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Kaio

 

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05 março 2007

Maaaaaais uma vez, a "esquerda na América Latina" como tópico.

Dessa vez, porque eu li hoje a matéria da Caros Amigos, com um artigo interessante (sim, não é porque eu discordo de algo que vou menosprezá-lo) sobre a América Latina e o crescimento da esquerda.
Os argumentos utilizados pelo autor do texto, Renato Pompeu, e pelo entrevistado, Nildo Ouriques, foram os que eu já esperava de um partidários das "causas canhotas": a apologia a um Estado mais forte; a condescendência com os mandos e desmandos de Chávez; a ignorância do fato de que uma economia "monocultora" (no caso venezuelano, com o petróleo) tem pouquíssimas chances de progresso a médio e longo prazo; a tentativa patética de desconsiderar PT e Lula como esquerdistas (fica até parecendo que, para eles, é IMPOSSÍVEL que um governo austero, pragmático e moderado seja bom); o velho argumento criticando o imperialismo dos EUA (isso é tão clichê, parece coisa típica de gente que pára de comer no McDonalds porque eles são uma empresa capitalista-cruel-monopolista, rs); a retórica ingenuamente radical (como se mudar a Constituição na marra, fazer o Executivo controlar o Legislativo e incitar a desordem popular fossem resolver a situação de um país subdesenvolvido, hehe)...
Mesmo quando eu tinha idéias de esquerda, fugia dos radicais. Tanto que só li a Caros Amigos por uns três, quatro meses naquela época, depois cansei da revista. Eles são quase surreais em suas colocações, ao ponto até de distorcerem argumentos para usá-los ao seu belprazer. Por exemplo, citaram no texto que Norberto Bobbio conceituou a esquerda como "a defensora da justiça social e do bem-estar" e a direita como a "conservadora dos interesses das elites". Duvido que Bobbio, um tão conceituado estudioso sobre Política, Economia e Direito, tenha resumido a questão ideológica de uma maneira tão imbecil e simplista, como se fossem palavras ditas por um menino de sétima série que foi manipulado pelo seu professor de História que é socialista. Certamente o autor de tal texto na revista deturpou os conceitos de Bobbio, para criar uma dicotomia Bem x Mal que nunca existiu na oposição entre direita e esquerda.

O meu conceito não é lá dos melhores, mas, na minha concepção, associo a direita à crença na liberdade e no respeito à individualidade, assim como a esquerda aos que colocam a igualdade e a coletividade em primeiro lugar. Não chega a ser um dualismo economia x social, até porque ambos os lados se preocupam, de maneiras diferentes, com tais assuntos. A diferença são os meios empregados e objetivos visados, mas os fins são quase os mesmos - o bem-estar (não importando se ele seja individual ou coletivo) e a paz (mesmo que temporária).
No caso de ditaduras, cada uma delas coloca as suas prioridades - vide Mário e Silas, Fidel e Pinochet, Mao-Tsé e Suharto, Stálin e Hitler, Chávez e Fujimori... para uns, uma economia livre e aberta é o mais importante; para outros, a preocupação maior é com a desigualdade sócio-econômica. Uns querem combater a inflação; outros, o desemprego, mas ambos querem o crescimento.
O raciocínio da esquerda é mais dedutivo - a idéia precede a experiência - , enquanto seus rivais são indutivos - a experiência demonstra uma idéia. É só comparar Adam Smith com Karl Marx para ver isso de uma maneira mais abrangente. O liberal old-school detectou que a realidade estava se comportando de uma determinada maneira, e resolveu sistematizar isso no papel. O socialista científico analisou o mundo e propôs como ele deveria ser. Não que uns sejam os idealistas e os outros os realistas (até porque, no mundo atual, parece que os 'destros' andam mais utópicos, por incrível que pareça), mas suas maneiras de encarar os problemas da sociedade vão por princípios, éticas e prioridades diferentes.
Então, a melhor coisa seria uma 3ª via, um centrismo, certo? Errado. Os nacionalistas, pela sua adoração quase doentia pelas suas nações/culturas/etnias, são muito mais perigosos que os dois pólos, até porque se apropriam de elementos de ambos para tornar suas ideologias e ações mais enfáticas. O exemplo mais extremo disso é o próprio Adolf. Nazismo vem de Nacional-Socialismo e eles eram economicamente intervencionistas à la keynesianismo, mas a burguesia era a estrutura de sustentação do poder e eles eram mais anti-comunismo do que anti-capitalismo. Vargas, Cromwell e Napoleão também agiram como conciliadores em seus respectivos contextos, e isso fez deles bem mais cruéis do que poderia se imaginar, pois, quando um político chega ao poder sem um lado propriamente definido (ou com o apoio de forças heterogêneas), é quase inevitável que ele reforçará a sua imagem para "unificar" o discurso. Isso já é um grande passo rumo ao despotismo.

