Dezembro, Janeiro e Fevereiro
8/12: Último dia morando no meu quarto na rua Hilário de Gouvêia, em Copacabana. Passei os dez dias seguintes hospedado no apartamento do pai da Carolina. Em 2013 quero voltar a morar sozinho em kitnet, como nos tempos de Brasília.
9/12: Fomos na Travessa de Leblon, onde comprei "A Filosofia e seu Inverso" (Olavo de Carvalho), que li nos dias seguintes.
14/12: O 5º colóquio foi sobre Olavo de Carvalho (eu) e "O Hobbit" (ela). Falei sobre os principais ensaios do livro que havia comprado, com destaque para um que relacionava arquitetura gótica e escolástica e outro que falava sobre método filosófico. O dela foi feito a partir de "O Hobbit e a Filosofia" (coletânea de ensaios lançada pela editora Best Seller), aproveitando que poucas horas antes havíamos visto a sessão de estréia do filme no Arteplex.
Aliás, o filme ficou melhor do que eu esperava. De fato Peter Jackson está no caminho certo para conseguir a proeza de transformar um livro de 290 páginas em 3 filmes. Gostei da seqüência nos minutos iniciais que ligam "O Hobbit" com o início de "O Senhor dos Anéis". Além disso, personagens carismáticos como Gollum, Gandalf e Thorin também contribuíram para a força da história.
P.S.: É impossível não sentir uma ironia do destino ao ver Saruman bancando o bonzinho cético, rs.
18/12: Após quase cinco meses, de volta a Goiânia. Matei a saudade da minha mãe e dos meus irmãos.
23/12: Pela primeira vez eu e minha namorada fizemos um colóquio pelo Skype. Os temas desta 6ª edição foram "A Morte em Veneza" (Thomas Mann) e "Sandman" (Neil Gailman). Horas antes eu finalmente assisti ao filme homônimo de Luchino Visconti, e gostei bastante do resultado. O diretor captou bem a sensibilidade estética da novela de Mann, soube usar com precisão o recurso do silêncio em algumas cenas e ainda adicionou a cena do prostíbulo de "Doutor Fausto". Só senti falta daquela famosa passagem que parafraseia Platão...
Almoçamos no Postinho, e à tarde saímos com uma amiga que a Carol não via há seis anos. Fomos à Livraria Cultura do Iguatemi, onde adquiri "Norwegian Wood" (Huraki Murakami) e ela, "The Tale of Two Cities" (Charles Dickens).
9/1: Dia de deixar a Carol no aeroporto. Snif...
23/1: Acordei cedo e por acaso assisti ao filme "An Education". Ao contrário do que algumas pessoas disseram no Filmow, acho que um dos charmes do filme é justamente ter uma lição de moral. Seria muito inverossímil e hipócrita se eles ficassem juntos no final. Desde o início eu já desconfiava do David, por mais que o carisma do personagem nos tente dissuadir dessa impressão. Fiquei feliz ao saber que o bom roteiro é do Nick Hornby; por fim, cabe elogiar os aspectos mais técnicos (trilha sonora e fotografia).
25/1: Os Strokes se superaram, no mau sentido. A nova música deles é um tecnobrega com vocais desafinados. Se os dois álbuns anteriores já foram flertes com o precipício (singles ótimos, mas as demais faixas eram desprezíveis), "One Way Trigger" parece ser o prefácio de um bungee jump no poço artístico.
Batalhei no modo rotação (ou seja, 3 pokémons para cada - e 1 na reserva -, e a cada rodada o treinador pode mudar quem vai atacar). Venci o Lance nas quartas-de-final - foi difícil derrotar o Kingdra dele. Nas semifinais superei Alder sem grandes dificuldades, mas contei com a sorte em pelo menos 2 momentos.
A finalíssima foi uma revanche contra Wallace. Derrubei Starmie, Sharpedo e Walrein, e demorei um pouco mais para abater o poderoso Milotic, que adora usar Rest. Para minha surpresa venci por 4x1.
O time campeão: Siouxsie (Tyranitar), Keith Moon (Metagross), Roger Waters (Samurott) e Bucky (Rotom).
Fevereiro
1º/2: Iniciei a leitura de "O Humanista: A Ordem na Alma do Indivíduo e na Sociedade", a qual terminei seis dias depois. É uma belíssima obra, e ousada na sua defesa de Platão contra (praticamente) toda a tradição filosófica ocidental posterior. Destaque para a oposição traçada entre liberdade interior/cultural e liberdade exterior/ligada ao poder, as críticas a Heidegger e Foucault, a interpretação inovadora de Nietzsche e a apaixonada apologia à Paidéia humanista.
