Ludwig von Mises, o último e o primeiro
(Colóquio de ontem à noite. Fichamento feito a partir da 3ª edição de "As Seis Lições", publicada em 1989 pelo Instituto Liberal.) 1 – Biografia · Nasceu em 1883 na cidade de Lemberg, que à época pertencia ao Império Austro-Húngaro (atualmente, localiza-se na Ucrânia). · Estudou na Universidade de Viena, onde obteve seu doutorado em 1906. O economista Carl Menger exerceu influência sobre seus estudos. Também freqüentou palestras de Eugen von Böhm-Bawerk e foi amigo de Max Weber. · Temendo a perseguição nazista, deixou a Áustria em 1934, mudando-se para a Suíça. Seis anos depois, emigrou para os Estados Unidos. Lecionou como professor visitante na New York University entre 45 e 69. Sempre enfrentou dificuldades financeiras, e durante muitos anos recebeu ajuda do Volker Fund. · No final de 1958, pronunciou seis conferências · Mises veio a falecer aos 92 anos de idade, 2 – Principais Obras · “Socialismo” (1922): foi pioneira e profética quanto aos problemas de uma política econômica socialista e suas conseqüências sociais e morais. 1ª exposição da tese da impossibilidade do cálculo econômico no sistema socialista. · “Liberalismo segundo a Tradição Clássica” (1927): a partir dos direitos de propriedade individuais e ao se manter livre de intervenção governamental, o liberalismo promove paz, harmonia social e o bem-estar geral. · “Uma Crítica ao Intervencionismo” (1929): Mises demonstra que uma economia de mercado controlada, como se fosse um sistema social intermediário entre a propriedade privada e a pública, é ineficiente, não alcançando os resultados que almeja. Não há meio-termo entre uma ordem social livre e uma totalitária. · “Ação Humana” (1949): considerado o mais importante tratado de economia do Século XX. A economia é uma ciência da ação humana, ou seja, praxeologia. A partir de críticas epistemológicas ao positivismo e metodológicas à economia matemática, Ludwig von Mises expõe as vantagens de uma economia de livre mercado em relação ao planejamento governamental. O funcionamento do mercado e dos preços, o cálculo econômico e a expansão de crédito também são discutidos. · “A Mentalidade Anti-Capitalista” (1956): quais são as raízes psicológicas de uma postura anticapitalista? O autor acredita que a meritocracia e o empreendedorismo típicos de um sistema de livre mercado geraram ressentimento entre vários setores, especialmente os artistas e intelectuais. 3 – “As Seis Lições” · Capitalismo - O agente principal do sistema econômico são os consumidores, e não os empresários. - A partir da grave situação social do séc. XVIII surgiram inovadores que começaram a produzir bens mais baratos (produção em massa). - Progressos são frutos da acumulação de capital, e poupança significa benefícios para todos que querer produzir ou receber salários. Quanto mais se eleva o capital investido por indivíduo, mais próspero se torna o país (melhoria do padrão de vida). · Socialismo - Enquanto liberdade econômica é o poder de escolher o próprio modo de se integrar ao conjunto da sociedade, um sistema socialista propõe que as carreiras sejam decididas por decreto do governo. - O homem não nasceu livre; ele depende tanto dos demais quanto estes dependem dele. Liberdade significa realmente liberdade para errar, portanto ninguém deve tentar policiar os outros no intuito de impedi-los de fazer determinadas coisas e manifestar certas opiniões. - O socialismo é uma visão do governo como uma autoridade paternal, um guardião de todos. O planejamento central impede todo plano feito por outra pessoa. Tudo depende da sabedoria e dos dons daqueles que detêm a autoridade suprema. - O Estado não deve subsidiar as artes; cada um deve agir por conta própria, não cabendo ao governo definir aquilo que é bom e elevado ou não. - O cálculo econômico – e, por conseqüência, todo planejamento tecnológico - é impossível se o mercado (sistema de preços) for abolido. · Intervencionismo - É quando o governo deseja interferir em vários fenômenos do mercado, como os preços, os padrões salariais, as taxas de juros e os lucros. Todas estas medidas objetivam restringir a supremacia do consumidor. - Ao querer tornar um artigo mais abundante (ampliar sua oferta), o Estado, ao controlar os preços, gera justamente o contrário do que pretendia: escassez e preços mais altos. E as intervenções, sucessivamente fracassadas, não costumam ser isoladas, levando a um controle cada vez maior da economia. Sempre que se interfere no mercado, o governo é progressivamente impelido para o socialismo. - Não existe um terceiro sistema, um meio-termo. O Estado não é capaz de cumprir sequer suas obrigações básicas, sendo ainda menos apto para gerar justiça social. · Inflação - É gerada não pelo modo como o dinheiro dos contribuintes é gasto, mas sim o modo como é obtido pelo governo. - A expansão de crédito (dinheiro recém-impresso) levará a uma elevação dos preços. Todos aqueles que têm acesso ao dinheiro na 1ª hora da inflação são beneficiados, em detrimento dos demais. - O processo inflacionário, quando o povo perde a confiança em relação aos poderes (ou intenções) do governo em enfrentá-la - como se este tivesse recursos ilimitados -, produz uma alta tão grande nos preços que o sistema monetário entra em colapso (ex.: Alemanha, 1923). - A inflação é uma política, e uma política pode ser alterada. É preciso equilibrar o orçamento. Além disso, não devemos acreditar na falácia de um trade-off entre inflação e desemprego (Keynes). · Investimento Estrangeiro - A diferença econômica entre as nações desenvolvidas e aquelas em desenvolvimento não reside na inferioridade pessoal nem na ignorância, mas na disponibilidade de bens de capital, ou seja, o montante investido per capita. - O investimento externo foi talvez o maior acontecimento histórico do século XIX, acarretando em inúmeras vantagens. Porém, ele é feito na expectativa de que não será expropriado. A hostilidade ao investidor estrangeiro, visto como explorador, é uma visão superficial do problema. - Para que haja maior igualdade econômica no mundo, a industrialização é necessária. Alcançar a meta final de elevar o padrão de vida em toda a parte demanda liberdade econômica, e não controles, proteções ou socialismo. · Política e Idéias - A democracia se tornou uma luta de grupos de pressão pela manutenção de seus interesses e privilégios, desprovendo a sociedade de uma representação política autêntica. Hoje não se fala mais - Más políticas econômicas desintegram sociedades (ex.: Roma). Além disso, as civilizações são interdependentes. - Precisamos substituir más idéias por idéias melhores. Somente elas podem iluminar a escuridão. 4 – Influência · Escola Austríaca: discípulo de Carl Menger e Böhm-Bawerk, é considerado parte da 3ª Geração dessa escola heterodoxa de pensamento econômico, responsável por conceitos como utilidade marginal e teoria do valor subjetivo. · Friedrich A. Hayek: discípulo de Mises, Hayek desenvolveu a teoria dos ciclos econômicos criada por ele. Graças a seus esforços teóricos, ganhou o Nobel de Economia em 1974. · Libertarianismo: movimento político, filosófico e econômico que defende o Estado-mínimo e um liberalismo aprofundado, os “radicais pelo capitalismo” tiveram em Mises uma de suas maiores inspirações. A relevância deste economista austríaco estende-se desde o individualismo metodológico até o aspecto ideológico de sua defesa do livre mercado e sua crítica ao socialismo. · Mises Institute: fundado em 1982 nos EUA, é uma think tank inspirada nas idéias de Ludwig Von Mises. Expressa posições libertárias, pacifistas e não-intervencionistas. Também possui sedes em outros países, inclusive o Brasil.