Top 20: os melhores álbuns da década
Destaques: "Hard Times", "Rose-Colored Boy", "Told You So" e "Fake Happy".
Bowie volta a lançar um álbum de estúdio após uma década, com um álbum que, apesar da capa iconoclasta (profanando a de outro disco dele, "Heroes"), é um bom resumo das tendências estilísticas que adotou ao longo de quatro décadas e meia: a melancolia à la Low em "Where Are We Now?", o solo de guitarra glam de "Valentine's Day", o flerte com a eletrônica de "Love Is Lost" e o rock alternativo à la Scary Monsters da faixa-título e de "The Stars (Are Out Tonight)".
Destaques: "The Next Day", "The Stars (Are Out Tonight)", "Love Is Lost" e "Where Are We Now?".
A discografia do Primal Scream é tão eclética quanto irregular. Felizmente os pontos altos são bem altos: Screamadelica (1991), Vanishing Point (1997), XTRMNTR (2000) e o mais recente deles, More Light. A banda se atém aos seus pontos fortes: altas doses de psicodelia, combinação de rock com eletrônica e letras politizadas.
Destaques: "2013", "River of Pain", "Culturecide" e "It's Alright, It's Ok".
Damon Albarn fez em Plastic Beach o álbum do Gorillaz menos focado em singles e com maior arquitetura temática; a propósito, o último disco tão amarrado conceitualmente de Albarn havia sido The Great Escape (1995), do Blur. O resultado é amplamente satisfatório, especialmente na primeira metade do disco.
Destaques: "White Flag", "Stylo", "Some Kind Of Nature" e "On Melancholy Hill".
Com a ajuda crucial de Josh Homme (Queens of the Stone Age), que produziu este disco e recrutou o baterista dos Arctic Monkeys e o guitarrista dos Queens, Iggy Pop lançou seu melhor trabalho em 40 anos (sim, desde a dupla The Idiot e Lust for Life, produzidos e co-escritos por Bowie em 1977). As letras estão bem auto-biográficas, como indica este trecho de "American Valhalla": "I've nothing but my name".
Destaques: "Break Into Your Heart", "Gardenia", "American Valhalla" e "Paraguay".
Um dos discos mais elogiados da década pela crítica especializada, Modern Vampires Of The City é de fato muito bom, mas como vocês verão acho que há pelo menos outro álbum da banda superior a ele (embora para mim o ápice do Vampire Weekend seja o debut, de 2008). Com uma ou outra exceção (em especial a frenética e excelente "Diane Young"), este CD é mais lento do que os dois trabalhos anteriores do conjunto nova-iorquino. As letras estão mais reflexivas, e compõem um interessante painel político e cultural de NY.
Destaques: "Unbelievers", "Step", "Diane Young" e Ya Hey".
14. Tranquility Base Hotel & Casino (Arctic Monkeys) - 2018
Talvez o disco do qual mais discordei da opinião dominante tanto da crítica quanto dos fãs. Tranquility foi mal compreendido e julgado como um disco auto-indulgente, talvez porque seja bem diferente de seu antecessor, AM (2013), mais comercial e acessível (mas que nem acho tão bom assim). Não importa: as letras de Alex Turner estão cada vez melhores (em especial as debochadas "Star Treatment" e "Four Out Of Five"), e o ritmo mais vagaroso das canções dá a elas uma certa elegância, ainda mais quando ornamentada por flertes com space rock, glam, lounge pop e o Bowie de Young Americans (1975).
Destaques: "Star Treatment", "Tranquility Base Hotel & Casino", "Four Out Of Five" e "She Looks Like Fun".
Destaques: "Right Action", "Evil Eye", "Love Illumination" e "Stand On The Horizon".
Em uma década marcada por retornos após longos hiatos (vide #19, #5 e #2), o 8º CD do Blur foi o que teve a origem menos planejada: as bases para as 12 canções foram gravadas durante os 5 dias em que a banda estava à toa em Hong Kong, devido a um show cancelado. Um ano depois, o guitarrista Graham Coxon co-produziu as canções com o produtor de longa data Stephen Street, e o vocalista Damon Albarn, que estava em turnê para divulgar seu disco solo Everyday Robots (2014), passou um dias na cidade anglo-chinesa para se inspirar para escrever as letras. The Magic Whip é um dos álbuns mais consistentes do Blur; pode até não ser um dos melhores, mas é um dos com menos "fillers". As melhores faixas são "Lonesome Street" (que parece um elo entre o perfeccionismo melódico The Great Escape e as mudanças bruscas de sonoridade do álbum homônimo de 97) e "New World Towers" (uma reflexão sobre os efeitos íntimos da globalização).
