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30 dezembro 2007

I really got me

Pronto! Agora estou com a consciência tranquila: li 57 livros em 2007. Foram dezessete no primeiro semestre e quarenta no segundo. Foi meu recorde, e estou cético quanto à possibilidade de superá-lo em 2008; aliás, nem tenho tal pretensão. O que me alivia após toda essa overdose literária (a qual, desta vez, foi desacompanhada de eventuais ressacas, ao contrário dos anos anteriores) é que não foi só quantidade, mas também qualidade. Não por acaso, até o meu referencial mais banal para isso - a minha lista de livros prediletos no orkut, rs - mudou bastante no decorrer desse ano. Além disso, concluí vários livros que havia comprado no ano passado e, principalmente, em 2005. Dos duzentos e cinqüenta livros que tenho em casa (contei também os didáticos, mas qualquer dia desses farei uma soma limitando-me aos, hã, não-didáticos), já devo ter lido cerca de 50% deles nos últimos anos.
É importante observar, no entanto, que há muita coisa que deixei para ler em 2008; já tenho uma pilha de obras aguardando pela sua leitura, e falo de textos do calibre de "A Montanha Mágica" (Thomas Mann), "O Senhor dos Anéis" (Tolkien), "Laços de Sangue" (Michael Cunningham), "Crítica da Razão Pura" (Kant), "Anna Karênina" (Tolstói), "As Benevolentes" (Jonathan Litell), "Laranja Mecânica" (Anthony Burgess), "A Riqueza das Nações" (Adam Smith), "Fahrenheit 451" (Dan Bradbury), "As Portas da Percepção" (Huxley) etc. Ah, e ainda tem aqueles três volumes repletos de clássicos da sociologia brasileira: "Intérpretes do Brasil". Ou seja, opções não me faltam.
Terminei na tarde de ontem "A Sabedoria da Vida", de Arthur Schopenhauer. Não vou me estender muito no comentário, mas posso dizer o seguinte
1. É certamente um dos textos menos pessimistas de Schopenhauer. A própria temática explicitada no subtítulo ("A arte de organizar a vida e ter prazer e sucesso") já demonstra que o forte negativismo de outras obras do filósofo (por exemplo, "Do Sofrimento do Mundo" e "Metafísica da Morte") passa longe. Mesmo assim...
2. ... algumas características do autor continuam presentes. Comecemos pelos prós: o tom assaz irônico, os deboches em relação à cultura alemã do século XIX (obviamente, ele acha um ou outro pretexto para espinafrar Hegel, hehe), a linguagem clara e direta, a exposição bem sensata de suas idéias, a valorização da personalidade e da individualidade etc.
3. Por outro lado, alguns pontos fracos não se ausentaram. Um deles é até perdoável: Schopenhauer, na minha opinião, gastou tempo demais da obra falando sobre a honra cavalheiresca. Tudo bem que a intenção era boa (obviamente, uma crítica ácida à mesma), mas ele poderia ter sido mais conciso. O outro contra já é um pouco mais irritante: a profunda misoginia do filósofo. Se ele se limitasse a um machismo moderado, tudo bem; o problema é que ele discorre sobre as fêmeas com muito desprezo e até mesmo ingenuidade. É como se ele resolvesse abandonar a razão por algumas linhas e parágrafos para expressar o seu ódio pelas mulheres, sempre as inferiorizando. É uma pena, embora possa ser até compreensível: misantrópico e rabugento do jeito que era, é provável que Arthur Schopenhauer tenha experimentado algum desencanto, frustração amorosa e/ou sexual que o tenha levado a tal comportamento. É claro que há uma certa vantagem nisso, pois a defesa que ele faz da solidão é até convincente; é como se ele fosse, até certo ponto, como um Morrissey para a filosofia do século retrasado.

A propósito, qualquer dia desses eu faço uma lista com todos os livros que eu li nos últimos 12 meses. Não será uma missão tão complicada, visto que eu citei a maioria deles em posts feitos aqui no blog no decorrer do ano, rs.

Para encerrar a postagem de hoje, faço um pedido: que o The Sims 2 pare de dar problemas e 'aceite' ser instalado no meu notebook! Agora que eu vou ficar 20 dias sem ler, preciso dos games para os momentos de ócio! Já me cansei de Ragnarök, e duvido que o SimCity 4 conseguirá me distrair o bastante.

28 dezembro 2007

O ano que (ainda) não acabou

Há quem acredite já ter o direito de comemorar a chegada de 2008 sem sequer ter realmente finalizado 2007. Sabendo disso, evitarei cometer tal erro; só começarei meu "próspero Ano Novo" em Fevereiro, quando sairá o resultado do vestibular da UnB. Admito, portanto, que há certas pendências surgidas nesse ano que precisarão ser resolvidas para dar o assunto por encerrado.
Foi justamente com tal intuito que fiz aquela, digamos, metáfora do XVII Congresso de Planejamento Burocrático. Era imprescindível que eu organizasse a minha mente para (tentar) manter a lucidez e a sanidade durante as próximas semanas. Se eu quiser executar a transição para a pós-adolescência da maneira mais adequada, é inegável que ser aprovado no exame de ingresso na UnB viria bem a calhar, hehe. Ok, sendo mais dramático: quero ir logo para Brasília!
Há tanta coisa a se dizer neste post - afinal, já se passaram 10 dias desde o último - que nem sei por onde começar. Vejamos se eu conseguirei me expressar bem...

