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Kaio

 

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30 janeiro 2007

Um ensaio sobre as minorias

Decidi escrever este post após reler alguns antigos (ok, nem tão antigos...) textos políticos meus, como um que eu fiz após terminar de ler "A Idade da Razão", do Sartre, e resolvi fazer uma reflexão sobre os rumos da humanidade e das correntes políticas no século 20. Em retrospectiva ao que eu escrevi, só discordo de algumas poucas coisas, como o tom meio pejorativo que eu usei para falar que os direitistas 'viraram' consumistas após perderem em parte a batalha ideológica para os esquerdistas.
Na verdade, ambos os lados aproveitaram as vantagens do capitalismo globalizado, o que é óbvio, mas eu acho que o que eu queria dizer naquele texto é que a direita, de certa maneira, adotou uma conduta mais materialista e - por que não? - honesta quanto à sua realidade. Ao invés de se contradizer em discurso e prática como seus adversários vermelhos, ela resolveu se entregar ao ceticismo. Não por acaso, os melhores blogueiros políticos do Brasil e do mundo são de direita.
Isso não é uma opinião imparcial (até porque, se eu tivesse que escolher entre um dos dois lados hoje, certamente ficaria mais próximo dos 'destros'... ainda me escondo no hipócrita 'sou centrista', mas isso não quer dizer que eu esteja em cima do muro), mas nem por isso é uma inverdade. Os partidários da direita lêem mais, escrevem melhor, argumentam melhor e até em ironia e sarcasmo são mais eficientes que os da esquerda.
Há alguma justificativa para isso?
Eu acho que tenho uma. Só acho, não é uma certeza, apenas uma opinião - o fato de ela ser minoria.

Até pouco mais da metade do século passado, a esquerda era minoria.
Na Idade Moderna, para um Rousseau, havia um Voltaire, um Montesquieu e um Locke para rebater. Em outras palavras, existiam bem mais liberais/conservadores do que radicais/progressistas. E a Revolução Francesa foi a prova incontestável (e amarga, para alguns) de que é impossível fazer uma insurreição sem povo, mas também é impossível governar com o povo no poder.
No século XIX, o socialismo era a expressão de setores da classe média que queriam combater as desigualdades sociais (mesmo que por meios que ferissem a liberdade, tanto em âmbito individual como em coletivo) e buscar uma sociedade que seguisse o raciocínio "vamos tomar e fortalecer o Estado para que um dia ele se torne prescindível". Tinha tudo para dar certo. Karl Marx se tornou o queridinho de intelectualóides que adoram usar jargões e sofismas para ganhar fama, dinheiro e/ou mulheres (ou haveria outro motivo para posar de espertalhão? Não sejamos tolos!); a Comuna de Paris animou os festivos que queriam a paz pela guerra e a ordem pelo caos; os sindicatos se fortaleceram; os grupos mais reacionários já estavam tendo algumas dificuldades para reprimir revoltas, e foi preciso usar o perigosíssimo nacionalismo (o qual é o principal motivo para que eu não seja plenamente um centrista, já que defender a sua nação é um meio-termo entre defender o capital e o social) para abafar a luta de classes e fortalecer os Estados; e o século terminou recheado de coisas que os esquerdistas poderiam criticar por anos e mais anos, como o imperialismo e o neocolonialismo.
Já no "20th Century", as coisas começaram muito bem - vieram Bernstein e Kautsky com a social democracia, que empolgou muitos por ser um 'socialismo evolucionário e gradual' e outros porque, na prática (a partir de países como a Suécia), se revelou um capitalismo engenhoso e de forte intervenção estatal (política de geração de empregos, construção de obras públicas, previdência social, investimentos maciços em serviços de educação e saúde, etc) - tanto que foi adaptado nos EUA como New Deal (ou keynesianismo) pelos democratas, que queriam erradicar o rastro sombrio deixado pelos republicanos e seu liberalismo econômico desgastado que resultara na Crise de 29.
Além da SD, o socialismo propriamente dito teve êxitos fenomenais, e o que antes era "mera balela intelectual" virou realidade, com a implantação do regime na Rússia, na China, em Cuba, na Europa Oriental e na Coréia do Norte. Em 1960, chegou-se ao ponto de 1 em cada 3 terráqueos habitar um país socialista.
É aqui que a coisa muda de lado. A esquerda chegou ao seu ápice. A vitória é iminente. O capitalismo, no entanto, revela sua vocação de sistema mutável e engloba-a. Ele vence, mas não leva. Em outras palavras, a sua existência foi condicionada ao início da derrocada da direita.

Claro que a mesma não deixaria por menos, e reagiu nas três décadas seguintes. Politicamente, vieram as ditaduras militares na América Latina (que conseguiram cumprir seus objetivos imediatos - enfraquecer os radicais e manter a zona de influência sob o poderio dos EUA -, mas falharam a longo prazo, com administrações desastrosas das economias locais, com conseqüências que se manifestam até hoje, como a crença de que o Estado deve ter 'poderes ilimitados', que deveria, na minha opinião, ter morrido junto com Vargas e Perón).
No âmbito econômico, inicialmente o keynesianismo foi mantido, mas economistas (a maioria das prestigiadas escolas de Chicago e Viena) como Friedman e Hayek finalmente conseguiram provar para o mundo (o prêmio Nobel não me deixa enganar) que era chegada a hora de diminuir o papel do Estado, que havia se atrofiado de tal maneira que seriam necessárias reformas profundas para retomar o crescimento e diminuir a inflação, após crises delicadas como as do petróleo em 73 e 79. Eis o neoliberalismo (graças ao seu livro didático de História, imediatamente você associa essa palavra com os famigerados Reagan, Pinochet e Thatcher).
Frio e calculista como a matemática, esse modelo operou e facilitou praticamente tudo que pretendia - valorização da iniciativa privada, tecnocracia, quebra de monopólios estatais, um mercado mais livre, corte de gastos públicos (ou seja, adeus ao Welfare State e seus orçamentos abusivos), desemprego (para muitos, a pior das heranças neoliberais e um grande responsável pela desigualdade social e econômica, por mais que os mesmos falem que "até uns 12% é tolerável") e até a chamada globalização (ame-a ou odeie-a, mas ela fez a vida de todos nós dar um giro de 180 graus em muitos aspectos).
Os EUA conseguiram vencer a Guerra Fria contra uma fraca e combalida União Soviética, vitimada pela burocracia, os abusos de poder, a corrupção, o desabastecimento e todos os erros do socialismo soviético. Nada que fosse inesperado, afinal os anos 80 sepultaram de vez qualquer chance de opor um modelo sócio-econômico ao capitalismo, afinal, sem avanços tecnológicos e econômicos, é impóssível manter uma estrutura sócio-política, e o Kremlin aprendeu isso da pior maneira possível. Caíam junto com a URSS e o Muro de Berlim a 'velha esquerda'.
E então, foi suficiente? Você sabe que não.

