Há 40 anos, em 18 de Julho de 1980, foi lançado Closer, o segundo álbum do Joy Division. Na minha opinião, este é o melhor disco dos anos 80 e um dos 5 melhores de todos os tempos.
A tragédia que o antecedeu (dois meses antes do lançamento Ian Curtis, vocalista e letrista da banda, tirou a própria vida) tornou impossível dissociar as letras e melodias de uma forte morbidez, mas Closer é uma obra-prima que transcende este soturno contexto: é a culminação da evolução estética da banda desde Unknown Pleasures e dos singles intermediários, "Transmission", "Atmosphere" e "Love Will Tear Us Apart" - e faixas como "Isolation" e "Decades" já indicam a direção musical que Peter Hook, Bernard Sumner e Stephen Morris irão tomar em seu projeto pós-Joy Division: o New Order.
Escrevi alguns parágrafos sobre Closer em um artigo de 2014 intitulado New Dawn Fades: uma abordagem estética e sociológica do Joy Division, escrito para uma disciplina de Letras da UERJ e publicado na revista eletrônica Polivox:
"O Joy Division alcançou seu ápice lírico e sonoro em seu segundo álbum, Closer. Gravado em março de 1980 sob 'um estranho clima social' (devido ao comportamento misterioso de Ian Curtis, cuja vulnerabilidade emocional fora potencializada pelo uso de barbitúricos, prescritos para controlar sua epilepsia), este disco é, segundo o produtor Martin Hannett, cabalístico, fechado em seu próprio mundo misterioso. Suas texturas são mais etéreas e experimentais que as de Unknown Pleasures, além de evocarem austeridade e (ainda mais) claustrofobia. A própria capa do disco é uma obra de arte: ela foi feita a partir de uma fotografia da tumba da família Apini no Cemitério Monumental de Staglieno, em Genoa (Itália).
Uma das melhores faixas de Closer é 'Isolation'. Conduzida pela melodia monolítica do contrabaixo, os teclados e as várias camadas de bateria acústica e eletrônica lhe dão uma sonoridade paradoxalmente dançante e depressiva. Sua letra é uma dolorosa confissão:
'Mother I tried please believe me,
I'm doing the best that I can.
I'm ashamed of the things I've been put through,
I'm ashamed of the person I am.'
Há no disco uma canção que se aproxima daquilo que Adorno entende por dissonância: 'Atrocity Exhibition'. Em Teoria Estética, este filósofo afirma que a dissonância, 'sinal de todo modernismo', admite a atração do sensível 'ao mesmo tempo [em] que o transfigura no seu contrário, a dor'. Além disso, ela 'a partir do interior confere à obra de arte o que a sociologia vulgar chama a sua alienação social'; como reação a uma sociedade cada vez mais inumana, a obra dissonante rebela-se contra a aparência em prol da expressão e 'petrifica-se em material indiferente', insensível. No caso de 'Atrocity Exhibition', o que temos é uma música fraturada e agonizante, marcada por uma bateria tribal, uma guitarra tão distorcida que soa como um ranger de dentes e versos que evocam imagens sangrentas: o eu-lírico alterna entre ser o diretor do show de horrores e ser ele próprio a aberração que serve de entretenimento macabro:
'For entertainment they watch his body twist,
Behind his eyes he says, “I still exist.” (…)
In arenas he kills for a prize,
Wins a minute to add to his life.
But the sickness is drowned by cries for more,
Pray to God, make it quick, watch him fall.'
Outro momento artisticamente notável de Closer é o tom resignado de 'The Eternal'. Esta canção soa perturbadora justamente por sua serenidade; é como se Ian Curtis tivesse desistido de lutar, com isso aceitando o destino trágico que lhe cabia. O piano melancólico e a bateria lenta dão a esta canção um clima de procissão fúnebre:
'Procession moves on, the shouting is over.
Praise to the glory of loved ones now gone. (…)
No words could explain, no actions determine,
Just watching the trees and the leaves as they fall.'
Na manhã do dia 18 de maio de 1980, um dia antes da viagem que o Joy Division faria para sua primeira turnê nos Estados Unidos, Ian Curtis cometeu suicídio, aos 23 anos de idade. Na noite anterior sua tentativa de dissuadir Deborah de pedir divórcio fracassara; em sua vitrola ele ouviu pela última vez o soturno disco The Idiot (Iggy Pop), e possivelmente teve um último ataque epiléptico antes de decidir se enforcar. Se antes suas letras podiam ser interpretadas como mero fascínio estético pelo lado sombrio da existência humana, a partir de então se tornou praticamente inevitável tomá-las como poesias à beira do abismo."