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Kaio

 

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31 julho 2014

The Best of Racio Símio: 2005-2008

790 posts e 9 anos depois, cá estou eu ainda escrevendo em Racio Símio, o blog que me acompanha desde que eu tinha uma década e meia de vida. Ele desempenhou um enorme papel no meu amadurecimento, afinal foi um espaço que funcionou como diário, divã, oficina literária, divulgação e crítica cultural, ensaios e tentativas filosóficas...
Foi aqui que compartilhei empolgações, frustrações, dúvidas, idéias, relatos de viagem. O momento mais "aborrecente" da minha adolescência (2005-06) foi retratado neste blog; já o período seguinte (2007-08) foi marcado pela transição do ensino médio para a universidade, assim como por uma voracidade em relação aos livros e uma leve expansão da minha vida social; 2009 foi um ano difícil, marcado por uma paixão não-correspondida e, semanas depois, pelo início do meu 1º namoro (que acabaria 5 meses depois); os anos de 2010 e 11 foram muito bons, com destaque para minha evolução acadêmica; em 2012 me mudei para o Rio de Janeiro, tive um namoro que durou apenas 2 meses e comecei outro que, felizmente, continua até hoje; ano passado postei pouco por estar muito ocupado com minha dissertação e com a seleção de doutorado; em 2014 voltei a ter mais estabilidade, e recentemente entrei de cabeça no espírito da Copa do Mundo (vide os 7 últimos posts).
Acredito que dá para encontrar um telos, delinear uma Bildung na minha trajetória nestes nove anos. Minhas convicções fundamentais pouco mudaram; tornei-me mais moderado e menos utópico e misantrópico, mas em geral vejo mais continuidades do que rupturas entre o Kaio de 15 anos de idade e o que sou hoje.
Resolvi "me" homenagear e selecionar 30 (isso mesmo, 30) posts importantes que escrevi em Racio Símio. Alguns escolhi porque considero bem escritos, inteligentes; outros têm valor sentimental; há até alguns que me causam certo constrangimento quando releio, mas eles simbolizam, ainda que pelo negativo, o amadurecimento de seu autor.

Vamos, portanto, ao disco 1 do Best Of! Como não poderia deixar de ser, as "faixas" foram escolhidas em ordem cronológica.
1. Até que enfim... (31/7/2005): a estréia de Racio Símio não poderia ser mais constrangedora e embaraçosa. Um texto nervoso, raivoso, que captura Kaio em pleno chilique de adolescente. Não surpreendentemente, ele reviu várias de suas posições categóricas pouco tempo depois.
Quote: "Só escrevo por escrever, por não ter nada a fazer e ninguém para conversar."
2. Dissidência (28/8/2005): apenas um mês após declarar a plenos pulmões seu socialismo, este que vos fala inicia seu processo de desligamento da esquerda. Os delírios megalomaníacos continuam, mas já se nota a influência da crítica anti-totalitária de George Orwell e a forte impressão deixada pelas reflexões existenciais de Crime e Castigo.
Quote: "Eu não quero ser outro intelectual de butique que vive destilando belas idéias, mas fica trancafiado em seu apartamento, bebendo vinho e se considero superior em relação às proles."
3. My Parklife (26/12/2005): no fim do ano, em meio a uma chácara na qual minha preguiça de socializar chegou a patamares estratosféricos, um livro me salva: On The Road, de Jack Kerouac. Nos próximos meses, este será um dos escritores que mais lerei. Há um tom desencantado, prenunciando como será 2006, o meu ano "gótico".
Quote: "Apenas quero encontrar pessoas com quem eu tenha prazer de ter a companhia. Viver no underground, ouvindo meus discos de Rock alternativo, lendo Nietzsche e conversando com meus amigos. E só."
4. Meia-idade na adolescência (13/2/2006): um dos melhores textos que escrevi naquela época. Um retrato do nerd solitário quando jovem. Sim, há muita arrogância, auto-suficiência e intransigência, mas também há sinceridade e potencial para ser lapidado.
 