Apesar da empolgação inicial, logo a imprensa e os formadores de opinião se colocaram contra os neoliberais. Esquerdistas frustrados com os seus fracassos políticos resolveram usar suas lamentações como maneira de ganhar a vida.
"Quem sabe, faz; quem não sabe, ensina": por exemplo, professores comunistas infestaram as escolas brasileiras depois do fim da ditadura, e distorceram de maneira bizarra a História para várias gerações de estudantes (curioso é notar que esses mesmos professores desciam a lenha no método positivista, mas a própria História sob o ponto de vista marxista é eurocêntrica, pois valoriza mais os modos de produção desenvolvidos na Europa).
Jornalistas 'vermelhos' estão cada vez mais em evidência, afinal, criticar o 'imperialismo estadunidense', as multinacionais, os republicanos, as elites, o status quo e alertar para os problemas sócio-econômicos nunca foi tão valorizado. Michael Moore é o exemplo perfeito do que eu quero dizer. Queria eu ganhar dinheiro contando mentiras e fazendo conspirações.
A Igreja também anda se ruborizando. João XXIII e Paulo VI foram condescendentes com a ala progressista dos católicos, o que de certa maneira possibilitou o surgimento de uma piada chamada Teologia da Libertação (João Paulo II tentou diminuir o poder de tal facção com seu estilo mais populista e conservador, mas ambas as correntes coexistem na Igreja atualmente), um "jeito marxista de ser cristão". Como dizem eles, Jesus foi o primeiro socialista (e Judas, conseqüentemente, o primeiro capitalista)!
Preciso falar dos ótimos resultados dos políticos de centro-esquerda tanto na Europa no final da década passada e na América Latina nos últimos 6 anos? Não, isso você sabe muito bem, está nos noticiários todos os dias. Alguns (Chávez, Morales) são mais lunáticos que outros (Lula, Blair, Bachelet), mas no fundo, todos representam a terceira via, o neotrabalhismo, o socialismo bolivariano ou qualquer termo utilizado para designar esse movimento e suas vertentes e heterogeneidades.
As artes também andam valorizando o pessoal que se preocupa com as criancinhas da África e o efeito estufa. Quer fazer uma música de sucesso? Aprenda com os macacos velhos - faça como o U2 e o Green Day em "The Saints Are Coming". Afinal, é sempre cool se preocupar com o mundo, mas não fazer nada de consistente para melhorá-lo. (ou vocês vão me dizer que filantropia e discursos bonitinhos resolvem alguma coisa?)
Isso sem falar no perigosíssimo 'politicamente correto'. A liberdade de expressão foi relegada a segundo plano em vários países, afinal o 'respeito às diversidades étnicas', ao 'passado histórico' e outros argumentos demagógicos foram utilizados como pretextos para uma maior regulação do free speech, pra não dizer censura. Quem diria, a antes rebelde esquerda é hoje quem mais (diz que) preza pela moral e os bons costumes.
No Brasil, então, não é nem preciso falar - há pessoas alegando que a Carta Capital é melhor que a Veja, porque esta é, segundo elas, "tendenciosa e cínica, sem compromisso com a veracidade dos fatos" (bem, ao meu ver, é preferível isto do que ser mascarada e hipócrita como a revista do Mino Carta, a qual acha que convence ao posar de boa mocinha e imparcial). Chegou-se ao ponto de 'cético', 'reacionário' e 'individualista' serem palavras pejorativas!

E é nisso que eu chego ao ponto que eu queria, após dezenas de linhas lotadas de prolixidade. Os 3 adjetivos citados no final do parágrafo anterior podem perfeitamente designar um direitista, e os mesmos não acham que tais termos sejam críticas negativas. E isso não é de hoje, dê uma olhada na ala moderada do Iluminismo (sim, Voltaire, Montesquieu, Locke...) e você verá que ao menos o individualismo (os outros dois estão mais camuflados em coisas como reformas graduais, voto censitário, desconfiança quanto ao êxito de revoltas populares mais radicais e liberdade política e econômica) é assaz exaltado.
Concluindo: as coisas se inverteram. Se antigamente esquerda = underground e direita = mainstream, no mundo atual é o contrário. E quando se é minoria, você tem maiores possibilidades de ser você mesmo, de expressar suas idéias fugindo do senso comum e questionando a realidade de uma maneira mais contundente. O outsider tem bem menos espaço que o 'adequado ao sistema', mas tem bem maiores possibilidades de se destacar, inegavelmente.

Les dialogues en français sont cruels!

