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06 julho 2021

Uma análise dos "playoffs" da Eurocopa e da Copa América


As duas principais competições continentais do futebol mundial chegaram às semifinais, após quartas-de-final (e, no caso da Eurocopa, também oitavas) repletas de bons jogos. A Euro 2020 vem sendo a melhor edição do torneio desde 2000, por vários motivos: futebol bem ofensivo, digno de mata-mata da Champions League; várias seleções adotando esquemas táticos pouco usuais (seja pelo esquema em si, como o 3-4-3, ou em relação às formações táticas que cada seleção costumava usar); o nível técnico das seleções está mais equilibrado, o que permitiu jogos cheios de reviravoltas . Já a Copa América, a impressão que ficou é que o torneio começou de verdade nas quartas, após uma fase de grupos morna – em grande parte graças ao regulamento, com apenas 2 grupos de 5 seleções, nos quais apenas a última colocada era eliminada.

As semifinais da Euro começam daqui a menos de duas horas; as da Copa América começaram ontem à noite, com vitória do Brasil sobre o Peru.

Eis um balanço do que ocorreu nos jogos eliminatórios dos últimos dias:

 

OITAVAS-DE-FINAL DA EURO 2020

- País de Gales 0x4 Dinamarca: a seleção dinamarquesa realmente “desencantou” na goleada contra a Rússia, e repetiu a dose contra os galeses. Nos dois últimos gols, que saíram nos minutos finais, a equipe capitaneada por Bale já estava rendida. País de Gales não conseguiu repetir a campanha semifinalista da Euro 2016, e terão pela frente um grupo difícil na eliminatória para a Copa de 2022, com Bélgica e República Tcheca.

- Itália 2x1 Áustria: Que sufoco os italianos passaram! Os austríacos deram muito trabalho para a Azzurra, que só conseguiu abrir o placar no início da prorrogação. Os reservas entraram bem; dois deles (Chiesa e Pessina) inclusive fizeram os gols. Quando parecia que o jogo já estava resolvido, a Áustria finalmente quebrou o “clean sheet” da defesa italiana, e pressionou nos minutos finais. A equipe treinada por Roberto Mancini passou por seu primeiro teste difícil na Copa, após uma 1ª fase tranqüila.

- Holanda 0x2 República Tcheca: um dos resultados mais inusitados das oitavas. Malen perdeu uma chance incrível para os holandeses, e o castigo veio segundos depois: em contra-ataque tcheco, De Ligt foi expulso por colocar a mão na bola em chance clara de gol. Holeš fez o primeiro gol dos bávaros e o artilheiro Schick, o segundo. Após uma ótima fase de grupos, a Holanda não jogou bem; já no 1º tempo estava sendo dominada pela seleção tcheca, e no 2º, depois do gol perdido e da expulsão, mostrou-se incapaz de reação.

- Bélgica 1x0 Portugal: Jonathan Wilson, em sua análise deste jogo, notou que houve uma inversão de papéis – se em geral a seleção treinada por Fernando Santos é conhecida pelo pragmatismo e a equipe de Roberto Martínez prima pela ofensividade, neste jogo os belgas seguraram a pressão após conseguirem o gol em sua única finalização no 1º tempo (e que finalização de Thorgan Hazard, pois a bola fez uma curva que a tornou indefensável) e os lusitanos fizeram uma blitz no 2º tempo, criando muitas chances de gol. Courtois mais uma vez foi crucial para salvar a Bélgica.

- Espanha 5x3 Croácia: o primeiro dos dois jogos espetaculares de 28 de Junho. Um recuo desastrado de Pedri para Unai Simón levou a um bizarro gol contra. Veio, contudo, a virada espanhola; o 3x1 parecia ter definido o jogo, só que a Croácia conseguiu empatar o jogo nos acréscimos. Quando parecia que o psicológico da seleção espanhola estava abalado, Morata fez um golaço na prorrogação, e três minutos depois Oyarzabal fechou o placar. Este foi o 2º jogo com mais gols na história da fase final da Eurocopa, perdendo apenas para Iugoslávia 5x4 França, em 1960.

