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Kaio

 

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18 fevereiro 2006

Incesto, parricídio e atemporalidade

Édipo Rei talvez tenha sido a maior tragédia encenada na Grécia Antiga. A influência da obra-prima de Sófocles sobre o teatro moderno é indiscutível, e até algumas coisas foram aproveitadas pelas novelas e filmes pipoca (como a 'desgraça sem fim', com a diferença que nestes o final é feliz e ilusório).
O incesto e o parricídio eram considerados os dois maiores crimes na Antiguidade Clássica. Por que não fazer uma peça sobre isso, então?
Aliás, Nietzsche e Kafka já comentaram sobre o incesto em suas obras, e Dostoievksi, sobre o parricídio.
O complexo de Édipo é intenso, e foi muito estudado pela psicanálise de Freud, com a questão da afinidade entre mãe e filho e a rivalidade entre este e o pai. Some a isso a forte crença de Sófocles no destino, ao ponto de determinar um crime décadas antes dele ocorrer.
Notei várias frases dúbias na obra. A maioria delas faz referências à decadência política grega. Aliás, Édipo é uma metáfora para os políticos - quando ameaçados e acusados de algo, tornam-se autoritários, e eliminam sus adversários, acusando-os de conspiração pelo poder. Contudo, acabam sendo levados à queda pelas suas contradições e falhas.
A cegueira do protagonista representa a intenção dele de tentar ignorar a desgraça pela qual passava, e nunca mais encarar a realidade cruel. Por ter se dedicado muito à razão (Édipo resolvia enigmas), esqueceu-se da potência e justiça divina, e pagou por isso. Sófocles, argumentando isso, deixa claro seu interesse pelo metafísico.
Terésias não é um sábio à toa, pois desafia o mais forte e poderoso - sua subversão é decisiva para os rumos da história. Jocasta, no seu ceticismo, tenta escapar do inevitável, mas fracassa nisso, e comete suicídio. O coro seria a consciência de Édipo, sempre intervindo para representar o psíquico dele.
Enfim, poucas obras são tão mágicas quanto esta. Mesmo tendo sido composta há 2500 anos, ela continua extremamente atual, tocando em questões que sempre estão em pauta. Por isso, é fundamental que as novas gerações conheçam ela, e não fiquem sabendo apenas o superficial sobre Édipo Rei, ou seja, "o filho abandonado pelos pais que, por força do destino, mata seu pai, e casa-se e tem filhos com sua mãe, levando a um final trágico". Isso é o que todo mundo sabe, mas quem leu sabe que há muito mais do que isso embutido nessa tragédia.

 

Comentários:

 

 

Acho que a marca mais chocante de Édipo Rei é a impotência do homem em relação ao seu destino. Esse tipo de obra em uma época que as pessoas sinceramente acreditavam que existiam deuses controlando tudo por cordinhas moldava a cultura.
Hoje a temática se inverte. As histórias hoje são sobre pessoas que lutam contra o destino e vencem. A sensação de que um homem pode ser contra o "poder" e sair vitorioso é bem recente. Diz muito sobre nós.


Procure alguns textos sobre o parricídio em Crime e Castigo, vc vai ver que interessante é o doido do Freud "analisando" como eles estão lá "nas entrelinhas" e na obra toda de dostoiévski.

Matheusdoria


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