Cumpri em parte a promessa que fiz no texto passado. Sim, de fato "A Sabedoria da Vida" (Schopenhauer) será o último livro que concluirei em 2007. Por outro lado, não será o 56º, mas sim o 57º desse ano. A propósito, a culpa é justamente daquele que seria o penúltimo. O livro de Freud que eu estava a ler, além de ensaios como "Mal-Estar na Civilização" continha um texto curto (20 páginas), intitulado "Dostoiévski e o Parricídio". Nem preciso dizer o quanto eu gostei dele, certo? Fiquei tão empolgado com a análise freudiana da psiquê dostoievskiana (poxa, ele falou de tudo, desde a obsessão por jogos de azar até a questão da figura do pai) que me senti obrigado a ler mais um livro do escritor russo antes do ano acabar.
Por sorte, lembrei-me de um pocket book da Martin Claret que eu comprara em 2005. Ele continha algumas obras de Dostoiévski, sendo que eu só havia lido um deles, "Noites Brancas". Faltavam outros três para dar a leitura por encerrada, e o mais importante era "Notas do Subterrâneo". Valeu a pena: foi um dos textos dostoievskianos que eu mais adorei até hoje. Aliás, pode-se considerá-lo como o marco inicial do Existencialismo na literatura, fazendo de Dostoiévski um pioneiro nas idéias existencialistas nos romances, da mesma maneira que Kierkegaard foi um para a filosofia.
"Notas do Subterrâneo" possui duas partes. A primeira ("O Subsolo") é um monólogo, em que o narrador-personagem expõe suas considerações sobre a Modernidade que simbolizou o século XIX. Prdominam as críticas contundentes ao racionalismo, o cientificismo, à pobreza de espírito de seus contemporâneos etc., assim como há uma profunda auto-crítica do narrador, que se considera um "homem doente". A sua repulsa por si mesmo chega a ser comovente.
Já a segunda parte, "A Propósito da Neve Fundida", é a narrativa em si. São relatadas três histórias que, de acordo com o anônimo protagonista, simbolizariam seu desprezo por si mesmo e pela humanidade. Uma é sobre um prepotente oficial que lhe dera um empurrão em um bar, com a maior indiferença; a segunda discorre sobre uma constrangedora noite em que ele jantou com quatro ex-colegas de escola; e a última, que se inicia na mesma noite, é sobre os encontros dele com Lisa, uma prostituta. A impressão que fica é que "A Propósito da Neve Fundida" melhora a cada página, expondo toda a tensão e a angústia que devoram a mente do narrador-personagem. Sua dor existencial é justificada constantemente, a ponto de ele dar a impressão de que escolheu ser um homem de sofrimento elevado ao invés de limitar-se a ser uma criatura ordinária e de felicidade vulgar. O leitor envolve-se completamente com a narrativa, tentando inclusive compreender o que levou alguém a ter uma existência tão amarga. Fazendo uma comparação com "A Náusea" (Sartre), Antoine Roquentin não é tão bem construído, interessante e complexo quanto este subterrâneo personagem dostoievskiano. Definitivamente, eis um homem doente.

Comecei a ler ontem à noite o já mencionado livro de Schopenhauer. Deverei comentá-lo no próximo post.

Ainda sobre livros, falarei sobre o que ganhei/adquiri no D.M. Cap. (Dia Mundial do Capitalismo, ou Natal para os cristãos). Foram dois os que comprei para mim mesmo: "Laranja Mecânica" (Anthony Burgess) e "Fahrenheit 451" (Dan Bradbury). Não estaria mentindo se dissesse que estava procurando por eles há quase dois anos. Felizmente, a caçada teve um desfecho. O terceiro foi um presente de amigo secreto, dado por minha avó: "As Portas da Percepção", de Aldous Huxley. Ela disse que foi em pelo menos uns dez sebos no centro da cidade até encontrá-lo. Caramba...
O último presente foi outro que eu gostaria de ganhar há tempos (para ser mais exato, desde 2000): um notebook. Estou adorando o fato de ter um computador só para mim; até instalei Ragnarök Online só pra ter mais alguma coisa para fazer nele, além, é claro, de ouvir música e navegar. O notebook será muito útil tanto para o meu lazer quanto para os trabalhos e pesquisas que deverei fazer na universidade.

