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Kaio

 

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15 março 2006

Ser um nerd frustrado ou não ser, eis a questão!

Lembram-se do meu recorde de leitura mais rápida (8 horas - 160 pág.), que pertencia ao "Feriado de mim mesmo"? Pois bem, ele foi batido. Em menos de cinco horas, devorei "Como me tornei estúpido", do Martin Page. Amei o livro, não tenho palavras para descrever o quanto gostei dele.
Livros bons, para mim, são aqueles com os quais você se identifica com o personagem e pensa como o autor. Todos os meus escritos favoritos são de caras que têm pensamentos parecidos com os meus, de Nietzsche a Orwell. Eles não nos influenciam, mas te deixam empolgado (a) após a leitura, pois o autor expressa em palavras aquilo que ele e você acreditam.
E eu senti isso com essa obra, de uma das promessas da nova safra de escritores. "Como me tornei estúpido" é como um retrato fiel dos intelectuais, caras que são extremamente infelizes, justamente por usarem melhor seus neurônios do que "os outros". Como o protagonista Antoine, diz em certo trecho, "A inteligência é uma doença".
Podemos dividir a obra em quatro partes:
1. Antoine está disposto a tornar-se estúpido. Escreve até o seu "testamento" antes de se aventura pelo mundo das pessoas normais. Sua primeira tentativa é o alcoolismo. Ele deseja profundamente os sucedâneos de prazer dos bêbados, alternados por forte depressão e vários efeitos colaterais. Ele pesquisa tudo sobre bebidas alcóolicas e até consegue a ajuda de um "especialista em assuntos etílicos". Contudo, tudo vai por água abaixo (!) quando, após tomar meio copo da mais leve das cervejas, ele é internado. Com coma alcóolico!
2. Sua segunda opção é o suicídio. No hospital, enquanto estava enfermo, ele conhece uma mulher que já tentou de tudo para se matar, mas nunca consegue, graças a algo ou alguém. Antoine pega com ela o telefone de um curso de "como se suicidar". Ele, no entanto, se desanima a fazê-lo. Nisso há uma relação com o que propõem filósofos como Schopenhauer: somos masoquistas, gostamos de sofrer. Preferimos continua vivos, e estender nossa desgraça, do que morrermos, o que seria uma tranquilidade, o fim da agonia. Antoine deve ter sentido essa contradição, e por isso saiu do curso.
3. O protagonista quer alcançar seu objetivo a qualquer custo, e resolve optar por algo mais ousado: ser normal. Isso mesmo - ter um emprego banal e que dê muito dinheiro; ser consumista; vestir-se bem; só pensar em coisas comuns, como futebol, refutar qualquer discussão intelectualizada, etc. Seus amigos ficam perplexos com a decisão, mas Antoine não volta atrás, e compra Felizil, um antidepressivo poderoso, que lhe daria o ânimo necessário para aceitar ser uma anta. Ele passa a se interessar por política, assistir TV, comer no McDonalds, e até consegue um trampo em uma empresa de negócios e especulações, aonde futura uma grana preta. Só que ele continua pouco entusiasmado, bem menos do que gostaria. E seus amigos interviram (de maneira forçada, claro) para voltá-lo à sua vida de intelectual fracassado.
4. Nas últimas páginas, Antoine conhece uma garota ousada, sarcástica e espontânea, que logo se identifica com ele. O final, supostamente feliz, na verdade contém um significado bem interessante - a maior estupidez que existe é o amor. Nada traz tanta incostância e aventura como ele, experimentamos através dele os sentimentos mais variados, o suficiente para nos manter idiotas e alegres.

 

Comentários:

 

 

Haha! Agora você me fez ter vontade de ler esse livro, vou procurar por aqui. Parece ser muito bom mesmo...


Finalmente consegui comentar! Desde ontem a noite to tentando...
Gostei da historia q se passa no livro, vou por na minha lista de livros pra comprar


Cara, continuo sendo seu leitor. Não fico deixando recadin pq acho um porre, saca? Mas me deixo levar pelas tuas idéias e acho bacana teu estilo. Isso é básico nesse mundo globalizado: ter estilo, saber o q quer fazer, falar, sei lá. Não ser mais japonês é básico. E vc tem estilo. Exemplo: "que lhe daria o ânimo necessário para aceitar ser uma anta". Frase q tem sua cara, seu estilo. Esse "anta" não encontro nos melhores (e tem isso?) jornalistas de Goiás (argh!!). Na maioria dos "intelectuais" locais, nem falo. Então, me resta a net, onde, realmente, não há tanta solidão assim, como vc disse. Basta saber usar. Mais: na net acho pessoas/textos como vc e mais alguns que leio muito e acabo arranjando forças pra ir levando de boa. Porque como diria Leminski, "pra que cara feia/ na vida ninguém paga meia". Falei muito, né? Foda-se! Falei pq senti vontade de falar. Bye. Brandão.


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