Quote: "Com quinze anos, não há quase nada a se fazer. É o ponto médio da adolescência."
5. Soy loco por ti, América? (15/2/2006): uma divertida e contundente análise política da América Latina; foi até publicada no Correio Classe, jornal de minha escola. Fazia poucas semanas desde que eu havia saído do armário ideológico e me assumido de direita. Daí se explica meu tom impiedoso com os caudilhos de esquerda que dominavam (e, em vários casos, ainda dominam) a política de nosso sub-continente.
Quote: "Talvez os latino-americanos não querem ainda embarcar na pós-modernidade e na globalização, e é sinal dessa obsolência a vitória de políticos populistas e nacionalistas/socialistas. (...) O atraso permanente da região é evidente, ela sempre está um passo atrás do resto do mundo."
6. Violently happy? (6/3/2006): um post angustiado, escrito após um fim de semana de altos e baixos. Mesmo assim (ou talvez justamente por isso), foi um dos comentados da história do blog, rs. Surpreendi-me ao reler a forte auto-crítica do trecho a seguir.
Quote: "Do nada, tive a idéia de reler uns posts antigos do meu blog. E fiquei perplexo - como os meus textos eram horríveis. Não do ponto de vista gramatical ou de concordância, mas sim no conteúdo: egomania, paixões cegas, imbecilidades, surtos de arrogância, promessas não cumpridas. Me senti triste. Tanto que nem consegui dormir."
7. Happy birthday to me (29/6/2006): eis um auto-balanço. O Kaio de 16 anos conta um pouco do que passou desde que fez 15. Eu era bastante duro comigo mesmo; por exemplo, eu me chamava de "velho rabugento" e "imaturo e inconseqüente".
Quote: "Crio problemas imaginários para compensar a frustração de que não tem nada de errado comigo nem ou na minha vida."
8. Let's go out and have some fun! (15/11/2006): para sair da fossa após uma paixão internética não-correspondida, nada como viajar pela 1ª vez para São Paulo e assistir a uma de minhas bandas favoritas naquela que viria a ser sua última turnê com Peter Hook. A apresentação do New Order foi incrível, e me animou a ponto de agir como um divisor de águas, iniciando uma "nova ordem": dali em diante passei a diminuir minha atitude negativa diante do mundo e de mim mesmo.
Quote: "Acabou! 1h35 do show que, por muitos anos, será o melhor momento da minha vida. O sorriso estampado no meu rosto após o fim do concerto era a prova disso."
9. Tonight I think I'll walk alone (26/11/2006): antes da redenção, uma recaída. Este post retrata o ápice da minha misantropia. Embora eu reclame das "centenas de pessoas homogêneas e patéticas", na verdade quem foi patético fui eu, sentado e "austistando" numa escada do Centro Cultural Oscar Niemeyer.
Quote: "Espero que a semana que está por se iniciar compense isso, e se aproveite do fato que eu ando feliz apesar da falta de momentos felizes. Uma contradição entre o homem e seu meio."
10. Let there be love (7/3/2007): uma das minhas redações preferidas. Usei uma menina do colégio por quem eu tinha uma "crush" (porém, nunca cheguei a me apaixonar para valer por ela) como musa inspiradora e resolvi fazer uma metáfora amorosa a partir de Platão e Aristóteles. Meses depois, quando comecei a escreveu meu romance (até hoje inacabado, diga-se de passagem), César e Penélope reaparecem como protagonistas, embora a garota tenha mudado de nome (Júlia).
Quote: "Penélope estava silenciosa, mas, mentalmente, a operar uma série de raciocínios e conclusões a respeito do que o professor dizia. Enquanto isso, César falava constantemente, pois aprendia a matéria comentando e participando da aula, sempre com uma oratória vibrante."
11. A dilatação da espera (1º/7/2007): outra boa redação que escrevi naquela época. A influência dos Fragmentos de um discurso amoroso (Roland Barthes), livro que meu professor de Redação havia me recomendado e emprestado, é notória. 
Quote: "Se há alguma coisa da Física Moderna que se pode aplicar aos relacionamentos, estamos falando da dilatação do tempo."
12. Blue, azul, bleu, freedom, liberdade, liberté (13/7/2007): post escrito de madrugada, em meio à ansiedade pelo resultado do vestibular da UnB; poucas horas depois, descobri que, mesmo tendo feito a prova como treineiro, eu tinha passado. Em um raro momento cinéfilo, resenhei três filmes de uma só vez: "Politicamente Incorreto" ("Bulworth"), "Barbarella" e "A Liberdade é Azul".
Quote: "'Você é o que quiser'. Talvez seja esta uma das mensagens que o filme passa. Ou não."
13. A Entropia da Liberdade (6/8/2007): um texto longo, pretensioso e com ares de "filosofia da história". Usei metáforas da Química para justificar minha crença em um futuro anarco-libertário. Hoje em dia obviamente não compartilho dessa ingenuidade ideológica, mas valeu como ensaio, como experiência de pensamento.
Quote: "Não me surpreenderia se chegássemos ao fim do Século XXI regidos por um protótipo de anarquismo."
14. Politics go so good with... UnB! (21/2/2008): depois de passar novamente no vestibular (e, desta vez, já com o ensino médio concluído, podendo de fato me matricular na universidade), a euforia foi tanta que resolvi glorificar meu método de estudo. Texto bobo, mas tem valor histórico.
Quote: "O importante é que a tática kaionista deu certo, e poderá servir como exemplo para as gerações futuras. O plano de dominação global está prestes a ser aplicado! [Risada diabólica]"
15. A Magia da Montanha (8/7/2008): esta resenha foi o ponto de partida para aquele que seria o meu objeto de estudo desde então: os aspectos filosóficos e ideológicos da literatura de Thomas Mann. Li as últimas 500 páginas de A Montanha Mágica em apenas 7 dias, de tão empolgado que estava com os debates entre Settembrini e Naphta e com a tumultuada formação moral e estética de Hans Castorp.
Quote: "Se Castorp é Weimar, Settembrini é a voz do cânone ocidental pregando paz, harmonia, valores republicanos e liberalismo, enquanto Naphta encarna os radicalismos que ganhavam mais e mais terreno naquela época: nacionalistas, socialistas e anarquistas."