"A Montanha Mágica" me surpreende mais a cada dia.
Não bastasse o mix de filosofia, ciência, história, geografia, sociologia, física, humanismo, Romantismo, Realismo e até biologia, o livro tem até um trecho em francês! Justamente em uma das cenas mais importantes do livro (pelo menos até o que eu já li - estou na pág. 483), são quase dez páginas quase inteiras de diálogos na língua francesa, sem tradução! A culpa não é do tradutor, é do autor mesmo, o que faz sentido com o contexto da conversa.
Isso não é tão ruim, já que eu consegui entender alguns trechos da conversa, e, além disso, o livro me deu vontade de aprender Francês! Vou ver se consigo encontrar alguma gramática para me ajudar a estudar por autodidatismo.
Falando em estudar, o ano letivo continua muito bom para mim. Em tempo recorde, consegui recuperar a disposição para os estudos que eu tinha, por exemplo, no 1º ano. Além do mais, já tenho meu primeiro grande desafio - conseguir pelo menos 80% de aproveitamento em uma prova objetiva de Inglês que terei amanhã, a qual terá 50 questões. Vou me esforçar bastante, afinal, se eu conseguir passar na prova, eu vou ser dispensado das aulas de Inglês, o que significa que eu poderei ir nas aulas do Café Filosófico, que são no mesmo horário.
Aliás, era só isso mesmo que eu tinha para falar hoje, back to studies. Se eu quiser filosofia, vou ter que lutar por ela! (frase retirada do meu "Guia Mental de Frases Melosas e Patéticas que querem soar Heróicas")

27 janeiro 2007

Happiness. Again!

Mais um dia fantástico.

Pela manhã, escola. Só aulas boas, me interessei por todas. Destaque para as duas de Geografia, não só porque eu amo essa matéria, mas porque o professor é muito bom, explicou a matéria de um jeito que até os 'tapados das Exatas' entenderam.

À tarde, festival Decibélica. Rock alternativo ("Alternativo a quê?" - "Oras, alternativo às bandas de rock, digamos, 'normais'. As bandas alternativas, além de mesclarem vários estilos de rock, fazem um som não necessariamente comercial e radiofônico, se dedicam ao rock por amor à arte."), e de graça! Cheguei lá pelas 16h com um amigo meu (o Gino), mas, como é de praxe em Goiânia, atrasou, só começando às 17h30. Como diria um presidente da Working Designs (não me lembro do nome dele), "Atrasos são provisórios, mas a mediocridade é eterna!".
Hoje, no entanto, tive até alguns motivos para me orgulhar da minha cidade. Acho peculiar o jeito com o qual o rock é lidado aqui. Não há aquela arrogância e pretensão do público roqueiro do Sul e do Sudeste - pelo contrário, os goianos parecem colocar a diversão e o 'do it yourself' como prioridades. Claro que o 'Goianiense way of life' pesa, portanto as pessoas daqui são bem descontraídas, às vezes até meio caipiras, mas é esse jeito serelepe que os torna peculiares. O rock 'n' roll por aqui não é uma entidade de "rebeldes sem causa", mas sim um estilo musical que vai tendo aceitação cada vez maior entre o público (alguns dizem que isso pode ser negativo, eu mesmo achava isso, mas depois do dia de hoje, revi meus conceitos - se rock ainda fosse ultra-underground em Gyn, seria um tédio!), e o local não ficou lotado simplesmente porque os shows eram gratuitos, mas também porque havia pessoas realmente interessadas em ver as bandas e 'fazer uma social' com outros fãs de rock.
A diversidade tribal era enorme - punks, emos, indies, metaleiros, góticos, Old-school rockers... e eu, hehe. Passei a maior parte do tempo conversando com o Gino, enquanto esperava as bandas realmente boas entre as 7 presentes. Até fui no shopping comprar uma Coca-Cola 600 mL (afinal, no barzinho do local só havia bebidas alcóolicas, que muito provavelmente foi a renda do festival, a quantidade de jovens e adultos bebendo cerveja - ou alguma coisa mais forte - era quase uma unanimidade. Quase, pois existe o Kaio.), e aproveitei para comprar um livro, "O Coração das Trevas", do Joseph Conrad. Parece ser ótimo, Coppola se inspirou em parte nessa obra para fazer o filme "Apocalypse Now".
Ah, e os shows bons vieram, sim - Johnny Suxxx and the Fucking Boys (glam rock com toques de indie, dançante ao extremo), Os Rockefellers (um rock mais pesado e bate-estaca, bem animado) e, principalmente, Réu e Condenado (na minha opinião, uma das melhores e mais divertidas bandas brasileiras dos últimos anos, o disco de estréia deles é impecável. O show foi perfeito, só tocaram as melhores; fiquei rouco de tanto cantar - gritando - as músicas!).

Cheguei em casa há menos de uma hora, com a sensação de que esse foi um dos dias mais bacanas do ano, senão o mais. Nem foi preciso otimismo da minha parte, pois a própria realidade se mostrou agradável e empolgante.

26 janeiro 2007

Happiness

Felicidade é uma coisa muito relativa, eu sei, mas creio que, de certa maneira, eu alcancei ela nos últimos dias. O principal motivo, claro, é a volta às aulas, tão aguardada por mim. O terceiro ano e seu ar de "grandes poderes, grandes responsabilidades" me estimularam a ser (ainda) mais metódico com a organização do meu horário vespertino e noturno, a fim de conciliar tudo que eu gosto e devo fazer.
E eu consegui, pelo menos nessa primeira semana, fazê-lo. Pude cochilar, assistir às minhas séries favoritas, usar a internet, ler "A Montanha Mágica", ouvir música e estudar. Claro que, com o tempo, eu vou ter um pouco menos de lazer e mais 'trabalho', mas nunca vou dar prioridade total para um ou outro, porque eu não vou ser nem irresponsável nem workaholic nesse ano. Usando termos anfisistas e auto-referentes, vou conciliar o que havia de melhor nas minhas 7ª e 8ª séries e no 1º ano (o compromisso com os estudos) com uma ótima herança do 2º ano (a dedicação às artes e à cultura).
Óbvio que uma pessoa, tendo a sua vida arrumada, vai se sentir realizada e feliz. Esse é o meu caso.

Ah, este é o post # 300 do blog. "Parabéns" para ele.

Amanhã promete ser um dia bacana. Tentarei postar amanhã à noite para confirmar ou não as boas expectativas.

Por hoje é só. Nem vou fazer uma das minhas costumeiras auto-críticas porque estou com uma "alto-estima", hehehe.

