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06 outubro 2019

King Crimson no Rock in Rio no dia do 45º aniversário de Red


6 de Outubro de 2019: o King Crimson tocará no Rock in Rio, em sua 1ª turnê no Brasil em 50 anos de banda (ainda que interruptos, pois assumiu várias encarnações: 1969-74, 1981-84, 1994-2004, 2007-09 e 2013 em diante). Irei ao show, para o qual estou extremamente ansioso. Será um setlist de apenas uma hora, mas repleto de clássicos (dentre eles, espero, duas faixas sobre as quais falarei abaixo - "Red e "Starless").

6 de Outubro de 1974: Red, o sétimo álbum de estúdio do King Crimson, é lançado. Na época soou como um disco póstumo, pois poucos dias antes do lançamento o guitarrista Robert Fripp dissolveu a banda (para surpresa dos demais integrantes, que já estavam se preparando para uma nova turnê nos Estados Unidos) e entrou em um retiro espiritual da Fundação J. G. Bennett, um seguidor do místico Gurdjieff. Há quem diga que a banda estava à beira de repetir o sucesso de seu primeiro álbum (In The Court Of The Crimson King, de 1969, o mais famoso dos Crims), mas também se pode dizer que o conjunto acabou na hora certa – não só porque Red foi uma despedida em grande estilo, mas também porque o rock progressivo começou a perder prestígio entre crítica e público nos anos seguintes, a ponto de ser o bode expiatório do movimento punk como “tudo aquilo que está errado” no Rock. Após o fim da primeira encarnação do King Crimson, Fripp se tornaria um músico bastante requisitado, participando em faixas de artistas mais próximos ao art rock e à new wave, como Brian Eno, David Bowie, Peter Gabriel (outro egresso do rock progressivo), Blondie e Talking Heads. Quando ressuscitou o conjunto, em 1981, ele apontaria para outras direções estilísticas, tão interessantes quanto as adotadas nos anos 70, o que mostra como o King Crimson foi uma das bandas que mais levou a sério a proposta de fazer música progressiva, que não se apega ao passado e está sempre se movendo e se reinventando esteticamente. Nesse aspecto “metamórfico” ele só possui dois equivalentes na música do Século XX: Miles Davis e David Bowie.






“Red”, a canção que abre o álbum homônimo, é uma das mais poderosas e sombrias do catálogo do King Crimson. Em parte isso se deve, segundo o musicólogo Eric Tamm em seu livro Robert Fripp: From King Crimson to Crafty Master, ao uso do trítono, que na Idade Média era chamada de “a nota do diabo” (“diabolus in musica”), pois o intervalo entre notas cria uma dissonância que evoca um efeito de tensão soturna no ouvinte. A faixa-título possui a distinção de ser uma das poucas músicas da banda que foi tocada por todas as formações posteriores.



“Fallen Angel” tem uma letra sobre a violência das gangues em Nova York. Os versos evocam certa delicadeza (aliás, é interessante notar que todo álbum do King Crimson tem uma faixa mais gentil e melódica que as demais), mas no refrão a canção ganha peso, com direito a uma corneta estridente e a um solo de guitarra desconcertante.



“One More Red Nightmare” é a primeira e única letra do vocalista e baixista John Wetton para a banda (todas as letras da demais faixas dos três álbuns em que ele esteve no King Crimson foram escritas por Richard Palmer-James, ex-Supertramp; porém, Wetton também escreveu a letra inicial de "Starless") é sobre um pesadelo de um acidente aéreo. Para evocar essa sensação de desespero foi providencial a ferocidade com que Bill Bruford tocou os pratos de bateria que achou em um lixo (aliás, vale a pena conferir a empolgação com que ele relata isso em sua autobiografia).



“Providence” é uma improvisação feita em um show em Providence (capital de Rhode Island, nos EUA) no dia 30 de Junho de 1974 – aliás, foi o penúltimo da banda antes da dissolução. É a única canção do álbum com participação do violinista David Cross, que foi demitido por "incompatibilidades artísticas" entre o fim da turnê americana e a gravação do álbum, em Julho. À primeira vista soa meio deslocada em Red (embora continue os experimentos ao vivo já presentes no álbum anterior, Starless and Bible Black), mas funciona muito bem para criar o clima de tensão que antecederá a última faixa, assim como dar um respiro após a intensidade das três canções anteriores.






“Starless” é possivelmente a obra-prima do King Crimson, a canção que em 12 minutos sintetiza todas as fases da banda: o início (até cerca de 4:30) é sinfônico e melancólico, a parte intermediária (entre 4:30 e 9:00) é uma improvisação que gera uma tensão crescente - em especial pelo ritmo repetitivo da guitarra - e o final (de 9:00 em diante) é uma explosão sonora que oscila entre o jazz e o metal, à la "21st Century Schizoid Man" (a eletrizante 1ª faixa de In The Court of the Crimson King). Segundo Eric Tamm, essa estrutura tripartite é semelhante à de uma sonata, por conter exposição, desenvolvimento e recapitulação (afinal nos dois últimos minutos a melodia inicial é retomada). A versão de estúdio substitui o violino que David Cross usava na versão ao vivo por um dos mais belos solos de guitarra de Fripp, e que antecipa o estilo atmosférico que ele adotará nos anos seguintes em faixas como “Heroes” (David Bowie). Wetton canta com muita emoção a ótima letra que escreveu junto com Palmer-James, e também contribui de forma substantiva com seu baixo, que em combinação com a bateria de Bruford compõe o que Fripp chamava de “flying brick wall”. Todos esses elementos fazem de “Starless” um final digno para a primeira fase do King Crimson.



Red, até pela falta de uma turnê e pelo desapontamento de ser um álbum de uma banda defunta, não vendeu bem (chegou apenas ao 45º lugar das paradas britânicas e ao 66º das americanas), mas em compensação foi o segundo disco mais influente do King Crimson (o primeiro é o álbum de estréia, afinal nada menos do que inventou o rock progressivo). Inspirou desde bandas de metal progressivo (como Tool) até de grunge (Kurt Cobain citou Red na sua lendária lista de 50 álbuns favoritos, e In Utero é certamente um herdeiro de sua dinâmica sonora entre versos calmos e refrões furiosos). Além disso, é um dos álbuns progressivos que melhor envelheceu; um ouvinte desatento poderia pensar que ele foi lançado nos anos 90, talvez pela combinação da sonoridade pesada produzida pelo “power trio” Fripp, Wetton e Bruford com a sofisticação dada pelos instrumentos de sopro (em especial o sax de Ian McDonald em “One More Red Nightmare” e “Starless” – aliás, foi uma participação mais do que especial, pois McDonald é um ex-membro da banda, tendo sido o principal compositor de In The Court of The Crimson King).

 

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