Amanhã postarei o disco 2!

30 julho 2014

Titãs e Bon Jovi

Ontem comprei Cross Road: The Best of Bon Jovi e Titãs 84 94 Um, dois CDs de bandas que iniciaram meu gosto por rock aos seis anos de idade.
Resolvi contar a minha história com ambos os conjuntos.


Lembro-me até hoje de 1º de Maio de 1996, o dia em que comprei no Bazar Paulistinha do Flamboyant o meu 1º CD (ok, no ano anterior ganhei um do Sandy & Junior de aniversário - aliás, o melhor da fase infantil deles, rs; é o que tem "Splish Splash" e "Tô Ligado Em Você" -, e minha mãe me deu a trilha sonora dos Cavaleiros do Zodíaco... mas, o 1º que comprei mesmo foi): Domingo, dos Titãs. Eu tinha ouvido a faixa-título pela primeira vez no domingo dia 28/4, numa festa na chácara de um amigo da minha mãe. Adorei logo de cara esta canção, e até hoje acho que é uma das melhores dos Titãs. Ao longo do álbum há outras boas músicas: "Eu não aguento", "Eu não vou dizer nada (além do que estou dizendo)", "Vámonos", "Qualquer negócio"... No ano seguinte, veio o pomposo Acústico, que só aumentou minha admiração por esta banda paulista; entre 1997 e 99 comprei ou ganhei vários discos deles:
- Titãs 84 94 Dois, a antologia do lado mais punk da banda; 
- Cabeça Dinossauro, a primeira obra-prima, já que todas as faixas são acima da média - inclusive as obscuras "A Face do Destruidor" e "Dívidas"; 
- Jesus não tem dentes no país dos banguelas, que tem "Diversão", minha canção favorita dos Titãs; 
- Titãs 84 94 Um, que compila a faceta mais eclética da banda, passando pelo pop-rock, o reggae e a eletrônica; 
- Volume Dois, o qual considero o primeiro disco fraco dos Titãs - só se salvam as regravações de "Sonífera Ilha", "Miséria" e "Senhor Delegado / Eu não aguento";
- Televisão, repleto de letras bizarras e nonsense, com destaque para "Dona Nenê", "Autonomia" e a própria faixa-título;
- Õ Blésq Blom, a segunda obra-prima, com o passar dos anos se tornou meu predileto devido às suas letras metalingüísticas e seus arranjos experimentais, flertando com música regional ("Introdução" e "Vinheta Final por Mauro e Quitéria"), rap ("O Camelo e o Dromedário") country rock ("32 Dentes"), funk ("Miséria"), eletrônica ("Deus e o Diabo") etc.
A banda decepcionou em seus discos de estúdio da década passada (A melhor banda de todos os tempos da última semana, Como estão vocês? e Sacos Plásticos), logo não senti vontade de tê-los. Em 2011, comprei no Sebinho de Brasília um dos CDs que ainda não tinha: Tudo ao mesmo tempo agora. No início deste ano finalmente adquiri o lendário Titanomaquia.
Curiosamente, só fui assistir a um show dos Titãs aos 18 anos de idade, em 2008, quando já estava morando em Brasília. Aliás, foi uma apresentação em dose dupla, pois eles estavam fazendo uma turnê junto com os Paralamas do Sucesso. Voltei a vê-los ao vivo em 2012, no Rio de Janeiro; o primeiro dos shows foi na mini-turnê Cabeça Dinossauro, e o segundo foi a comemorativa de 30 anos da banda, contando como convidados especiais os ex-titânicos Arnaldo Antunes e Charles Gavin.
2014 foi o ano do retorno à boa forma do ex-octeto que atualmente é quarteto: Nheengatu surpreendeu a todos ao resgatar a sonoridade agressiva que marcou álbuns como Titanomaquia e Tudo ao mesmo tempo agora e o tom politizado de Cabeça Dinossauro e Jesus não tem dentes no país dos banguelas. Fiz uma resenha do disco; leiam aqui.
P.S.: O último post do meu defunto blog Sofisma Burlesco foi uma análise da discografia titânica.