24 janeiro 2007

"Eis o que tenho de suave"

Enrolei muito, mas muito mesmo, mas 24 de Janeiro de 2007 foi o dia no qual eu finalmente me entrei de corpo e alma à leitura de "A Montanha Mágica", romance de Thomas Mann. Uma amiga minha me emprestou o livro em meados de outubro, e há 3 meses eu vinha lendo o livro em um ritmo bem irregular, sempre relegando-o a segundo plano quando iniciava novas leituras; não que eu estivesse o subestimando, mas sim porque eu tinha consciência de que ainda não era o momento certo para me entregar a uma leitura tão densa, portanto optei por alguns livros mais curtos - por exemplo "Uivo", "Os Vagabundos Iluminados", "Hell" e "A Hora da Estrela".
Resultado - até ontem à noite, eu estava na página 164, ou seja, cerca de 1/6 de uma obra de colossais 986 páginas!
Hoje, dia do meu segundo dia de aula como aluno do terceiro ano, resolvi me dedicar pra valer ao livro. E deu certo. Na escola, li um pouco, e somado ao que eu li até minutos atrás, aproveitando que estava sozinho em casa, já encerrei o quarto capítulo, e estou na pág. 251.
Eu não tenho quase mais nenhuma dúvida de que este livro, quando eu concluí-lo, será o melhor que eu já li até hoje. Poucas obras conseguem trazer tanto conteúdo, significados e reflexões a cada página. Não li muito sobre o autor, mas Mann deve ter uma veia filosófica fenomenal, pois o romance aborda tantos temas dos mais diversos assuntos que chega a ser espantoso. Isso sem falar nos personagens, todos eles cativantes e profundos, como Settembrini, Joachim, Madame Chauchat e, claro, o protagonista Hans Castorp.
Não tenho certeza, mas provavelmente Renato Russo se inspirou em tal obra para intitular e escrever a canção "A Montanha Mágica", uma das mais lisérgicas e incríveis já compostas pela Legião Urbana, e que pertence ao melhor disco da banda, "V". Não vou me estender muito nessa correlação musical, mas foi uma influência pertinente para Renato, que ajudou a tornar esse álbum ainda melhor, com toda a sua melancolia, dor, pitadas de esperança, desespero e tonalidades épicas (a trinca que abre o CD - "Love Song", "Metal Contra As Nuvens" e "A Ordem dos Templários", é cercada de referências à Idade Média e, por tabela, utiliza-se da retórica adequada para falar da mesma, sempre remetendo à forte religiosidade, às cavalarias, à contemplação bucólica típica do feudalismo e à misantropia).

Deixando, no entanto, as prolixidades à parte (desculpem-me, estou bem empolgado hoje, hehe), "A Montanha Mágica" é um livro com passagens que, muito provavelmente, causarão identificação e satisfação a quem as lê, pelas reflexões que trazem. Trechos como o da palestra do dr. Krokowski sobre o amor, na qual ele discorre brilhantemente sobre o tema e traça até um paralelo interessante com a doença e a enfermidade, são dignos de destaque. O italiano Settembrini, então, é um poço de cultura, e seus discursos humanistas (às vezes até meio nacionalistas ou parnasianos) são vibrantes, por mais que tanto o leitor quanto Hans queiram achá-los exageradas e irrelevantes.
Hans Castorp, aliás, parece redescobrir a vida com a viagem para visitar o primo em um sanatório nos Alpes Suíços, e, de quebra, descansar um pouco. O que era para ser apenas um 'repouso' de 3 semanas se torna uma experiência inesquecível. Quem lê o livro sente que já no primeiro dia de estadia o protagonista dá mostras que uma grande reviravolta na sua vida está a se operar. O jovem se depara com questionamentos filosóficos, existenciais e abstratos que ele jamais imaginaria ter (destaque para um sobre o tempo).

Mesmo tendo lido apenas pouco mais de 25% do escrito, já o recomendo a todos os possíveis interessados. Ao lado de outras obras-primas da literatura mundial, do calibre de "1984" (George Orwell), "Crime e Castigo" (Dostoiévski), "A Divina Comédia" (Dante Alighieri) e "Dom Quixote" (Miguel de Cervantes) [detalhe, eu ainda não terminei de ler essas duas últimas, mas pelo que eu já li, somado à quase unânime opinião de todos que já os leram, me baseei para considerá-los obras-primas], o livro mais famoso de Thomas Mann causa admiração em qualquer um que se disponha a lê-lo.

21 janeiro 2007

Pseudocult até a medula

O conto "O Crime de Lorde Artur Seville", do genial Oscar Wilde, é um retrato bem interessante do cinismo da Inglaterra vitoriana (aliás, Wilde faz isso em praticamente todas as suas obras, sempre de maneira brilhante, como no romance "O Retrato de Dorian Gray"). Gostei muito de como foi 'dissecado' o perfil psicológico do protagonista, expondo insegurança e determinação ao mesmo tempo. A reflexão sobre o destino também foi incrível, prendendo o leitor da primeira à quadragésima e última página da história.

"Os Vagabundos Iluminados" é, das 4 obras de Kerouac que eu já li (as outras três são "On The Road", "Os Subterrâneos" e "Tristessa"), a mais tranqüila. O protagonista, Ray Smith, ao contrário de outros personagens kerouacianos (como Sal Paradise e Leo Percepied), troca a porra-louquice pelo estilo zen. Pessoa muito espiritual que é, faz inúmeras referências a ensinamentos budistas durante a obra, e cenas como a em que ele fica em uma montanha, solitário, 'ouvindo o silêncio', são um símbolo do Jack Kerouac do final dos anos 50, pouco antes do ceticismo e amargura da última década de sua vida. Como em todos os escritos do autor, há um certo tom melancólico nos personagens (mesmo em Japhy, o amigo oriental de Ray), algo bem comum na geração beat (um ótimo exemplo disso é em poemas como "Uivo", "O Automóvel Verde" e "Sanduíches de Realidade", todos de Allen Ginsberg), que, em meio a toda a loucura, não via o futuro como bons olhos, e o hedonismo, ao invés de dissimular essa realidade, só a expunha mais intensamente. Como eu já disse em um texto do mês passado, o post-punk é um reflexo disso.

