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Kaio

 

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16 maio 2006

Sobre a crise em São Paulo

Os petistas botam a culpa no PSDB. Os tucanos culpam o PT. Alguns dizem que Durkheim e seu determinismo social ("fatos sociais geram outros fatos sociais") são perfeitamente aplicáveis; outros clamam pelo livre-arbítrio e a hipótese de que o crime organizado é uma escolha. Muitos querem ver o Exército nas ruas; tantos outros preferem a transferência dos líderes do PCC para diferentes presídios. Há os que acham que a Globo foi perfeita e certeira; outros acreditam que ela exagerou e fez a emoção comprometer a veracidade dos fatos. Enfim, muito foi dito.
Uma coisa que fico indignado é o tratamento que muitos dão aos presidiários, chamando-os das piores palavras possíveis e os tratando como animais irracionais. É um erro gigantesco, pois, Independente de serem criminosos, os ditos "bandidos" são seres humanos, como eu e você. Eles não merecem a nossa falsa piedade, e muito menos o nosso desprezo. Eles não querem, acima de tudo, a nossa indiferença - essa vontade deles de chamar a atenção do "cidadão comum" é um dos motivos que os levam a transgredir as regras. Prova disso foi o fato de terem cometido crimes até bobos, como queimar ônibus. O Estado está pouco se lixando para isso - qualquer coisa, a alta carga tributária será utilizada para repor a frota. Quem realmente se ferra com isso é o José, o Tobias ou a Maria, que precisam trabalhar, e estão ralando para sobreviver nessa "selva asfaltada" que é o Brasil.
O diálogo com os líderes do tráfico pode parecer algo utópico, mas é também ilusão achar que basta botar o Exército para reprimí-los que a coisa será resolvida. Nada disso. A situação é crítica, mas não a tal ponto que seja preciso jogar tropas militares de alto escalão nas ruas de São Paulo. Aliás, já estão sendo feitos alguns acordos para resolver a crise, baseados na famosa passividade e permissividade que reinam no Brasil - afinal, 115 mortos e já se considerar o ocorrido uma guerra civil é foda. Dizemos isso porque não somos Ruanda em 1994, EUA na Guerra de Secessão, França na Revolução Francesa, ou mesmo o tal do "O Haiti não é aqui". No Brasil, como sempre, tudo acaba tão rápido quanto começou - não somos um povo bélico; só funcionamos com ditaduras, com alguém nos mandando fazer algo, porque, por conta própria (entenda-se 'democracia'), somos incapazes de nos virarmos. Afinal, em um país em que Getúlio Vargas foi o melhor presidente, algo está errado. Se demoramos 430 anos para alguém tomar o poder e resolver fazer alguma coisa, fica claro que realmente somos um povo bem mixuruca.
A mídia, como sempre, "aumentou" a história - William Bonner deixou a imparcialidade de lado e se exaltou, só para ficar no exemplo do Jornal Nacional. Se fosse no RJ, MG ou mesmo no fim do mundo (vulgo Goiás), a repercussão seria bem menor. O problema é que estamos falando de São Paulo, "a metrópole", como se esta fosse uma cidade tão melhor do que as outras. Ledo engano. O fato de ter 18 milhões de pessoas não a torna mais importante que o resto do país. E adiantou fazer todo esse alvoroço sobre a situação em SP? Foi feito algo para prevenir novas revoltas e resolver as injustiças sociais, ao invés de medidas a curto prazo? A resposta todos nós sabemos muito bem...
Alguns dizem que, com tudo isso, a candidatura do Geraldo Alckmin está sepultada. Será mesmo? Ops, já me esqueci... e o mensalão? Alguém se lembra? Pelo que dizem as pesquisas, com o PT na frente, não. E agora não será diferente. Basta o ex-governador de SP ser menos otário e vago e que passe a fazer um marketing pessoal e político melhor que ele pode dar trabalho nessa eleição. O pior de tudo é ver o Lula fingindo não querer tirar proveito da situação para se colocar como o "salvador da nação", o homem com pulso firme. Sem falar na guerrinha de interesses entre azuis e vermelhos... É incrível como esse pessoal consegue enfiar politicagem em tudo...
Retornando à discussão do determinismo x livre-arbítrio, minha posição é a do "um pouco de cada um". Participar do crime organizado é uma escolha, e também uma imposição - em outras palavras, o favelado é levado a isso, mas resolve continuar adiante porque sabe que não tem nada a perder: se morrer, tudo bem, ninguém liga mais pra ele, pois ele é só mais um excluído pela sociedade. Se sobreviver e ter sucesso, excelente, vai ganhar dinheiro e ter poder. Ele podia ter feito outra coisa ao invés de roubar? Claro! Ninguém o está impedindo de ser, por exemplo, jogador de futebol, rapper, escritor, etc. Assim como ele poderia não ter capacidade para mudar o seu destino, e aceitaria o que o meio o direcionou.
O que eu concluo de tudo isso? Nada. Isso mesmo, nada. As rebeliões não foram nenhuma novidade para mim. Pelo contrário, eu até achei que demoraram demais para ocorrer, levando em conta a opressão que sofrem os presos e marginalizados pela sociedade. A indignação foi se acumulando com o tempo, até que chegou-se a uma situação insustentável, na qual era necessário haver mortes, violência, conflitos. Não é uma luta de classes, mas também não é algo desprezível. É sim um alerta para os indivíduos e para as instituições. Infelizmente, revoltas como essa voltarão a se repetir de tempos em tempos, só que nunca em caráter revolucionário ou realmente a ponto de mexer com as estruturas sociais, afinal, meu caro, estamos falando do Brasil.

