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Kaio

 

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08 dezembro 2006

O apogeu da social democracia tupiniquim

Apesar do nome que contém duas coisas que não são vistas no Brasil (democracia de fato e preocupação com a área social), o ideário social democrata saiu vitorioso após as eleições desse ano. Tanto PT quanto PSDB se encaixam nele, sendo que este foi o que elegeu mais governadores e lidera a oposição e aquele é o partido do presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva. O país está à mercê dessa bipolarização, que ainda não trouxe vantagens reais.
Lula, aliás, é um neopopulista por excelência, com uma carreira política atípica, mas que só reforça o mito messiânico criado sobre ele, que foi determinante para que o povo nordestino se identificasse com ele. Os seus 4 primeiros anos de governo foram medianos, com acertos (estabilidade econômica, ótima política externa e real melhora de alguns indicadores sociais) e erros (gastos públicos excessivos, crescimento econômico travado e corrupção escancarada). De certa maneira, Lula é nacionalista no âmbito econômico, e faz coro à centro-esquerda que critica as privatizações e prefere um modelo de Estado gerenciador e planejador. Ele, porém, não está tão próximo do discurso radical de Hugo Chávez, Evo Morales e outras lideranças esquerdistas da América Latina, afinal, a gestão petista vem agradando muito a classe alta. Lula foi até irônico sobre isso em um debate presidencial: "Engraçado, Alckmin, que os banqueiros votam em você, mas ganham dinheiro de mim".
Geraldo foi um símbolo nefasto do discurso tecnocrata que os tucanos tentaram decolar nessa eleição. Apesar de posar de bom moço e administrador sério, foi prejudicado por sua completa falta de carisma e de propostas que realmente o diferenciassem de Lula, e ainda precisou do apoio explícito da Veja e da Globo para conseguir ir para o segundo turno, no qual foi muito mal em todos os debates graças ao seu discurso frio e repetitivo, e garantindo-lhe uma derrota esmagadora, com cerca de 39% dos votos, menos do que ele havia obtido no 1º turno (41,6%).
PT e PSDB, portanto, são dois partidos com base na classe média, mas que, mesmo assim, insistem em se distinguirem, em se colocarem como "ricos x pobres". Petistas dizem que são 'brasileiros que não desistem nunca'. Tucanos se consideram 'éticos, sérios e honestos'. É pura retórica, ambos são farinha do mesmo saco. Eles não têm projetos para o progresso do país, mas apenas para se manterem no poder.
Como social democratas, ambos têm pequenas diferenças em suas atuações, mas em comum, são partidos que aumentam ou mantém os impostos nas alturas, que não fizeram nada para combater o funcionalismo público pelego e a burocracia excessiva do Estado brasileiro (pelo contrário, só aumentaram o número de cargos, inclusive ministérios) e usam e abusam de programas assistencialistas emergenciais, que não passam de "administração de crises", visto que não são amplos e ambiciosos o suficiente para resolver os problemas sócio-econômicos do Brasil, resumindo-se a 'remediá-los'.
E como fica a questão ideológica nesse contexto? Uma bagunça, obviamente. A direita entrou em decadência nos anos 90, após o fracasso de seu projeto neoliberal, que foi demonizado pelos (pretensos) intelectuais e formadores de opinião; além do mais, FHC não soube aplicá-lo direito, apesar de algumas medidas importantíssimas, como as privatizações da Telebras e da Vale do Rio Doce, além da quebra do monopólio da Petrobras.
Os direitistas têm uma retórica boa para discutir na Internet, mas na 'vida real', seus discursos são pouco acessíveis e persuasivos para as massas. Os conservadores viraram artigos de museu, e os liberais não enxergam as diferenças entre a economia e cultura brasileira em relação à européia, sempre usada como referência por eles.
A esquerda, honrando sua tradição, está dividida. Há a ala mais realista, que apóia o governo Lula e aprendeu a ser pragmática e conivente com a corrupção; temos também os idealistas, que ficaram parados no tempo e ainda acham que radicalismo resolve tudo. O P-SOL é um bom exemplo disso, expondo o idéario arcaico que ainda contamina os socialistas do século 21.
Em suma, o Brasil continua sendo um caso ímpar na política mundial. Infelizmente, no mau sentido. A situação pode não parecer tão alarmante no momento (até porque o povo brasileiro já se acostumou com o fiasco que é nosso país em vários aspectos), mas o futuro promete ser insustentável se tantas reformas, tanto no público quanto no privado, não forem feitas. Desde o indivíduo até o Estado, a mentalidade da nação como um todo precisa de mais bom senso e menos cinismo.

 

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