O homem-dinamite
Ah, eu vou usar esse tópico pra comentar um e-mail que eu recebi dia desses de uma garota. Acho que ela leu algum texto meu em algum lugar do submundo da internet e resolveu comentar algo sobre Nietzsche.
"Nietzsche trilhou o caminho do paradoxo para ficar conhecido. Pois devido a sua incapacidade de formular uma teoria filosofica, ele começou a criticar a tudo e a todos, principalmente o cristianismo. Pois se não fosse isso ele teria morrido obscuro. Mas ao em vez de morre obscuro, ele morreu doido, como a filosofia dele é."
Minha resposta: Pois é justamente nisso que ele era genial. Nietzsche queria ser exatamente aquela criancinha birrenta, apelona e que odeia a tudo e a todos.
Mas em vez de simplesmente chutar o balde, ele sabia argumentar. Ele não teve medo de romper com filósofos e pessoas a quem ele admirava, como Wagner e Schopenhauer, e soube fazer a auto-crítica.
Quanto ao cristianismo, é aquela coisa que ele disse certa vez. "Derrubar ídolos - isso, sim, já faz parte do meu ofício". Ele não tinha medo de questionar verdades absolutas e unanimidades - 'sobrou' até pra Kant, Sócrates e Voltaire. Afinal, a filosofia não se constrói pela idolatria, mas sim pelo questionamento, pela crítica.
Nietzsche soube ser realista, e fugiu do idealismo hegeliano que predominava nos círculos intelectuais da época, ao criticar o nacionalismo, o socialismo, os eruditos, as 'idéias modernas' e, acima de tudo, o falso moralismo.
Ele nunca se importou com a fama durante a vida. Se considerava um homem póstumo, que só seria reconhecido após morto. Mas acabou sendo distorcido pelos anti-semitas, como Hitler, que usaram o livro "Assim Falou Zaratustra" para defender a idéia de que ele, Adolf, era o super-homem.
O próprio Nietzsche dizia que não seria integralmente compreendido - ele escrevia algumas coisas que só ele entendia, porque só ele tinha vivenciado. Isso é normal, todo filósofo é no fundo um egocêntrico. Mas nem por isso muito do que ele diz continua acessível e atual, principalmente na obra "Para Além do Bem e do Mal".
Eu não colocaria Nietzsche como o maior filósofo de todos os tempos, mas sim como um dos meus preferidos, do meu gosto pessoal, pois eu me identifico com muitas idéias dele. Ele soube expressar no papel toda a raiva que ele tinha da humanidade. Sua reclusão e isolamento foram determinantes para isso. É o "egoísmo positivo".
Sobre morrer louco, acho que foi um argumento infeliz da sua parte. Você ignorou os problemas hereditários que ele tinha, como a sífilis, o uso de drogas (inclusive haxixe) e a opção dele pela solidão. Já ouvi dizer que até Freud se recusou a tratá-lo, pois considerava o estado mental dele acima de seus conhecimentos.