"Eis o que tenho de suave"
Resultado - até ontem à noite, eu estava na página 164, ou seja, cerca de 1/6 de uma obra de colossais 986 páginas!
Hoje, dia do meu segundo dia de aula como aluno do terceiro ano, resolvi me dedicar pra valer ao livro. E deu certo. Na escola, li um pouco, e somado ao que eu li até minutos atrás, aproveitando que estava sozinho em casa, já encerrei o quarto capítulo, e estou na pág. 251.
Eu não tenho quase mais nenhuma dúvida de que este livro, quando eu concluí-lo, será o melhor que eu já li até hoje. Poucas obras conseguem trazer tanto conteúdo, significados e reflexões a cada página. Não li muito sobre o autor, mas Mann deve ter uma veia filosófica fenomenal, pois o romance aborda tantos temas dos mais diversos assuntos que chega a ser espantoso. Isso sem falar nos personagens, todos eles cativantes e profundos, como Settembrini, Joachim, Madame Chauchat e, claro, o protagonista Hans Castorp.
Não tenho certeza, mas provavelmente Renato Russo se inspirou em tal obra para intitular e escrever a canção "A Montanha Mágica", uma das mais lisérgicas e incríveis já compostas pela Legião Urbana, e que pertence ao melhor disco da banda, "V". Não vou me estender muito nessa correlação musical, mas foi uma influência pertinente para Renato, que ajudou a tornar esse álbum ainda melhor, com toda a sua melancolia, dor, pitadas de esperança, desespero e tonalidades épicas (a trinca que abre o CD - "Love Song", "Metal Contra As Nuvens" e "A Ordem dos Templários", é cercada de referências à Idade Média e, por tabela, utiliza-se da retórica adequada para falar da mesma, sempre remetendo à forte religiosidade, às cavalarias, à contemplação bucólica típica do feudalismo e à misantropia).
Deixando, no entanto, as prolixidades à parte (desculpem-me, estou bem empolgado hoje, hehe), "A Montanha Mágica" é um livro com passagens que, muito provavelmente, causarão identificação e satisfação a quem as lê, pelas reflexões que trazem. Trechos como o da palestra do dr. Krokowski sobre o amor, na qual ele discorre brilhantemente sobre o tema e traça até um paralelo interessante com a doença e a enfermidade, são dignos de destaque. O italiano Settembrini, então, é um poço de cultura, e seus discursos humanistas (às vezes até meio nacionalistas ou parnasianos) são vibrantes, por mais que tanto o leitor quanto Hans queiram achá-los exageradas e irrelevantes.
Hans Castorp, aliás, parece redescobrir a vida com a viagem para visitar o primo em um sanatório nos Alpes Suíços, e, de quebra, descansar um pouco. O que era para ser apenas um 'repouso' de 3 semanas se torna uma experiência inesquecível. Quem lê o livro sente que já no primeiro dia de estadia o protagonista dá mostras que uma grande reviravolta na sua vida está a se operar. O jovem se depara com questionamentos filosóficos, existenciais e abstratos que ele jamais imaginaria ter (destaque para um sobre o tempo).
Mesmo tendo lido apenas pouco mais de 25% do escrito, já o recomendo a todos os possíveis interessados. Ao lado de outras obras-primas da literatura mundial, do calibre de "1984" (George Orwell), "Crime e Castigo" (Dostoiévski), "A Divina Comédia" (Dante Alighieri) e "Dom Quixote" (Miguel de Cervantes) [detalhe, eu ainda não terminei de ler essas duas últimas, mas pelo que eu já li, somado à quase unânime opinião de todos que já os leram, me baseei para considerá-los obras-primas], o livro mais famoso de Thomas Mann causa admiração em qualquer um que se disponha a lê-lo.