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20 fevereiro 2017

BSB Days

Quarta (15/2)
Às 7h15 minha mãe me deixou no McDonald's do Flamboyant, onde peguei a carona de ida para Brasília. Fiz a viagem com um goiano que fez História na UFG e um bancário brasiliense. A conversa foi boa, principalmente quando sobre assuntos mais acadêmicos.
Chegando em Brasília, fui para a kitnet do Tiago, amigo do Gino que me hospedou. Batemos um papo sobre Rita Lee, aproveitando que ele está lendo a autobiografia dela.
Fomos a pé até a UnB; ele foi almoçar no R.U. e eu, na Subway do Postinho. O novo sanduíche Frango Bacon Ranch ficou bom. Depois fui fazer minha tradicional visita à Livraria do Chico, no Ceubinho. Aproveitei para comprar três livros: Estudos de História Contemporânea (Arnold Toynbee), The Lesson of the Master (Henry James) e a 29ª edição da revista Política Democrática, que contém o primeiro artigo acadêmico que escrevi.
Descobri que o Mateus estava no IPOL e fui para lá. Passei a tarde conversando com ele na sala da pós e no Udefinho. Também reencontrei o professor Nascimento (meu orientador na graduação), e conversamos sobre Merquior, Gellner e Gerschenkron. Lá pelas 18h o Mateus me deu carona até a quadra em que eu estava hospedado.
Eu iria sair naquela noite com a Karin para um show de jazz, mas como ela teria de viajar no dia seguinte, mudamos os planos e combinei de tomar o café da manhã com ela. Mais ou menos na mesma hora a Jana me mandou mensagem perguntando se eu topava sair para algum lugar. Fomos ao Bar do Quinto, onde papeamos sobre diversos assuntos, desde Trump até a "loudness war" na indústria musical.

Quinta (16/2)
Acordei cedo para tomar café com a Karin. Como a confeitaria da 309 Norte estava fechada, fomos no Pão de Açúcar mesmo; mas, valeu a pena, o cappuccino lá estava ótimo. Falamos sobre a dissertação dela, política (por exemplo, sobre como o Doria está sendo um ótimo prefeito, hehe) e sobre o IPOL.
Depois fui à UnB novamente com o Tiago. Lá tive novas e proveitosas conversas com o Nascimento e o Mateus; fui com este à BCE para procurar os livros de Ernest Gellner e Alexander Gerschenkron indicados pelo meu ex-orientador. Tive uma grata surpresa quando descobri que Nacionalismo e Democracia (Gellner) tinha um prefácio de 40 páginas do Merquior! Nem tirei xerox, resolvi comprá-lo mesmo em algum sebo de Brasília.
Almocei no restaurante chinês Careca com Mateus, Tayrine e um amigo dela. Gostei bastante das conversas, que cobriram desde música até política.
Aproveitei que estávamos na 406 Norte para ficar por lá mesmo e fazer uma excursão pelos sebos. No Contraponto achei o CD All That You Can't Leave Behind (U2) e um livro para a Carol, Homeland: Como Tudo Começou - A História de Carrie (Andrew Kaplan) - ela gosta muito dessa série, e até me botou para assisti-la, rs. No Sebinho adquiri Filosofia da História (Hegel) e, para minha sorte, Nacionalismo e Democracia. Tomei um cappuccino no McDonald's e fui aos sebos da 408 Norte, mas não achei nada de interessante neles.
À noite fui tomar café com a Luísa no Baristas. Não nos víamos desde o fim de 2011, quando eu ainda estava na graduação. Conversamos sobre nossas pesquisas e sobre literatura em geral. Um pouco mais tarde o namorado dela chegou e fomos no bar ao lado, La Rubia. Falamos sobre música, filmes, séries etc., e a discotecagem anos 80/90 lá estava ótima.