- França 3x3 Suíça (4x5 nos pênaltis): a segunda das épicas partidas de 28/6. Até o fim do tempo regulamentar, o roteiro foi parecido com o de Espanha x Croácia: a seleção menos cotada abriu o placar, a favorita virou para 3x1 e ainda assim tomou o empate no fim do jogo. Cabe ressaltar, porém, que os suíços foram melhores que os franceses durante todo o 1º tempo e o início do 2º; a situação mudou quando perderam um pênalti que os deixaria com 2 gols de vantagem. Pouco depois, a França finalmente começou a jogar bem, com dois gols de Benzema e um golaço de Pogba. A Françã teve o jogo em suas mãos; a Suíça, contudo, corajosamente não se rendeu, e conseguiu equalizar o placar, com direito a um belo tento de Gavranović. Na prorrogação os franceses tiveram várias oportunidades de resolver o jogo, inclusive uma emque Mbappé chutou com o pé errado. Vieram os pênaltis, nos quais a seleção helvética nunca tinha vencido em Euro ou Copa do Mundo. Após 9 cobranças em que todos acertaram, Sommer pegou a cobrança de Mbappé. Os suíços, pela 1ª vez, chegara às quartas da Eurocopa! Na minha análise anterior sobre a Euro 2020 eu havia dito: "Os suíços terão que fazer uma partida lendária para ter alguma chance contra Les Bleus." E não é que eles fizeram?

- Inglaterra 2x0 Alemanha: quem diria que a seleção inglesa encerraria seu tabu de 55 anos sem vencer a alemã em mata-matas jogando em um esquema tático 3-4-3 – ou seja, contrariando seu tradicionalíssimo 4-4-2, usado até pelos técnicos estrangeiros que o English Team já teve (Eriksson e Capelli)? Méritos do driblador/goleador Sterling, decisivo na jogada do 1º gol; de Pickford, que fez defesas importantes; e também do técnico Southgate, que leu bem o jogo e fez a mudança certa (Grealish no lugar de Saka) para decidir o jogo. A propósito, não foi um bom dia para Müller, que perdeu uma chance incrível de empatar e mudar o rumo do jogo. O treinador inglês conseguiu superar mais um trauma de sua seleção, e pode ir longe nessa Euro. Jürgen Klopp se despediu da Nationalelf após 15 anos; os primeiros 11 foram muito bons (vice-campeão da Euro 2008, 3º lugar na Copas do Mundo de 2010 e na Euro 2012, campeão mundial em 2014, 3º lugar na Euro 2016 e campeão da Copa das Confederações de 2017), mas os últimos 4 mostraram certo desgaste, em especial pela eliminação já na 1ª fase da Copa de 2018 e pelo rebaixamento na Liga das Nações de 2018/19. O novo técnico, Hans-Dieter Flick, foi campeão invicto da Champions League pelo Bayern de Munique, então o futuro germânico é promissor.

- Suécia 1x2 Ucrânia: considerando o desempenho de ambas na fase de grupos, o resultado do jogo foi surpreendente. Em campo, os ucranianos buscaram mais o gol, com uma garra que compensava suas limitações técnicas, enquanto os suecos mais uma vez mostraram ter uma equipe sólida, mas sem criatividade. A expulsão de Danielson na prorrogação deixou os suecos ainda mais encurralados, e a vitória ucraniana tardou, mas veio nos acréscimos do 2º tempo extra.

QUARTAS-DE-FINAL DA EURO 2020

- Espanha 1x1 Suíça (3x1 nos pênaltis): quase que a seleção suíça aprontou para cima de outra favorita! La Roja saiu na frente no placar já no início do jogo, mas não o ampliou e, na segunda etapa, Shaqiri empatou o jogo. A vitória espanhola veio apenas nos pênaltis; 5 dos 9 cobradores erraram, sendo 3 deles da Suíça. Seria injusto se a Espanha não se classificasse, pois teve várias oportunidades de gol, mas esbarrou em uma grande atuação do goleiro Sommer. A equipe treinada por Luis Enrique ainda oscila muito, mostrando dificuldade para “matar” os jogos quando está em vantagem. Mesmo assim, a proposta dele de verticalizar o tiki-taka hispânico é interessante e pode gerar bons frutos já nesta Euro.



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Bélgica 1x2 Itália: a Azzurra avançou semifinal da Euro 2020 vencendo um jogo bem disputado contra a Bélgica. O 1º tempo foi espetacular, com muitas chances dos dois lados; a Itália foi melhor, e poderia até saído antes em vantagem se não fosse um impedimento. O primeiro gol, de Barella, surgiu de um vacilo defensivo da Bélgica. Minutos depois, Insigne (foto) fez um golaço de fora da área. A Bélgica só não ficou totalmente sem esperança porque no lance seguinte Doku cavou um pênalti, bem cobrado por Lukaku. No 2º tempo os italianos mostraram que sabem defender tão bem quanto atacar; com muita garra eles seguraram bem os belgas, que mais uma vez caíram nas quartas-de-final de uma competição internacional. Mesmo assim, não se pode dizer que decepcionaram afinal este jogo foi uma final antecipada. A Itália continua sua bela campanha em busca de voltar a vencer a Eurocopa depois de 53 anos; porém, na semifinal não poderão contar com o lateral-esquerdo Spinazzola, um dos destaques da equipe, que rompeu seu tendão de Aquiles e está fora do torneio.

