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18 agosto 2010

"A Montanha Mágica" e o Sentido da Liberdade

(Proposta de Pesquisa)

Resumo: Este artigo discutirá as formas e concepções de Liberdade, tanto em suas convergências quanto em suas oposições, tendo como ponto de partida a obra “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann. Os personagens deste “bildungsroman” indagam-se, entre outras questões, sobre o que é ser livre. Em seguida, investigaremos como este debate ocorre entre as diversas correntes do Liberalismo, ao longo dos dois últimos séculos - inclusive quando estas resgatam perspectivas de influência clássica. A partir das intersecções e conflitos encontrados entre as liberdades cívicas e individuais (ou públicas e privadas), especularemos sobre as possibilidades de superação de um contexto histórico desfavorável, tendo em vista a plena formação humana, enquanto indivíduos e cidadãos, à luz da idéia de “bildung”.
Palavras-chave: Liberdade, Formação, Ética, Indivíduo, Humanismo, Liberalismo.

Discussão introdutória: “A Montanha Mágica” possui um caráter pedagógico, pois o protagonista apreende ao máximo a experiência humana ao longo de sua trajetória: o amor, a ciência, a política, a arte, a filosofia, a fé e o próprio tempo. Porém, Mann também apresenta um debate sobre a Modernidade, com todas as correntes (sejam elas apologéticas ou críticas) entrando em confronto ao longo da obra. Além disso, pode-se afirmar que a liberdade (que, de certa maneira, iguala-se ao empreendimento de “busca pelo sentido da vida”, no sentido humanista) seja o assunto principal deste romance.
Logo no início da obra, Thomas Mann caracteriza o protagonista Hans Castorp como medíocre. Não o faz com referência à inteligência ou caráter, mas quanto ao próprio tempo e espaço em que vivia. Em outras palavras, nada havia em seu contexto que favorecesse gestos heróicos e ações ímpares. Nem a influência de dois intelectuais, aparentemente em diâmetros opostos, parece ser capaz de alterar o destino de Castorp. A partir deste e outros aspectos, é pertinente refletir sobre as dificuldades de exercício e da própria definição do sentido da liberdade no mundo moderno.
A Política pode ser pensada por meio da Literatura; podemos interpretá-la a partir de debates filosóficos suscitados por obras clássicas, exemplares de genialidade atemporal – grupo do qual “A Montanha Mágica” faz parte. Sendo assim, investigaremos a possibilidade de esta forma de Arte ser tanto fonte quanto campo de estudo da Filosofia Política.

Perguntas Centrais
- De que forma a digressão de Mann sobre a mediocridade se relaciona com a crise intelectual e espiritual e a tendência à uniformidade que marcam os tempos modernos?
- A liberdade desejável na esfera pública é necessariamente (ou exclusivamente) política, ligada à “ação”? A liberdade privada, com o problema do “individualismo” sob controle, é possível nas sociedades democráticas?
- O sanatório é percebido como um espaço isolado, afastado da realidade?
- Existe um ponto em que a liberdade pública e a liberdade privada se tocam, permitindo assim a “bildung” – enquanto formação cultural e humanística?
- Como Castorp lida com seus dilemas existenciais? O que representam as escolhas que ele faz ao longo da obra? O desfecho de Hans Castorp indica coexistência ou conflito entre liberdade individual e responsabilidade cívica?

Sumário do Artigo
1. A Chegada: propósitos e objetivos
Epígrafe do romance, sobre as dificuldades decorrentes da mediocridade do contexto histórico. Por que estudar Filosofia Política pela Literatura. A relevância de Thomas Mann para o debate sobre o que é e como desenvolver a Liberdade. A figura do intelectual público e a mediação cultural.
2. Bildungsroman: o romance como formação cultural e humanística
O que é “bildung”. Individualidade, pluralidade e personalidade. O “bildungsroman”: definição e exemplos de romances de formação. O diálogo entre Goethe e Schiller. A contribuição de Humboldt. Aspectos e passagens do romance que demonstram seu caráter pedagógico e filosófico.
3. Settembrini, o enciclopédico
Reflexões sobre um personagem paradoxal. A defesa do humanismo. A crença veemente no progresso. Settembrini como síntese do pensamento político moderno. O projeto da Enciclopédia. O ativismo político. Pensamentos sobre arte, sociedade e política.
4. A Pedagogia da Liberdade
O que é Liberdade. Desenvolvimento deste conceito ao longo de “A Montanha Mágica”. Ensinamentos de Settembrini. Os diálogos com Naphta. Visões de mundo defendidas e atacadas. Ambigüidades no pensamento do italiano. Contrapontos com Hans Castorp. Os perigos do racionalismo exacerbado e da separação entre corpo e espírito.
5. Naphta, o revolucionário conservador
Análise sobre a mentalidade política e filosófica do personagem Leo Naphta. A mescla de judaísmo, cristianismo, socialismo e nacionalismo. A “rebeldia aristocrática” no pensamento ocidental. Voegelin e a “psicologia do revolucionário”. Aproximações e divergências com Hans Castorp.
6. O Terror: as ameaças do totalitarismo
A crise moral e intelectual do Ocidente. A influência e a crítica nietzscheana. Como Arendt ressalta a importância do indivíduo dotado de virtude. A revolução gnóstica e o fundo comum das ideologias modernas. Conseqüências da mentalidade totalitária em eventos políticos e históricos.
7. Res Publica: entre a virtude cívica e a independência individual
As principais manifestações, definições e conotações de Liberdade. Evolução do pensamento liberal ao longo dos séculos XIX e XX. Diálogos com outras correntes. A abrangência dos termos “Liberdade Privada” e “Liberdade Pública” para trabalhar com questões individuais e cívicas. Contrapontos entre Tocqueville e Mill (sobre o individualismo), Arendt e Hayek (sobre as esferas privada e pública) e Berlin e Hobhouse (sobre as liberdades positiva e negativa).
8. Autotelia: o debate entre os libertários conseqüencialistas e principialistas
A alternativa do Libertarianismo. Um diálogo da tradição liberal com visões de mundo anárquicas e radicais. Diferenças em relação ao Conservadorismo. O século XX e a ascensão dos libertários. O debate entre os utilitários e os jusnaturalistas. Críticas de Rothbard aos liberais negativos. Nozick e a utopia de utopias. Insights, problemas e dilemas do pensamento libertário.
9. Finis Operis: a tensão entre liberdade privada e pública
Retomada da discussão sobre a “bildung”, associada às conclusões dos autores liberais e libertários. A questão da “formação ampla e completa”. O destino de Hans Castorp: como o desfecho do romance contribui para a discussão sobre Liberdade. Causas e fatores que influenciam, positiva e negativamente, a individualidade plural. Possibilidades de compreensão sobre o que é ser livre.

