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14 dezembro 2019

London is drowning, and I live by the river



No dia 14 de Dezembro de 1979, o The Clash lançou London Calling, um álbum duplo marcado pela ambiciosa diversidade estilística (e com isso superava as limitações estéticas do punk), mas também por conter várias das melhores canções não só do Clash, mas da história do Rock em geral. O LP 1 (equivalente às faixas 1 a 10 do CD) em especial parece uma coletânea, com várias canções clássicas se sucedendo.
A parceria lírica e musical dos vocalistas e guitarristas Joe Strummer e Mick Jones, que já havia produzido o excelente debut homônimo (1977), o ótimo Give 'Em Enough Rope (1978) e singles espetaculares como "Complete Control" e "(White Man) In Hammersmith Palais", estava mais afiada do que nunca, e as 19 faixas mostram uma banda disposta a dialogar de forma criativa com qualquer estilo musical que lhe interessasse.
A faixa-título de London Calling é uma combinação magnífica de arranjos poderosos (destaque para a linha de baixo de Paul Simonon) e versos apocalípticos, em especial o refrão: "The ice age is coming, the sun is zooming in / Engines stop running, the wheat is growin' thin / A nuclear era, but I have no fear / 'Cause London is drowning, and I, I live by the river" . Há espaço até para uma profanação tipicamente punk de uma das instituições sagradas da música britânica: "Phony Beatlemania has bitten the dust".
Outros destaques do álbum são:
- LP 1 - a melódica e debochada "Jimmy Jazz" (que contém um trecho que soa auto-referencial: "What a relief / I feel like a soldier / Look like a thief"); a empolgante "Hateful" (uma das melhores performances de Topper Headon na bateria); o cativante reggae "Rudie Can't Fail" (com dobradinha de Strummer e Jones nos vocais); "Spanish Bombs", um retrato da Guerra Civil Espanhola - embora possivelmente com os "Troubles" da Irlanda do Norte em mente - que contém até uma referência a um famoso poeta espanhol: "Fredrico Lorca is dead and gone"; a melancólica crítica ao consumismo em "Lost In The Supermarket" (I came in here for the special offer / A guaranteed personality"); o furioso ataque ao establishment de "Clampdown", que possui uma das melhores letras da banda: "Stop wasting your time, there's nothing coming / Only a fool would think someone could save you (...) It's the best years of your life they want to steal / But you grow up and you calm down / And working for the clampdown / You start wearing blue and brown (...) You drift until you brutalize"; o retrato da violência urbana em "The Guns of Brixton" (primeira canção composta pelo baixista Paul Simonon - o qual, aliás, estampa a capa de London Calling destruindo seu instrumento musical); 
 - LP 2 - o reflexivo hard rock "Death Or Glory" - que, de acordo com Nick Burns, trata da inevitabilidade de "trair o movimento", ou de pelo menos arrefecer o impulso vanguardista; o divertido hardcore "Koka Kola", outro ataque aos yuppies, desta vez insinuando que são movidos a cocaína ("Koke adds life, advertising world / 'Treat me nice', says the party girl"); e o desfecho do álbum, a deliciosamente pop "Train In Vain", que Mick Jones escreveu em resposta a "Typical Girls", do The Slits, banda na qual tocava sua ex-namorada, Viv Albertine.
London Calling foi o momento em que o The Clash deixou de ser uma banda punk para se tornar uma banda de rock no sentido amplo, inclusive na abertura para experimentar com outros estilos, como o jazz, o reggae e o ska. É também um raríssimo caso de álbum duplo que mantém o alto nível até o fim, sem faixas "fillers" ou auto-indulgentes. Infelizmente o Clash não repetiria a dose nem no trabalho seguinte, o ousado mas irregular LP triplo Sandinista! (1980), nem no conciso mas também desnivelado Combat Rock, de 1982.
40 anos depois, é possível afirmar com segurança que London Calling foi o ápice da banda, o momento em que ambição e qualidade estavam equiparadas. Sem dúvidas estamos diante de um dos melhores álbuns de Rock de todos os tempos.

P.S.: Aproveitei a data para fazer uma playlist de The Clash. Incluí oito faixas do aniversariante.


 

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