- República Tcheca 1x2 Dinamarca: os dinamarqueses estão fazendo sua melhor campanha desde que chegaram as quartas-de-final da Copa do Mundo de 1998. Nesta partida fizeram dois gols no 1º tempo (o segundo deles com o cruzamento de trivela de Mæhle), aguentaram a pressão dos checos no 2º (Schick, artilheiro da Euro 2020 ao lado de Cristiano Ronaldo, diminiu o placar já aos 4 minutos) e avançam com méritos  à semifinal. Kasper Hjulmand conseguiu moldar uma equipe de futebol mais vistoso do que a por vezes retranqueira Dinamarca da Copa de 2018, mas sem perder a consistência que Åge Hareide implantou na equipe. Como bem definiu Jonathan Wilson: “É um padrão recorrente no esporte que uma equipe floresça sob um treinado carismático quando ele substitui um mestre de tarefas duro que instilou a estrutura necessária, mas talvez não teve a capacidade de inspirar a autoconfiança necessária para que os jogadores se expressem plenamente”.

- Ucrânia 0x4 Inglaterra: na 1ª etapa parecia que os ingleses se contentariam em fazer 1x0 e cozinhar o resto do jogo, mas felizmente na 2ª eles fizeram mais 3 gols, todos eles de bola aérea. Harry Kane realmente recuperou a confiança desde que fez um dos gols contra a Alemanha, e desta vez anotou mais dois. O placar poderia até ter sido maior, tal a superioridade do English Team. Southgate – que fez nova variação tática na equipe, desta vez um 4-3-3 – é o primeiro técnico inglês a levar sua seleção a chegar a duas semifinais seguidas desde o lendário Alf Ramsey, que levou a Copa de 1966 e foi 3º na Eurocopa de 1968. A Inglaterra jogará a semifinal em Wembley, e terá a oportunidade de chegar à final em casa para a qual não avançou na Euro 1996.


QUARTAS-DE-FINAL DA COPA AMÉRICA 2021

- Paraguai 3x3 Peru (3x4 nos pênaltis): logo no 1º jogo das quartas a Copa América 2021 tem um 3x3 para chamar de seu. Paraguai e Peru fizeram um jogo equilibrado e cheio de reviravoltas. Os paraguaios saíram na frente com Gustavo Gómez, que minutos depois marcou um gol contra. O juiz não marcou um pênalti claríssimo não marcado para os paraguaios, que tomaram a virada logo depois. Gómez, que já tinha levado cartão amarelo por reclamação ostensiva, fez uma falta digna de cartão e foi expulso no fim do 1º tempo. Na etapa final, o Paraguai reagiu e arrancou o empate; o Peru conseguiu fazer o 3º, mas também teve um jogador expulso e, aos 45 do 2º tempo, os paraguaios deixaram o placar em nova igualdade e forçaram a decisão de pênaltis. Apesar de duas boas defesas de Antony Silva, dois jogadores da Albirroja chutaram para fora e Gallese pegou um; com isso, 4x3 para os peruanos.

- Brasil 1x0 Chile: os chilenos deram trabalho para a seleção brasileira, que não fez um bom 1º tempo. O 2º começou promissor, com um gol de Lucas Paquetá (que tinha acabado de entrar no jogo) logo no primeiro minuto; contudo, pouco depois Gabriel Jesus foi expulso após um lance em que seu pé alto acertou o queixo de Mena. Com um jogador a menos, o Brasil foi pressionado pelo Chile, que chegou a ter um gol anulado por impedimento. A improdutividade do ataque brasileiro foi compensada pela segurança defensiva, e a equipe avançou às semifinais.

- Uruguai 0x0 Colômbia (2x4 nos pênaltis): este jogo foi um daqueles raros casos de 0x0 bom, com muitas chances de gol dos dois lados. Nos pênaltis, os colombianos acertaram todos e os uruguaios foram bloqueados duas vezes por Ospina. Destaque para a comemoração de Mina quando acertou a sua cobrança, rs.