Minha história com Bon Jovi é menos detalhada, mas nem por isso menos marcante. Em 1995 ouvi - e amei à primeira audição - "Always". No ano seguinte, em meados de Junho, fui com meu pai nas Lojas Americanas na esperança de encontrar "o CD da capa legal" (leia-se: These Days), mas só achei a coletânea Cross Road. Meio frustrado, resolvi levá-lo mesmo assim, afinal entre suas faixas havia "Always". Ouvindo-o no carro, mudei de opinião quando fui logo de cara bombardeado por dois clássicos: "Livin' on a Prayer" e "Keep the Faith". Meu pai gostava de "You give love a bad name", e passei a gostar também. No dia seguinte, um sábado de manhã, descobri entre suas faixas aquela que é até hoje uma das minhas prediletas: "Lay your hands on me", um legítimo arena rock. 
Dias depois, na minha festa de aniversário de 6 anos (na qual, aliás, ganhei uma guitarra de minha mãe - sim, já novinho eu era bem roqueiro!), meu padrinho me presenteou com o These Days. Que disco fantástico! É provavelmente o melhor do Bon Jovi, com destaques para "Hey God", "Something for the pain", "This ain't a love song" e a faixa-título. Na viagem que minha família fez em Julho daquele ano para Cabo Frio (RJ) e depois Guarapari (ES), meus pais já não deviam mais aguentar Bon Jovi de tanto que eu colocava este CD para tocar, hehe.
Anos depois, estava assistindo a um programa de clipes com meu amigo Gino e vimos o novo single da banda, "It's my life". Caramba,  após quase cinco anos de hiato o Bon Jovi estava de volta com uma música jovial, moderninha e perfeita para capturar novos fãs (aliás, o Gino foi um deles)! Infelizmente os discos seguintes não repetiram este alto nível; cada vez mais cresceu em mim a convicção de que Bon Jovi alcançou seu ápice na primeira metade dos anos 90 (com os discos Keep the Faith e These Days e os singles "Always" e "Someday I'll be on Saturday night"), manteve o fôlego em Crush e depois disso fizeram apenas uma ou outra boa canção ("Everyday", "Have a nice day", "Lost Highway").
De toda forma, Cross Road e These Days continuam a ser CDs que ainda ouço bastante. Até os "recomprei" (a propósito, o TD eu adquiri no Rio, ano passado), pois os discos que eu tinha estavam bastante arranhados.

