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Kaio

 

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10 dezembro 2006

Speak out

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Hum, não ando com muita criatividade para escrever um post. Pelo menos agora. Acho que vou escrever um outro pela madrugada. É a melhor hora do dia para postar.
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Ah, momento cultural. Vou falar de dois livros, cada um à sua maneira, repletos de fluxo de consciência, afinal, I'm lovin' it.

Terminei de ler "Hell" [ontem].
O livro é um romance (em parte) auto-biográfico de uma jovem francesa, Lolita Pille, de pseudônimo Hell, que aos 18 anos leva uma vida junkie, completamente hedonista, regada a sexo, drogas, consumismo e álcool.
A obra, em certos trechos, é bem melancólica. A autora, mesmo que indiretamente, expressa a cada momento as contradições de sua vida, ora criticando, ora exaltando seu lifestyle extravagante e inconseqüente.
Ela, já nas duas primeiras páginas do livro, sintetiza como é a sua, hã, auto-estima: "Eu sou uma putinha, daquelas mais insuportáveis, da pior espécie. (...) Meu credo: seja bela e consumista."
Gostei bastante de "Hell", justamente porque o livro representar quase que o completo oposto de mim. É uma das coisas que eu mais gosto na literatura - ficar por dentro das experiências de vida e da personalidade de seres humanos bem diferentes de Kaio. Não me refiro apenas ao fato de que a protagonista do romance é rica e junkie, mas também em outros pontos, como posturas filosóficas, já que ela é completamente pessimista, materialista e niilista.
A coisa mais notável na obra é a maneira quase 'vomitada' de ela escrever, seguindo uma forte tendência entre escritores jovens que resolvem 'dissecar' os podres da juventude da década de 2000. Soa pedante em certos momentos, principalmente quando ela se faz de entendida a respeito de Baudelaire e "A Dama das Camélias", mas isso acaba sendo um ponto positivo, pois a simples tentativa de dar algum respaldo intelectual à vida fútil desses adolescentes e pós-adolescentes já demonstra que a alienação não é total. Se bem que os franceses são cultos quase que por natureza, no Brasil os riquinhos não são bem assim, hehe, mas, enfim, diferenças culturais à parte, "Hell" é uma representação assaz realista de como vive essa 'casta social', e agrada aos tipos de leitores mais diversos.

Também concluí a leitura "A Hora da Estrela". [Na terça passada]
"Quem se indaga é incompleto". Sem dúvidas, Clarice. Sem dúvidas.
A escritora usou e abusou do 'spread of consciousness'. É como se ela fosse totalmente espontânea na hora de escrever, expelindo cada pensamento, cada idéia que viesse à mente.
É, no mínimo, impressionante a maneira como o livro é conduzido. Antes do enredo propriamente dito, há um momento absolutamente idiossincrático, que prende o leitor ao criar uma forte expectativa por cada nova página.
Macabéa é retratada da maneira mais humilhante possível, como se fosse uma obsessão do narrador tentar torná-la insignificante e insossa, apenas uma pobre nordestina pobre, assim como tantos outros milhões no Brasil. Tal problema social é exposto sem panfletarismos, mas apenas com sinceridade, subjetividade e densidade psicológica violenta.
É assustador o jeito como a autora reflete a respeito do assunto 'morte'. Quando terminei de ler "A Hora da Estrela", me senti completamente arrebatado. Haja perplexidade para encarar as várias 'explosões', as epifanias que a obra arremessa na cara do leitor.
Interessante notar as 'generalizações não-genéricas'. O Suicide dizia "We're all Frankies" em "Frankie Teardrop", uma aterrorizante música sobre um homem comum que, desesperado, mata esposa, filhos e a si mesmo. Clarice parece querer dizer "Somos todos Macabéas". Ou não. Cabe ao leitor interpretar a real intenção da obra. Quanto ao futuro.

Momento pseudo-cult: tanto o primeiro disco do Suicide quanto "A Hora da Estrela" são de 1977, o início prematuro dos anos 80, já com seu fardo de década sombria.

 

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