E então, substituir os livros pelo computador como forma de usar o tempo livre durante estas três semanas que antecederão o vestibular da UnB soa bizarro, não? Vejo, no entanto, que tirar férias forçadas da literatura disponibilizaria mais dedicação de minha mente para os estudos. A internet, pelo contrário, possui um caráter de entretenimento, e os horários que dedico a ela são bem mais flexíveis e prescindíveis. Ou seja, creio que tal tática poderia me permitir uma ênfase no, digamos, concurso público que prestarei para Ciência Política no mês que vem.
Algo, no entanto, é certo: não tenho mais o direito de minimizar a importância de tal prova. Até me dei ao luxo de passar vários meses despreocupado, mas, depois do exame do PAS, toda a ansiedade que não havia se manifestado até agora resolveu se revelar. Espero que combinar a busca interna pelo equilíbrio com a maratona de exercícios que meu colégio está a fornecer seja algo proveitoso.

Devo ter esquecido de falar de uma ou outra coisa, mas acho que ainda farei mais algum post até o fim do ano. Até mais!

18 dezembro 2007

XVII Congresso de Planejamento Burocrático

É incrível: estou tendo mais facilidade para organizar detalhes sobre "Megalomania Psíquica" do que realmente escrever o livro. Por exemplo, já decidi que ele terá cerca de 250 páginas, divididas em dezessete capítulos. Além disso, já fiz um resumo sobre o que ocorrerá no primeiro capítulo e os sentidos extraídos disso. Até mesmo já delimitei a (des)ordem cronológica e a quantidade de aparições de certos personagens. Até já posso me dar ao luxo de criar os coadjuvantes. Só falta elaborar a obra em si, até porque há três semanas que não escrevo algum trecho significante. Tal situação, no entanto, pode vir a mudar.
A razão para tal... revisão de diretrizes é bem simples: resolvi parar as máquinas. Limitarei em 56 o número de livros que lerei em 2007. Ontem à noite, concluí o 54º, "Cultura e Psicanálise" (Herbert Marcuse), e já comecei hoje a ler um do Freud que contém três ensaios bem interessantes: "O Futuro de uma Ilusão", "O Mal-Estar na Civilização" e "Dostoiévski e o Parricídio". Assim que encerrá-lo, minha derradeira leitura para este ano será "A Sabedoria da Vida", de Schopenhauer. Depois, disso, só me dou o direito de voltar a ler no dia 21 de Janeiro. Tradução: depois do vestibular da UnB, rs. Não quero ser obrigado a recorrer ao plano B: fazer três ou quatro meses de Relações Internacionais na UCG (mesmo assim, só se eu conseguir uma boa classificação e, conseqüentemente, desconto na mensalidade), esperando pela prova de Junho/08 da UnB. Preciso passar já em Janeiro, e uma das razões para isso já foi repetida por mim aqui em RS zilhões de vezes: eu não vejo motivos para comemorar se eu passar no vestibular. Não é mais do que uma obrigação, e ponto. Se eu falhar, certamente ficarei decepcionado, justamente porque não correspondi às expectativas que criei para mim.
Enfim, desviei completamente do assunto ao qual me propunha. O fato é que preciso urgentemente ficar quatro semanas sem ler nada, assim como terei que diminuir a TV e o PC. Se vai dar certo ou não, não sei ao certo. Torço para que ao menos este ponto do XVII Congresso de Planejamento Burocrático seja bem-sucedido.

Dir-se-ia que eu buscaria outras maneiras de ocupar o tempo em que não estivesse em aula ou resolvendo exercícios. É verdade, e a solução que encontrei - em uma divagação feita na manhã de hoje, aliás - foi a seguinte: papel e caneta. Ou seja, aproveitar para escrever o livro quando estiver à toa e/ou entediado. Pelo menos eu estarei promovendo a cultura ao invés de simplesmente adquiri-la, hehe.

