10 julho 2014
A final da Copa do Mundo será entre Alemanha e Argentina, um dos maiores clássicos do futebol mundial. Já se enfrentaram em seis Copas, com quatro triunfos dos alemães (1958, 1990 [final], 2006 e 2010), um empate (1966) e uma vitória argentina (1986 [final]).
Em uma Copa repleta de "plot twists", eis que o Brasil está fora da final, na qual estará sua maior rival regional. Um enredo digno de tragédia grega - ou de comédia de humor negro, rs.
Eis o que tenho a dizer sobre os finalistas:
- Alemanha: após uma vitória espetacular sobre o Brasil, os germânicos chegam à final com muita moral para conseguirem o título que essa geração de Lahm, Müller, Schweinsteiger e cia. tanto merece. O jogo de ontem mostrou da forma mais clara possível o contraste entre a organização e eficiência da seleção alemã e o despreparo (tático, técnico e emocional) da seleção brasileira. Após quase ter sido eliminada pelo Chile e se redimido contra a Colômbia, a equipe do Brasil foi "castigada" pelas falhas de posicionamento, pela falta de treinos táticos (a preparação para os jogos dessa Copa foi tão escassa quanto em Weggis-2006) e pelas más atuações da maior parte do elenco. A Alemanha ainda foi piedosa e diminuiu o ritmo depois do 5x0 aos 29 minutos do 1º tempo, mas bastou Schürrle entrar para aumentar a goleada. O 4-2-3-1 alemão, com notável preenchimento do meio-campo, continua sendo o melhor uso dessa formação tática, ao contrário da versão "kitsch" adotada pelo Brasil (que, neste setor do campo, apresentou muitos buracos). Enfim, após o "jogo-treino" de ontem, os alemães precisam manter a frieza e a altivez para, quem sabe, persistirem em sua reputação recente de "carrascos" da Argentina (4x2 nos pênaltis em 2006 e 4x0 no tempo normal na Copa passada).
- Argentina: chegou à final com um desempenho pouco vistoso - todas as vitórias foram por um gol de diferença e só venceram a Holanda nos pênaltis após uma partida morna, com poucas chances de gol. Porém, esta semifinal mostrou um outro lado da Albiceleste: os problemas no setor defensivo - tão alarmantes, p.ex., no jogo contra a Nigéria - parecem ter sido resolvidos. A despeito do ofensivo esquema 4-3-3, a equipe não ofereceu espaços para a Holanda (e nem para a Bélgica, nas quartas de final). Mascherano parou Robben e Romero foi um goleiro confiável no tempo normal e heróico nos pênaltis. Lionel Messi terá a grande chance de conseguir aquilo que falta para ser considerado um craque à altura de Pelé: vencer uma Copa do Mundo. Seu desempenho nesse Mundial vem sendo irregular, mas na final ele pode desencantar. Sem Di María, seu jogador mais criativo, a Argentina terá que contar com essas duas armas - a defesa e Messi - para superar a Alemanha e conquistar um feito de enorme valor simbólico: um tricampeonato em pleno Maracanã.
P.S. - Holanda: Van Gaal fez péssimas substituições (preferiu colocar volantes ao invés do meia-atacante Depay e deixou o goleiro Krul de fora da decisão de pênaltis), a equipe holandesa jogou mal no tempo normal e prorrogação e houve a decisão equivocada de deixar o Vlaar bater pênalti. Pelo visto a Holanda precisa mesmo se reinventar; nem o estilo mais pragmático e menos futebol-arte que adotaram nesta Copa e na de 2010 (com o técnico van Marwijk) foi o bastante para que eles parassem de "morrer na praia".
P.S. 2 - Brasil: Leiam este texto do Impedimento. Enfim, seriedade à parte, acho que daqui a alguns dias todos estaremos rindo do que aconteceu anteontem; afinal, nada mais coerente com a "Copa da zoeira" do que esse 7x1, rs. Nem esse fiasco me tira da convicção de que esta vem sendo uma das melhores Copas de todos os tempos.
P.S. 3 - "Copa das Copas?": O nível técnico desta edição é altíssimo; das que vi desde criança, a única tão boa quanto esta foi a de 1998 (em que, além da França, outras 5 ou 6 seleções tinham futebol para serem campeãs). Das mais antigas que já vi pelos vídeos oficiais ou pelo YouTube, diria que as únicas tão emocionantes quanto esta foram as de 1954, 1958 e 1970. A 1ª fase da Copa de 2014 foi espetacular, tanto pelas zebras (Espanha 1x5 Holanda, Itália 0x1 Costa Rica...) quanto pelas partidas cheias de gols e viradas. As oitavas de final foram marcadas por boas prorrogações. As quartas de final tiveram partidas com menos gols, porém foram mais técnicas e táticas. A goleada da Alemanha entrou para a história; a classificação da Argentina para a final foi uma reviravolta cruel para os ufanistas; e, ainda teremos dois jogos que podem ser incríveis.