O filme "Psicopata Americano" trabalha de maneira realista o tema ao qual se propõe, e o ator Christian Bale atuou muito bem como Patrick Bateman, demonstrando todas as idiossincrasias de um 'típico' psicopata (especialmente nos 20 minutos finais do filme, com o clímax da história, levando a um desfecho satisfatório). Yuppie que é, Bateman concilia o sucesso profissional com a patologia, e entre suas vítimas estão desde colegas de trabalho até prostitutas e mendigos. A sua frieza para matar concilia com seu jeito temperamental e sua lábia altamente persuasiva, tornando-o uma pessoa muito perigosa para todos que o cercam, ainda mais porque poucos têm o mínimo de consciência da psicopatia de Patrick.

"Réquiem Para Um Sonho" é, na minha opinião, o melhor filme sobre drogas já feito, depois de "Trainspotting". Ao contrário deste, no entanto, "Réquiem" preza menos pela ironia e o sarcasmo e mais pelo relato ultra-realista e chocante (mas não sensacionalista) sobre os efeitos de substâncias como as anfetaminas e a heroína em seus usuários. Uma coisa que eu achei bem legal foi a relação que se fez com as estações do ano - o Verão é a melhor época para os quatro protagonistas (todos representados por ótimos atores - Jared Letto, Jennifer Conelly, Ellen Burstyn e Marlon Wayans), que obtém prazer pelas drogas e estão todos bem. No Outono, as drogas já não funcionam tão bem como fuga da realidade, e eles começam a ter problemas. O Inverno é o fundo do poço, com todo o desespero e o horror ao qual eles inevitavelmente alcançariam pelas suas escolhas. Enfim, "Réquiem Para Um Sonho" é alucinante do início ao fim, altamente recomendável. Destaque também para o diretor Darren Aronofsky, que conduziu muito bem o filme.

19 janeiro 2007

Weirds like school

Não vou negar que, desde o primeiro dia das férias, eu já estava com saudades da escola.
Já até separei a roupa que eu vou usar no primeiro dia de aula, hehe, além de começar a desenvolver mentalmente como será organizado o meu ano escolar, afinal, eu preciso de muito ócio criativo; o curso de Ciência Política que farei na faculdade vai ser muito útil pra (pseudo) intelectuais e (metidos a) filósofos como eu.
Vou estudar bastante, mas sem ser robótico. Quem sabe eu possa bancar o empírico e tentar aplicar as ciências exatas e biológicas na minha vida? Cansei de ser pragmático, não sou frio e calculista o bastante para simplesmente decorar a matéria e aplicá-la nas provas.
Uma coisa que poderia ser um 'ponto negativo' (passar o dia inteiro na escola) nem vai acabar o sendo, pois desde a oitava série eu já estou acostumado a passar praticamente o dia inteiro na escola (nos últimos dois anos, então, virou hábito).
A única coisa chata vai ser tolerar os 'bitolados' por estudar, ou porque estão estudando tudo que não estudaram nos anos anteriores ou porque simplesmente são CDFs. Óbvio que vou me afastar de pessoas que tiverem essa 'conduta', não tenho compaixão por essa raça. Escola é compartilhamento de conhecimento, e não auto-flagelação.
Estou ansioso pelo retorno de algumas das minhas aulas prediletas, como Geografia, História, Redação e Literatura, assim como as extracurriculares, como o Painel de Notícias, o Multitemas e o Café Fisiológico, digo, Filosófico.
Esse ano, de acordo com o meu 'ciclo de empenho nos estudos', iniciará uma nova trinca de "anos nos quais eu estudo bastante". O período 99-01 foi o primeiro desses ciclos, no auge da minha fase nerd / viciado em games. 2002 foi o ano de descanso, porque eu estava mais ocupado jogando Pokémon e Mario, e tive alguns sustos como um 6,5 em Geometria (devidamente melhorado para um 9,5 depois que eu fiz a prova de recuperação). 2003 a 2005 foi o segundo e mais importante até agora, era tanto 10 no meu boletim que minha auto-estima ia às alturas. O ano passado foi o segundo dos 'break times', me dediquei mais a música e literatura e tirei algumas notas baixas (minhas médias finais de Física, Biologia, Matemática e Química ficaram todas entre 83 e 87, bem abaixo do resto). E 2007 é o retorno do 'esforço'.
So, let's go for it. Mais um ano e eu já estarei na faculdade.


P.S.1: Minhas aulas voltam dia 23.
P.S.2.: Simple Plan tocou ontem no BBB7. Mais uma meleca dessas e eu vou retirar o que disse no post passado, elogiando a soundtrack do programa.
P.S.3: Postando do PC da casa de um amigo.

15 janeiro 2007

Big Brother is watching you...

Jamais pensei que diria isso, mas até que gostei do novo BBB.
Nunca fui muito interessado em reality shows, e dos seis Big Brothers anteriores, os únicos dos quais eu gostei foram o segundo (por causa de figuraças como Tina, Cida e Thyrso) e o terceiro (eu torcia pra 'máfia' liderada pelo Jean Massumi). Quanto aos outros, achei patéticos - o primeiro tinha babacas como o Kleber Bambam e a Leka, o quarto foi completamente inexpressivo, o quinto tinha aquele maniqueísmo patético a favor do Jean e da Grazi e o sexto eu ignorei, não havia nenhum participante que se destacasse.
Essa sétima edição, surpreendentemente, me agradou um pouco, pelo menos nesses primeiros dias. Motivos?
1. As mudanças na fórmula do programa, sendo que algumas delas lembram um pouco a Casa dos Artistas 2. A Globo, no entanto, não se arriscará tanto quanto como Silvio Santos, que de tanto mexer na Casa 2, perdeu grande parte da audiência. Além disso, a "Vênus Platinada", consciente de que tem carta branca pra fazer o que quiser com o programa (já que a audiência será elevada de qualquer jeito) foi menos conservadora e reciclou a fórmula.
2. Trilha sonora muito boa - fui ver no sábado e no domingo, e tocaram boas músicas, incluindo duas do Prodigy (Smack My Bitch Up e Breathe). Isso é um bom sinal!
3. Participantes mais bem selecionados - nada de pobretões ou coroas, ufa! O fato de só haver jovens adultos / pós-adolescentes é favorável para coisas que tornam o programa melhor, como festas mais animadas, mais homogeneidade entre os participantes, mais palhaçadas (nada como se divertir com a burrice alheia), garotas bonitas-bêbadas-liberais (yay! A Fani já tem a minha torcida, hehe) e panelinhas mais dissimuladas.
4. Ah, e as garotas bonitas-bêbadas-liberais estão em quantidade maciça, o que significa material de sobra para umas certas duas revistas para os próximos meses.
5. Cansei de assistir Pokémon às 22h! Prefiro me render à Globo do que ouvir aquela terrível música-tema (cadê os bons cantores que haviam nas primeiras temporadas?) dessa fase Advanced dos monstrinhos de bolso! Se bem que a luta do Kyogre contra o Groudon e o Pikachu possuído até compensaram o 'esforço'...
[Postando do PC do trabalho da minha mãe]