Ah, retomemos outro assunto do qual eu acabei me dispersando: comentários sobre "Cultura e Psicanálise" e "O Futuro de uma Ilusão".
Pois bem, aquele é composto por três ensaios, que melhoram em ordem crescente. O primeiro, "Sobre o caráter afirmativo da cultura", é muito técnico, talvez porque Marcuse ainda não tinha plenamente desenvolvido seu estilo argumentativo em 1937/38. Mesmo assim, é até bom, destacando-se nele a intertextualidade e a feroz crítica à limitação da plena liberdade, tanto individual quanto coletiva. Já "Comentários para uma redefinição da cultura" é bem melhor, e trabalha com os conceitos de civilização e cultura de maneira satisfatória. O terceiro, "A noção de progresso à luz da psicanálise", é o meu predileto. O fato de ter sido extraído de uma palestra permitiu-lhe ter uma linguagem bem agradável, mas o tema em si já facilita isso. Marcuse conseguiu associar as questões socioeconômicas com as teorias freudianas de maneira tão eficaz que eu até fiquei com vontade de voltar a ler Freud.
Pois bem, foi justamente isso o que ocorreu. Acordei disposto a ler alguns textos do psicanalista austríaco, e não me decepcionei. O primeiro dos ensaios, "O Futuro de uma Ilusão", é contundente ao criticar certas idéias às quais a sociedade se apegou durante o processo civilizatório, sendo que elas só corroboraram com a repressão dos instintos e a sublimação dos mesmos. O foco de Freud foi a religião, e eu gostei da maneira como ele abordou o tema, sempre abusando da ironia. Para quem já possui um posicionamento mais, digamos, livre e independente de culto a deuses (vide agnosticismo, ateísmo, humanismo etc.), o autor não fala nada de surpreendente, mas isso não torna a sua argumentação menos destacável. Não sei exatamente o que um religioso pensaria de "O Futuro de uma Ilusão"; o crítico literário Harold Bloom, por exemplo, afirmou em "Onde Encontrar a Sabedoria?" que não achou interessantes e convincentes a retórica freudiana em tal ensaio. Lembrem-se, no entanto, que Bloom é um ardoroso defensor dos valores da cultura 'judaico-cristã-ocidental-burguesa', hehe.
Mesmo assim, minhas expectativas quanto a esse livro de Sigmund Freud estão mais centradas nos dois outros textos. Aliás, já li "Mal-Estar na Civilização" no ano passado, mas como foi uma leitura limitada (e fragmentada) pelas reuniões semanais do Café Filosófico, acho que ainda preciso tirar conclusões próprias a respeito da obra.

Pois bem, acho que vou encerrar por aqui. O XVII Congresso ainda não acabou. Enquanto eu não encerrar todas as minhas pendências e terminar de traçar meus planos para os próximos dias e semanas, continuarei inquieto.

16 dezembro 2007

Zero! Rouge! Noir!

Foi mais rápido do que eu esperava. Entre a madrugada e a manhã de ontem, consegui ler as setenta páginas que me faltavam para acabar "O Jogador", de Fiódor Dostoiévski. Adorei o livro, que é extremamente cativante, e une com perfeição três elementos comuns nos romances dostoievskianos: bom humor, uma trama cheia de reviravoltas empolgantes e personagens interessantíssimos.
Alexei Ivanovitch, como eu já dissera no post passado, é bem parecido com o próprio autor do livro. Ambos compartilham o vício pelos jogos de azar, a personalidade excêntrica, relacionamentos inconstantes com mulheres geniosas e o desprezo em relação às convenções morais. São autênticos russos, à semelhança do Dmitri Fiodorovitch de "Os Irmãos Karamazov".
Falando nisso, Dostoiévski, de tantos elogios para a Rússia e deboches para a Europa Ocidental, beira ao chauvinismo. Não que isso seja ruim; pelo contrário, ele é um dos escritores da literatura mundial que mais profundamente simbolizou a sua terra natal. Não sei quanto a vocês, mas eu não consigo imaginar a cultura russa sem ter como referência os tipos psicológicos criados por Dostoiévski.
Os 'gringos' do livro não poderiam ser mais caricatos: Mr. Astley, o inglês sempre impecável e polido; Mme. Blanche, uma oportunista que vive a se aproveitar de homens ricos e de status (já ouviram falar em "bonequinha de luxo", mas no mau sentido?); e Des Grieux é um francês dos mais picaretas possíveis.
Notei também que Polina Suslova, a paixão de Alexei, é bem parecida com outras personagens clássicas dos livros de Dostoiévski, principalmente Catierina Ivanovna, outra que figura em "Os Irmãos Karamazov". Tal fato não é coincidência: ambas foram inspiradas na mesma pessoa, uma garota de personalidade forte que tratava o escritor como um "escravo", visto que foi completamente dominado e seduzido por ela. O relacionamento de Fiódor com a Polina da vida real foi bem instável, ocorrendo exatamente na época em que ele estava completamente viciado em jogos de azar e devendo para inúmeros credores. A década de 1860 foi uma das mais agitadas na vida de Dostoiévski, e sua criatividade aproveitou-se bastante desse tumulto: em três anos seguidos, ele publicou "Crime e Castigo" (1866), "O Jogador" (1867) e "O Idiota" (1868), que certamente figuram entre as suas melhores empreitadas literárias.
Alexei é um homem com nada a perder. Sua impulsividade o leva a cometer as mais diversas excentricidades, desde ridicularizar um duque e uma duquesa germânicos em praça pública até gastar mais de 100 mil francos em Paris em apenas três semanas, com a "ajuda" de Blanche. Suas derrotas no jogo não parecem lhe abalar; a esperança de enriquecer em questão de minutos é o seu combustível. Além disso, ele é bastante auto-indulgente, sempre encontrando justificativas para os seus atos e argumentações para provar que nunca está errado. Uma discussão entre ele e Des Grieux no capítulo VII é um dos bons exemplos disso.
Não poderia terminar essa análise sem novamente ressaltar o quanto "O Jogador" consegue envolver o leitor. Ele escreve livros que prendem tanto quem os lê que devorar umas sessenta, setenta páginas diárias é algo completamente comum. Leia Dostoiévski se você quiser conhecer um dos três pais da psicanálise (obviamente, os outros dois são Nietzsche e Freud) e ver o quanto ele usa e abusa de sua capacidade de desvendar e analisar a psiquê humana; e sempre, é claro, com doses cavalares de sarcasmo e auto-biografia.