Sexta (17/2)
Como combinei na noite anterior com a Jana e a Luísa de irmos ao show em tributo ao Little Quail and the Mad Birds que haveria naquela noite no Poizé da 305 Norte, aproveitei para passar a manhã ao som de Little Quail (ouvi o primeiro álbum deles pela primeira vez, e gostei bastante!) e Autoramas (a outra banda criada por Gabriel Thomaz, e que eu já conhecia - fui até em shows deles na época em que morava em Brasília).
Lá pelas 11 horas resolvi ir da CLN 109 até a 412 a pé, para visitar a quadra comercial em que eu morei entre 2008 e 2011. Depois andei até a UnB, onde almocei no Spoleto. Pelo 3º dia seguinte bati um papo com o Mateus na sala da pós. Em torno das 14h30 voltei para a 109, pois tinha combinado de encontrar o Thiago (amigo dos tempos de Estudos Humanistas) no fim da tarde. Conversamos sobre conversão (ele, que também é católico, ficou muito feliz com a notícia), as disputas políticas e teológicas na Igreja, os projetos para o Brasil da esquerda e da direita etc. Depois que a namorada dele chegou, começamos o colóquio sobre Submissão (Houellebecq) que tínhamos combinado. Um amigo dele chegou durante a apresentação, e o debate sobre o livro - e seus prognósticos sociais, políticos e religiosos - foi proveitoso.
Imediatamente após o colóquio fui para o Poizé, para aproveitar a promoção: até as 20h homens pagavam apenas 15 reais e mulheres entravam de graça. A Janaína se atrasou um pouco devido a um problema com um motorista de Uber preguiçoso que não queria buscá-la no lugar combinado; felizmente conseguimos convencer a hostess dessa situação, e ela pôde entrar ainda na promoção. Já a Luísa teve um compromisso de última hora e não pôde vir.
Tivemos uma longa conversa sobre política (principalmente sobre os erros da esquerda americana) e música (a ótima discotecagem, também amparada nos anos 80 e 90, ajudou - aliás, fiz uma lista no Spotify com as músicas que tocaram naquela noite e na anterior).  Deu para dançar em várias canções, dentre elas a imbatível Blue Monday (New Order) e hits de Information Society, Prince, Madonna etc. Só em torno de 1 da manhã começou o primeiro show da noite, de uma banda cover de Runaways - tal como a original, todas as cinco integrantes eram mulheres, e achei legal que imitaram até o vestuário da banda de Cherie Currie, Joan Jett e cia. A Jana estava sentindo algumas dores no estômago, então fomos embora mais cedo, antes do show-tributo ao Little Quail e o do Gabriel Thomaz.

Sábado (18/2)
Almocei com a Janaína no Burger King do Park Shopping. O papo foi sobre Jung (arquétipos, mecanismo da compensação, classificação tipológica...) e, como sempre, política. Minha carona para Goiânia chegou um pouco antes das 14h. Dormi durante boa parte do trajeto, mas pude ouvir várias músicas de rock que tocaram no rádio, dentre elas Whole Lotta Love (Led Zeppelin) e Head Over Heels (Tears For Fears). Mais uma ótima estadia na minha saudosa cidade universitária estava se encerrando.

15 fevereiro 2017

Comunhão e viagem

1. Domingo fiz minha primeira comunhão, um passo muito importante em minha conversão ao catolicismo. 
Durante a missa fiquei emocionado por dentro, pois sabia que estava em um momento decisivo de minha vida. Aliás, passei a semana meio ansioso, às vezes até angustiado, na expectativa pela missa. Li as partes sobre eucaristia do Catecismo da Igreja Católica e os seis primeiros capítulos do Evangelho segundo João, em especial a passagem sobre o pão do céu. 
Depois da homilia e antes das oferendas, o padre me chamou para acender a vela e fazer o juramento ("renuncio" e "creio"), e durante a comunhão recebi minha primeira hóstia.
Dos meus parentes, estavam presentes minha tia-madrinha, meu avô e minhas duas avós. Aliás, a missa foi na capela que meus avós freqüentam. 
O próximo passo é fazer o curso para a crisma. Devo fazê-lo no Rio, mas deixar a cerimônia novamente para Goiânia.

2. Viajo hoje para Brasília. Ontem à noite consegui arranjar hospedagem e carona. Ainda não sei até que dia vou ficar por lá, mas possivelmente será até sábado. Espero eu consiga aproveitar esse tempo para rever vários amigos dos tempos de UnB.