13 janeiro 2007

Free as a bird (?)

Me lembro de ter dito que a primeira coisa que eu fiz para aproveitar a liberdade (re) adquirida foi escrever no blog (apesar de que, ao que parece, a Greta Garbo não gosta de blogs).
A segunda e a terceira foram produto de um acontecimento inesperado.

Domingo, quando eu fui usar o PC à tarde, notei que ele estava fazendo barulhos mais estranhos que os que costuma fazer (os quais já não são lá muito normais). Percebi que o problema era com o cooler do computador. Pedi para o meu tio dar uma olhada, mas, quando ele, após arrumar, fez o PC revelar outro empecilho, dessa vez no vídeo. Não sei se foi culpa dele ou o se o problema já existia e iria aparecer a qualquer hora, mas, enfim, o estrago estava feito e meu padrasto mandou o PC para um técnico arrumar.
Este, por sua vez, descobriu que a raiz dos problemas não era vídeo nem cooler - a memória do computador estava queimada! Resultado - uma semana sem PC, ele só vai voltar segunda-feira.
Eu poderia ter usado o computador do meu padrasto nesses dias, era só pedir pra ele. Por que eu não pedi, então (ou então não fui em uma LAN House, ou coisa do tipo)?
Muito simples - resolvi tirar umas férias da máquina. Uma semana de liberdade era o que eu precisava.

Claro que eu tive que preencher bastante o meu tempo livre, afinal, eu passava 13 ou 14 horas diárias na internet nessas férias. Fiz algumas atividades banais, como assistir à TV (deu pra ver várias séries que eu adoro, como The O.C. - que, infelizmente, vai acabar após a 4ª temporada - , Friends, Seinfeld, That '70s Show e Dawson's Creek), jogar videogame (aproveitando-me do fato de que meu irmão ganhou um PS2 de Natal... se bem que eu continuo medíocre nos games, sou um fiasco no DBZ Budokai 3, nos Need for Speed, no CDZ e em qualquer outro jogo que não seja Pokémon, hehe), dar voltas no quintal e falar sozinho (deu pra 'discursar' sobre várias coisas, como bandas de rock imaginárias e seriados televisivos imaginários), comer muito chocolate, dormir (nossa, há tempos que eu não dormia 10 horas diárias! Imploro pela volta às aulas, quero manter a média de 6 horas!) e descobrir que eu tenho um pouco de miopia e é recomendado que eu use óculos (o que, obviamente, eu não vou fazer, já que acho minha visão muito boa; provavelmente só usarei os óculos daqui a 1 ano, quando for tirar carteira de motorista, e eles voltarão para o fundo da gaveta).
Há outras duas coisas que eu fiz que, pelo menos na minha concepção, são duas expressões simples e eficientes da liberdade - ler e filosofar.
Adotei a "filosofia de meia-noite": reflito sobre a vida e tudo que tange a ela por pelo menos 30 minutos antes de dormir. O silêncio e a escuridão foram dois fatores que facilitaram bastante isso. Se eu estivesse usando o PC, não teria tempo para isso, até porque, nesse horário, eu estaria batendo papo com alguém no MSN ou lendo algum blog ou site. Essa prática foi bem útil, já que me sinto mais tranqüilo e pronto para o ano letivo que terei em breve. Até senti vontade de estudar um pouco de Física e Biologia!
Quanto às leituras, já concluí duas - Pornopolítica (Jabor) e Uivo (Ginsberg). Adorei ambas as obras, mas acho que, por enquanto não vou comentar sobre elas, estou meio sem vontade de fazer minhas costumeiras 'resenhas'. Em breve, quem sabe. Já estou lendo o terceiro - Vagabundos Iluminados, do Jack Kerouac. Comprei esse livro há 8 meses, mas fui lendo ele de maneira, digamos, cadenciada. Ontem, no entanto, finalmente me empolguei com o livro. Deve ser aquela coisa de "a leitura certa na hora certa"... pelo menos com os outros 3 escritos dele que eu li foi assim.

Bem, após mais um post bem egocêntrico, acho que é hora de eu me despedir dos meus leitores (alguém?). Estou escrevendo justamente do PC do meu padrasto, aproveitando-me do fato de que ele me perguntou se eu não queria usar. Percebi que estou com menos saudades da máquina do que eu esperava, o que é excelente. Antes de escrever pro blog, aproveitei pra fazer algumas coisas, como checar relatórios de vendas de games (Wii x Xbox 360, a guerra já começou! A Sony ainda vai comer poeira por algum tempo pela excentricidade que é o PS3), orkut, e-mail e Last.FM.
Não prometo posts para os próximos 3 dias, mas quem sabe eu mude de idéia. Achei alguns textos meus enquanto arrumava meu armário, talvez eu passe algum a limpo aqui no blog. See ya.

06 janeiro 2007

Duas distopias, duas visões diferentes

"1984" e "Admirável Mundo Novo" são dois livros tão fascinantes que apresentam dois pontos de vista que partem da mesma premissa (um futuro sombrio e desumanizado), mas com direcionamentos diferentes.