12 dezembro 2007

Andando sobre a lua

Demorou, mas finalmente bateu a inspiração (e paciência) para voltar a postar em Racio Símio. São tantos assuntos e tópicos sobre os quais eu poderia falar, que acho que acabarei deixando algumas coisas para os próximos posts.

1. O reconhecimento foi tardio, mas inevitável. Após a minha decepção de não ter sido homenageado no Diclassetadas (sim, hehe, era sobre isso aquela frase em inglês), foi em uma cerimônia de encerramento das atividades extracurriculares do colégio (CO2 Neutro, Café Filosófico, Ética e Cidadania etc.) que eu recebi a gratidão por tudo que eu fui como aluno do Colégio Classe. E fui sincero na hora em que agradeci: foram três anos em que estudei em uma ótima escola, que me deu a liberdade criativa e o espaço para debates que eu tanto desejava durante o ensino médio. O título informal de "o colégio mais humano de Goiânia" não é por acaso.
Sim, adoro culto ao ego. Isso sem falar que este reconhecimento não me superestimou ou subestimou. Valorizaram-me pelo aluno idiossincrático que sou: ambicioso, falastrão, arrogante e com uma sede insaciável por conhecimento. A propósito, o professor de Texto deu-me um livro como parte da homenagem. Não por acaso, foi justamente uma obra sobre a qual ele havia comentado comigo dias antes: "As Benevolentes", de Jonathan Littell. Ao que parece, é um romance em 1ª pessoa no qual o nazismo é visto sob a ótima de um militar alemão. Parece ser bem interessante.

2. Assisti ao show do The Police pelo Multishow na noite de sábado. Foi até melhor do que eu esperava. Poxa, tocaram praticamente todas as melhores músicas da banda! As minhas favoritas não ficaram de fora: "Don't Stand So Close To Me", "Roxanne", "De Do Do Do, De Da Da Da", "Message In A Bottle", "Synchronicity II" e, principalmente, "Can't Stand Losing You". Todos os três integrantes demonstraram carisma de sobra. Sting até disse algumas palavras em português; Andy demonstrou descontração na hora do bis; já Stewart - o membro da banda de que eu mais gosto - foi impecável na bateria.
Curiosamente, adorei a perfomance da banda de abertura, Os Paralamas do Sucesso. Conheço o som deles desde os cinco anos de idade, mas nunca fui um fã ardoroso. Cheguei a ter os CDs "Vamo Batê Lata - Ao Vivo" e "Nove Luas" na época, mas, como achava Titãs muito melhor, não dei muita atenção ao tio de influências ska. Uma década depois, eu tive os pretextos de que precisava para realmente gostar de Paralamas: 1. Eles são o Police brasileiro (nem preciso falar da levada de "Óculos" inspirada em "The Bed's Too Big Without You", certo?); 2. A banda tem uma discografia equilibrada, e no show deu pra notar que eles tocaram músicas de todas as fases; 3. Era rápido e fácil baixar a coletânea em dois CDs, a "Perfil", além de umas sete ou oito músicas avulsas.
E não é que eu realmente gostei de Paralamas, rs? Obrigado, The Police!

3. Terminei de ler uma coletânea da L&PM Pocket com poemas do Fernando Pessoa. Li a maioria deles em voz alta (é uma necessidade que eu sinto desde que li "As Flores do Mal": recitar poemas ao invés de simplesmente lê-los), e gostei muito, especialmente os do heterônimo Álvaro de Campos. Com isso, já cheguei a 52 livros lidos em 2007. Yay!

4. Comecei a leitura de "O Jogador" (Dostoiévski). Já estou na metade do romance, e parece que ele melhora a cada página! A temática relacionada a jogos de azar torna o livro ainda mais bem humorado, como se já não bastassem personagens tão intensas como a geniosa e manipuladora Poulina Suslova, a babulinka Antonina Vassilievna, o irritante francês Des Grieux e, é claro, o protagonista (e, em parte, alterego de Dostoiévski) Alexei Ivanovitch.

