Das vitrolas às trances: a história da música eletrônica
Daí para a música eletrônica moderna foi um salto. O Kraftwerk, com canções como “Autobahn” e "The Model", deu importantes bases para o estilo, ao fazer um som futurista e "robótico". No final dos anos 70 e início dos 80, os ingleses do Joy Division revolucionaram a cena musical da época, ao produzirem uma sonoridade que unia rock gótico, new wave, pós-punk e utilizava sintetizadores; estes, aliás, como provam faixas como “Isolation”, “Love Will Tear Us Apart” e “She's Lost Control”, combinavam perfeitamente com a bateria quase militar de Stephen Morris, o baixo melódico de Peter Hook, a guitarra melancólica de Bernard Sumner, os vocais cavernosos de Ian Curtis e as letras depressivas do mesmo. Com o suicídio de Ian em maio/1980, os três remanescentes chamaram a tecladista Gillian Gilbert e fundaram o New Order. Após um curto período em que buscaram uma direção musical, eles lançaram o single “Blue Monday” (83), que praticamente inaugurou o pop sintético, um dos adventos da música eletrônica. O sucesso da música foi gigantesco, e serviu como influência para muitos contemporâneos a eles, como Depeche Mode, Pet Shop Boys e Eurythmics.
Desse momento em diante, o estilo se difundiu pelo mundo inteiro. Na Inglaterra, predominaram as acid houses, com o sucesso de casas noturnas como a Hacienda, e o surgimento da tribo dos clubbers. Bandas de brit rock, como os Stone Roses, o Duran Duran e o Happy Mondays, também incorporaram elementos eletrônicos, acarretando em canções bem dançantes.
Nos EUA, cidades como Chicago e Nova Iorque difundiram a house, com suas baterias eletrônicas que lotaram as pistas de dança, e o techno, com seus ritmos e grooves repetidos. Em Goa, na Índia, onde ocorrem várias festas psicodélicas, surgiu a trance, que é composta pela mistura de acid rock, reggae e techno. Ela é, atualmente, um dos estilos mais populares da música eletrônica, sendo que Infected Mushroom, Rinkadink e Tiësto são alguns dos que mais vêm obtendo êxito. Com algumas modificações, como uma batida mais rápida e forte, formou-se a psychodelic trance e o subgênero full on. Outras variações, que adicionaram músicas indígenas e hip-hop, também são bem conhecidas, como o drum ‘n’ bass, o tribal e o trip hop.
Um fato importante foi a transformação dos “discotecários”, populares nos anos 60 e 70, em Disc Jockeys (DJs), que provaram que, para animar uma festa, bastava um computador, um toca-discos e uma cabeça pensante.
Aqui no Brasil, elementos eletrônicos foram sendo gradualmente incorporados, como no rock nacional dos anos 80, com o RPM e os Titãs. Atualmente, várias bandas de pop utilizam bateria eletrônica e sintetizadores. O funk carioca apostou nos DJs e nos PCs incrementados.
Nos anos 90 e 2000, guinadas mais comerciais e radiofônicas também deram certo, com o sucesso de artistas como Fatboy Slim, The Chemical Brothers, Moby e Daft Punk. O Prodigy, em 1998, lançou o álbum “The Fat on the Land”, e, ao misturar hip hop, punk rock e tudo que o eletrônico já havia produzido até aquele momento, o conjunto aumentou ainda mais a popularidade das raves, provando que a combinação DJ + banda, mesmo com todas as modernizações do gênero, ainda funciona muito bem. Uma frase do líder do Prodigy, Liam Howlett, resume bem como está a música eletrônica hoje: “Fiz minha carreira roubando sons dos outros, não ligo se roubarem os meus”.