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Kaio

 

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28 setembro 2017

Let me whisper my last goodbyes, I know, it's serious




Hoje, 28 de Setembro, é o 30º "unhappy birthday" de Strangeways, Here We Come, o último álbum dos Smiths. O disco foi lançado um mês depois da separação do fab-four de Manchester, e a despedida não poderia ter sido mais brilhante. 
O último ano da banda foi um dos mais produtivos, e singles como "Sheila Take a Bow" já anunciavam uma mudança na direção estética, abandonando o tom cru e direto do jangle pop por uma sonoridade mais sofisticada, com uma maior gama de instrumentos. As letras já vinham mudando desde The Queen Is Dead, com Morrissey escrevendo canções mais debochadas e menos "heróico-derrotistas".


Durante as gravações de Strangeways o guitarrista Johnny Marr tomou como referência o espírito experimental do White Album dos Beatles. Por sua vez, Morrissey estava inspirado e compôs alguns de seus melhores versos. A canção do álbum que melhor demonstra os novos rumos dos Smiths é "Death of a Disco Dancer", com performances fenomenais de cada integrante: Marr faz solos de guitarra desconcertantes; Andy Rourke toca uma linha de baixo envolvente; Mike Joyce brutaliza na bateria; Morrissey, além de tocar piano, faz uma letra sobre a hipocrisia em torno da AIDS, dotada de um refrão dos mais amargos: "Love, peace and harmony? Oh, very nice, but maybe in the next world".
Três faixas se tornaram singles: a curta e viciante "Girlfriend in a Coma" é marcada pelo humor negro (embora haja teorias recentes de que ela também seria sobre um personagem soropositivo, o que explicaria o final melancólico); "I Started Something I Couldn't Finish" é um empolgante glam rock com letra bem ambígua; por fim, "Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me", uma das canções mais ambiciosas dos Smiths, com uma longa introdução, um ritmo de valsa e versos que evocam uma desilusão amorosa: "No hope, no harm / Just another false alarm / So, tell me how long / Before the last one?"
Outra canção que seria lançada como single é justamente uma das melhores, "Stop Me If You Think You've Heard This One Before" (o enorme título é de uma auto-ironia deliciosa). Infelizmente houve um massacre na Inglaterra na época em que ela seria lançada, e os sarcásticos versos "And the pain was enough to make / A shy, bald, Buddhist reflect / And plan a mass murder" soaram inadequados.
O humor sardônico também marca a faixa de abertura, "A Rush and a Push and the Land is Ours", uma das canções mais permeadas por teclados. A profética "Paint a Vulgar Picture" descreve perfeitamente o que acontece quando um artista morre (ou uma banda acaba): "Re-issue! Re-package! / Re-package! / Re-evaluate the songs / Double pack with a photograph / Extra track (and a tacky badge)". Cabe notar que já foram lançadas sete coletâneas dos Smiths... [Obs.: não que todas sejam caça-níqueis; há algumas muito boas, como Louder Than Bombs e The Sound Of The Smiths]
"Unhappy Birthday" combina uma letra cheia de rancor com uma melodia meio radiante, meio melancólica. "Death at One's Elbow" é rápida, dançante... e um pouco excêntrica. O álbum se encerra com a graciosamente conduzida pela auto-harpa "I Won't Share You", a qual muitos dizem ser um recado de Morrissey a Marr.


Contando com esse repertório excelente (e que nos faz imaginar as interessantes possibilidades sonoras da banda se tivesse continuado), Strangeways, Here We Come é meu disco favorito dos Smiths - e também o de Morrissey e Marr, provavelmente uma das únicas coisas em que ambos concordam.

 

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