Sou bastante nostálgico, principalmente em música. Meu gosto musical continua a respeitar seus quatro principais pilares: os pioneiros - Titãs e Bon Jovi (1996); a primeira banda cujas letras mereciam ser lidas e refletidas - Legião Urbana (2000); a maior banda de todos os tempos, cuja discografia é por si só uma enciclopédia do rock - Beatles (2003); e, por fim, a tríade que me iniciou no rock alternativo - Pixies, Smiths e Joy Division (2005).

13 julho 2014

E venceu a melhor


Ao contrário de 1954 e 1974, em que derrotou as seleções de futebol mais encantador, em 2014 a Alemanha conseguiu conciliar sua tradicional eficiência com o inovador futebol-arte e de organização tática trazido por Joachim Löw (desde seus tempos de assistente de Klinsmann, quando ele já era o cérebro da seleção alemã) e seu time de craques: o raçudo Schweinsteiger, os artilheiros Klose e Schürrle, o ótimo meia-atacante Müller, o goleiro-líbero Neuer, o capitão Lahm, o autor do gol do título, Mario Götze (foto), entre outros.
Desde 2005 a Alemanha demonstra uma evolução constante. Naquela Copa das Confederações e na Copa do Mundo de 2006, esbanjou ofensividade, e conseguiu o 3º lugar em ambas; na Euro 2008 cresceu ao longo da competição e chegou à final, perdida para uma ascendente Espanha; no Mundial de 2010, goleou Inglaterra e Argentina, mas novamente caiu diante da seleção espanhola, desta vez nas semifinais; na última Euro, passou invicta por um grupo da morte com Holanda, Dinamarca e Portugal, porém foi batida pelos gols do italiano Balotelli na semi.
Na Copa de 2014, os Nationaelf tiveram mais dificuldades para superar as africanas Gana (2x2) e Argélia (2x1, na prorrogação) do que para bater as européias Portugal (4x0) e França (1x0). Löw superou seu mestre Klinsmann na partida contra os EUA (1x0). A semifinal contra o Brasil (7x1) foi espetacular, embora o time só tenha precisado de 30 minutos para "demolir" seu adversário. Hoje, contra a Argentina, a seleção alemã encontrou uma adversária poderosa, que fez sua melhor exibição na Copa, após várias partidas em que venceu mas pouco encantou. Os argentinos perderam pelo menos três claras chances de gol (uma com Higuaín no 1º tempo, outra com Messi no 2º e a última com Palacio, já no tempo extra); o castigo tardou, mas não falhou: aos 8 minutos do 2º tempo da prorrogação, Götze, após lançamento certeiro de Schürrle, fez um golaço.
Este Mundial terminou com 171 gols, justamente o mesmo número da Copa de 1998, que foi ao lado desta a melhor dos últimos 40 anos. Na galeria das grandes edições do torneio, arrisco-me a dizer que ambas compõem um top 5 com 1954, 1958 e 1970. O Brasil pode ter decepcionado, mas outras seleções garantiram o alto nível desta Copa: além das finalistas, cabe citar Holanda, Colômbia, Bélgica, França, Costa Rica, Chile, México e Estados Unidos.
Que venha Rússia-2018!