5. Deixei a letargia de lado na terça-feira. À tarde, fui ao shopping assistir ao filme "Bee Movie".
O debut de Seinfeld no cinema (e nas animações) não poderia ter sido melhor. Poucas vezes vi um filme supostamente voltado ao público infantil que tivesse tantas piadas "de adulto", hehe. Desde comparar vespas a 'mulheres da vida' até piadinhas sobre advogados (a certa altura da película, o mosquito Zé Picada, quando perguntado sobre o motivo de ter virado advogado, disse "Oras, eu já era sanguessuga, só faltava a maleta!"), o humor de Bee Movie lembra um pouco a acidez costumeira da sitcom que Seinfeld estrelava.
A animação até tece um certo posicionamento ideológico. Logo de cara, dá uma cutucada na falta de perspectivas profissionais das quais um jovem dispõe ao sair da faculdade. Além disso, a idéia de uma abelha resolver processar a humanidade em razão da exploração selvagem dos mesmos não deixa de ser curiosa. A opção 'left-liberal' que Barry B. Benson pretendia impor ao mundo era a de interromper a fabricação de mel e fazer com que as abelhas tivessem todo o lazer que mereciam após 27 milhões de anos de trabalho incessante. Com o tempo, tal alternativa esquerdista (até mesmo em relação aos "direitos das minorias", que para os 'vermelhos' é uma prioridade, independentemente do impacto que certas reformas trariam à harmonia socioeconômica) é demonstrada como falível. O próprio Barry passa a entender que o trabalho e a divisão 'animal' deste é a opção mais sensata para a sociedade, tanto nas abelhas quanto nos humanos - com a ressalva, é claro, de que cada indivíduo desempenhe o papel com o qual mais se identifique (o protagonista, por exemplo, vira promotor público de animais, hehe). Fica claro que Seinfeld não abandonou o direitismo que era tão característico de seu seriado de TV, mas felizmente ele não enxerga a realidade de uma maneira tão conservadora como faz a grande maioria da direita dos EUA. Não chega a ser libertário, mas é pelo menos um liberal dos mais céticos e debochados.
Aliás, acho que fui a pessoa que mais riu durante a sessão, mais até do que o público-alvo - as criancinhas, hehe.

6. Depois que Bee Movie acabou, fiquei durante uma hora na Livraria Saraiva. Caramba, eram tantos CDs e livros que eu demorei até decidi o que iria comprar! Terei que dar uma passada lá pelo menos mais uma vez neste mês de Dezembro.
Acabei por adquirir dois livros que me custavam 10 reais cada: "Cultura e Psicanálise" (Herbert Marcuse) e "A Sabedoria da Vida" (Schopenhauer). Um pensador do 3º Quadrante (ou seja, um 'libertário de esquerda') e um filósofo misógino e rabugento! Chega a ser contraditório, não?

7. Na noite de ontem, ainda fui ao churrasco que o colégio promoveu como despedida do 3º ano. Bem, despedida pelo menos para os que só prestaram UFG, porque os querem fazer USP, UNICAMP, UnB etc. ainda terão aula até Janeiro. Eu, por exemplo, terei que ir à escola até dia 17 de Janeiro, já que as provas da Universidade de Brasília só ocorrerão nos dias 19 e 20 do mês que vem. Logo, não terei férias. E quem disse que isso é algo ruim? Pelo contrário! Se eu conseguir passar para a UnB, qualquer sacrifício que eu venha a fazer é válido. Além do mais, eu ficaria entediado em casa, fazendo pingue-ponge entre televisão e computador.
Nos primeiros minutos, tive uma rápida discussão com algumas colegas, pois não aceitava sob hipótese alguma que elas controlassem o aparelho de som durante o evento. Ou vocês acham que eu toleraria ouvir música sertaneja e funk o tempo inteiro? Ao ouvir os primeiros acordes (?!) de "Piriguete", imediatamente fui mudar de CD. Tive até mesmo que tirar os cabos da mão de uma menina enjoada, rs. Coloquei Los Hermanos e Legião Urbana, mas depois cansei-me de tentar diminuir a poluição sonora, e abdiquei de minha ditadura musical. É uma pena que o público jovem de Goiânia (e do Brasil e do mundo, também) é totalmente vulgar quando o assunto é música...
Depois disso, fui conversar com alguns 'freaks and geeks'. Foi bom, já que deu para discorrer sobre os mais diversos assuntos; tanto que até me esqueci de comer e beber. Só tomei alguns copos de Coca-Cola e comi uns poucos pedaços de lingüiça e frango.


8. Nas aulas de hoje de manhã, vieram poucos alunos. Contando comigo, vieram no máximo uns dez. Amanhã, no entanto, acho que mais gente compacerá. Afinal, muitos podem ter ficado de ressaca em razão do churrasco de ontem, que só acabou depois das 23h.
Durante os horários mais voltados pra UNICAMP, fui para uma mesa do corredor, e fiquei lendo "O Jogador". Amo essa liberdade pequeno-burguesa de escolher a aula na qual quero ir!

06 dezembro 2007

Army of Me

Ok, vamos relatar tudo o que aconteceu comigo desde o fim da semana passada.

