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Kaio

 

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07 março 2006

O homem-dinamite

Já li quatro livros do Nietzsche - O Anticristo, Para Além do Bem e do Mal, Assim Falou Zaratustra e A Gaia Ciência, e já estou providenciando o Ecce Homo. Esse é o legal do bigodudo - ele não é o autor de uma só obra, mas de vários livros fantásticos, é impossível se restringir a um único para tentar compreendê-lo.
Ah, eu vou usar esse tópico pra comentar um e-mail que eu recebi dia desses de uma garota. Acho que ela leu algum texto meu em algum lugar do submundo da internet e resolveu comentar algo sobre Nietzsche.

"Nietzsche trilhou o caminho do paradoxo para ficar conhecido. Pois devido a sua incapacidade de formular uma teoria filosofica, ele começou a criticar a tudo e a todos, principalmente o cristianismo. Pois se não fosse isso ele teria morrido obscuro. Mas ao em vez de morre obscuro, ele morreu doido, como a filosofia dele é."

Minha resposta: Pois é justamente nisso que ele era genial. Nietzsche queria ser exatamente aquela criancinha birrenta, apelona e que odeia a tudo e a todos.
Mas em vez de simplesmente chutar o balde, ele sabia argumentar. Ele não teve medo de romper com filósofos e pessoas a quem ele admirava, como Wagner e Schopenhauer, e soube fazer a auto-crítica.
Quanto ao cristianismo, é aquela coisa que ele disse certa vez. "Derrubar ídolos - isso, sim, já faz parte do meu ofício". Ele não tinha medo de questionar verdades absolutas e unanimidades - 'sobrou' até pra Kant, Sócrates e Voltaire. Afinal, a filosofia não se constrói pela idolatria, mas sim pelo questionamento, pela crítica.
Nietzsche soube ser realista, e fugiu do idealismo hegeliano que predominava nos círculos intelectuais da época, ao criticar o nacionalismo, o socialismo, os eruditos, as 'idéias modernas' e, acima de tudo, o falso moralismo.
Ele nunca se importou com a fama durante a vida. Se considerava um homem póstumo, que só seria reconhecido após morto. Mas acabou sendo distorcido pelos anti-semitas, como Hitler, que usaram o livro "Assim Falou Zaratustra" para defender a idéia de que ele, Adolf, era o super-homem.
O próprio Nietzsche dizia que não seria integralmente compreendido - ele escrevia algumas coisas que só ele entendia, porque só ele tinha vivenciado. Isso é normal, todo filósofo é no fundo um egocêntrico. Mas nem por isso muito do que ele diz continua acessível e atual, principalmente na obra "Para Além do Bem e do Mal".
Eu não colocaria Nietzsche como o maior filósofo de todos os tempos, mas sim como um dos meus preferidos, do meu gosto pessoal, pois eu me identifico com muitas idéias dele. Ele soube expressar no papel toda a raiva que ele tinha da humanidade. Sua reclusão e isolamento foram determinantes para isso. É o "egoísmo positivo".
Sobre morrer louco, acho que foi um argumento infeliz da sua parte. Você ignorou os problemas hereditários que ele tinha, como a sífilis, o uso de drogas (inclusive haxixe) e a opção dele pela solidão. Já ouvi dizer que até Freud se recusou a tratá-lo, pois considerava o estado mental dele acima de seus conhecimentos.

 

Comentários:

 

 

Ai minha mente "se coça" de vontade de ler os livros de Nietzsche!
No momento, to lendo Onze minutos do Paulo Coelho.
Comprei o livro só de birra pra ver se ele era bom, pq se vende tanto, deveria ser ruim...
De certo ponto de vista é ruim sim, paro de fazer tudo pra ler, é mto viciante.


Hum hum... eu tenho alguns livros de Nietzche (no computador, que é onde geralmente leio), mas nunca tive muita curiosidade pra ler antes de ve-lo em seu blog, mesmo tendo um amigo que é professor de filosofia e fica tentando me levar pro "mal caminho", hahaha... Esse ano, primeiramente, irei me dedicar à ler os clássicos internacionais - já estou um pouco cansado de literatura brasileira e manuais, que me eram habituais.


Engraçado, eu li exatamente esses mesmos 4 livros do Nietzsche quando eu tinha uns 17 ou 18 anos (há uns 2 ou 3 anos atrás) e na época eu fiquei profundamente deprimido, violento, briguei com uns amigos, tive umas crises que todo mundo era burro, menos eu e coisas do tipo.
Acho que foi nessa época que eu comecei planos pra largar a faculdade de RTV e começar filosofia.
Hoje entretanto eu mal lembro do que ele escreveu e mesmo quando alguma coisa (como esse post) reativa minha memória, não me causa grande impacto. Não sei se é porque está tão incorporado ou se é porque minha visão de mundo mudou e eu não atualizei os escritos de Nietzsche a essa visão.

Quanto a esses comentários bestas sobre ele ser louco ou criticar todo mundo, eu nem perco tempo.
Karl Popper fez uma análise de que os pré-socráticos também se preocupavam mais em criticar do que achar uma verdade. Do ponto de vista dos sofistas, Platão também era um cara que só sabia criticar (como se fosse pouca coisa saber criticar), Descartes também é famoso por criticar Aristóteles.
E a critica do cristianismo é uma parte relativamente pequena da filosofia de Nietzsche, a critica ao teísmo num geral é bem mais importante, a critica a moralidade é muito mais importante, a iconoclastia num geral é bem mais importante do que o ataque ao icone especifico do cristianismo.
Se livrar do cristianismo é um passo relativamente pequena pra pavimentar o caminho pro super-homem nietzscheano.


Esse sujeitinho luzido aí de cima é competência minha! Pois sim! Ele é o meu caçula, irmão e às vezes filho (axo que ele não gosta quando digo isso... rss). E não é de hoje que vejo esse link pro seu blog flutuando na "página vagabunda" dele! Curiosidade me assola! Vim ver o que tinha aqui! E não é que tem outro idoso num corpo de guri!? Molequinho de quinze anos que graceja com Nietzsche, Kant e Sócrates... Muito bem, você tem um texto adstringente e quase irritante pela pontinha de soberba que fica marcada nas afirmações! Mas tudo bem, porque você demonstra conhecimento de causa! Virei aqui mais vezes. Achei interessante!


Bom, você já deve ter percebido que eu estou bem afim de ler os livros do Nietzsche! Também né... você vive me falando que eles mudaram sua vida, e coisa e tal. Quero testar essa droga.
Ah, decide se você vai querer me vender "Assim falou Zaratustra"! Se eu começar a ler, quem sabe não me empolgo e entro nessa onda de "derrubar ídolos"!?


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