3/2: Em torno da meia-noite baixei e ouvi o aguardadíssimo 3º disco do My Bloody Valentine, "m b v". A espera de 21 anos (ou, no meu caso, como conheci a banda no fim de 2005, 7 anos) valeu a pena: o álbum é excelente, e consegue ao mesmo tempo seguir a estética de seu antecessor "Loveless" e, nas faixas finais (principalmente "Wonder 2" e seus sons de helicóptero), apontar novas direções para o shoegaze. Minhas canções favoritas são "Only Tomorrow" e sua guitarra incessante, o pop fleumático de "New You" e a empolgante "In Another Way".
À noite fiz um colóquio sobre os dois primeiros capítulos de "O Humanista", e a Carolina sobre o papel da arte no Renascimento Científico.
8/2: Aproveitando o lançamento do 3º disco do My Bloody Valentine, resolvi fazer uma discotecagem no 8tracks com canções das principais bandas do estilo "shoegaze". Há canções de Jesus & Mary Chain, Slowdive, The Pains of Being Pure at Heart etc.
Mais tarde fui com minha mãe ao cinema ver "Lincoln". É um filme do tipo "ame ou odeie". Há quem vá achá-lo cansativo, com pouca ação e excesso de diálogos; outros (eu, p.ex.) gostaram desse tom mais focado na argumentação política. Adorei os duelos retóricos, especialmente um em que o presidente justifica para seu gabinete o porquê de a emancipação de 1863 não ser suficiente e o motivo pelo qual acabar a guerra antes da abolição seria um desastre. Além disso, "Lincoln" mostra sem hipocrisia - e, em alguns momentos, com humor cínico - como são aprovadas as leis.
P.S.: quão deliciosamente irônico é o Partido Democrata, que hoje se arroga progressista e defensor das minorias, ter sido o reduto dos escravocratas e racistas da época?
10/2: 11º colóquio. Apresentei os dois diálogos de Platão que havia lido nos dias anteriores: "Menon" (sobre a virtude, e se ela pode ou não ser ensinada) e "Górgias" (belíssima conversa sobre retórica entre Sócrates, Górgias, Polo e o nervoso proto-nietzscheano Cálicles). Aliás, eis um trecho deste segundo diálogo:
"Com os interesses superiores do homem [a retórica] não se preocupa no mínimo, mas vale-se do prazer como de isca para a ignorância, enganando-a a ponto de parecer-lhe de muito maior valia. Foi assim que a culinária se insinuou na medicina, pretendendo conhecer os mais saudáveis alimentos para o corpo, de forma que se o médico e o cozinheiro tivessem de entrar num concurso em que crianças fossem juízes, sobre quem mais entendesse da excelência ou da nocividade dos alimentos, o cozinheiro ou o médico, este morreria de fome. Chamo a isso bajulação, Polo — é a ti que me dirijo neste momento — e da pior espécie, pois só visa ao prazer, sem preocupar-se com o bem. Nego que seja arte; não passa de uma rotina, pois não tem a menor noção dos meios a que recorre, nem de que natureza possam ser, como não sabe explicar a causa deles todos. Não dou o nome de arte ao que carece de razão."
Já minha namorada falou sobre a lenda do Rei Arthur e como ela foi retratada nos romances históricos de Bernard Cornwell e no filme "Excalibur".
11/2: Assisti ao bom primeiro episódio da 4ª temporada de "Community" (e logo em seguida li a igualmente boa resenha do A.V. Club). Li um texto muito bom do Luiz Felipe Pondé: Amando uma mulher inteligente.
13/2: Após dois bons episódios bons e um terceiro mediano, "Girls" deu um salto qualitativo no quarto e quinto episódios. Aquele, porque mostrou forte realismo com a sinceridade do homeless Ray; este, porque parece monótono mas é irônico e até metalingüístico. Novamente o A.V. Club foi quem melhor expôs isso.
14/2: Assisti, no cinema do Goiânia Shopping, ao filme "O Lado Bom da Vida". A forma como retrataram personagens com transtorno bipolar, TOC e agressividade pós-luto foi bem verossímil; aliás, a conversa de Tiffany e Pat sobre quais remédios tomam foi hilariamente realista, rs. A trilha sonora é ótima; destaque para as cenas em que tocam "What Is And What Should Never Be", do Led Zeppelin, e "Fell In Love With A Girl", dos White Stripes. A princípio achei estranha a cena em que Tiffany subitamente mostra seus fartos conhecimentos sobre futebol americano para o pai de Pat, mas considerando o jeito excêntrico dela (e o fato de não deixar o rapaz levar jornais de esporte para o treinamento de dança), até faz sentido. Por fim, cabe ressaltar as ótimas atuações de Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Chris Tucker.
15/2: Após passar a manhã e a tarde entediado, resolvi terminar de fichar "O Humanista". O resultado vocês conferem (ou conferiram) no post anterior.