Sábado, 1º de Dezembro de 2007.
Viagem para Brasília, visando a fazer a 3ª etapa do PAS. Viajei com minha mãe e dois tios (na verdade, uma tia e o marido dela) que conhecem bem a cidade. No carro, eu aproveitei para resolver alguns exercícios e ler meu livro de História da Arte para revisar o conteúdo.
Meu local de provas foi a faculdade de Medicina da UnB. Antes do exame, aproveitei para dar uma olhada no prédio em que fica o curso de Ciência Política. Não negarei que fiquei muito entusiasmado quando vi o lugar em que, se tudo der certo, eu ficarei pelos próximos 5, 10 anos...
Bem, a prova do 1º dia era a de Humanas: Artes Visuais, Língua Inglesa, Gramática, Literatura, História e Geografia. Achei as questões objetivas (as de C ou E) fáceis, de acordo com o que eu esperava. O que me surpreendeu mesmo foi a qualidade dos temas das duas questões discursivas. Uma era sobre a associação entre inovações tecnológicas e desenvolvimento social, a outra tinha como pergunta-tema "Seria a verdade histórica indiscutível?". É claro que eu adorei esta, e até aproveitei para fazer intertextualidade com meus dois livros prediletos: "1984" (George Orwell) e "O Caminho da Servidão" (Friedrich Hayek).
À noite, eu e, hã, os adultos fomos a um shopping. Lanchei no Burger King (sim, só lancho lá por dois motivos: free refil e combinado batata frita + sanduíche + refrigerante mais barato que na concorrência) e depois comprei um livro do Locke na Livraria Siciliano que havia por lá. A obra em questão é "Carta sobre a Tolerância", que, se para a época deve ter sido considerada bem liberal, para os dias de hoje chega até a ter tons conservadores, hehe. É claro que a proposta de separação entre Estado e Igreja feita por John Locke é interessantíssima. Mesmo assim, trezentos anos depois de sua publicação, vemos que a relação entre as religiões não deve se limitar a uma mera indiferença, mas sim se constituir em verdadeiro respeito. Não precisa virar ecumenismo, mas pelo menos uma aceitação mútua que não soe forçada e hipócrita demais.
Ainda bem que não tenho problema com religiões alheias, já que sou um livre pensador nessa área: sob o aspecto político, sou ateu; no filosófico, humanista; e em uma definição mais técnica, agnóstico.

Domingo, 2 de Dezembro de 2007.
Eis o dia para o qual eu me (des)preparei psicologicamente durante as últimas semanas. Após três noites mal dormidas, finalmente chegara o dia da prova de Exatas e Biológicas. Mesmo que seja verdade que eu estudei muito menos do que poderia (e deveria), fiz o máximo esforço possível em Outubro e Novembro. Peguei monitorias e agendamentos de Química, Física, Biologia e Matemática, peguei na biblioteca alguns livros didáticos, tentei resolver pelo menos umas cinco provas da UnB etc.
Fiquei até mais tenso do que eu esperava. Na hora da prova - e após ela, enquanto esperava minha mãe me buscar - devo ter tido uns sete tiques nervosos diferentes: estalar os dedos, balançar os pés, coçar a cabeça, roer as unhas, ficar andando em círculos... Nada de muito anormal, mas o suficiente para mostrar para mim mesmo o quanto eu faltei com o equilíbrio emocional na hora H. Mantive uma impecável estabilidade durante o ano inteiro, mas, justamente na hora em que precisava ficar mais calmo, a bola-de-neve virou avalanche e me esmagou.
Deixei dezenove das oitenta questões objetivas em branco, e acho que fui bem nas duas dissertativas.
Estava tão ansioso que, assim que cheguei em Goiânia, fui direto pro PC procurar por gabaritos feitos por colégios de Brasília, como o Galois, o DaVinci e o Alub. O problema é que os três divergiam em vários itens, deixando-me ainda mais confuso. Minha pontuação variava entre 90 e 105 pontos.

Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2007.
A esperar pelo gabarito oficial do CESPE. O pessimismo continuava.

Terça-feira, 4 de Dezembro de 2007.
Ainda esperando pelo gabarito. Não consegui me concentrar em nenhuma aula. Fiz pela primeira vez uma programação que, pelo menos por enquanto, eu estou adorando: dormir pela tarde inteira, e passar o resto do dia acordado. Na primeira vez foi espontâneo, mas gostei tanto que pretendo fazer disso uma rotina, hehe. Até mesmo em relação a TV e PC (especialmente quanto ao MSN), as madrugadas são melhores que as tardes.

Quarta-feira, 5 de Dezembro de 2007.
Peguei várias aulas para ocupar o tempo. Na hora do recreio, fiquei plantado na sala dos professores dando F5 no site do CESPE. Ainda assim, o gabarito oficial só foi sair às 17h30, minutos depois de eu ter acordado da minha soneca.
Fiz 159 das 180 questões, sendo 98/100 de Humanas e 61/80 de Exatas. Somei 68 pontos no Primeiro Dia (83 acertos e 15 erros) e 30 no Segundo (nas questões do tipo A, 42 acertos e 14 erros, além de dois acertos nas do tipo B). Total de 98 pontos. Somando com os 56 da 1ª Etapa (peso I) e os 53 da 2ª (peso II), acumulei 456 pontos. Não foi um resultado tão ruim, mas não estou certo de que será suficiente para passar em Ciência Política. Logo, deu cenário 2, como eu imaginava. Portanto, vou apostar todas as minhas fichas mesmo no vestibular 1/2008 da UnB.
Ah, fiz uma redação, mas falarei mais sobre ela abaixo.

