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Kaio

 

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13 fevereiro 2006

Homens póstumos

Estou atualizando o blog cada vez menos. Não porque eu tenha me cansado dele (pelo contrário, eu adoro o Racio Símio, é como se fosse ao mesmo tempo um diário e material para minha auto-biografia), mas sim porque eu finalmente saí da ressaca literária pós-Irmãos Karamazov (vocês bem sabem que há três meses eu estou falando dela) e voltei a ter a "empolgação" para ler.
Finalmente, eu terminei o Para Além do Bem e do Mal, do Nietzsche. Enrolei muito para lê-lo, mas só nesse fim de semana eu li a metade que faltava para concluí-lo, e o mais importante: entendi e compreendi o que li. Afinal, uma coisa é ler Nietzsche, outra é entender (momento Kaio pretensioso ativado, hehe).
A obra é fascinante do início ao fim. A seguir, algumas considerações.
1. Com o livro, eu percebi que tenho múltiplas personalidades. Primeiro, a de homem póstumo e incompreendido, como o próprio Nietzsche. Segundo, como um "livre-pensador", um babaca de "idéias modernas" e a favor do "progresso". E, por fim, um aristocrata, pela arrogância e o egoísmo, e por olhar para baixo, como se me sentisse superior.
2. Ele é um dos poucos que sabe criticar o cristianismo sem soar maçante e pedante.
3. O realismo e a capacidade de argumentação dele são muito boas. Você pode até discordar do que ele diz, mas pelo menos não será intransigente ao ponto de ignorar a tese dele sobre algum assunto.
4. Seja nas citações ou nos artigos mais longos, o autor destrói tanto os arrogantes quanto os supostos virtuosos. Exemplo? "Aquele que não quer ver o que há de elevado em um homem, dirige seu olhar para aquilo que nele é baixo e superficial. Agindo assim, revela a si mesmo."
5. Muitas vezes, ele se passa por machista, indo contra os movimentos de emancipação da mulher. Mas acho que isso, nas entrelinhas, denota uma admiração dele pelas mulheres realmente femininas, indo ele contra a "masculinização" delas, como aparentarem intelectualidade para se equiparar aos homens. Como eu disse semanas atrás, eu discordo dele quanto a essa questão, mas entendo os motivos dele para isso.
6. Nietzsche propõe uma moral muito mais ampla do que a cristã. "Ela não se resume a ética e bons costumes, mas abrange todas as coisas humanas - sentimentos, pensamentos, atos - , em oposição ao puramente físico, extra-humano."
7. Ele torna todo o seu texto muito pessoal, ao contrário de muitos filósofos que se colocam como verdades absolutas - aliás, é a esses a quem Nietzsche desfere várias de suas críticas. Fica claro que ele não gosta de Platão, Kant, Descartes e vários dos iluministas (segundo ele, um movimento que se resumiu a botar a culpa em algo - no rei, em Deus...).

Hoje mesmo, eu já entrei em outra leitura, o Segundo Tratado Sobre o Governo, do John Locke. Já tinha lido a primeira metade, pretendo terminá-lo amanhã. Até peguei uma matéria do meu caderno escolar para fazer anotações sobre a obra. Quando concluir a leitura, farei comentários aqui no blog.

 

Comentários:

 

 

Sobre Locke, Karl Marx também prestou atenção nele, dizendo que as liberdades que Locke pregava eram "liberdades pequeno-burguesas" como liberdade de culto ou de expressão e que eram "pequenas liberdades" que não se comparavam a grande emancipação da classe trabalhadora ou whatever.
Sejá lá a visão que os esquerdistas de hoje tenham de mundo, a noção que eu tenho lendo Karl Marx era que ele tinha bem menos noção do que ele próprio queria do que parece, já que ele queria liberdade para as pessoas colherem o fruto do próprio trabalho, mas essa liberdade, de alguma forma, era mais importante que todas as outras liberdades.
No fim ele era altamente materialista e utilitarista, queria liberdade apenas de comprar e de usar maquinarios.


Sobre Nietzsche, eu vou estuda-lo no final do semestre, um texto seu chamado "Crepusculo dos Deuses" onde ele resume em algumas poucas páginas toda a história da filosofia.
Lá ele faz uma crítica genial a Sócrates, pois Sócrates que criou a noção de que a superficie é... bem... superficial enquanto o que interessa é a essência, a "profundidade".
Nietzsche brilhantemente respondeu a isso dizendo "Sócrates era feio."


Ops ops ops ops
Crepusculo dos Ídolos e não dos Deuses.


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