Destaques: "Lonesome Street", "New World Towers", "Go Out" e "Ong Ong".
Dos CDs incluídos nessa lista, este foi um que para mim mais foram "trilha sonora" do ano em que foram lançados. Ouvi muito Pala no fim de 2011, pois gostei de como a banda combinou a pegada indie e dançante de seu primeiro álbum com toques de funk e psicodelia, criando canções tão animadas quanto viajadas. O Friendly Fires só voltaria a lançar um disco agora em 2019 (e Inflorescent é bom, diga-se de passagem), e talvez esse longo silêncio tenha ajudo a mostrar que Pala passou no teste de longevidade.
Destaques: "Live Those Days Tonight", "Hawaiian Air", "Hurting" e "Helpless".
Destaques: "Let England Shake", "The Last Living Rose", "The Glorious Land" e "The Words That Maketh Murder".
Nos primeiros dias da década, o Vampire Weekend lançou um CD que, apesar de ter estreado em 1º lugar nas paradas americanas, era marcado pelo experimentalismo sonoro (como demonstram faixas como "Horchata" e "Diplomat's Son"), embora algumas faixas mantenham o estilo indie do álbum anterior (como "Cousins", tão enérgica que parece um frevo).
Destaques: "White Sky", "Holiday", "Cousins" e "Giving Up The Gun".
Em um disco triste para os padrões já sorumbáticos do Radiohead, Thom Yorke reflete, dentre outros temas (há espaço para a polítizada "Burn The Witch", p.ex.), sobre o fim de seu casamento. Mesmo o fato de "True Love Waits" (canção que já constava nos shows da banda desde 1995) finalmente ter entrado em um álbum do Radiohead é profundamente simbólico, pois foi só depois de encerrar seu longo relacionamento que Yorke gravou a versão definitiva da canção da banda que expõe o amor de forma mais aberta e transparente: "And true love waits / In haunted attics / And true love lives / On lollipops and crisps / Just don't leave / Don't leave".
Destaques: "Burn The Witch", "Daydreaming", "Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief" e "True Love Waits".
Um dos álbuns mais catárticos da década, composto por um artista de infância e adolescência trágicas (foi criado numa seita, o pai o abandonou, a mãe se prostituía, o irmão faleceu precocemente...) e uma vida amorosa aparentemente turbulenta (como indica a desiludida "Alex"). A banda Girls acabaria apenas um ano depois, mas a despedida não poderia ter sido mais contundente: há canções que remetem a Beach Boys ("Honey Bunny"), Deep Purple ("Die"), Pink Floyd ("Vomit"), dentre outras influências clássicas.
Destaques: "Honey Bunny", "Alex", "Die" e "Vomit".
A temática suburbana já havia sido delineada na tetralogia "Neighborhood" em Funeral (2004), mas o Arcade Fire resolveu ir além e fazer dela um álbum conceitual. The Suburbs foi o maior êxito comercial da banda (e ganhou até Grammy de Álbum do Ano), e tal reconhecimento é bem merecido - como bem definiu a Rolling Stone brasileira na época em uma matéria sobre os melhores discos de 2010 (nº 52, Janeiro/2011), ele combinou, com ousadia, "a grandiosidade do rock de arena às experimentações só permitidas a uma banda indie nos limites do mainstream" (p. 80).
Destaques: "The Suburbs", "Ready To Start", "Suburban War" e "Sprawl II (Mountains Beyond Mountains").
Embora tivesse lançado a trilha sonora de Tron: Legacy em 2010, o Daft Punk não lançava um disco de verdade desde 2005 (Human After All) - e, se considerarmos que este havia sido irregular, até pela composição a toque de caixa, era Discovery (2001) o último trabalho de ponta do duo eletrônico francês. Random Access Memories compensou muito bem essa longa espera: é o conjunto de canções mais "orgânico" do Daft Punk, com menos ênfase na eletrônica e mais na musicalidade - a qual é ainda mais calcada na disco e nos anos 70 do que Discovery. As participações especiais de Giorgio Moroder, Pharrell Williams e Julian Casablancas também contribuem para a magia deste álbum.
