1. A final da Copa América de 2016 teve o mesmo desfecho de 2015: mais uma vez o Chile levou o jogo para os pênaltis, e mais uma vez venceu. O bicampeonato chileno é a prova de que a equipe montada por Sampaoli continua forte e coesa, e há muito mérito do técnico Pizzi em conservar e até aprimorar características desta seleção (p.ex., ficou mais ofensiva). Além disso, o meia Vidal, o atacante Vargas e o goleiro Bravo estão entre os melhores jogadores da competição. Nas duas primeiras partidas (derrota para a Argentina por 2x1 e vitória suada contra a Bolívia pelo mesmo placar) eu ainda duvidava que o Chile chegaria sequer à semifinal, pois acreditava que ainda estavam em transição pós-Sampaoli e iriam perder nas quartas para o México, que vinha de uma vitória empolgante contra o Uruguai. Pois os chilenos não só aplicaram uma goleada histórica nos mexicanos, como também bateram os colombianos na semi e superaram os argentinos, favoritos ao título. O Chile pode, enfim, ser considerado uma potência do futebol mundial.
2. A Argentina é tri-vice (ou hepta, se considerarmos as sete finais perdidas desde 1995). O enredo das três derrotas em final desde 2014 guarda várias coincidências, pois pela 3ª vez: Higuaín perdeu um gol feito no 1º tempo; a Argentina jogou melhor no tempo normal, mas perdeu fôlego na prorrogação; a Albiceleste passou a final sem fazer gols; e Messi mostrou sua desolação no desfecho. Das três derrotas creio que esta foi a mais dolorosa, pois a Argentina vinha fazendo uma Copa América impecável: estreou bem contra o Chile e goleou Panamá, Bolívia, Venezuela e até os donos da casa, EUA. Nos primeiros minutos da final parecia que iria vencer. O que se seguiu pouco depois do gol perdido de Higuaín, porém, foi uma derrota psicológica para o Chile, que crescia em moral à medida que o jogo avançava; tanto é que a expulsão do chileno Díaz foi quase imediatamente seguida pela do argentino Rojo, e a Albiceleste em vários momentos parecia ter mais receio de tomar um gol do que coragem de se arriscar a fazer um. A punição pelo nervosismo veio nos pênaltis, com um chocante pênalti à la Baggio de Messi e a defesa de Bravo na cobrança de Biglia. Embora tenha uma de suas melhores gerações de jogadores (não só Messi, mas também Agüero, Higuaín, Romero, Di María etc.), a Argentina continua seu doloroso tabu de títulos. Resta saber se, no Mundial de 2018, caso avancem à final, manterão o equilíbrio emocional para enfim acabar com essa incômoda tradição de vice-campeonatos.
3. A Eurocopa melhorou seu nível técnico nas oitavas-de-final e avança para as quartas com tudo o que eu esperava: jogos decididos na prorrogação (Portugal 1x0 Croácia) ou nos pênaltis (Polônia 5x4 Suíça), goleadas (Bélgica 4x0 Hungria), viradas (França 2x1 Irlanda) e até uma zebra (Islândia 2x1 Inglaterra). A média de gols subiu para 2 cravados, mas ainda pode melhorar para pelo menos superar os 2,06 gols por jogo de 1996.
4. O duelo Itália 2x0 Espanha foi um jogaço, embora, ao contrário do que eu previa, não tenha precisado ir além dos 90 minutos, pois a Itália, tal como havia feito contra a Bélgica (e tantas outras vezes, rs), resolveu o jogo no primeiro tempo, agüentou a pressão e marcou o segundo nos acréscimos. No início da partida a Azzurra anulou taticamente a Espanha, que viu seu “tiki-taka” ruir diante da intensidade italiana, que não cedeu a posse de bola aos espanhóis e mostrou muito mais eficiência no ataque. Após várias defesas de David de Gea, os italianos enfim marcaram com Chiellini, no rebote de uma falta cobrada por Éder. No 2º tempo, a Espanha abriu mão do “tiki-taka” para jogar na base da velocidade e do “chuveirinho”, mas foi parada pela boa marcação italiana e pela segurança de Buffon. Nos acréscimos, o castigo final: em contra-ataque certeiro, a bola sobrou para mais um voleio de Pellè. A Itália vem empolgada para a partida contra a Alemanha, que venceu fácil a Eslováquia (3x0, mas poderia ter sido mais se o goleiro Kozáčik não tivesse feito tantas defesas), tem um elenco melhor (Kroos, Özil, Müller...) e um técnico que faz ótimo uso do esquema tático 4-2-3-1. Há, porém, um tabu em jogo: os alemães nunca venceram os italianos em Eurocopas ou Copas do Mundo. Em Copas perderam por 4x3 em um jogo lendário (1970), 3x1 em uma final (1982) e por 2x0 na prorrogação, jogando em casa (2006); a última eliminação foi o 2x1 regido por Balotelli, na semifinal da Euro 2012. Creio que a Alemanha é favorita, mas vou torcer muito por um triunfo da Azzurra!
5. País de Gales venceu a Irlanda do Norte por 1x0 e é a única equipe britânica viva na competição, pois a Inglaterra foi surpreendida pela Islândia. Após saírem na frente com um gol de pênalti de Rooney, os ingleses levaram a virada logo aos 17 minutos de jogo e não conseguiram empatar. Faltou garra, e o técnico deveria ter colocado Rashford antes, pois em 5 minutos ele jogou muito mais que Sturridge, Harry Kane, Rooney etc. A seleção islandesa já é a sensação desta edição da Euro, não só pelo futebol empolgante que vem mostrando, mas também por sua torcida sensacional. Na próxima fase vão encarar a França. Os donos da casa sofreram para reverter o placar contra os irlandeses, que saíram na frente logo aos 2 minutos, de pênalti. Griezmann foi o herói do dia, ao empatar e virar o jogo entre os 13 e 16 minutos do 2º tempo. França x Islândia certamente será um belo duelo, tanto pelo futebol quanto pelas torcidas.
6. A Croácia fez uma ótima primeira fase, mas caiu nas oitavas para Portugal. O jogo foi chato nos primeiros 90 minutos, tanto pela retranca portuguesa quanto pelas falhas croatas nos passes e finalizações. A prorrogação, contudo, foi eletrizante, e no mesmo lance em que a Croácia quase marcou, os portugueses puxaram um contra-ataque: Renato Sanches correu, tocou para Cristiano Ronaldo, que chutou, o goleiro defendeu, e Quaresma estava sozinho para o rebote. Portugal fará com a Polônia um duelo de equipes defensivas, mas que são mortais no contra-ataque e contam com jogadores que podem desequilibrar (Cristiano Ronaldo vs. Lewandowski).
7. A Bélgica continua crescendo na competição, e goleou a Hungria, enfim com uma grande atuação de Hazard. Se repetirem esse alto nível contra País de Gales, devem superar a também ascendente seleção de Bale e avançar para as semifinais.