Etapas a serem desenvolvidas
1. Fazer um fichamento de “A Montanha Mágica”, escolhendo passagens relevantes, e também levantar dados biográficos e aspectos de Teoria Literária.
2. Elencar temáticas do pensamento ocidental (com enfoque na tradição do Liberalismo) que estão presentes na obra.
3. Desenvolver um “link” entre o livro e as discussões da Filosofia Política.

Referências Bibliográficas
a) Obra de Referência
MANN, Thomas. “A Montanha Mágica”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
b) Sobre Bildung e Bildungsroman
FONTANELLA, Marco Antonio Rassolin. “A Montanha Mágica como Bildungsroman”. Campinas, 2000.
HUMBOLDT, Wilhelm von. “Os Limites da Ação do Estado”. Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.
SCHILLER, Friedrich. “A Educação Estética do Homem”. São Paulo: Iluminuras, 2002.
SOUZA, Jessé. “A Modernização Seletiva: Uma Reinterpretação do Dilema Brasileiro”. Brasília: Universidade de Brasília, 2000.
c) Sobre o Liberalismo e suas Escolas e Vertentes
BERLIN, Isaiah. “Dois Conceitos de Liberdade”. IN: “Quatro Ensaios sobre a Liberdade”. Brasília: Universidade de Brasília, 1981.
GUSMÃO, Luis Augusto Sarmento Cavalcanti de. “Constant e Berlin: a liberdade negativa como a liberdade dos modernos”. IN: SOUZA, Jessé. “Democracia hoje: Novos desafios para a teoria democrática contemporânea”. Brasília: Universidade de Brasília, 2001.
HAYEK, Friedrich von. “Os Fundamentos da Liberdade”. Brasília: Universidade de Brasília, 1983.
HOBHOUSE, Leonard Trelawny. “Liberalism”. Middlesex: Echo Library, 2009.
MERQUIOR, José Guilherme. “O Liberalismo: Antigo e Moderno”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
MILL, John Stuart. “On Liberty”. London: Penguin Classics, 2003.
REIS, Helena Esser dos. “Ação e Liberdade: pensando a política em companhia de Tocqueville e Arendt”. IN: NASCIMENTO, Paulo (org.); BREA, Gerson (org.); MILOVIC, Miroslav (org.). “Filosofia ou Política? Diálogos com Hannah Arendt”. São Paulo: Annablume, 2010.
SKINNER, Quentin. “As Fundações do Pensamento Político Moderno”. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
TOCQUEVILLE, Alexis de. “A Democracia na América”. São Paulo: Itatiaia, 1998.
d) Sobre o Libertarianismo
DOHERTY, Brian. “Radicals for Capitalism: a Freewheeling History of the Modern American Libertarian Movement”. New York: Public Affairs, 2007.
NOZICK, Robert. “Anarquia, Estado e Utopia”. Lisboa: Edições 70, 2009.
ROTHBARD, Murray. “A Ética da Liberdade”. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.
e) Sobre o Indíviduo e a Crise dos Valores da Modernidade
ARENDT, Hannah. “Homens em Tempos Sombrios”. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
NIETZSCHE, Friedrich. “Além do Bem e do Mal”. São Paulo: Companhia de Bolso, 2005.
VOEGELIN, Eric. “A Nova Ciência da Política”. Brasília: Universidade de Brasília, 1982.

 

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