Ser um nerd frustrado ou não ser, eis a questão!
Livros bons, para mim, são aqueles com os quais você se identifica com o personagem e pensa como o autor. Todos os meus escritos favoritos são de caras que têm pensamentos parecidos com os meus, de Nietzsche a Orwell. Eles não nos influenciam, mas te deixam empolgado (a) após a leitura, pois o autor expressa em palavras aquilo que ele e você acreditam.
E eu senti isso com essa obra, de uma das promessas da nova safra de escritores. "Como me tornei estúpido" é como um retrato fiel dos intelectuais, caras que são extremamente infelizes, justamente por usarem melhor seus neurônios do que "os outros". Como o protagonista Antoine, diz em certo trecho, "A inteligência é uma doença".
Podemos dividir a obra em quatro partes:
1. Antoine está disposto a tornar-se estúpido. Escreve até o seu "testamento" antes de se aventura pelo mundo das pessoas normais. Sua primeira tentativa é o alcoolismo. Ele deseja profundamente os sucedâneos de prazer dos bêbados, alternados por forte depressão e vários efeitos colaterais. Ele pesquisa tudo sobre bebidas alcóolicas e até consegue a ajuda de um "especialista em assuntos etílicos". Contudo, tudo vai por água abaixo (!) quando, após tomar meio copo da mais leve das cervejas, ele é internado. Com coma alcóolico!
2. Sua segunda opção é o suicídio. No hospital, enquanto estava enfermo, ele conhece uma mulher que já tentou de tudo para se matar, mas nunca consegue, graças a algo ou alguém. Antoine pega com ela o telefone de um curso de "como se suicidar". Ele, no entanto, se desanima a fazê-lo. Nisso há uma relação com o que propõem filósofos como Schopenhauer: somos masoquistas, gostamos de sofrer. Preferimos continua vivos, e estender nossa desgraça, do que morrermos, o que seria uma tranquilidade, o fim da agonia. Antoine deve ter sentido essa contradição, e por isso saiu do curso.
3. O protagonista quer alcançar seu objetivo a qualquer custo, e resolve optar por algo mais ousado: ser normal. Isso mesmo - ter um emprego banal e que dê muito dinheiro; ser consumista; vestir-se bem; só pensar em coisas comuns, como futebol, refutar qualquer discussão intelectualizada, etc. Seus amigos ficam perplexos com a decisão, mas Antoine não volta atrás, e compra Felizil, um antidepressivo poderoso, que lhe daria o ânimo necessário para aceitar ser uma anta. Ele passa a se interessar por política, assistir TV, comer no McDonalds, e até consegue um trampo em uma empresa de negócios e especulações, aonde futura uma grana preta. Só que ele continua pouco entusiasmado, bem menos do que gostaria. E seus amigos interviram (de maneira forçada, claro) para voltá-lo à sua vida de intelectual fracassado.
4. Nas últimas páginas, Antoine conhece uma garota ousada, sarcástica e espontânea, que logo se identifica com ele. O final, supostamente feliz, na verdade contém um significado bem interessante - a maior estupidez que existe é o amor. Nada traz tanta incostância e aventura como ele, experimentamos através dele os sentimentos mais variados, o suficiente para nos manter idiotas e alegres.