10 julho 2014

Alemanha x Argentina, pela 7ª vez em Copas


A final da Copa do Mundo será entre Alemanha e Argentina, um dos maiores clássicos do futebol mundial. Já se enfrentaram em seis Copas, com quatro triunfos dos alemães (1958, 1990 [final], 2006 e 2010), um empate (1966) e uma vitória argentina (1986 [final]).
Em uma Copa repleta de "plot twists", eis que o Brasil está fora da final, na qual estará sua maior rival regional. Um enredo digno de tragédia grega - ou de comédia de humor negro, rs.
Eis o que tenho a dizer sobre os finalistas:
Alemanha: após uma vitória espetacular sobre o Brasil, os germânicos chegam à final com muita moral para conseguirem o título que essa geração de Lahm, Müller, Schweinsteiger e cia. tanto merece. O jogo de ontem mostrou da forma mais clara possível o contraste entre a organização e eficiência da seleção alemã e o despreparo (tático, técnico e emocional) da seleção brasileira. Após quase ter sido eliminada pelo Chile e se redimido contra a Colômbia, a equipe do Brasil foi "castigada" pelas falhas de posicionamento, pela falta de treinos táticos (a preparação para os jogos dessa Copa foi tão escassa quanto em Weggis-2006) e pelas más atuações da maior parte do elenco. A Alemanha ainda foi piedosa e diminuiu o ritmo depois do 5x0 aos 29 minutos do 1º tempo, mas bastou Schürrle entrar para aumentar a goleada. O 4-2-3-1 alemão, com notável preenchimento do meio-campo, continua sendo o melhor uso dessa formação tática, ao contrário da versão "kitsch" adotada pelo Brasil (que, neste setor do campo, apresentou muitos buracos). Enfim, após o "jogo-treino" de ontem, os alemães precisam manter a frieza e a altivez para, quem sabe, persistirem em sua reputação recente de "carrascos" da Argentina (4x2 nos pênaltis em 2006 e 4x0 no tempo normal na Copa passada).
Argentina: chegou à final com um desempenho pouco vistoso - todas as vitórias foram por um gol de diferença e só venceram a Holanda nos pênaltis após uma partida morna, com poucas chances de gol. Porém, esta semifinal mostrou um outro lado da Albiceleste: os problemas no setor defensivo - tão alarmantes, p.ex., no jogo contra a Nigéria - parecem ter sido resolvidos. A despeito do ofensivo esquema 4-3-3, a equipe não ofereceu espaços para a Holanda (e nem para a Bélgica, nas quartas de final). Mascherano parou Robben e Romero foi um goleiro confiável no tempo normal e heróico nos pênaltis. Lionel Messi terá a grande chance de conseguir aquilo que falta para ser considerado um craque à altura de Pelé: vencer uma Copa do Mundo. Seu desempenho nesse Mundial vem sendo irregular, mas na final ele pode desencantar. Sem Di María, seu jogador mais criativo, a Argentina terá que contar com essas duas armas - a defesa e Messi - para superar a Alemanha e conquistar um feito de enorme valor simbólico: um tricampeonato em pleno Maracanã.

P.S. - Holanda: Van Gaal fez péssimas substituições (preferiu colocar volantes ao invés do meia-atacante Depay e deixou o goleiro Krul de fora da decisão de pênaltis), a equipe holandesa jogou mal no tempo normal e prorrogação e houve a decisão equivocada de deixar o Vlaar bater pênalti. Pelo visto a Holanda precisa mesmo se reinventar; nem o estilo mais pragmático e menos futebol-arte que adotaram nesta Copa e na de 2010 (com o técnico van Marwijk) foi o bastante para que eles parassem de "morrer na praia".
P.S. 2 - Brasil: Leiam este texto do ImpedimentoEnfim, seriedade à parte, acho que daqui a alguns dias todos estaremos rindo do que aconteceu anteontem; afinal, nada mais coerente com a "Copa da zoeira" do que esse 7x1, rs. Nem esse fiasco me tira da convicção de que esta vem sendo uma das melhores Copas de todos os tempos.
P.S. 3 - "Copa das Copas?": O nível técnico desta edição é altíssimo; das que vi desde criança, a única tão boa quanto esta foi a de 1998 (em que, além da França, outras 5 ou 6 seleções tinham futebol para serem campeãs). Das mais antigas que já vi pelos vídeos oficiais ou pelo YouTube, diria que as únicas tão emocionantes quanto esta foram as de 1954, 1958 e 1970.  A 1ª fase da Copa de 2014 foi espetacular, tanto pelas zebras (Espanha 1x5 Holanda, Itália 0x1 Costa Rica...) quanto pelas partidas cheias de gols e viradas. As oitavas de final foram marcadas por boas prorrogações. As quartas de final tiveram partidas com menos gols, porém foram mais técnicas e táticas. A goleada da Alemanha entrou para a história; a classificação da Argentina para a final foi uma reviravolta cruel para os ufanistas; e, ainda teremos dois jogos que podem ser incríveis.