10 fevereiro 2017

When I feel heavy metal and I'm pins and I'm needles


No dia 10 de Fevereiro de 1997, o Blur lançou seu quinto álbum. O título homônimo e a capa borrada ("blurred") não são por acaso: a banda estava à procura de uma nova identidade. 
Surpreendendo público e crítica, Blur abandonou o projeto estético da trilogia Modern Life is Rubbish (93), Parklife (94) e The Great Escape (95). Em vez das canções melódicas, das letras em 3ª pessoa com crônicas debochadas de personagens típicos e das influências predominantemente britânicas (Beatles, Kinks, XTC etc.), a banda passou a apostar em guitarras distorcidas (para regozijo de Graham Coxon), letras mais densas e intimistas, experimentos com trip hop, psicodelia e lo-fi e uma abertura estilística para o indie rock americano, outrora duramente rejeitado por Damon Albarn (vide o anglófilo Modern Life).
Abrindo o álbum temos "Beetlebum", forte candidata a melhor música do Blur. Tudo contribui para sua perfeição: o riff peculiar, a letra lisérgica, os vocais etéreos, o belíssimo coda...
"Song 2" são 2 minutos de deboche aos clichês do rock americano - a dinâmica de versos calmos e refrão barulhento de Pixies e Nirvana, os versos nonsense típicos do grunge e até o "woo-hoo" inspirado em "Friends of P" (The Rentals). Extremamente viciante, "Song 2" é a faixa mais popular da banda, sendo a responsável direta pelo sucesso mundial de Blur - inclusive nos EUA, onde o disco vendeu mais do que na Inglaterra - e trilha sonora de FIFA 98 e diversos filmes de ação.
"Country Sad Ballad Man" é minha preferida. Sua letra profundamente autobiográfica alude à solidão de um rockstar melancólico, que já está cheio da fama - e dos excessos que a acompanham: "Let me sleep all day / Spent the money / I haven't felt my legs / Since the summer / And I don't call my friends / Forgot their numbers". Letárgica e psicodélica, no último minuto a faixa muda de ritmo, ficando mais pesada e desesperada, e se encerra de forma súbita.
"M.O.R." é uma homenagem sonora à "Fase Berlim" de Bowie, e sua progressão lembra a de "Boys Keep Swinging". A letra não poderia ser mais atual em sua critica à mediocridade dos artistas pop: "It's automatic / I need to unload / Under the pressure / Gone middle of the road". 
"On Your Own" é uma das mais animadas; destaque para o riff contagiante, os loops de bateria e o excêntrico refrão. "Theme from Retro", como o título sugere, parece trilha sonora de filme de terror. A acústica "You're so Great" é a primeira canção escrita por Coxon a entrar em um álbum da banda, e sua temática de remorso pelo alcoolismo será retomada dois anos depois em "Coffee and TV".
"Death of a Party" é Gorillaz em versão embrionária, principalmente pelo uso proeminente dos teclados e pela letra sombria: "Another night / And I thought well well / Go to another party / And hang myself / Gently on the shelf". Escrita em 92, foi regravada para este disco porque, diante do desgaste público do Blur após a derrota para o Oasis na "britpop war" e das brigas internas, "Death of a Party" soava como um hino da ressaca.
"Chinese Bombs" é ainda mais acelerada que "Song 2"; mas, ao contrário desta, seu peso não está concentrado no baixo, mas na guitarra. "I'm Just a Killer for Your Love" tem cara de B-side, mas em um disco tão eclético, não soa tão fora do ninho. "Look Inside America" é a única que mantém a estética do britpop, mas só na melodia; sua letra é uma admissão de que os EUA podem ser "alright".
"Strange News From Another Star" combina um space-rock à la Bowie e Pink Floyd com uma letra deprimida: "I don't believe in me / All I've ever done is tame / Will you love me all the same". 
"Movin' On" é uma das mais animadas, e gosto especialmente de seus vocais distorcidos. "Essex Dogs" é uma crônica decadentista com estilo trip hop; é a canção que melhor revela o método experimental de composição de "Blur", feito a partir de jams no estúdio.
Embora Parklife e 13 (99) sejam considerados discos mais icônicos, Blur também pode ser visto como o ápice da banda, seja pela sua diversidade estilística, seja pelas letras mais profundas ou mesmo pela ousadia do Blur ao romper com a zona de conforto do britpop e arriscar algo mais "anti-comercial" (o que nem se concretizou, pois o sucesso internacional de "Song 2" levou o disco a vender mais de 2 milhões de cópias).

08 fevereiro 2017

A kiss of death, the embrace of life


Há exatos 40 anos foi lançado Marquee Moon, o primeiro álbum do Television e um dos meus favoritos de todos os tempos.
Esta banda foi uma das pioneiras da cena punk em Nova York, mas era muito mais sofisticada que seus pares: não partilhava das limitações estéticas dos três acordes e das canções de dois minutos; além disso, as letras reflexivas de Tom Verlaine e as canções longas e cheias de solos de guitarra dele e de Richard Lloyd se aproximam mais do rock progressivo e até do jazz.
Marquee Moon foi co-produzido por Verlaine e Andy Johns (que já trabalhara com os Stones e o Led Zeppelin); como as faixas estavam bem ensaiadas e foram gravadas praticamente ao vivo e com poucos efeitos, o disco tem uma sonoridade crua e direta que ainda soa bem atual.
A primeira faixa, "See no Evil", tem um riff contagiante e ótimos backing vocals. "Venus" possui uma verve bem romântica e envolvente. "Friction" é um petardo com letra sugestiva:  "Well, I don't wanna grow up / There's too much contradiction / And too much friction (friction) / But I dig friction (friction) / We're both crazy 'bout friction".
A obra-prima de Marquee Moon é a sua faixa-título, uma viagem de quase 11 minutos com uma progressão sonora genial (a partir dos 4 minutos, quando a letra acaba, um instrumento vai entrando por vez até o clímax, com um duelo de guitarras) e com versos belíssimos; destaque para esta estrofe: "I spoke to a man / Down at the tracks / And I ask him / How he don't go mad / He said 'Look here junior, don't you be so happy / And for Heaven's sake, don't you be so sad'". Esta canção serviu de trilha sonora para vários momentos de minha vida, em especial andar a pé para a UnB nas férias de verão em Brasília, no ano de 2010.
"Elevation" é uma das mais dramáticas (por vezes as guitarras parecem chorar) e poderosas do álbum. "Guiding Light" é uma composição lenta e delicada. "Prove It" tem um refrão com paradas que aumentam seu clima de suspense: "Prove it / Just the facts / The confidential / This case, this case, this case that I... I've been workin' on so long..." "Torn Curtain" fecha o disco em clima grave e melancólico.
"Marquee Moon" foi um clássico instantâneo, e já em 1977 ficou famoso graças a uma longa e empolgada resenha de Nick Kent para a New Musical Express. A banda se separaria apenas um ano depois (devido a divergências artísticas entre Verlaine e Lloyd), mas não sem antes lançar o ótimo "Adventure". Marquee Moon foi relançado em 2003 com faixas bônus (dentre elas a pérola "Little Johnny Jewel") e continua influenciando bandas importantes, sendo uma delas os Strokes, cuja sonoridade - em particular as guitarras - em Is This It tem ecos de Television.

