Homens póstumos
Finalmente, eu terminei o Para Além do Bem e do Mal, do Nietzsche. Enrolei muito para lê-lo, mas só nesse fim de semana eu li a metade que faltava para concluí-lo, e o mais importante: entendi e compreendi o que li. Afinal, uma coisa é ler Nietzsche, outra é entender (momento Kaio pretensioso ativado, hehe).
A obra é fascinante do início ao fim. A seguir, algumas considerações.
1. Com o livro, eu percebi que tenho múltiplas personalidades. Primeiro, a de homem póstumo e incompreendido, como o próprio Nietzsche. Segundo, como um "livre-pensador", um babaca de "idéias modernas" e a favor do "progresso". E, por fim, um aristocrata, pela arrogância e o egoísmo, e por olhar para baixo, como se me sentisse superior.
2. Ele é um dos poucos que sabe criticar o cristianismo sem soar maçante e pedante.
3. O realismo e a capacidade de argumentação dele são muito boas. Você pode até discordar do que ele diz, mas pelo menos não será intransigente ao ponto de ignorar a tese dele sobre algum assunto.
4. Seja nas citações ou nos artigos mais longos, o autor destrói tanto os arrogantes quanto os supostos virtuosos. Exemplo? "Aquele que não quer ver o que há de elevado em um homem, dirige seu olhar para aquilo que nele é baixo e superficial. Agindo assim, revela a si mesmo."
5. Muitas vezes, ele se passa por machista, indo contra os movimentos de emancipação da mulher. Mas acho que isso, nas entrelinhas, denota uma admiração dele pelas mulheres realmente femininas, indo ele contra a "masculinização" delas, como aparentarem intelectualidade para se equiparar aos homens. Como eu disse semanas atrás, eu discordo dele quanto a essa questão, mas entendo os motivos dele para isso.
6. Nietzsche propõe uma moral muito mais ampla do que a cristã. "Ela não se resume a ética e bons costumes, mas abrange todas as coisas humanas - sentimentos, pensamentos, atos - , em oposição ao puramente físico, extra-humano."
7. Ele torna todo o seu texto muito pessoal, ao contrário de muitos filósofos que se colocam como verdades absolutas - aliás, é a esses a quem Nietzsche desfere várias de suas críticas. Fica claro que ele não gosta de Platão, Kant, Descartes e vários dos iluministas (segundo ele, um movimento que se resumiu a botar a culpa em algo - no rei, em Deus...).
Hoje mesmo, eu já entrei em outra leitura, o Segundo Tratado Sobre o Governo, do John Locke. Já tinha lido a primeira metade, pretendo terminá-lo amanhã. Até peguei uma matéria do meu caderno escolar para fazer anotações sobre a obra. Quando concluir a leitura, farei comentários aqui no blog.