhança física com a Robin de How I Met Your Mother; no mais, temos uma cantora medíocre, artificial, que ficou dando autógrafos antes mesmo de tocar a segunda música, cheia de frases prontas, clipes de fundo extremamente auto-indulgentes (o mesmo pode ser dito de suas letras) e, para piorar, um fã-clube feito à sua imagem e semelhança, ou seja, adolescentes blasé, nojentinhas, mal-vestidas e com coroas de flores em suas cabeças. Para passar o tempo eu e a Carol chegamos a ficar olhando fotos antigas em nossos celulares. Haja tédio!

Após a tortura que foi o show de Lana Del Rey, a espera foi recompensada: enfim, após 8 anos tendo Blur como uma das minhas bandas favoritas (e 15 desde que escutei "Song 2" pela primeira vez, em FIFA 98), eu estava vendo Damon, Graham, Alex e Dave ao vivo! Aliás, foi impossível não gargalhar com o visual irreverente do baixista Alex James: bermuda, lenço no pescoço e ainda por cima ofereceu uma xícara de chá para o público!


Logo de cara mandaram dois hits dançantes: a andrógina Girls & Boys e a resignada There's No Other Way. Obviamente eu e todos os demais fãs pulamos muito e cantamos a plenos pulmões.


Após a obra-prima Beetlebum e a bela Out of Time, o Blur executou quatro faixas do álbum 13, que envelheceu bem e hoje em dia é um dos preferidos de público e crítica. A banda começou pela swingada Trimm Trabb, uma das mais intimistas de um álbum que já é extremamente confessional; seguiu com a deprimida Caramel, que antes era a música do 13 que eu menos prestava atenção, mas ao vivo ela provou o seu valor, graças principalmente à guitarra de Graham Coxon; a brilhante Coffee & TV foi a seguinte, e foi curioso notar a timidez de Coxon, afinal ele não olhava para a platéia enquanto a cantava; a seqüência foi encerrada com o hino gospel da noite: Tender, cujo refrão "Oh my baby, oh my baby, oh why, oh my" foi cantado por muitos fãs antes, durante e depois do show. 



Em seguida veio a serenata To the End, na qual Damon Albarn se declarou para a lua crescente que iluminava a noite paulistana. Damon desceu para cantar junto com a platéia em Country House. Ele se empolgou tanto que até pegou uns óculos da HP de alguém da platéia. Se no documentário No Distance Left to Run (2010) esta música era apontada como aquela que tornou a banda, da noite para o dia, antipática para o público (afinal, eles foram considerados os "vilões" na rivalidade com o Oasis, numa espécie de luta de classes do britpop, em que o Blur representava a classe média/alta londrina e a banda dos Gallagher, os homeless do norte da Inglaterra), anos depois Albarn pode cantá-la com bom humor.




Phil Daniels, protagonista do filme Quadrophenia (1979) e convidado especial dos shows do Blur desde 2009, veio cantar Parklife. Um dos momentos altos do show foi a platéia cantando alto toda vez que chegava no refrão ("All the people / So many people / They all go hand in hand / Hand in hand through their parklife"). Estávamos diante de outra seqüência de faixas do mesmo álbum, desta vez três do ParklifeApós o pop melancólico de End of a Centuryque ainda soa atual ("Sex on the TV / Everybody's at it / And the mind gets dirty / As you get closer to thirty")o show alcança novo ápice com This is a Low ("This is a low /But it won't hurt you / When you are alone it will be there with you / Finding ways to stay solo") O quarteto retira-se do palco, mas Graham deixa a guitarra distorcida ainda ligada.



A banda volta para o bis com Under the Westway, uma canção triste, mas bonita, lançada no ano passado. Talvez tenha sido o último single do Blur, afinal não há planos para o lançamento de um oitavo álbum; quando esta turnê acabar ano que vem, depois dos shows no Japão e na Austrália, ninguém sabe o que vai acontecer. A performance continuou com duas canções épicas: For Tomorrow (se Joyce fez de Dublin o palco de seu Ulisses, então esta canção sobre Londres é a Odisséia do fim do século passado) e The Universal (a propósito, a preferida da minha mãe).



A última música do show não poderia ser outra senão Song 2, a melhor canção americana feita por uma banda britânica (ou qualquer outro paradoxo ou ironia em que vocês puderem pensar). Pulei tanto que acabei dando uma "queixada" na Carolina; doeu tanto que ela até chorou, tadinha... Mesmo assim, continuamos pulando até o fim do show, haha! Considerando que esta faixa de 2 minutos estava tocando quando nos conhecemos (numa festa em agosto do ano passado), parece que agora eu e ela temos um segundo motivo para nos lembrarmos dela, hehe.

Enfim, o show do Blur foi inesquecível. Os fãs da banda, ao contrário dos da Lana Del Rey, são civilizados e simpáticos; tanto é que eu e um monte de gente nos abraçamos e conversamos efusivamente depois que a apresentação havia acabado. Pouco depois, uma amiga da Marina e da Joana deu carona para nós quatro, e fomos jantar na Augusta antes de voltar para o hostel.

No domingo, tomamos café da manhã, fizemos check-out no hotel e fomos para a Liberdade, bairro dos imigrantes japoneses e chineses. Almoçamos junto com a Marina num restaurante chinês (cujas garçonetes não sabiam falar português!), e a Carol comprou várias coisas - para si mesma e para dar presentes - na feira que ficava perto da estação de metrô. Aproveitei para adquirir um ímã de geladeira para a minha mãe, que adora esse tipo de lembrancinha. Em seguida a Carolina foi buscar sua shinai (espada de kendo), a qual havia encomendado semanas antes para um vendedor coreano que mora na Liberdade. Passamos duas horas conversando com ele sobre kendo, comida coreana e até a hiperinflação brasileira nos anos 80 e 90.
À noite nós três passeamos na Avenida Paulista, e fomos na maior Livraria Cultura do Brasil - aliás, foi nela que no ano passado comprei A Teoria do Romance (Lukács). Foi difícil me segurar para não comprar nada, mas eu já tinha gasto muito dinheiro no dia anterior, na Galeria do Rock...
Às oito e meia da noite nos despedimos da Marina, jantamos no McDonald's e fomos para a rodoviária; por sorte, há uma estação de metrô que passa dentro dela. Duas horas depois, saiu o ônibus de volta ao Rio. Era o fim de mais uma das ótimas viagens que fiz em 2013. Pela primeira vez minha excursão para o Planeta Terra não teve aventuras aleatórias (porém divertidas) nas quais eu não sabia sequer onde iria dormir; em compensação, a inestimável companhia da Carol fez com que a trip deste ano seja a minha preferida. Que venha o Terra '14!

 

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