Hoje.
Não dormi, como previa a nova programação diária; limitei-me a um cochilo entre as 5h40 e as 6h20. Este, no entanto, não me impediu de passar a manhã inteira com uma imensa dor no ouvido direito. Tive até que sair mais cedo da aula de Química (terceiro e quarto horários), pois a dor já estava ficando insuportável. A coisa só aliviou mesmo depois do meu sono de hoje à tarde.
Na hora em que foram entregar as redações, eu não achei a minha, e fiquei preocupado. Será que o professor esqueceu de entregá-la aos corretores? Ou será que estes não tiveram tempo de corrigi-la?
A resposta para as minhas indagações veio quando o diretor me entregou o texto e disse que havia ficado tão bom que era para eu passar a limpo para o colégio publicar ou coisa do gênero. Tirei nota máxima, obviamente. Havia adorado o tema "Igualdade de gênero", e estava inspiradíssimo ontem para dissertar sobre tal assunto. Fiz tudo (inclusive rascunho) em menos de uma hora, na maior velocidade. A propósito, publicá-la-ei a seguir. Até mais!

A quebra e reconstrução dos paradigmas da sexualidade

A discussão sobre a igualdade de gênero foi um dos principais questionamentos a se consolidar na agitada década de 1960. A revolução sexual teve resultados muito mais profundos do que se poderia imaginar. O comportamento de homens e mulheres foi transformado de maneira tão intensa nos últimos anos que há um inédito espaço para debates e projeções das mais inusitadas. Uma delas especula até em relação a um considerável crescimento da população de homossexuais e bissexuais no decorrer do século XXI. E então, a sexualidade realmente continuará apontando para rumos tão... radicais?
Um primeiro ponto a se destacar é o relativo êxito do feminismo. Sua versão mais moderada de fato trouxe mais liberdade e visibilidade para as fêmeas, seja no mercado de trabalho ou no próprio lar. As tendências mais extremistas, no entanto, fazem um discurso raivoso contra a chamada falocracia, além de criticar a banalização do sexo e a "exposição extraerótica" do corpo feminino. Não seria um erro afirmar que tal ala das feministas acaba por superestimar o machismo existente na sociedade. Por outro lado, é inegável que os homens realmente se impuseram, através dos tempos, como o lado mais forte. Há até quem diga que tal repressão às mulheres viria exatamente de machos reprimidos e temerosos em relação ao, por assim dizer, "poder do buraco negro".
Por incrível que pareça, são justamente pensadores de tendência libertária - e até, de certa maneira, niilista - que são os mais ardorosos defensores da misoginia. Em outras palavras, o desprezo destes em relação à feminilidade não se restringe a um machismo (ou seja, uma crença na inferioridade feminina), mas chega a se constituir em ódio e repúdio. Como melhores exemplos desse tipo de filosofia, temos Nietzsche e Schopenhauer. Coincidentemente ou não, ambos tiveram uma vida amorosa e sexual cheia de frustrações, as quais teriam sido decisivas para o caráter quase misantrópico que eles adquiriram quanto às mulheres.
Voltando à questão central, é notável o lento e gradual enfraquecimento da homofobia. Se, durante séculos, a chamada "cultura judaico-cristã-ocidental-burguesa" repudiou os homossexuais (a prisão de Oscar Wilde na Inglaterra da Era Vitoriana é um símbolo disso), a tendência das últimas décadas é o contrário: uma maior inserção de gays e lésbicas na sociedade civil. Quem imaginaria até anos atrás que haveria tanta discussão (e, em alguns países, até aprovação de leis) a respeito do casamento entre pessoas do mesmo sexo e/ou a adoção de crianças por tais casais? Pode-se até afirmar que eles estão próximos de perder o caráter de "minoria", visto que são bem menos excluídos e marginalizados do que já foram.
Entende-se, portanto, que mulheres e homossexuais já não estão em situação tão inferior à de homens e heterossexuais. As artes - principalmente o cinema (por exemplo, "Brokeback Mountain"), o Rock (Morrissey) e a literatura (Michael Cunningham, de "As Horas") - explicitam isso. Claro que ainda há muito pelo que tais segmentos lutarão, inclusive associados a grupos étnicos emergentes, como negros e hispânicos. Mesmo assim, ainda há algo que precisa ser discutido: será que é realmente uma igualdade o que queremos entre os gêneros? Não seria muito mais um respeito às diferenças? Seria interessante pensar este assunto não sob a ótica da paridade, mas sim na compreensão das individualidades e idiossincrasias. Logo, para que desejar algo tão coercitivo como a igualdade se não seria mais sensato (e humanista) aspirar à tolerância com "o outro"?