Reflexões sobre o desfecho de How I Met Your Mother
No dia seguinte, vi vários episódios de HIMYM e pensei que terminaria minha noite de forma pacata, mas um amigo me chamou para uma outra festa; de repente tive a idéia de chamar a menina da noite anterior para ir comigo e, por sorte, ela aceitou. Kids, that's how I met my girlfriend!
4) Por sua vez, Marshall e Lily têm um terceiro filho. Além disso, após cinco anos desde que desistira de ser juiz para viajar para a Itália e comemorar a segunda gravidez de Lily, Marshall é chamado novamente para ser juiz; e, em 2020, "Marshmallow" ganha a eleição para a Suprema Corte. "Lawyered!"
Ao longo dos últimos meses, a teoria de que a mãe estaria morta ganhava cada vez mais força nos fóruns da internet; mesmo assim, muitos fãs duvidavam que a série poderia ter tal desfecho, e consideravam que tudo não passava de "conspiração", de especulação mórbida. Eu mesmo era um deles, como demonstra este comentário que fiz ontem no Facebook, em resposta a uma amiga: "você leu a teoria do "The Mother is dead"? Eu achei meio viajada (e inverossímil, afinal seria uma maneira extremamente depressiva de acabar a série), embora episódios como "Tive Travelers" e "Vesuvius" dêem subsídios para ela."
Sobre os episódios mencionados: no primeiro deles Ted faz um discurso extremamente triste sobre o fato de que gostaria de ter passado 45 dias a mais com "a mãe":
Já em "Vesuvius" há várias pistas: 1) a mãe diz a Ted que ele não pode mais viver em suas histórias, pois precisa seguir em frente ("life only moves forward"); 2) ao se lembrar de que o casamento de Barney & Robin foi uma das últimas ocasiões em que todos os cinco amigos estiveram juntos, Ted consola-se ao pensar que é melhor aproveitar os momentos enquanto você ainda pode, e assim deixar algumas coisas não-ditas ("it's best to leave it unspoken"); 3) quando seu marido se refere ao fato de que a mãe de Robin finalmente apareceu no hotel, Tracy brinca: "Que tipo de mãe iria perder o casamento da própria filha?". Ted reage de forma bastante emotiva, como se tal frase fosse premonitória:
Os cinco minutos finais da série confirmaram as teorias (e temores) dos fãs. O tom nostálgico de Ted ao se referir à mãe, combinado com um "slide-show" de momentos importantes que passaram juntos (e com os filhos), me preparou para o pior. Eis que ele diz, após explanar sobre a importância de perseverar no amor a despeito de todas as brigas e desentendimentos: "Eu carreguei essa lição comigo. Carreguei até mesmo quando ela adoeceu. Até lá, no que podemos chamar de pior dos tempos, tudo o que eu conseguia fazer era agradecer a Deus (...) por ter encontrado aquela garota linda, naquela plataforma de trem, e por ter tido coragem de me levantar, caminhar até ela, e tocar seu ombro, abrir a minha boca, e falar." Foi um final emocionante.
Muitos, no entanto, não gostaram desse "plot twist"...
Este texto foi profético sobre como seria a reação de muitos fãs caso "The Mother is dead" fosse mais do que uma especulação: "Really, this could all be a big, misleading twist. Just for fun, though, can we just step back and imagine what the Internet will do if it reveals that after nine seasons of Ted telling the tale of How He Met Their Mother to his future kids, it’s all because the mom is dead? It would be a triumph for conspiracy theorists everywhere, but Internet commenting systems might actually explode. If there’s one thing you don’t want to do, it’s make an obsessed fandom feel like they’ve wasted their time (still thinking of you, “Lost”) — and that’s how many would feel if the producers revealed that the end of a glorious love story is actually a completely depressing tale of death."