A Submissão dos Intelectuais - parte 2

Para terminar a resenha de Submissão, selecionei as passagens do livro que considerei cruciais:

1. O vazio de François após terminar sua tese sobre Huysmans
"Já na manhã seguinte (ou talvez já na própria noite, não posso garantir, pois a noite de minha defesa foi solitária e muito alcoolizada), entendi que uma parte de minha vida acabava de terminar, e era provavelmente a melhor. (...) eu acabava de perder algo inapreciável, algo que nunca mais reencontraria: minha liberdade. por vários anos, os últimos resíduos de uma social-democracia agonizante tinham me permitido (graças a uma bolsa de estudos, a um sistema extenso de descontos e vantagens sociais, a refeições medíocres mas baratas num restaurante universitário) dedicar a integralidade de meus dias a uma atividade que eu escolhera: o livre convívio intelectual com um amigo. (...) Mas tudo isso estava terminado; minha juventude, mais genericamente, estava terminada Em breve |(e sem dúvida muito depressa), eu deveria me envolver num processo de inserção profissional. O que não me alegrava nem um pouco." (pp. 9; 12-13)

2. A ode à arte poética
"A especificidade da literatura, arte maior de um Ocidente que se conclui diante dos nosso olhos, não é, porém, muito difícil de definir. Tanto quanto a literatura, a música pode determinar uma reviravolta, um transtorno emotivo, uma tristeza ou um êxtase absolutos; tanto quanto a literatura, a pintura pode gerar um deslumbramento, um olhar novo depositado sobre o mundo. Mas só a literatura pode dar essa sensação de contato com outro espírito humano, com a integralidade desse espírito, suas fraquezas e grandezas, suas limitações, suas mesquinharias, suas idéias fixas, suas crenças (...). Só a literatura permite entrar em contato com o espírito de um morto, da maneira mais direta, mais completa e até mais profunda do que a conversa com um amigo - (...) numa conversa nunca nos entregamos tão completamente como o fazemos diante de uma página em branco, dirigindo-nos a um destinatário desconhecido." (pp. 10-11)

3. A dificuldade dos homens para "desabafar"
"Ao contrário delas, eu não podia me abrir com ninguém, pois as conversas sobre a vida íntima não fazem parte dos temas considerados admissíveis na sociedade dos homens: eles falarão de política, de literatura, de mercados financeiros ou de esportes, dependendo do temperamento. Sobre sua vida amorosa manterão silêncio, e isso até seu último suspiro." (p. 20)

4. Ao ser chamado de machista, François dá uma resposta sarcástica
"'Você é a favor da volta do patriarcado, é isso?'
'Eu não sou a favor de nada, como você bem sabe, mas o patriarcado tinha o mínimo mérito de existir. Bem, quero dizer que como sistema social ele perseverava no próprio ser, havia famílias com filhos, que grosso modo reproduziam o mesmo esquema, enfim, e funcionava; agora não há mais crianças suficientes, então sabe como é." (p. 33)

5. François faz um paralelo que o angustia
"Foi nesse momento de minhas reflexões (...) que me veio uma idéia extremamente desagradável: assim como À rebours era o apogeu da vida literária de Huysmans, Myriam era sem dúvida o apogeu de minha vida amorosa. Como eu conseguiria superar a perda de minha amante? A resposta era, tudo indicava, que eu não conseguiria." (p. 41)

