Let there be love
Ela não era de falar muito; gostava mais de manter-se na introspecção, estudando e observando a tudo e a todos. Já o rapaz era extremamente comunicativo, cheio de sonhos, planos e desejos. Mesmo assim, a garota era mais sociável, talvez por ser bem madura e serena; ele, contudo, tem poucos amigos, afinal, agia como um romântico que se afastava das pessoas por não ser compreendido por muitas delas.
Foi um trabalho em duplas o "estopim" para que os dois conhecessem melhor um ao outro, porque, mesmo estudando na mesma sala, quase nunca conversavam entre si. O professor escolheu os grupos aleatoriamente, e César e Penélope teriam que preparar um projeto sobre Filosofia Grega. Ainda cautelosos, acertaram de maneira lacônica o dia no qual se encontrariam à tarde na escola para iniciarem o trabalho.
Em tal dia, o diálogo travado pelos jovens foi quase um atrito colossal, pois, já nos primeiros minutos estavam opondo suas visões filosóficas:
- Eu gosto muito de Platão, talvez porque acredito profundamente na essência das coisas, nas idéias que produzimos e aplicamos e até no amor platônico. Sou um apaixonado defensor do idealismo, hehe!
- Hum, eu já sou completamente realista, aos moldes aristotélicos. Acredito que a experiência determina, explica e prova como tudo funciona. Apoio-me nos ombros dos gigantes da ciência.
Apesar de várias desavenças ideológicas, eles não deixaram de notar que nutriam uma paixão em comum pela filosofia. É como se esta fosse o único ponto de convergência entre personalidades tão diferentes. Penélope e César, involuntariamente, envolveram-se muito no trabalho escolar. Debatiam por horas a fio, e, no intervalo das discussões, falavam de suas vidas. Ela se interessou pelo jeito extrovertido e exaltado dele ("É como se ele fosse um Werther menos pessimista!"), enquanto César ficou fascinado pela aparente frieza de Penélope, que, no fundo, como ele percebeu, era doce e esforçadíssima nos estudos.
Mesmo após a apresentação do projeto, eles continuaram a dialogar freqüentemente, até que, semanas depois, notaram que um forte e recíproco sentimento desenvolvera-se.
- César, talvez você não acreditará no que eu tenho a dizer, mas acho que estou apaixonada, ou mesmo amando você...
- Céus! O mais impressionante de tudo é que... eu também estou gostando pra valer de você, Penélope! Putz, o que faremos? Que espécie de ironia do destino é essa?
- Pois é! Até há pouco mais de um mês, sequer falávamos um com o outro... Será que a filosofia nos uniu, ou foram as nossas diferenças as responsáveis por isso?
- Eu vou além, querida: nem a filosofia que tanto apreciamos poderá explicar esse... amor que parece ter surgido. Resta a nós apenas... sentí-lo. "Let there be love", Penélope.
(Redação que eu escrevi hoje, e que entregarei amanhã. O tema permitia que eu escrevesse uma redação que discutisse o fato de que "nem sempre há razão nas coisas feitas pelo coração". Espero que tenha ficado boa, fiquei montando-a mentalmente por um tempão, hehe)
(Adendo de 8 de Março: e não é que eu tirei 100 na redação? Yay!)
|
|
|
|