 

Comentários:

 

 

Discordo de alguns pontos de seutexto, mas o mais importante é que está muito bem escrito. Chegou a hora de você cobrar para escrever.


De um tempo pra cá tenho lido seu blog, muito bom por sinal!
É fácil perceber que se trata de um rapaz crítico, inteligente.. (chega que eu não gosto de ficar elogiando).
Um texto muito bom, apesar de não concordar!
Papo de humanista defender a vida de presidiarios, e quando se trata de 39 policiais mortos, nenhum humanista vem defende-los!
Convenhamos, que os policiais são mais honestos que presidiarios (não que policia seja santo, pelo ao contrário).
Mas enfim, o que quero dizer é que sempre tem defensores pra os o bandidos (sim, essa a designação que dou!)
e quando se trata da morte de pessoas que contribuem para o crescimento desse país não aparece ninguém!

E quanto aos mais de 136 reféns? dentre eles carcereros, visitas, entre outros.. Essas pessoas não seriam as Marias, os Josés que você se referiu no seu texto? Pessoas que também poderia ter se corrompido, mas não fizeram os mesmo pelos seus principios?

Nem sei se vai ler esse comentário, mas queria dar os parabéns pelo blog! Muito bom! Vou continuar acompanhando seu textos, ok?

:**


Desculpa pelos mil erros de português acima ^^


1. Obrigado por comentar no meu blog.
2. Não é papo de humanista. É um fato. Independente do fato de eles terem matado, roubado, etc, eles continuam sendo humanos, como eu e você, e todos nós estamos sujeitos a isso. Eu não nego que faria o mesmo que eles se estivesse na mesma situação.
3. Eu acabei me esquecendo de falar dos policiais no texto, mas eu ia dizer algo sobre a hipocrisia que é chamá-los de arrogantes, cruéis, que eles abusam da autoridade, etc. Pô, eles ganham mal pra caramba, têm péssimas condições de vida, são oprimidos pelo Estado, discriminados e desvalorizada pela sociedade - além de ser uma profissão de risco. Eles sofrem tanto quanto os bandidos, e eu acho uma insensatez alguém vir falar de policiais corruptos (a não ser que essa pessoa ignore o fato de que, ou eles fazem vista grossa ao tráfico, ou são mortos).


Não é de maior facilidade você ser mais direto?
Por que não diz de uma vez: "te acho uma atoa, insansata que veio encher o meu saco, e encher também de esterco os meus comentários!"