6. O mito de Cassandra e a ameaça de uma guerra civil

"Anos a fio, e talvez até por várias dezenas de anos, o Le Monde, assim como em geral todos os jornais de centro-esquerda, isto é, na verdade todos os jornais, tinham regularmente denunciado as 'Cassandras' que previam uma guerra civil entre os imigrantes muçulmanos e as populações autóctones da Europa ocidental. (...) Em suma, Cassandra oferecia o exemplo de previsões pessimistas constantemente realizadas, e na verdade parecia, à luz dos fatos, que os jornalistas de centro-esquerda apenas repetiam a cegueira dos troianos. Tal cegueira nada tinha de historicamente inédita: podia-se encontrar a mesma entre os intelectuais, políticos e jornalistas dos anos 1930, unanimemente convencidos de que Hitler 'acabaria por recobrar a razão'. Talvez seja impossível, para pessoas que viveram e prosperaram em determinado sistema social, imaginar o ponto de vista dos que, nunca tendo tido nada a esperar desse sistema, encaram sua destruição sem nenhum terror especial." (pp. 45-46)

7. Lempereur explica a tese dos movimentos identitários
"Para resumir a tese deles, a transcendência é uma vantagem seletiva: os casais que se reconhecem numa das três religiões do Livro Sagrado, entre os quais os valores patriarcais se mantiveram, têm mais filhos que os casais ateus ou agnósticos; as mulheres são menos educadas, o hedonismo e o individualismo são menos enraizados. Por outro lado, a transcendência é, em grande parte, uma característica geneticamente transmissível: as conversões, ou a rejeição dos valores familiares, têm apenas importância marginal; na imensa maioria dos casos, as pessoas permanecem fiéis ao sistema metafísico em que foram criadas. O humanismo ateu, sob o qual repousa o 'viver juntos' laico, está, portanto, condenado a curto prazo, e a percentagem da população monoteísta está fadada a aumentar rapidamente. É este, em especial, o caso da população muçulmana - sem nem sequer levar em conta a imigração, que acentuará ainda mais o fenômeno. Para os identitários europeus, está fora de questão que entre os muçulmanos e o resto da população deverá necessariamente, mais cedo ou mais tarde, estourar uma guerra civil. Daí concluem que, se querem ter uma chance de ganhar essa guerra, é melhor que ela estoure o quanto antes - em qualquer hipótese, antes de 2050, de preferência bem antes disso."

8. As negociações para a aliança entre o Partido Socialista Francês e a Fraternidade Muçulmana na eleição de 2022
"A verdadeira dificuldade, o pomo de discórdia das negociações, é a educação nacional. O interesse pela educação é uma velha tradição socialista, e o meio docente é o único que nunca abandonou o Partido Socialista, que continuou a apoiá-lo até a beira do abismo; só que, agora, estão lidando com um interlocutor ainda mais motivado que eles, e que não cederá sob nenhum pretexto. (...) Para eles o essencial é a demografia e a educação; a subpopulação que dispõe da melhor taxa de reprodução, e consegue transmitir seus valores, triunfa; (...) quem controla as crianças controla o futuro, ponto final. (...) Bem, para a Fraternidade Muçulmana cada criança francesa deve ter a possibilidade de se beneficiar, do início ao fim da escolaridade, de um ensino islâmico. E o ensino islâmico é, de todos os pontos de vista, muito diferente do ensino laico. Primeiro, não pode em nenhuma hipótese ser misto; e só certas carreiras serão abertas às mulheres. O que eles desejam, no fundo, é que a maioria das mulheres, depois do curso primário, seja orientada para escolas de educação doméstica e se case o quanto antes - uma pequena minoria prosseguindo, antes de se casar, nos estudos literários ou artísticos; seria para eles o modelo ideal de sociedade. Por outro lado, todos os professores, sem exceção, deverão ser muçulmanos." (pp. 68-69)

9. A guinada secularista da Frente Nacional
"De cara, fiquei impressionado com o caráter republicano, e até francamente anticlerical, de sua intervenção. Superando a referência banal a Jules Ferry, ela [Marine Le Pen] chegava a Condocert, de quem citava o memorável discurso de 1792 perante a Assembléia Legislativa, em que ele evoca esse egípcios, esses indianos 'cujo espírito humano fez tantos progressos, e que recaíram no embrutecimento da mais vergonhosa ignorância no momento em que a potência religiosa se apoderou do direito de instruir os homens'. (...) Concluíra seu discurso citando um artigo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a de 1793: 'Quando o governo viola os direitos do povo, a insurreição é, para o povo e para cada porção do povo, o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres'." (pp. 91; 95)

10. A União por um Movimento Popular, partido da centro-direita, se aliará com Fraternidade em nome do projeto europeu
"A verdadeira agenda da UMP, como a do PS, é o desaparecimento da França, sua integração num conjunto federal europeu. Seus eleitores, é claro, não aprovam esse objetivo; mas os dirigentes conseguem, há anos, silenciar esse assunto. Se fechassem uma aliança com um partido abertamente antieuropeu, não conseguiriam perseverar nessa atitude; e a aliança [com a FN] não demoraria a ir para o espaço. É por isso que acredito mais numa segunda hipótese: a criação de uma frente republicana, em que a UMP se aliaria, como o PS, à candidatura Ben Abbes - desde que, é claro, houvesse uma participação suficiente no governo, e acordos para as próximas eleições legislativas". (pp. 121-122)