Destaques: "Give Life Back To Music", "Giorgio By Moroder", "Instant Crush", "Get Lucky" e Contact".
O Suede voltou em grande estilo com Bloodsports (2013), mas foi Night Thoughts que chegou às alturas dos melhores discos da banda: Suede (1993), Dog Man Star (1994) e Coming Up (1996). É com o segundo destes três álbuns que este CD possui maior afinidade estilística (uma combinação de glam com traços de post-punk, art rock e, no caso de "I Don't Know How To Reach You", até progressivo), embora as letras já não sejam sobre uma juventude junkie e decadentista, e sim sobre um pai de família angustiado com o futuro que espera seus filhos, mas também nostálgico de alguns momentos de sua juventude.
Destaques: "When You Are Young", "Outsiders", "No Tomorrow", "I Don't Know How To Reach You" e "Like Kids".
Destaques: "Blackstar", "Lazarus", "Sue (Or In A Season In Crime"), "Girl Loves Me" e "I Can't Give Everything Away".
Depois de 21 anos e 3 meses, poucas pessoas ainda acreditavam que o My Bloody Valentine lançaria o seu terceiro álbum, o sucessor do lendário Loveless (1991). Mesmo o lançamento, em meados de 2012, da compilação EP's 1988-1991 e das versões remasterizadas de Isn't Anything (1988) e Loveless não foi o suficiente para diminuir a surpresa dos fãs da banda quando, no início de Fevereiro de 2013, o álbum m b v foi disponibilizado de forma quase singela, por download pago no site de banda e, horas depois, por vídeos no YouTube de cada faixa (algo que não era tão comum na era pré-Spotify). As expectativas foram altas, e ainda assim a banda conseguiu superá-las. O álbum começa com uma trinca de faixas mais similares à estética de Loveless ("She Found Now", "Only Tomorrow" e "Who Sees You"), seguida de um trio de canções mais melódicas ("Is This And Yes", "If I Am" e a melhor do álbum, "New You") e um desfecho com três canções mais experimentais (a propulsão de "In Another Way", o drum 'n' bass/jungle de "Nothing Is" e, em especial, "Wonder 2" e seu loop de helicóptero). Kevin Shields procrastinou, mas voltou duas décadas depois com um álbum tão poderoso quanto os dois com os quais pavimentou a estética do shoegaze.
Fiquei surpreso ao reler minha lista dos melhores álbuns de 2013 (que, aliás, foi o ano de lançamento de 7 dos discos deste top 20 da década) e descobrir que coloquei Reflektor apenas como "menção honrosa". Ao longo dos últimos seis anos passei a valorizá-lo cada vez mais; apesar de ser um CD duplo, ele não comete o pecado de sacrificar a qualidade em nome da quantidade. Pelo contrário, a maioria esmagadora das 13 faixas pode ser elencada entre as melhores composições desta banda canadense. É um trabalho extremamente ambicioso, com letras carregadas de referências culturais (desde Kierkegaard e mitologia grega até Orfeu Negro), uma participação especialíssima de David Bowie na faixa-título, experimentos sonoros (com um flerte com música dançante e eletrônica que era no máximo sugerido em faixas de discos anteriores, como "Sprawl II") e produção caprichada de James Murphy (LCD Soundystem). Entre os momentos mais sublimes do álbum estão a discoteca filosófica de "The Reflektor", a repentina transição do punk para o glam em "Joan of Arc", a catártica "We Exist", o tom épico de "Awful Sound (Oh Eurydice)", a melancólica mas contagiante "It's Never Over (Oh Orpheus)" e a etérea "Afterlife".
Destaques: "Reflektor", "We Exist", "Joan Of Arc", "Awful Sound (Oh Eurydice)", "It's Never Over (Oh Orpheus)" e "Afterlife".
Menções honrosas: Bloodsports (Suede) e Tourist History (Two Door Cinema Club).
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