Nas últimas horas li textos extremamente agressivos, criticando o desfecho de How I Met Your Mother. Compreendo a sensação indignada de muitos fãs, afinal não foi o "final feliz" que se esperava; porém, acredito que é justamente por isso que gostei tanto dele: foi corajoso, ousado. Destruir as expectativas dos telespectadores dessa maneira pode render, por exemplo, a acusação de que unir Robin e Ted foi um "cheap trick"; mas, peço que os detratores façam o seguinte: assistam novamente ao primeiro episódio da série. Creio que um dos motivos pelos quais adorei o final foi justamente porque havia decidido rever o piloto de HIMYM ontem, enquanto almoçava. Poucas vezes a estréia de uma série cresceu em importância à medida que ela avançava. A chave para entender o porquê desta comédia dramática ter terminado com o casal Ted & Robin reside no fato de que How I Met começou justamente enfatizando o quanto os dois combinavam, o quanto tinham uma notável química:
Mesmo que o narrador termine o episódio-piloto deixando claro que ela não é a mãe mas sim a "tia Robin", é impossível acreditar que as coisas parariam ali. Ted precisou de nove temporadas para "esquecer" Robin, mas foi graças a esse processo de superação que este personagem se tornou maduro o bastante para "estar pronto" para encontrar o amor de sua vida, Tracy. Depois que sua esposa morreu, Ted passou por um longo período de luto até perceber que, viúvo aos 52 anos de idade, ele merecia a chance de ainda (tentar) ser feliz. O amor eterno jurado à "mãe" não o obrigava a passar o resto da vida sofrendo, se martirizando com o próprio passado - e esse "siga em frente" foi algo que a própria Tracy pediu para que ele fizesse: "I don't want you to be the guy who lives in his stories."
Para aqueles que ainda não estão convencidos do pleno sentido que a morte da mãe faz para o enredo da série, eis algo que ela diz no famoso episódio "How Your Mother Met Me":
Portanto, também ela passou pela perda traumática do amor de sua vida (Max), e demorou seis anos até decidir namorar novamente. Porém, foi preciso tomar uma decisão mais radical ainda: ela recusou o pedido de casamento de Louis porque sentia que aquele relacionamento ainda não era o bastante, era "casual", não tinha a consistência que ela precisava para que realmente considerasse que havia superado o luto. Eis que, na noite seguinte, ela conhece Ted, sua "segunda chance no amor", e ele foi um companheiro maravilhoso para Tracy nos 11 últimos anos da vida dela.
O ponto central da trama não é, portanto, "como conheci a pessoa perfeita para mim", mas sim "como superei a perda de alguém que eu amava e estou me dando uma segunda chance de ser feliz". Um comentarista do A.V. Club explicou bem isso, relacionando este tema com a cena acima: "A scene that also takes on additional weight in retrospect is when Tracy breaks off her relationship and asks her deceased ex for permission to move on. Her decision to move on with her life and try to find happiness does not detract from her love for him. Likewise with Ted, she did not want him to "live in his stories" and she would have given him permission to be able to move on and explore a life with Robin. It does not take away from his love for Tracy. This is the story of him six years later thinking back on his younger life and deciding it's not too late to give Robin another chance."
Para encerrar as "referências bibliográficas", este belíssimo texto de Donna Bowman - mesmo tendo sido escrito antes de ela ver o episódio final - também enfatiza que a série é sobre amadurecimento, tanto afetivo quanto num sentido mais amplo.
O final de How I Met Your Mother é do tipo "ame ou odeie", e vai continuar a dividir opiniões por muitos anos. De alguma forma, contudo, eu prefiro um final assim do que um feito na medida para agradar aos fãs, como o de Friends. A ousadia dos criadores de HIMYM me fez lembrar de outro desfecho inusitado: o de Seinfeld, que "cuspiu" na cara dos fãs ao mostrar que os quatro protagonistas eram cínicos e misantrópicos, e portanto mereciam ser "punidos" por anos e anos de comportamento abertamente anti-social.
É claro que muita gente que acompanhou a série estava movido pela expectativa de que haveria muitos episódios sobre "a mãe", e que portanto o título do seriado deveria ser tomado ao pé da letra; mas, esta nunca foi a intenção dos criadores. O fato de que o final de How I Met já estava roteirizado em 21 de Fevereiro de 2006 deixa claro que, já em seus primórdios, HIMYM é a história da superação, pelo protagonista, da perda da "Mother", e uma investigação autobiográfica que permite a redescoberta de um amor antigo. Robin e Ted finalmente estão maduros e livres para serem felizes para sempre. Ambos tiveram suas auto-realizações (ela no trabalho - e, durante algum tempo, no casamento com Barney; ele, na vida conjugal com Tracy e nos dois filhos que tanto queria ter); agora que estão solteiros na meia-idade, por que não tentarem novamente um relacionamento? Nossa vida é muito curta para ficarmos eternamente atormentados pelo passado, assombrados pelas lembranças de bons tempos que não voltam mais. Sendo assim, vale a pena arriscar; mesmo que dê errado, é melhor tentar do que não fazê-lo e passar o resto dos dias em amargo arrependimento. Creio que esta é uma bonita lição de vida, e que atenua qualquer morbidez que possa haver no final da série.