11. O verdadeiro inimigo do islã não é o cristianismo, mas o secularismo
"Espalhou-se a idéia nos círculos da ultra-direita de que, quando os muçulmanos chegassem ao poder, os cristãos seriam necessariamente reduzidos a um estatuto de dhimmis, cidadãos de segunda classe. De fato, a dhimitude faz parte dos princípios gerais do islã; mas na prática o estatuto de dhimmi é extremamente flexível. O islã tem uma extensão geográfica enorme; a maneira como é praticado na Arábia Saudita não tem nada a ver com o que se encontra na Indonésia, ou no Marrocos. Quanto à França, estou absolutamente convencido - e disposto a bancar a aposta - de que não só nenhum entrave será imposto ao culto cristão, como os subsídios alocados às associações católicas e à manutenção dos edifícios religiosos serão aumentados; eles podem se permitir isso, pois as verbas alocadas às mesquitas pelas petromonarquias serão consideráveis. E, mais ainda, o verdadeiro inimigo dos muçulmanos, aquele que temem e odeiam acima de tudo não é o catolicismo: é o secularismo, a laicidade, o materialismo ateu. Para eles os católicos são crentes, o catolicismo é uma religião do Livro; trata-se apenas de convencê-los a dar mais um passo, a se converterem ao islã: esta é a verdadeira visão muçulmana da cristandade, a visão original." (pp. 129-130) 

12. A surpresa de François com a felicidade tardia do pai
"Tudo isso era profundamente surpreendente; durante toda a sua vida - bem, durante toda a parte de sua vida que me era conhecida - meu pai se mantivera quase às raias da ostentação, nos limites do bom gosto burguês perfeitamente convencional (...) Faz dez anos que não nos víamos, e sua evolução me era desconhecida, mas com certeza eu não esperava que tivesse se transformado numa espécie de aventureiro de subúrbio. (...) O mais surpreendente para mim era a existência de uma coleção de fuzis de valor (....). 
'Ele colecionava armas?', perguntei a Sylvia.
'Não eram armas de coleção; ele ia muito à caça, que tinha se tornado sua grande paixão.'
Um ex-diretor financeiro da Unilever que tardiamente compra um 4x4 off-road e reencontra seus instintos de caçador-coletor: era surpreendente mas, afinal, plausível. (...) Assim, meu pai tivera um final de vida legal (...). Em suma, eis um homem que teria vivido duas vidas, nitidamente separadas, e sem o menor ponto de contato entre elas." (pp. 157-160)

13. Primeiras mudanças no cenário político-ideológico
"A implosão brutal do sistema de oposição binário centro-esquerda/centro-direita, que estruturava a vida política francesa desde tempos imemoriais, primeiro mergulhara toda a imprensa num estado de estupor, depois de afasia. (...) No entanto, pouco a pouco, ao longo das semanas, núcleos de oposição começaram a se formar. Primeiro, entre os laicos de esquerda. (...) Inversamente, certas organizações como a União dos Estudantes Salafistas fizeram ouvir sua voz, denunciando a persistência de comportamentos imorais e exigindo uma autêntica aplicação da charia. Assim, aos poucos instalavam-se os elementos de um debate político. Seria um debate de tipo novo, muito diferente dos que a França conhecera nos últimos decênios, mais parecido com o que existia na maioria dos países árabes; mas seria, mesmo assim, uma espécie de debate. E a existência de um debate político, embora artificial, é necessária para o funcionamento harmonioso da imprensa, talvez até para a existência, no seio da população, de um sentimento pelo menos formal de democracia." (pp. 167-168)

14. A volta do casamento por interesse?
"Todas essas evoluções arrastava a França para um novo modelo de sociedade, mas a transformação deveria permanecer implícita até a publicação clamorosa de um ensaio escrito por um jovem sociólogo, Daniel da Silva, ironicamente chamado Um dia tudo isso será seu, meu filho, com o explícito subtítulo 'Rumo a uma família de interesse'. (...) Da Silva afirma que o laço familiar, em especial o laço entre pai e filho, não podia de jeito nenhum se basear no amor, mas na transmissão de uma competência e de um patrimônio. A passagem generalizada ao regime de salários deveria necessariamente, a seu ver, provocar a explosão da família e a atomização completa da sociedade, que só conseguiria se refundar quando o modelo de produção normal fosse de novo baseado na empresa individual." (p. 170)