Seria mais prático! Minha intenção não era discriminar policiais de forma alguma!
São os que mais estão sofrendo com essa história toda.
Mas continuando achando que não são exemplares de santos, o que não são realmente. Se tiverem opurtunidade de se corromper grande parte vai fazer isso mesmo!

Mas acho uma tamanha insensatez (a mesma que você disse que tive)
uma pessoa falar que não se deve chamar bandidos de bandidos!
Ora, são humanos e merecem respeito da sociedade sim!
Mas não merecem ser chamados de "pobrezinhos"! E apoiar esse absurdo!

Ps: De modo algum quis parecer grossa, não interprete mal ;D


1. Não se preocupe, eu também me exalto nas discussões... =D E adoro continuar o debate pelos comentários, serve como um 'apêndice' ao tema do post, hehe.
2. Não estou os chamando de pobrezinhos. Se eles cometem crimes, eles devem ser julgados e punidos, como qualquer um. Só que eu considero errado discriminá-los e criar estereótipos. Claro que eu não direi a mesma coisa se um deles matar alguém que eu conheça, pois me levarei pela emoção, mas espero ser sensato o suficiente para exigir o julgamento e a punição, e não algo do tipo "eu quero que pobre se exploda! Apoio ao genocídio! Kill them all!".
3. Não considero ninguém santo nesse mundo. Só disse que há uma justificativa para isso, afinal, não vai ser do nada que eles vão pensar "eureka! Quero ser malandro". A imperfeição é irreversível, estamos sujeitos a cometer erros, dos mais banais aos mais grotescos.
4. Quanto à nomenclatura "bandidos"... se for assim, então todo mundo é bandido. Até mesmo quem faz o mínimo ato de cleptomania, como, por exemplo, "pegar emprestada para sempre" a caneta de alguém.
5. Não te chamei de insensata, pois você em nenhum momento deixou explícito que acha os policiais uns corruptos e ponto. Se você entendeu assim, mil desculpas.


É, vc mora em Góias, legal...
Texto bem feito, chato as vezes (Parece os textos dakeles comentaristas convidados pelo Estadão) mas vc é mais um brasileiro, nada fez, nada faz e nada vai fazer.
É triste saber q nada vao fazer pra mudar essa situação, mas enfim, considero todos nós vítimas de nós mesmos, é o preço q se paga por sermos seres humanos tão pacíficos e preocupados em ser iguais ou melhores do que os americanos.
Parece q sou uma "anti-eua" idiota, mas é a minha opnião.


Acredito que chama-los de bandidos não seja estereotipa-los.
É apenas a verdade! Quanto roubar uma caneta, acho que situação é bem diferente, no entanto desonesta!
Você acha que a palavra bandido se enquadra mais aos presidiários ou em algum amigo mala que pega suas coisas e não devolve?
Mas é claro, que a verdadeira bandidagem tá camuflada pelo terno e gravata!


-> A propóstito, adorei o seu "Eureka, quero ser bandido", hahaha!


Exatamente, Carol, é com isso que eu fico furioso - vivemos em um país em que os dois lados praticam bandidagem - os "descamisados" e os com terno e gravata. E o que seria pior: um bandido que se torna um por sobrevivência e indignação, porque vê no crime a única chance de redenção (olha o Dostoiévski e sua profecia lá do "Crime e Castigo"), ou aquele que, mesmo tendo uma boa condição social, rouba, se corrompe e até mata pelo poder e pelo dinheiro?
Mas repito - ninguém é bonzinho nessa história.


Acho que enfim chegamos a um consenso!
Apesar de te achar levemente protecionista com "malandros"


Não, Carol. Não estou os protegendo. Apenas estou dizendo que eles não são tão cruéis, horríveis e maldosos como a mídia e o senso comum os fazem parecer. Oras, eu seria um se estivesse na mesma condição, com o mesmo estado psicológico.


Os policiais honestos e que nunca ouviram falar de Dostoiévski são bonzinhos. Uns, heróis.


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