Radicalizações, tanto de canhotos quanto de destros
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A invasão/ocupação da reitoria: uma outra análise
Qual a melhor maneira de conduzir uma reivindicação: pela racionalidade e os meios institucionais ou por ações diretas e levadas pela emoção? O movimento estudantil da Universidade de Brasília optou pela segunda alternativa. Se, por um lado, a morosidade dos últimos anos deu lugar à intensa participação e engajamento de muitos estudantes, por outro os métodos utilizados não poderiam ser mais questionáveis: a invasão da reitoria.
É claro que a ocupação traria (e, de fato, trouxe) maior visibilidade na imprensa, assim como também é certo que as denúncias de improbidade administrativa e falta de ética na gestão do reitor Timothy Mulholland criaram uma situação insustentável na UnB. Porém, invadir (e residir em) um patrimônio público como ato de protesto é tão válido assim? Será que a arbitrariedade da ocupação não iria de encontro com o Estado de Direito, constituindo-se em uma imposição, em uma atitude autoritária?
Desde o primeiro dia (3 de Abril), posicionei-me contra a invasão. Motivos não me faltavam: a falta de planejamento do movimento, visto que a intenção inicial era resumir-se a uma passeata pacífica; a ausência de identificação dos alunos com o mesmo, visto que a grande maioria – silenciosa, infelizmente – não se sentia representada pela retórica sectária e anacrônica do DCE e adjacências; o desprezo pelos procedimentos legais, pois já estava marcada para o dia seguinte uma reunião do CONSUNI (Conselho Universitário), assim como já estavam tramitando denúncias e acusações contra Mulholland no Ministério Público e no MPDFT.
Na (famigerada) assembléia da segunda-feira 7, ganhei mais motivos para a minha (o)posição. Meus temores de partidarismo no seio do movimento foram concretizados quando eu me deparei com discursos, bandeiras e manifestos de representantes do Conlute/PSTU, da UNE, da CUT, entre outros. Logo, a alegação de ser uma frente plural e apartidária era substituída por uma visível inclinação à esquerda e um evidente oportunismo político de muitos dos envolvidos. Nem preciso falar na "tirania democrática" que predominou, lembrando muito os tempos greco-romanos de assembléias em que demagogos e agitadores manipulavam massas de manobra e incitavam o repúdio e a vaia a seus opositores.
Como se não bastasse, os estudantes reafirmaram seu desprezo teórico e prático pelos meios legais, com a progressiva exaltação dos discursos e a subseqüente expansão da invasão. Pancadaria não faltou entre universitários e seguranças, e nenhum dos dois lados poderá afirmar que foi pacífico. Até visitei a reitoria na noite daquele dia, e a suposta atmosfera de cooperação em meio à luz e água cortadas não escondia a radicalização de uma (pretensa) desobediência civil.
Entre as quase vinte pautas do movimento, algumas são pertinentes (a abertura das contas das fundações, as reformas na Casa do Estudante e a construção de um Restaurante Universitário no campus de Planaltina, por exemplo), mas outras são bem controversas, como a paridade. Venhamos e convenhamos: os estudantes não são tão comprometidos com a universidade como julgam ser, não só pela heterogeneidade de interesses e idéias e o fato de que a maioria fica por menos de meia década na faculdade, como também pelo conhecimento limitado que têm do funcionamento e da administração da mesma. Além disso, isso nem é a prioridade da maioria esmagadora dos universitários, excetuando-se aqueles que a usam como "laboratório político". Logo, seria dar um poder excessivo e perigoso para um segmento mais suscetível e instável que os professores e funcionários.
Verificou-se que, apesar de todas as reivindicações, a principal - e denominador comum entre os estudantes - era a renúncia coletiva do reitor e de seu vice e decanos. Após tanta pressão por parte de alunos, professores e da mídia, era inevitável o afastamento e a exoneração de Timothy Mulholland e sua "equipe". É inegável que o movimento estudantil da UnB obteve uma vitória, ainda mais com a rápida escolha do reitor interino, Roberto Aguiar, que se demonstrou aberto a negociações e favorável a certas pautas. Logo, a decisão pela desocupação viria mais cedo ou mais tarde, concretizando-se em 17 de Abril, exatamente duas semanas depois de seu início.
Mesmo que à custa de métodos polêmicos e desrespeito aos bens públicos, o fato é que, finalmente, houve lampejos de maturidade dos dois lados, e um período de mudanças e reformas está a se iniciar na UnB. Se o movimento estudantil fará a opção pela sensatez e pela legalidade (que lhe traria legitimidade) ou por uma nova onda de demagogia, não se sabe, mas ao menos ele deu mostras de que tem condições de se engajar e lutar por boas causas. Contanto que ele se mantenha afastado de nostalgias e megalomanias, a universidade só tem a ganhar com isso.
Mudando de assunto, fiquei um pouco chateado com certos capítulos de "Liberalismo", de Ludwig von Mises. Por exemplo, é visível o preconceito e o repúdio que ele tem em relação à Rússia (ele chega a acusar russos como Dostoiévski e Tolstoi e seus respectivos entusiastas e leitores de neuróticos), assim como a sua tentação de vislumbrar um mundo em que o liberalismo seja o 'pensamento único'. Em um livro tão bom, estes lampejos de frieza e ira causam estranheza no leitor. É claro que tal extremismo é reflexo de um contexto histórico tumultuadíssimo (a segunda metade da década de 20), em uma Europa cada vez mais dominada pelas ideologias socialistas e nacionalistas.
Mises, como um dos poucos liberais remanescentes, tinha lá seus motivos para tanta fúria em certos momentos da obra. Felizmente, seu tom foi se apurando com o tempo, e já em "Intervencionismo" e "O Mercado" (lembrem-se que eu ainda não li a opus magnum "Ação Humana") pude notar um Ludwig mais sereno e com uma campo de atuação mais definido. Ele deixa a psicologia social de lado e concentra-se na economia e suas implicações políticas; a "especialização" não poderia ter sido mais benéfica para a sua produção intelectual.
Aliás, fazendo uma analogia com outro dos mais influentes pensadores do liberalismo do século XX, Friedrich Hayek passou por uma situação semelhante. Verifica-se em "O Caminho da Servidão" um profundo repúdio aos alemães da parte dele. Lembrem-se, no entanto, que é uma obra de 1944, época em que o nazismo era uma ameaça que inspirava indignação por parte dos defensores da liberdade. De quebra, o país em que ele residia (Inglaterra) e muitos dos Aliados se aproximavam ideologicamente dos soviéticos, o que poderia levar à 'troca' de um totalitarismo por outro. O próprio Hayek reconheceu seus excessos no prefácio que fez para as novas edições da obra, em 1974 e 1975.
Há vários outros exemplos de exageros e imprecisões que certos liberais e libertários cometeram - no meu caso, então, isso é extremamente comum, rs -, como o de Rothbard contra a direita nos anos 60, mas isso é algo que continuarei a discutir em um outro texto/ensaio/artigo, que estou a elaborar.
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