26 fevereiro 2013
Há alguns minutos, num grupo do Facebook, participei de uma discussão interessante com o pessoal, e pretendo reproduzí-la aqui.
Tudo começou quando falávamos sobre o passado esquerdista de muitos de nós, e como "evoluímos", "superamos" essa fase. (A propósito, se quiser saber mais sobre o meu, leia o meu antigo blog O Espaço Mundial, além de alguns posts que publiquei aqui em Racio Símio entre Julho e Outubro de 2005. A guinada à direita foi consolidada em Janeiro/2006, neste post)
Eis que um menino do grupo discorda, alegando que:
1) Ser de esquerda não é ser imaturo, e "superar" o esquerdismo também não é questão de educação, ou de tempo. Ideologia não é questão de inteligência, mas de preferência.
2) Não é uma postura imatura, é apenas uma posição diferente da qual discordamos. É uma posição pior, mas é pior aos nossos olhos.
3) Assim como é errado os ateus criticarem os religiosos porque alguns de seus dogmas entram em contradição com a ciência, criticar o esquerdismo como imaturo partindo de meus próprios valores ("liberdade, família, religião e tradições culturais") é universalizá-los indevidamente.
As minhas réplicas foram as seguintes:
1) Posso soar arrogante, mas discordo: a esquerda tem uma percepção bem problemática da realidade, que pode fomentar (ou legitimar) atitudes violentas, autoritárias e/ou anti-sociais. A mentalidade utópica/revolucionária leva a um maquiavelismo de, em prol do sonho de um futuro melhor, praticar o mal no presente e ver o passado como "ultrapassado".
2) Não dá para relativizar valores éticos tão importantes. A ação da esquerda causou males enormes à humanidade desde o fim do século XVIII; não falo só das dezenas de milhões de mortes causadas por jacobinos, stalinistas, maoístas etc., mas também da corrosão da liberdade, da família, da religião e das tradições culturais. O rastro de destruição é enorme para ser ignorado.
De fato a mentalidade utópica/revolucionária não é exclusiva deles (vide anarco-capitalistas), mas os esquerdistas necessariamente a adotam. Mesmo os mais moderados (social-democratas) sempre colocam a promessa de futuro acima da prudência.
3) Mantenho minha postura universalista: existem certos valores que não podem ser relativizados. Os motivos para isso não são lógicos ou racionais, mas existenciais: vive-se pior sem eles. Nesse ponto concordo com Dostoiévski: o problema do socialismo (e demais modalidades de revolta metafísica) é o abismo existencial a que ele pode levar uma pessoa - e, por tabela, aquelas próximas a ela.
Raramente entro em debates no FB; talvez seja trauma dos argumentos ad hominem com que eu me deparava (e, por vezes, também praticava) nos tempos de Orkut. Porém, desta vez tive que conter o medo da discussão se desvirtuar e defendi com firmeza valores que são importantes para mim. Minhas discordâncias com esquerdistas e relativistas não são meramente ideológicas e acadêmicas, mas também existenciais. Vejo os problemas causados por uma vida pautada por tais idéias tanto em alguns colegas e amigos (p.ex., utopismo, "wishful thinking", niilismo, desapego afetivo etc.) quanto em mim mesmo: perturbo-me com minha falta de religiosidade; às vezes sinto o vazio que é ser tão agnóstico/sem fé e não conseguir sentir uma força transcendental.
Minha "batalha" contra esquerda e relativismo é também um confronto com minhas próprias crenças. Nesse sentido concordo com a interpretação que Mario Vieira de Mello deu a Nietzsche: a filosofia é uma vitória sobre si mesmo.
Post-scriptum: como não ficar emocionado (e surpreso) ao ver cenas como as desse episódio de X-Men?