As Finais da Eurocopa e da Copa América
Após um mês de muito futebol internacional (houve dias com até 6 jogos!),
enfim a Euro 2020 e a Copa América 2021 chegaram às suas finais. É até difícil
dizer qual das duas é mais promissora. De um lado, Brasil x Argentina (hoje às 21h) é uma batalha entre as
duas maiores seleções da América do Sul. Os brasileiros tentam conquistar a 2ª
Copa América seguida (e a 3ª consecutiva vencendo a Albiceleste na final), e os
argentinos estão em busca de seu primeiro título profissional desde 1993 (os títulos
olímpicos em 2004 e 2008 foram com seleções Sub-23), um tabu que assombra
particularmente Lionel Messi, o melhor jogador argentino desde Maradona. Sobre
esta melancólica escrita argentina, aliás, recomendo este texto de Douglas Ceconello. Do outro, Itália x Inglaterra (amanhã às 16h) fizeram belas campanhas na Eurocopa e estão em jornadas de redenção: os italianos, após sequer se classificarem para a última Copa do Mundo, estão jogando um futebol mais ofensivo sob a liderança de Roberto Mancini; já os ingleses, comandados por Gareth Southgate, quebraram tabus que duravam décadas (minutos sem o goleiro ser vazado, eliminar a Alemanha e chegar a uma final). Farei um comentário sobre as semifinais pelas quais as quatro finalistas passaram, seguida de uma análise dos dois confrontos. SEMIFINAIS DA EURO 2020 - Itália 1x1 Espanha (4x2 nos pênaltis): "Foi um jogo rápido,
aberto, de ponta a ponta, uma batalha de duas equipes com a intenção de jogar
um futebol de passes, mas com um elemento de franqueza [directness]. Não houve nem a posse estéril de que a Espanha foi
acusada no passado, nem a luta [grappling]
antiquada da Itália. Em vez disso, foi um festival de futebol moderno e
progressivo, quase certamente o melhor jogo do torneio e, possivelmente, o
melhor jogo jogado no novo Wembley." Este trecho de um texto de Jonathan Wilson resume perfeitamente o que foi esse Itália x Espanha. De fato foi um jogaço. Pode-se até admitir que a Espanha jogou melhor, inclusive porque obrigou a Itália a fugir do estilo proposto por Mancini e recuar. Os espanhóis tiveram quase 70% da posse de bola e criaram várias chances de gol, embora os italianos também tenham tido várias oportunidades claras, mesmo com menos tempo controlando a bola. O gol italiano veio em um contra-ataque letal, iniciado pelo goleiro Donnarumma e concluído brilhantemente por Chiesa. Por 20 minutos deu até a impressão de que a Itália venceria no tempo normal, mas os espanhóis começaram a jogar seu tiki-taka de forma bem rápida e vertical (o que, aliás, é um dos objetivos do técnico Luis Enrique) e foram premiados com uma bela tabela entre Olmo e Morata (que entrou no jogo pouco depois do gol da Itália), o qual empatou o jogo. A prorrogação foi equilibrada, com cada lado sendo melhor em um dos tempos. A iminência dos pênaltis me deixou apreensivo, afinal La Roja havia vencido as duas anteriores (Euro 2008 e Copa das Confederações 2013). Desta vez, contudo, deu Azzurra. Locatelli perdeu o seu, mas logo depois Olmo chutou sua cobrança para fora. Os cinco seguintes acertaram, até que Morata foi de herói do empate a vilão da derrota ao ter sua batida defendida por Donnarumma. Match point para a Itália e então... Meu Deus do céu, que batida foi essa, Jorginho (foto 1)? Com um misto de frieza e irreverência, ele deu uma paradinha para enganar Unai Simón e cobrou fraco no canto oposto. A Espanha foi eliminada após fazer seu melhor jogo na Euro 2020, mas a Itália merecia mais chegar à final, pois fez uma campanha superior, tanto no aproveitamento (5 vitórias e 1 empate, contra 2 vitórias e 4 empates dos espanhóis) quanto no futebol apresentado – o qual é um bem-vindo abandono do “catenaccio” em prol de uma abordagem mais moderna, com um “futebol de pressing”, além de uma inspiração na lendária Sampdoria dos anos 1980/90, tetracampeã da Coppa Italia (85, 88, 89 e 94), campeã da Serie A em 91 e vice européia em 92, na qual jogaram Mancini e seus auxiliares, como Evani e Vialli. - Inglaterra 2x1 Dinamarca: A despeito da pressão do