Conclusão? Não há conclusão para esse assunto. Eu continuarei a me simpatizar com a centro-direita na economia e com os libertários na parte sócio-política, assim como vocês, leitores, vão manter suas posições por muitos anos ainda. Eu apenas defendi uma tese usando meu estilo anfisista (ou seja, "buscando o equilíbrio sem estar em cima do muro" - epa, isso é querer conciliar interesses... mas não é novidade para ninguém que eu sou um totalitário em potencial, hehe) e não espero convencer ninguém com meus argumentos. No fundo, estamos discutindo uma relatividade, questões que "dependem do referencial", mas que nem por isso deixam de ser oportunas - aliás, o são desde que gregos e romanos organizaram mais amplamente o que veio a ser chamado de Política. Roma, Atenas e Esparta ainda estão em nossos corações e mentes.

 

Comentários:

 

 

O que é ser libertário, afinal? O termo é muito vago e pode significar qualquer coisa.

A esquerda vive um conflito de personalidade, pois caiu na real que o comunismo (não é socialismo, são coisas bem diferentes) soviético ruiu de forma deprimente, e era o maior modelo vivo do que poderia ter se tornado o tão sonhado socialismo sustentado.
As amarras do Estado ainda são desafio para isso, tanta intervenção, já é provado, não funciona!!! Mesmo porque a burocratização é um sintoma visto inclusive em governos de direita e centro-direita, e foi a raiz burocrata que ajudou a devastar o comunismo.

Acho difícil um equilíbrio entre as duas frentes ocorrer, em maiores proporções, como ocorre na Escandinávia. Infelizmente são interesse irreconciliáveis e quando há a situação do tipo "Toma que a cadeira é sua" ninguém quer compartilhar as decisões com pensamentos de origens diferentes.


1. Quando eu disse libertário, foi no conceito de "posição sócio-política que defende a mínima atuação do Estado, restringindo sua atuação à defesa de direitos básicos do homem, como a vida, a propriedade e a liberdade". Complemento isso com uma opinião pessoal de que ele também deveria atuar na educação e na saúde mesmo que indiretamente. Além disso, meu conceito de libertário acredita em uma república com uma democracia mais direta, com ênfase em plebiscitos e referendos, dando ao cidadão menos restrições à sua individualidade e mais participação política.
2. Sim, a burocracia é um mal que atinge a governos de ambas as correntes ideológicas, mas a direita demonstra maior esforço em erradicá-la (até por motivos de interesse financeiro), enquanto a esquerda apenas infla ainda mais o tamanho do Estado, preferindo aparelhá-lo do que reciclá-lo ou diminuí-lo.
3. Quanto aos "interesses irreconciliáveis", eu já acho que, cada vez mais, está havendo consensos em governos de coabitação (Legislativo e Executivo com posições divergentes)pelos quais vários países já passaram, como a França (Chirac e Miterrand nos anos 80) e EUA (Congresso com maioria republicana nos tempos de Clinton). Aqui mesmo no Brasil há isso, embora a maneira como lide]amos com isso seja menos ética e mais fisiológica.


