About Jack Kerouac
Em 1922, nascia em Massachusetts o porta-voz da nova juventude que surgia no século XX. Durante os anos 40, ele, antes um jogador de futebol americano na faculdade, resolveu dar um novo sentido à sua existência: viajar pelos EUA, tendo compromisso apenas com uma coisa - a liberdade.
Após quase uma década inteira explorando cada canto do underground de seu país, ele resolveu começar a escrever livros para relatar todas as experiências de vida que teve durante o período. As jazz sessions, as garotas, as bebedeiras, uma temporada no México, os bicos e trabalhos temporários, as experiências com drogas, o sexo desregrado, os sauraus... Um dos primeiros deles foi "On The Road", escrito em apenas 19 dias, no ano de 1951. Jack usou doses cavalares de benzedrina para compor de maneira ininterrupta a obra.
Porém, publicá-la não seria tão fácil. Vários editores, mesmo com as revisões que o autor fez através dos anos, incompreenderam o valor de On The Road e recusaram-se em publicá-la, até que, em 57, a Viking Press resolveu lançá-lo, mas editou e limou mais de 100 páginas do escrito original. Isso, no entanto, não diminuiu o valor do livro, que foi um fenômeno comercial quando foi lançado. Os críticos ficaram divididos - os que não gostaram tacharam o livro de 'subliteratura'; os que apreciaram criaram verdadeiros chavões sobre On The Road, como 'bíblia da geração beat'.
E o que viria a ser essa geração beat? É uma maneira de denominar os artistas e intelectuais que iniciaram uma verdadeira ruptura cultural na metade do século XX, com livros que influenciaram todos os jovens dali em diante a não temerem em ser libertários e adotar um estilo de vida alternativo. Allen Ginsberg ("Uivo"), William Burroughs ("O Almoço Nu") e Charles Bukowski ("Misto-Quente", "Notas de um Velho Safado") são exemplos de escritores beatniks que, assim como Kerouac, marcaram os novos tempos da cultura ocidental.
On The Road não foi a única grande obra do escritor, mas foi a única que fez sucesso na época de seu lançamento. Os demais livros foram menosprezados, mas, em retrospectiva, vários críticos literários consideram-os no mesmo patamar da 'obra-prima' de Jack. Bons exemplos disso são "Visions of Cody", "Os Subterrâneos" (talvez os dois livros que expressem melhor a prosa espontânea adotada por ele), "Tristessa" (uma melancólica história, baseada em fatos reais, sobre uma prostituta descendente de indígenas que Jack conheceu na Cidade do México) e "Os Vagabundos Iluminados" (recheado de referências ao budismo, é de fato o mais zen dos livros de Kerouac).
Confira a seguir a influência dos beatniks nos principais movimentos culturais do século XX:
- ROCK AND ROLL: herdeiro do blues e do jazz, a sua batida acelerada e vibrante é uma demonstração perfeita do estilo de vida dos envolvidos com o rock. Porra-louquice é pouco. Além disso, há dois bons exemplos de como o dito 'rock clássico' tem raízes kerouacianas - Bob Dylan, após ler "On The Road", fugiu de casa, e Jim Morrison resolveu fundar o The Doors.
- HIPPIES: a exaltação da liberdade absoluta serviu de pano pra manga para o movimento hippie. A vida pouco (ou nada) materialista e bastante coletivista também teve suas origens no final dos anos 40, mas só foi disseminada entre a juventude na década de 1960, e rompeu com boa parte da moral da época. Não só o amor livre, mas também o sexo livre e o uso irresponsável de drogas, também têm nos hippies uma forte expressão.
- PUNK: na metade dos anos 70, a juventude, movida pelo tédio e o desejo de arrebentar com a estrutura vigente, desencadearia no punk, que foi uma reviravolta não apenas no rock n' roll, mas na cultura como um todo. "Do it yourself", essas eram as palavras de ordem. E os beatniks esteve bem presentes aqui, como uma influência literária para um movimento tão niilista quanto o punk. Isso foi mais visível na vertente americana do movimento, menos politizada e mais despojada que a britânica.
- PÓS-PUNK: desiludida, a geração dos anos 80 foi caracterizada pela melancolia e a desesperança em relação ao futuro. A ala intelectualizada do punk, então, operou uma mudança de direção na música e na literatura, expondo o "lado sombrio" dos envolvidos com o underground. A sonoridade densa das bandas de rock dessa época (que, inclusive, influenciariam mais tarde a música eletrônica moderna) expunha uma espécie de filosofia de vida dessa década - "Dançar é a cura para a tristeza".
O próprio fim da vida de Kerouac, aliás, é análoga ao pós-punk. A guinada ideológica para a direita, o desencanto com a juventude, o pessimismo no desfecho de suas obras, as drogas como válvula de escape, uma busca maior pelo espiritual, a alienação voluntária à televisão... ele morreu em 1969, vítima da cirrose hepática.
Kerouac continua importante para a cultura mundial quatro década após a sua morte? Certamente, pois ele foi um dos mais brilhantes e importantes escritores da literatura dos EUA no século passado. É possível afirmar que os mochileiros têm nele uma espécie de inspiração, principalmente os que viajaram pelos Estados Unidos e México.
No Brasil, felizmente, a L&PM Pocket, editora especializada em livros de bolso, já traduziu e publicou, nos últimos anos seis livros do autor, com preços acessíveis aos possíveis interessados:
- On The Road: Pé Na Estrada (R$ 19,50)
- O Livro dos Sonhos (R$ 17,50)
- Os Vagabundos Iluminados (R$ 17,00)
- Viajante Solitário (R$ 16,00)
- Os Subterrâneos (R$ 12,00)
- Tristessa (R$ 6,00)