Winston Smith, protagonista da 0bra-prima de Orwell, é o típico direitista: sexualmente ambíguo, contra-revolucionário, entediado e odeia profundamente o Estado, apesar de trabalhar para ele.
Já Bernard Marx, um dos personagens principais do livro de Aldous Huxley, representa um 'padrão' de esquerdista: rebelde, perseguido político, paranóico, se sente deslocado e tem medo do 'diferente' (no caso, o selvagem), apesar do discurso "Eu quero mudar o mundo".

A organização política apresentada em ambos os livros também aponta dois caminhos que a humanidade poderia alcançar caso as previsões mais pessimistas dos anos 30 e 40 se confirmassem.
O aparelho estatal do "Admirável Mundo Novo" parece mais com um capitalismo tecnocrático e que usa a ciência e a tecnologia como mecanismos de dominação, por meios até questionáveis (eugenia e desigualdade social e étnica), mas nem por isso menos eficientes. Também se utiliza a idéia da 'liberdade aparente' - sexo e drogas são liberados e até estimulados, pois diminuem o questionamento político e a mobilização.
Já o Estado de "1984" é descaradamente autoritário (mas é tudo "em nome da Revolução"), manipula o passado (tipo o que o Stálin fez na URSS), cria uma igualdade social que nivela por baixo (inclusive com aquele conceito de ração) e utiliza o terror como forma de despolitizar as massas. "Você será vigiado 24 horas por dia; uma pisada na bola e você não viverá para dar uma segunda". Seria o socialismo se ele tivesse 'vencido' a Guerra Fria.

Claro que os dois futuros criados nessas obras, em parte, se concretizaram. Os meios de comunicação se voltaram contra nós, restringindo nossa liberdade. Os Estados se burocratizaram, e a democracia não é mais do que uma fachada para a inércia política, não passando de uma mentira agradável que nos conforta.
As drogas também são uma alienação voluntária, apesar de aparentemente muitas delas serem ilegais, mas, ei, o cigarro e o álcool também são drogas, e apesar dos efeitos danosos que causam à saúde mental e física, são consumidos vorazmente pela grande maioria das pessoas.
A liberdade sexual foi uma grande conquista, embora, em contrapartida, a situação tenha saído do controle e o que vemos são várias DSTs se espalhando e jovens e adultos niilistas e sem expectativas de um futuro melhor se entregando totalmente à luxúria. Morrissey já falava disso em "Pretty Girls Make Graves" ("Give in to lust, give up to lust, oh Heaven knows we'll soon be dust").
Aliás, vou me resumir a isso, se eu fosse apresentar todos os problemas que a humanidade 'adquiriu' nas últimas 6 décadas, faria um ensaio gigantesco.

Óbvio que nem tudo é motivo para pessimismo. O individualismo nunca esteve tão em alta (cada vez mais o ser humano tem a capacidade de moldar a sua vida sem ser atrapalhado por 'forças externas'); o acesso às artes aumentou consideravelmente (música e literatura deixaram de ser uma coisa elitista e se popularizaram); a conscientização de boa parte das pessoas vai, paulatinamente, combatendo os problemas sociais do mundo (ONGs, protestos pacíficos, 'private charity' e pequenas atitudes, mas que fazem a diferença); acabaram as dicotomias e maniqueísmos ideológicos (felizmente se deu um espaço para o relativismo, fomos para além do Bem e do Mal); somos politicamente menos conformistas (no Brasil, a passos menos largos, mas já com algum progresso em relação a épocas passadas)... são coisas aparentemente tolas, mas importantes. Eu não pensaria duas vezes e preferiria o mundo de 2007 do que o de, por exemplo, 1957.

Devo fazer agora uma conclusão? Talvez. O tema que eu abordei nesse texto é assaz clichê, mas eu creio que é relevante. Agora seria uma hora perfeita para eu fazer uma comparação musical ou com videogames, mas, sei lá, seria muito óbvio usar chavões como "já passamos pelos tempos da Joy Division, agora devemos encarar a New Order" ou "o mundo espera por uma Fantasia Final, e serão indivíduos que o mudarão". Ah, eu também poderia ser anfisista e dizer "Não são idéias ou pessoas que poderão melhorar as coisas, mas sim idéias e pessoas para executá-las".
Quer saber? Tirem vocês as suas próprias conclusões. Eu fiz a minha exposição argumentativa, prolixa como sempre, mas espero ter conseguido fugir do niilismo e do trágico. "There IS other way".

05 janeiro 2007

Boring stuff

Livros que eu me obrigo a terminar de ler até dia 22 (último dia das minhas férias):
- Uivo (Allen Ginsberg)
- Nove Noites (Bernardo Carvalho)
- Pornopolítica (Arnaldo Jabor)

Coisa mais ociosa que ando fazendo:
- Teclar no bate-papo do UOL. Achar garotas legais por lá é difícil, mas não impossível. E eu trabalho essa possibilidade, hehe.

Segunda coisa mais ociosa que ando fazendo:
- Lendo sites de videogames diariamente atrás de novos relatórios de vendas dos consoles da nova geração, especialmente dois especializados nisso - o Nexgenwars e o Videogame Charts. Eu sempre fui mais parcial à Nintendo, portanto, GO, WII, GO!

03 janeiro 2007

I hope, I think, I know

A egomania é realmente a responsável pela minha liberdade. Hoje mesmo foi um dos dias em que eu tive uma daquelas 'epifanias'.

Wake up. 14h30. Sala de cinema. O filme "Cassino Royale" vai começar em alguns instantes. Será que é realmente bom? A sessão está bem vazia, não há mais de 15 pessoas por aqui. Oba, posso sentar na fila central e ocupar três cadeiras, uma pros meus pés, outra pra minha bolsa/mochila e pra pipoca e outra para mim e a Coca-Cola (em copo de 1L! Uau, adorei essa 'novidade').