06 julho 2014

Os semifinalistas

As quartas de final foram menos eletrizantes do que as oitavas, mas houve dois bons jogos (Brasil 2x1 Colômbia e, principalmente, Holanda 0x0 [4x3] Costa Rica) que mantiveram o alto nível dessa Copa do Mundo. E os quatro semifinalistas são:
- Brasil: a seleção se redimiu da má impressão do confronto contra o Chile e jogou bem contra a Colômbia, principalmente no 1º tempo. Destaque para a dupla de zaga Thiago Silva e David Luiz, tanto pela segurança que forneceram à nossa defesa quanto pelos gols (aliás, o de David Luiz foi uma belíssima cobrança de falta). Infelizmente o Brasil terá dois desfalques para o próximo jogo: o capitão Thiago Silva levou o 2º amarelo e está suspenso, devendo ser substituído por Dante; Neymar fraturou um osso da vértebra e está fora da Copa, encerrando prematuramente um Mundial que poderia consagrá-lo como melhor jogador do mundo. Só resta esperar que Dante entre bem (o fato de jogar no alemão Bayern de Munique ajuda) e que a ausência de Neymar cause um "efeito 1962" - Copa em que Pelé se machucou e foi substituído à altura por Amarildo - para levantar a seleção na semifinal. 
- Alemanha: Löw colocou Lahm na lateral, arrumou o posicionamento da defesa e colheu os frutos. A seleção alemã, após fazer um gol logo no início, segurou a França, mas de um jeito que eu gosto - ao invés de retrancar, ela controlou a posse de bola e continuou buscando o 2º gol (e quase o fez várias vezes). Anulada taticamente, a equipe francesa ainda foi prejudicada pela lentidão do técnico Deschamps, que só resolveu fazer substituições faltando 20 minutos para o fim do jogo. A eficiente Nationalelf tem grandes chances de vencer o Brasil - e grandes motivações, afinal deseja uma revanche da final de 2002 e não quer amargurar a 3ª derrota consecutiva em semifinais.
- Argentina: o jogo contra a Bélgica foi morno, e em parte a culpa foi do prematuro gol (aliás, belo gol) de Higuaín. Num autêntico "estilo Libertadores", a Argentina requentou a partida, adotando uma postura mais defensiva. Os belgas não conseguiram desenvolver seu estilo de jogo, e criaram poucas chances de empatar; os argentinos chegaram mais perto do gol com Higuaín (travessão) e Messi (defesa de Courtois). Porém, há um segundo motivo para a queda de qualidade do jogo: a contusão de Di María logo no 1º tempo. Eis outro grande jogador que ficará ausente no restante da Copa. O técnico Sabella acertou hoje com seu 4-4-2 ao invés do 4-3-3, mas precisará pensar numa boa maneira de substituir Di María contra a...
- Holanda: protagonizou o melhor jogo das quartas contra a surpreendente Costa Rica. Tentou o gol de diversas maneiras, mas esbarrou no goleiro Navas, na trave e, principalmente, no impedimento: foram 13! Se não ficassem tanto na "banheira", talvez os holandeses tivessem decidido o jogo no tempo regulamentar. Os costa-riquenhos atacaram pouco e se defenderam bem (não por acaso, terminaram sua participação com apenas 5 gols marcados e 2 sofridos), e foi preciso um lance de mestre para que o técnico Van Gaal levasse os Oranjes à vitória, já nos pênaltis. No último minuto, entrou o goleiro reserva Tim Krul (foto), que acertou o lado das cinco penalidades cobradas pela Costa Rica e pegou duas delas. Foi uma tática de futsal aplicada ao futebol de campo; genial! Também gostei da formação adotada hoje (3-4-3) e dos sempre assustadores contra-ataques da seleção holandesa. O jogo contra a Argentina promete ser incrível, tal como foram os confrontos anteriores entre ambas (Holanda 4x0 em 1974, Argentina 3x1 em 78 e Holanda 2x1 em 98).