Sem querer transformar isso em uma conversa particular, mas já transformando. Não, eu não acredito em coabitação de frentes diferentes no caso americano. O que existe é um país dividido no extremo do pensamento liberal moderno, com visão social e de mercado mais "aberta" e um outro extremo de profundo conservadorismo, arraigado na tal tradição yankee, de proteção ao mercado, a cultura, a indústria, etc....ojeriza e indiferença ao restante do mundo.
Não é um compartilhamento de opiniões e sim uma clara divisão. o Clinton foi uma exceção recente, que demorará a acontecer novamente, não quero dizer que foi tudo ótimo, mas foi um avanço em relação ao atual quadro.

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Acredito que liberalismo (Roosevelt, Thatcher, Reagan) seria a palavra correta, mas isso não vem ao caso e são só termos (entendi bem o que você quis expressar).

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Quanto ao Brasil nem é necessário comentar. Não há definição política de nada, o que é de direita o que é esquerda, confude-se o tempo todo, e não é por ortodoxia política que eu critico "o Bananão" e sim pela falta de definição, de critério entre as bases políticas. É o velho problema do discurso que não se aplica na prática, temos ótimos teóricos, mas quando é necessária a ação não sabem bem o que fazer. Nossos problemas são históricos e precisamos voltar pelo menos um dois séculos atrás para resolvermos nossas diferenças. Não há como fugir disso.


não deixei de admirar sua escrita, mas definitivamente sua posição ideológica nesse texto revela-se frágil e falaciosa

como se simpatiza com libertários na parte socio-política?
o povo é empiricamente ignorante e a sociedade não organiza-se por si só...generalizo já que mencionou a sócio-política...há nos seres humanos uma tendência visceral a auto-preservação compulsória que as tornam "violentamente" individualistas e por vezes metódicos com seus caprichos...Aristóteles pecou ao afirmar que ser feliz é bastar-se a si mesmo

"criticando o imperialismo dos EUA (isso é tão clichê, parece coisa típica de gente que pára de comer no McDonalds porque eles são uma empresa capitalista-cruel-monopolista"
o certo então seria abolir o hábito de se criticar uma malevolência pelo simples desejo de se desvincular do rótulo de 'clichê'? cuidado...algo ser repitido a exaustão não o torna desconsiderável...ambientalistas (por exemplo) se difundirem e ganharem cada vez mais espaço na mídia não torna a ideologia menos louvável...
quanto ao McDonalds, o único poder que nós como cidadãos temos é o consumo, o poder de compra...se alguém julgar ruim os influxos dessa empresa no mundo é mais do que coerente deixar de consumir nela...alguns não frequentam o McDonalds por discordarem do que é pregado e realizado pela empresa...alguns até são capazes de enxergar atos execráveis nele, mas não tomam partido por não processarem a informação racionalmente...ou entendem a situação e não tomam decisão por um vício estúpido e tornam-se desprezivelmente fúteis por isso, logo é mais fácil representar o ignorante...o mesmo serve para a Coca Cola e para toda e qualquer multinacional que lucre às custas de danos em diversas áreas e se mantém pelo marketing embrutecedor massivo...

"O raciocínio da esquerda é mais dedutivo"
muito relativo...talvez você tenha pensado nisso colocando a esquerda na posição do que opõe uma ordem vigente...nesse caso a idéia/ação é sempre tomada a priori obviamente...mas lembre-se que um direitista pode deduzir ou induzir processos e dados para tomar decisões que favoreçam uma política estatal estratificada...o maior exemplo hoje seria a invasão do Iraque embasada em falsos relatórios onde afirmavam categoricamente existirem armas químicas no país

"Duvido que Bobbio..."
certo que está um tanto pasteurizada a citação do Bobbio, simplificado e até infantilizado...conheço pouquíssimo sobre, mas creio que 'a democracia do aplauso' pode te dar a idéia de que ele é mais simplista e radical do que imagina

"anfisismo"
haha...adorei isso...apesar de achar a definição contraditória


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