- Argentina 3x0 Equador: o placar é um pouco enganoso, pois os equatorianos ameaçaram bastante a Albiceleste durante quase toda a partida. Messi perdeu um gol inacreditável no 1º tempo, mas deu o passe para De Paul abrir o placar. No segundo tempo, o craque do Barcelona deu nova assistência, desta vez para Lautaro Martínez, e nos acréscimos ainda fez um golaço de falta.

 

SEMIFINAIS DA EURO 2020

- Itália x Espanha: pela 4ª Eurocopa seguida essas duas seleções vão se enfrentar. Em 2008, após empate sem gols, La Roja venceu nos pênaltis; em 2012, empataram por 1x1 na fase de grupos e se reencontraram na final, vencida de forma contundente pela Espanha por 4x0; em 2016, a Azzurra avançou nas oitavas-de-final após triunfo por 2x0. Recentemente elas também se encontraram na semifinal da Copa das Confederações de 2013 (a equipe espanhola passou, também nos penais) e nas eliminatórias para a Copa de 2018 (um empate em 1x1 e uma vitória por 3x0 para os espanhóis, que venceu o grupo e obrigou os italianos a jogar a repescagem contra a Suécia, contra quem perderam e ficaram fora da Copa). Se eu fosse arriscar um palpite diria que a Itália de Mancini me parece um time mais estável em campo do que a Espanha de Luis Enrique; mesmo assim, se o ataque espanhol estiver num dia tão inspirado quanto esteve contra Eslováquia ou Croácia, é bom os italianos tomarem cuidado.

- Inglaterra x Dinamarca: esta semifinal será a oportunidade inglesa de uma revanche contra os dinamarqueses, para quem perderam em Londres por 1x0 em Outubro do ano passado, pela Liga das Nações. As duas seleções estão entre as mais taticamente interessantes da Euro 2020: a Dinamarca é uma das principais praticantes do 3-4-3 nesta competição, e a Inglaterra varia sua formação entre 4-2-3-1, 4-3-3 e 3-4-3. A equipe treinada por Southgate tem status de favorita tanto pela recente goleada contra a Ucrânia quanto por jogar em casa; mesmo assim, não pode subestimar seus adversários, pois também era mais cotada contra a Croácia na Copa passada, mas se contentou em segurar um 1x0 e acabou perdendo de virada. Para a Dinamarca, é a chance de lutar pelo bicampeonato europeu (venceram a Euro 92); para a Inglaterra, a oportunidade de jogarem uma final pela 1ª vez desde a Copa do Mundo de 1966.

 

SEMIFINAIS DA COPA AMÉRICA 2021

- Brasil 1x0 Peru: a seleção brasileira teve uma atuação bipolar, pois fez seu melhor 1º tempo e seu pior 2º tempo nesta edição da Copa América. Por vezes a impressão é que estávamos assistindo a um revival daquele Corinthians do Tite, que fazia 1x0 e segurava o resultado. Se por um lado é um time competitivo e copeiro, por outro ficam duas preocupações: 1) mesmo que a 1ª fase da Copa América tenha sido usada para testes, a equipe vem caindo de qualidade em relação às duas boas atuações nos jogos das eliminatórias que antecederam Copa América; 2) essa oscilação do Brasil em campo pode ser fatal diante de um adversário que aproveite melhor esses momentos em que a seleção fica acuada demais. Caso a final seja contra a Argentina, então, é de se temer o que jogadores como Messi e Lautaro Martínez podem fazer se a equipe treinada por Tite não ditar o ritmo do jogo.

- Argentina x Colômbia: a Albiceleste vem crescendo ao longo do torneio. Começou empatando com o Chile, acumulou três vitórias magras na fase de grupos e, nas quartas-de-final, venceu o Equador mostrando maior potência ofensiva. Messi vem fazendo uma Copa América de alto nível, e tem noção do quão consagrador será se liderar a conquista de um torneio que a Argentina não vence há 28 anos – e em pleno Maracanã (feito este que ele quase conseguiu em 2014, quando sua seleção perdeu a final da Copa na prorrogação). Para isso terá que passar antes pela seleção colombiana, que, se não fez uma 1ª fase muito boa, ao menos mereceu ter vencido o Uruguai nas quartas. A Colômbia tem uma boa motivação para avançar à decisão: se vingar do Brasil pela derrota de virada - e nos acréscimos - na fase de grupos.

 

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