02 julho 2014

Analisando as seleções classificadas para as quartas de final

Após uma incrível etapa de oitavas-de-final (com direito a 5 prorrogações e 2 decisões de pênalti!), farei uma análise das oito seleções classificadas para as quartas-de-final da Copa do Mundo:
- Brasil: passou um sufoco tremendo para superar o Chile; jogou mal durante a maior parte do jogo, principalmente no 2º tempo regulamentar. Em um dia de má atuações de Neymar, Oscar e cia. (a exceção foi Hulk, talvez para compensar o seu erro no gol chileno), Júlio César incorporou o espírito de Marcos e Taffarel e salvou o dia: ele foi incrível na decisão de pênaltis, quando pegou dois e "defendeu com os olhos" um que foi parar na trave. Para além da má atuação brasileira, não se pode minimizar os méritos do Chile, que mostrou notável disciplina tática e anulou o meio-campo e o ataque brasileiros durante boa parte da partida. Espero que o susto das oitavas permita ao Brasil crescer na competição e mostrar uma boa atuação em seu duelo com a...
- Colômbia: por enquanto, é a seleção mais consistente e de futebol mais bonito. Passou fácil pelo Uruguai, e tem em Cuadrado e James Rodriguez seus destaques individuais. O técnico Pekerman aprendeu com seus erros comandando a Argentina em 2006 e vai lutar para, desta vez, conseguir avançar às semifinais. Cabe lembrar que, há dois anos, ainda sob o comando de Mano Menezes, o Brasil empatou em 1x1 com a Colômbia em um amistoso.
- França: teve mais trabalho que o esperado para vencer a Nigéria, pois a seleção africana foi bastante ofensiva (principalmente no 1º tempo) e também porque o ataque francês esbarrou várias vezes em Enyeama. Porém, o goleiro nigeriano foi de herói a vilão, já que o 1º gol francês surgiu de uma saída dele à la "caça de borboletas". Os franceses estão crescendo na competição e farão um jogo sem favoritos contra a...
- Alemanha: mais uma seleção campeão que passou apuros nas oitavas. A Argélia atuou com muita garra e proporcionou um dos melhores jogos da Copa. O goleiro M'Bolhi fez inúmeras defesas, e só na prorrogação os alemães conseguiram marcar seus gols. Deixar Neuer de líbero (foto) pode não ser uma boa idéia contra os contra-ataques que chegam a Benzema, então acho que Löw precisa fazer umas correções táticas; p.ex., deixar Lahm de lateral ao invés de volante.


- Holanda: após sua 3ª virada em 4 jogos, os holandeses provaram que são mesmo o Vasco da Europa: tanto por serem "o time da virada" (essa contra o México foi digna de um Palmeiras 3x4 Vasco) quanto pela "síndrome do vice-campeonato" (aliás, minha atual candidata a vice, independentemente de quem será o campeão, é a Holanda, rs). Mais uma vez a seleção comandada por Van Gaal precisou levar um gol para acordar no jogo, mas continua tendo problemas para propor, ditar o ritmo da partida quando está 0x0. Mesmo assim, deve vencer a...
- Costa Rica: após uma ótima 1ª fase, os costa-riquenhos parecem ter chegado ao seu limite no extenuante duelo contra a Grécia. Acho que o gol de empate que levaram no finalzinho foi o preço a se pagar por terem achado que 1x0 era o bastante; aliás, o México foi até mais castigado ainda por essa atitude. Precisam recuperar aquela atuação veloz contra o Uruguai para terem alguma chance contra Holanda e se tornarem a "semifinalista zebra" (à la Bulgária, Croácia e Turquia) desta Copa.
- Argentina: eu já esperava que o jogo dela contra a Suíça seria duro; a sorte dos argentinos é que seus adversários se contentaram com uma tática defensiva (e um goleiro sólido como Benaglio), pois a defesa da Albiceleste dificilmente resistiria a bons contra-ataques. Messi mais uma vez resolveu a partida em uma única jogada, desta vez passando a bola para Di María, que fez sua melhor partida na Copa até agora. A Argentina agora vai buscar sua 1ª semifinal em 24 anos diante da...
- Bélgica: outra seleção que não chega entre as quatro primeiras há muito tempo (desde a Copa de 86). Marc Wilmots provavelmente tem o melhor banco de reservas dentre as 8 classificadas, pois a Bélgica testou vários jogadores em suas 4 vitórias e eles foram decisivos em partidas diferentes. Desta vez o herói foi Lukaku, que finalmente desencantou nessa Copa. O goleiro Tim Howard deve ter feito umas vinte defesas, sinal de que os belgas foram ofensivos e tomaram a iniciativa durante toda a partida (exceto no 2º tempo da prorrogação, quando os americanos diminuíram para 2x1 e buscaram bravamente a virada, mesmo estando fisicamente esgotados - aliás, menção honrosa para a seleção dos EUA; Klinsmann foi um dos melhores técnicos dessa Copa). Argentina x Bélgica será um jogo interessante, pois ambas seleções gostam de controlar a posse de bola e atacar.