15. A breve experiência no mosteiro
"Meu humor ia azedando, e a prosa de dom Jean-Pierre Longeat, decerto um monge excelente, de boas intenções e amor, me exasperava mais e mais. 'A vida deveria ser um constante intercâmbio amoroso, quer estejamos na provação, quer estejamos na alegria', escrevia o frade, 'portanto aproveita estes poucos dias para trabalhar essa capacidade de amar e deixar-te amar em palavras e atos.' Você está por fora, Idiota, estou sozinho no quarto, eu debochava furioso. 'Estás aqui para pousar tuas bagagens e fazer uma viagem em ti mesmo, neste lugar-fonte em que se expressa a força do desejo', ele também escrevia. Meu desejo está na cara, eu fulminava, é só fumar um cigarro, você está vendo que eu estou aqui, Idiota, meu lugar-fonte é esse aí. (...) Na manhã do terceiro dia entendi que precisava ir embora, aquela temporada estava fadada ao fracasso." (p. 184)

16. A infantilização das mulheres sob o islã
"No regime islâmico, as mulheres - quer dizer, as bonitas o suficiente para despertar o desejo de um marido rico - tinham, no fundo, a possibilidade de permanecerem crianças praticamente a vida toda. Pouco depois de saírem da infância, tornavam-se mães e caíam de novo no universo infantil. Seus filhos cresciam, depois elas se tornavam avós, e assim se passavam suas vidas. Por um período curto de tempo elas compravam lingerie sexy, trocando os jogos infantis por jogos sexuais - o que no fundo era mais ou menos a mesma coisa. É claro que perdiam autonomia, mas fuck autonomy, e eu devia admitir, de meu lado, que renunciara facilmente, e até com verdadeiro alívio, a toda responsabilidade de ordem profissional ou intelectual, e que não invejava em nada aquele homem de negócios sentado do outro lado do corredor de nosso compartimento no TGV Pro Première". (p. 192)

17. François conversa com Rediger sobre sua conversão ao islã e o ateísmo 
"'Você não é católico, o que poderia constituir um obstáculo... (...) E também não penso que seja propriamente ateu. No fundo, verdadeiros ateus são raros.'
'Você acha? Ao contrário eu tinha a impressão de que o ateísmo era universalmente difundido no mundo ocidental.'
'Ao meu ver, ele é superficial. Os únicos verdadeiros ateus que encontrei eram revoltados; não só se contentavam em verificar friamente a inexistência de Deus como recusavam essa existência, à maneira de Bakunin: 'E, mesmo se Deus existisse, seria preciso livrar-se dele...'), em suma, eram ateus a Kirilov, rejeitavam Deus porque queriam pôr o homem em seu lugar, eram humanistas, tinham uma alta idéia da liberdade humana, da diginidade humana. Suponho que você também não se reconhece nesse perfil?'
Não, nesse também não, de fato; só a palavra humanismo já me dava uma leve vontade de vomitar, mas talvez fossem os pasteizinhos quentes, eu tinha abusado deles; bebi mais uma taça de Mersault para ver se passava.
'O que há', ele continuou, 'é que a maior parte das pessoas vive sua vida sem se preocupar demais com essas questões, que parecem a elas exageradamente filosóficas; só pensam nisso quando são confrontadas a um drama - uma doença grave, a morte de um próximo. Bem, isso é verdade no Ocidente, porque em qualquer outro lugar do mundo é em nome dessas questões que os seres humanos morrem e matam, travam guerras sangrentas, e isso desde a origem da humanidade". (pp. 211-212)

18. A decadência da Europa começa na I Guerra Mundial
"'Essa Europa que estava no auge da civilização humana realmente se suicidou, no espaço de alguns decênios', continuou Rediger com tristeza (...). 'Houve em toda a Europa os movimentos anarquistas e niilistas, o apelo à violência, a negação de qualquer lei moral. E depois, alguns anos mais tarde, tudo terminou por essa loucura injustificável da Primeira Guerra Mundial. Freud não se enganou, Thomas Mann também não: se a França e a Alemanha, as duas nações mais avançadas, mais civilizadas do mundo, eram capazes de se entregar a essa carnificina insensata, então era porque a Europa estava morta (...)'. Eu não tinha certeza de partilhar seu ponto de vista sobre o papel decisivo da Primeira Guerra Mundial; sem dúvida, fora uma carnificina indesculpável, mas a guerra de 1870 já era razoavelmente absurda, pelo menos na descrição de Huysmans, e já depreciara seriamente toda forma de patriotismo; as nações em seu conjunto não passavam de uma absurdidade assassina, e isso todos os seres humanos um pouco conscientes tinham provavelmente percebido desde 1871; daí decorriam, parece-me, o niilismo, o anarquismo e todas essas porcarias." (p. 217)

