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Kaio

 

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03 março 2006

Monstros e sabonetes

Estou perplexo com "O Médico e o Monstro". O autor, Stevenson, criou um thriller psicológico bem envolvente, no qual a trama vai se revelando aos poucos, sempre surpreendendo o leitor. Assim como eu disse na resenha do "Édipo Rei", você, a priori, pode até saber a história, mas é só lendo a obra integral que haverá uma plena compreensão, uma fuga desse senso comum.
E eu consegui ver, em um ponto crucial, uma relação entre esse livro e o filme "Clube da Luta": a questão da dupla personalidade.
Vamos recapitular. No filme de David Fincher, Jack sofre de insônia, e está entediado com sua rotina e é um escravo do consumismo. Ele adquire uma esquizofrenia, e cria Tyler, um cara completamente alheio ao padrão de vida de seu "criador" - vive em uma espelunca, transa com Marla (que é o grande, porém oculto interesse sexual de Jack), monta um clube de brigas, fabrica sabonetes explosivos e, acima de tudo, é autêntico.
Em "O Médico e o Monstro", Henry Jekyll é um respeitado médico, considerado por todos uma pessoa boa e generosa. Contudo, ele sempre manteve bem escondidos os seus "desejos mais primitivos", a sua indignação com o mundo. Para isso, ele faz uma poção e transforma-se em uma espécie de Darth Vader do século XIX - Edward Hyde, um ser inescrupuloso e cruel, mau por essência, que age sempre de maneira niilista e colérica, inclusive pisoteando uma criança com a menor indiferença.
E é nesse ponto que ambos se ligam. Em um momento inicial, Jack admira Tyler, e Jekyll está satisfeito por descarregar sua fúria encarnado como Hyde. Só que os métodos para adquirirem esses 'clones do mal' são distintos - o protagonista de "Clube da Luta", pela insônia; já o personagem de Stevenson, pelo uso de drogas.
Só que chega o momento em que a esquizofrenia é inconciliável. E eles têm de decidir por qual das duas caras optar. Jack quer, a todo custo, se livrar de Tyler, mas em seus momentos de inconsciência, faz de tudo para mantê-lo. Jekyll chega a ficar dois meses na 'abstinência', mas Hyde (ou seja, sua raiva) se acumula dentro dele, e quando desperta, chega a cometer um homicídio.
O destino deles, entretanto, é diferente. Jack consegue tornar-se um 'espírito livre', e "mata" seu alter ego. Mas Henry Jekyll enlouquece, e não consegue controlar suas duas faces, e, após relatar todo o caso para Utterson (em uma espécie de testamento), encontra no suicídio a solução para o seu conflito interno.
Stevenson e Fincher conseguem, em suas respectivas obras, desvendar, com perfeição, esse dualismo presente na mente do ser humano. O lado bom e fraco e um lado mau e poderoso. Um que ele não quer ser, mas mantém as aparências, e o outro que reflete o que ele idealiza, o seu imaginário. Seria o homem capaz de conseguir a coexistência desses dois egos, ou esta é uma esquizofrenia irreversível?

 

Comentários:

 

 

Muito boa a sua crítica, na verdade antes de acabar de ler eu havia pensado em comentar sobre o dualismo, mas quando vi o final fiquei sem palavras...


Nossa, foda o post de hj, mas não tenho resposta pra sua pergutna final, simplesmente vou ficar pensando... Axo q é esse o efeito q vc quer em quem le seus textos nao?


concordo, post fodástico o de hoje. :]

ah. e se eu tivesse um sonho em que eu tirasse 5 numa prova de história acho que ia surtar também. mas esse sonho da professora de religião falando alemão foi o mais bizarro da minha vida. acordei tremendo e suando. céus, foi horrivel.


Adorei o "darth vader do séc. XIX", além de todo o texto,claro.


MatheusDória


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