English Team nos minutos iniciais, os dinamarqueses saíram na frente com um golaço de falta. Poderia até parecer que o resignados versos de “Three Lions (Football’s Coming Home)” se realizariam novamente: “Everyone seems to know the score / They've seen it all before / They just know / They're so sure / That England's gonna throw it away / Gonna blow it away”. Não desta vez. Os ingleses não se abateram e empataram ainda no 1º tempo. Foram superiores na maior parte da partida, mas sem conseguir furar a defesa dinamarquesa, em particular o goleiro Kasper Schmeichel, em mais uma atuação excepcional. Já na prorrogação, Sterling saiu driblando a zaga adversária e cavou um pênalti. É muita ironia do destino que o país cuja torcida e imprensa mais criticam os jogadores “cai-cai” que o lance decisivo para a classificação tenha saído de um diving. Schmeichel defendeu, mas Harry Kane converteu o rebote. No 2º tempo extra, a Dinamarca parecia esgotada e a Inglaterra soube controlar bem a bola. Com o apito final, os ingleses sacramentaram sua 1ª ida à final desde 1966. Southgate foi premiado pelo seu trabalho nos últimos anos; mostrou segurança, convicção, inteligência tática (p.ex., quando usou o mesmo esquema que a Alemanha nas oitavas) e capacidade de ao mesmo tempo blindar os jogadores da pressão/cobrança externa e impor disciplina sobre eles (muitas vezes deixando no banco jogadores que não rendiam, por mais badalados que sejam, como Phil Foden). Mesmo que não conquiste a Euro, já é o 2º técnico mais bem-sucedido da história de sua seleção, atrás apenas de Alf Ramsey, campeão mundial em 66. SEMIFINAIS DA COPA AMÉRICA 2021 - Brasil 1x0 Peru: vide post anterior. - Argentina 1x1 Colômbia (3x2 nos pênaltis): 3º LUGAR – COPA AMÉRICA 2021 - Colômbia 3x2 Peru: foi uma eletrizante disputa de 3º lugar, com duas equipes se arriscando bastante em busca do gol. Os peruanos foram superiores no 1º tempo e o 1x0, marcado por Yotún, saiu barato. Os colombianos voltaram melhor na etapa final e viraram o jogo, com gols de Cuadrado e Luis Díaz. O Peru empatou a partida com Lapadula, e quando tudo indicava pênaltis, no último minuto dos acréscimos Díaz – por enquanto o artilheiro da competição ao lado de Messi - fez um golaço de fora da área e deu a vitória (e a 3ª colocação na Copa América) à Colômbia. FINAL DA COPA AMÉRICA 2021 Messi e Neymar (foto) obviamente são os protagonistas da final entre suas seleções – não só pelo futebol que mostraram na Europa nos últimos anos, mas também pelas suas atuações ao longo desta Copa América, nas quais foram os destaques de suas equipes. Embora a Albiceleste tenha uma motivação extra para ganhar a final (encerrar em pleno Maracanã a “seca” de 28 anos sem títulos, mesmo período no qual não venceu o Brasil em competições oficiais, inclusive 3 finais) e conte com jogadores no meio-campo e no ataque que podem ser decisivos (dentre eles, é claro, Lionel Messi), comparando os elencos a seleção brasileira parece ser mais completa do que a argentina. Embora ainda haja certa irregularidade (e, por isso mesmo, rotatividade) dos atacantes, o trabalho de Tite é longevo e conta com um aproveitamento altíssimo (81% dos pontos disputados); além disso, a defesa do Brasil é bem sólida (sofreu apenas 2 gols nos últimos 10 jogos oficiais). FINAL DA EURO 2020 Muitas análises, como esta do Trivela, vêm enfatizando que Itália x Inglaterra será um duelo entre as duas melhores defesas da Eurocopa. De fato tanto a Azzurra quanto o English Team contam com bons zagueiros, laterais e goleiros. Para perfurar essas fortalezas, a Itália deve apostar na pressão na área adversária e na velocidade dos ataques (e contra-ataques), e tem como destaques ofensivos os atacantes Insigne e Chiesa; já a Inglaterra aposta nos talentos da dupla Sterling (bom driblador e criador de chances) e Harry Kane (centroavante clássico e goleador). É uma final sem favoritos: os italianos possuem uma seleção de futebol mais vistoso, mas os ingleses estão jogando em casa e dispostos a encerrarem um tabu de 55 anos sem títulos em competições.