19. A submissão e sua relação com o otimismo cosmológico do islã
"'É a submissão', disse suavemente Rediger. 'A idéia assombrosa e simples, jamais expressada antes com toda essa força, de que o auge da felicidade humana reside na submissão mais absoluta. É uma idéia que eu hesitaria em expor perante meus correligionários, que eles talvez julgassem blasfematória, mas para mim há uma relação entre a absoluta submissão da mulher ao homem (...) e a submissão do homem a Deus, tal como o encara o islã. Veja bem', continuou, 'o islã aceita o mundo, e aceita-o em sua integralidade, aceita o mundo como ele é, para falar como Nietzsche. O ponto de vista do budismo é que o mundo é dukkha - inadequação, sofrimento. O próprio cristianismo manifesta sérias reservas - Satanás não é qualificado como 'príncipe deste mundo'? Para o islã, ao contrário, a criação divina é perfeita, é uma obra-prima completa. No fundo, o que é o Alcorão senão um imenso poema místico de louvação? De louvação ao Criador e de submissão às suas leis." (pp. 219-220)

20. François relaciona sua conversão ao islã com a segunda fase da vida de seu pai
"Um pouco da mesma forma como isso se produzira, alguns anos antes, com meu pai, uma nova oportunidade se oferecia a mim; e seria a oportunidade de uma segunda vida, sem grande relação com a anterior. 
Eu nada teria do que me lamentar." (p. 251)

Fonte das citações: HOUELLEBECQ, Michel. Submissão. Trad. Rosa Freire d'Aguiar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

04 fevereiro 2017

A Submissão dos Intelectuais - parte 1

Agora há pouco terminei de ler Submissão (Michel Houellebecq). Foi uma leitura rápida, de apenas três dias, tanto pela escrita envolvente quanto pelo interesse que a temática me suscitou. 
Em seu último terço o livro seguiu um rumo diferente do que eu imaginava, e ainda assim gostei bastante. Ao contrário do que o título e o marketing fariam supor, o enredo não gira tanto em torno do Islã, e sim da crise moral e existencial dos intelectuais ocidentais. Houellebecq mostra, com muita ironia e acidez, que o meio universitário, marcado pelo niilismo e pelo carreirismo, poderia muito bem abraçar uma guinada para o islamismo tanto pelo vazio de valores quanto por razões estritamente políticas e econômicas. 
Além disso, o humanismo ateu estaria com os dias contados, pois não responde aos anseios metafísicos da intelectualidade, e nem mesmos aos mais modestos desejos burgueses de uma vida estável e confortável.
Realmente foi bom ter lido Às Avessas (Huysmans) antes; o narrador François faz várias alusões à vida e obra de Huysmans, inclusive à sua conversão ao catolicismo.
Submissão é uma reflexão pertinente sobre o niilismo que assola os intelectuais europeus, e quais as consequências políticas disso. 
No próximo post vou separar e discutir os trechos de que mais gostei.

01 fevereiro 2017

Adeus, Benzaquen

Hoje soube do falecimento de Ricardo Benzaquen de Araújo, um dos melhores professores que já tive. Além disso, ele foi meu orientador no doutorado da PUC durante o primeiro ano (e meu co-orientador no IESP até meados de 2016).
Fiz três matérias com ele: Teoria Sociológica 1 (2012), na qual ele deu aulas impressionantes sobre Georg Simmel e Max Weber; História e Historiografia da Cultura II (2013), que fiz como ouvinte, acompanhando suas interpretações de textos de Carl Schmitt e Kantorowicz; e História e Historiografia da Cultura IV (2014), na qual lemos Simmel e Lukács.
Desde que entrei no mestrado quis ser orientado por Benzaquen, pois soube que ele era um profundo conhecedor da obra de Thomas Mann. Não pude porque ele saiu do programa de Sociologia do IESP e foi se dedicar exclusivamente ao de História Social da Cultura da PUC, o que foi decisivo para que eu fizesse seleção de doutorado em ambas instituições. Como, porém, ganhei bolsa no IESP, acabei deixando o da PUC em segundo plano, mas continuei tendo ele como um conselheiro, mesmo quando mudei de tema em 2015 (de Mann para Merquior).
Ricardo era uma pessoa extremamente gentil, solícita e espirituosa. Além disso, tinha uma erudição notável em vários campos de estudo (tal como um "homem da Renascença"), algo cada vez mais raro em nosso meio acadêmico.
Escreveu poucos livros, mas são dois clássicos: Totalitarismo e Revolução (uma interpretação sem preconceitos do integralismo) e Guerra e Paz (um estudo revolucionário sobre Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre). Espero que um dia seus ex-alunos reúnam e publiquem suas anotações de aula, pois elas mostram o quanto ele conseguia revelar um universo hermenêutico a partir de textos de poucas páginas. 
Descanse em paz, Benzaquen.