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20 março 2010

O Existencialismo Cristão em Kierkegaard

(Colóquio de ontem. Para o fichamento, usei a edição do livro publicada em 2004, pela Martin Claret)

1 – Biografia
- Sören Kierkegaard nasceu em Copenhague, em maio de 1813.
- Um trauma que marcou a vida de Kierkegaard foi o fracasso de seu relacionamento com Regina Olsen. Namoraram por dois anos, e já haviam fixado a data do casamento, mas ele começou a entrar em pânico e desilusão à medida que se aproximava o matrimônio. Em agosto de 1841, rompeu com Olsen. Dali em diante, dedicou praticamente todos os seus textos à sua ex-noiva, e quando ela se casou com Johan Schlegel, sua melancolia só aumentou.
- Sua relação com a imprensa foi conturbada; ele foi criticado e satirizado por muitos de seus contemporâneos nos jornais da época, e reagia com crescente virulência.
- A Igreja Nacional Dinamarquesa foi alvo de muito de seus escritos, principalmente em seus últimos anos de vida. Kierkegaard criticou-a não só em aspectos doutrinários, como também atacou a corrupção e a burocratização do clero.
- Suas principais obras são: “Ou Isto ou Aquilo”, “Temor e Tremor” e “O Desespero Humano”. Costumava assinar com pseudônimos, como Victor Eremitus ou Johannes de Silentio.
- Aos 42 anos, caiu sem sentidos em uma rua. Um mês depois, em novembro de 1855, sofreu outro ataque e faleceu.

2 – O Desespero Humano
- O “eu” é uma relação que se estabelece apenas consigo mesmo; voltar-se para si, em uma síntese. Implica-se dessa relação consigo própria, no entanto, uma discordância interna: o desespero. Este é a “doença mortal”, ou seja, um suplício contraditório, morrer sem literalmente morrer. É querer libertar-se de si mesmo e jamais consegui-lo.
- O desespero pode tomar três formas: o desespero inconsciente de ter um “eu” (que é o verdadeiro), o desespero que não quer ser ele mesmo e o aquele que quer sê-lo. Além disso, ele possui universalidade; é raríssimo não o sê-lo.
- A suprema exigência do destino de um homem é ser um espírito, e a inconsciência deste destino espiritual é o desespero. A angústia humana reside mesmo na inocência, no belo.
- O “eu” é liberdade. Porém, I) o “eu” é formado do finito e do infinito; II) a liberdade é uma dialética do possível e do necessário. Em tais categorias de desespero, há, respectivamente: imaginário pela infinitização vs. temporal pela aparência; desejo ou nostalgia no possível vs. fatalista ou determinista.
- Porém, é a consciência que determina a medida e natureza do desespero. Quanto maior ela for, mais “eu” haverá; logo, maior será o desespero. A ignorância desesperada é a forma mais freqüente. O indivíduo é uma presa da sensualidade, e está muito distante da verdade e da salvação (ex.: pagão e cristão não-praticante, o “homem natural”).
- Há duas formas de desespero consciente; elas remetem à oposição entre feminino e masculino. I) Não deseja ser si mesmo (desespero-fraqueza): desespero temporal, do imediato vs. quanto ao eterno ou de si mesmo; II) Deseja ser si mesmo (desespero-desafio): estóico; ativo (“experimental”) ou passivo (“demoníaco”); é o tipo mais incomum.
- O pecado é quando, frente a Deus ou da idéia de Deus, demonstramos fraqueza ou desafio elevados à suprema potência; é um “desespero qualificado”. Apenas a consciência de estar frente a Deus faz do nosso eu concreto, individual um eu infinito. O pagão e o homem natural, ao contrário, têm como medida apenas o homem humano. O contrário do pecado não é a virtude, mas, sim, a fé.
- O “escândalo” é uma admiração infeliz, uma inveja que se volta contra nós mesmos. É a incapacidade de conceber o extraordinário que Deus nos destina.
- Definição socrática do pecado: pecar é ignorar. Influência grega para o cristianismo. A definição de Sócrates (que, aliás, era um moralista, tido como inventor da ética), no entanto, ainda é vaga, pois lhe falta a categoria dialética para passar da compreensão à ação.
- O pecado é posição, e não negação. É um dogma, um paradoxo necessário. A falta de arrependimento por um pecado é um novo pecado, “continuação”. Porém, como encontrar uma consciência essencial do pecado em uma vida tão cheia de mediocridade e “a - espiritual”? A maior parte dos cristãos carece tanto de espiritualidade que é difícil qualificar como pecado a sua vida.
- O pecado adquire maior intensidade quando o “eu” se desespera do próprio pecado; é uma luta interna, e a consolação só agrava o mal. O desespero quanto à remissão dos pecados é o “escândalo”. Ele pode ser por fraqueza (não ousar crer) ou desafio (recusar-se). A estética metafísica erra ao ver profundeza nessa malícia. Abstrações como “povo” e “multidão” não existem para Deus; só há “indivíduo”, o pecador particular.
- O cristianismo concorda em parte com a doutrina do homem-deus, mas coloca a possibilidade do “escândalo” (Deus se torna homem, e não o contrário - reduzir Deus ao homem -, como acreditam os pagãos). Deus e o homem são duas naturezas, mas separadas por uma infinita diferença.
- O abandono positivo do pecado (considerar o cristianismo como fábula e mentira) é o último tipo de “escândalo” (ex.: gnósticos e racionalistas). É o “eu” demoníaco, que peca contra o Espírito Santo. Enquanto isso, o “eu” no qual o desespero está totalmente ausente mergulha através de sua própria transparência no poder que o criou; eis o conceito de fé.

3 – Influências


- Jean-Paul Sartre e Albert Camus, maiores expoentes do Existencialismo francês, resgatam aspectos de seu pensamento, como o caráter inescapável do “eu” e a crítica à vida superficial.
- O conceito de subjetividade como verdade influenciou filósofos como Wittgenstein, Heidegger e Jaspers.
- Teologia: neo-ortodoxos do Protestantismo ao longo do século XX, como Paul Tillich e Karl Barth.
- Pós-modernos, como Jacques Derrida, inspiraram-se em seus questionamentos ontológicos e suas críticas às estruturas.
- Franz Kafka e Hermann Hesse: suas narrativas possuíam personagens em profundas crises existenciais e isolados.


 

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