Wake up. 17h10. Acabou o filme. Eu adorei. Inteligente, vibrante, divertido. Tudo que se poderia esperar de uma película da franquia 007, mas que já não se via há um bom tempo. "Cassino Royale" é o melhor desde o genial "Goldeneye 007". Daniel Craig, o novo Bond, se encaixou perfeitamente com o papel, livrando o filme daquele excesso de, digamos, 'cafonice' que havia no papel nos tempos de Pierce Brosnan. Vários motivos me levaram a considerar o filme muito bom - o bom enredo do livro no qual foi baseado (o homônimo de Ian Fleming), as boas atuações, as ótimas cenas de ação, os diálogos sensacionais (é até difícil escolher o melhor, mas voto no entre Bond e Vesper no avião) e também porque quem assiste a um filme d0 007 não espera enredos verossímeis (e se espera, é no mínimo um idiota).

Wake up. 17h30. Comprei um CD do Oasis, "Be Here Now". É o melhor disco do conjunto, sem dúvidas. O mais egocêntrico, longo, psicodélico e pretensioso dos álbuns da banda, recheado de ótimas canções como "D'You Know What I Mean", "Stand By Me", "Fade In-Out", "All Around The World" e "It's Gettin' Better (Man!!)".
Também comprei o livro "Uivo", do Allen Ginsberg, um dos mais importantes dos beatniks. Só de ler as primeiras páginas já notei que é uma obra fantástica, com todos aqueles pensamentos torrenciais, espontaneidade e frases longas e contagiantes que são típicas dessa cena literária.
Música e literatura são duas das minhas maiores paixões; ah, nada como comprar um CD e um livro dos quais eu tenho plena consciência de que eu vou adorar. E escrever a respeito deles, hehe.

Wake up. 18h30. Vou até o quintal e vejo a chuva torrencial (adoro repetir um adjetivo usando-o para outro substantivo, hehe). De alguma maneira, sinto-me livre. Depois vou até o banheiro e olho-me no espelho e começo a falar com meu reflexo. Sim, eu me adoro. Me adoro tanto que preciso tentar ser um pouco triste para continuar me amando. Fazer posts como o passado são sempre necessários. Preciso dar toques de existencialismo na minha vida para me reencontrar.
Quando se está feliz, tenta-se usufruir de alguns momentos da tristeza para voltar à felicidade, só que com ela mais aguçada ainda. Lênin, ao se referir à NEP, disse que daria um passo para trás para dar dois para a frente (acabou nem dando esses passos, pois, depois de sua morte, Stálin quebrou as pernas da URSS). Eu fiz mais ou menos a mesma coisa nos últimos 3 dias. Abalei minha auto-estima para fortalecê-la.
Claro que eu continuo o mesmo - não me acho nem um pouco atraente para as fêmeas (não duvido que elas me acham meio afeminado e estranho, e com toda a razão, hehe), mas paciência. Enquanto ninguém me ama, eu me encarrego de fazer isso. E eu sei me amar como nenhuma garota até hoje o soube. E torço para que, qualquer dia desses, alguma o saiba.

Wake up. 19h30. Estou escrevendo o post que iniciei há pouco mais de meia hora. E continuo com essa alma libertária que readquiri em 3 de Janeiro de 2007. Agora quero saber o que fazer com essa liberdade que está em minhas mãos. Já fiz a primeira coisa que poderia fazer para aproveitá-la: escrever.
Claro que isso é apenas o início. Ainda há todo um caminho que eu poderei trilhar com essa liberdade reconquistada, e vou ir pensando nos próximos dias sobre como fazê-lo. Matéria e alma se uniram nesse processo. Eu precisei assistir a um bom filme, (começar a) ler um bom livro, ouvir boa música, tomar um bom milk shake (ah, não tinha falado antes, mas o chocolate também foi útil, hehe) e olhar para uma boa chuva para voltar a me encontrar. I feel fine.

01 janeiro 2007

The only mistake

Cara, solidão é algo muito legal, mas às vezes incomoda. Ontem (aliás, hoje, porque foi depois da meia-noite), quando eu fui dormir lá pelas 4h (excesso de Coca-Cola dá nisso, hehe), fiquei meio chateado com alguns pensamentos pré-sono, do tipo "nossa, dançar 'Smack My Bitch Up' e 'Do You Want To' a dois seria muito mais bacana", "que saco, por que não existe uma garota na minha vida?" e/ou "A situação não vai mudar nem na faculdade, corro o risco de virar um freak solitário que se tornará obcecado pelos estudos, terá as melhores oratória e retórica, tirará notas altas, aprenderá muito sobre política e filosofia, mas sempre 'on my own'".

Minha discotecagem foi um sucesso, obviamente. A print screen fala por mim (ah, ignorem a falta de espaço entre alright e don't stop, tropeço que eu corriji no nick quando notei pela foto).

Eu dancei sem parar por uma hora inteira. Tive até que abaixar o som após ordem da minha mãe, de tão barulhento que estava. Fiquei suado e completamente moído após a discotheque, mas ainda sem sono.
Depois fiquei usando o PC por mais três horas, mas comecei a ter alguns devaneios como os citados no primeiro parágrafo.
Ah, estou meio que com trava pra exprimir em palavras. Vou tentar ao decorrer desse post.

É ruim quando você chega ao ponto de não ter conversas produtivas com nenhum dos seus contatos do MSN, e não é por culpa deles, mas por sua mesmo - você se entedia com tudo. Se algum (a) amigo (a) meu me dissesse algo teoricamente chocante nos últimos dias, minha provável reação seria um "Ah" ou um "Ok", ou mesmo um "Ah, ok". A vida de todos eles é bem mais complexa com a minha, e isso me deixa desinteressado por eles.
Ter uma vida pouco intensa tem a vantagem de poder se aproveitar todas as 'nuances e texturas'. Só que isso se converte em desvantagem quando eu noto que estar lúcido a cada instante me faz ter uma sensação de isolamento, porque ninguém mais está fazendo isso. Todo mundo que eu conheço está passando o Reveillon com seus amigos, ou com seus familiares. E eu estou no meu quarto.

Não que eu esteja magoado com esse contexto, mas sim apenas menos satisfeito do que poderia estar. A sensação de 'eu sou diferente, e as pessoas não gostam quando eu digo isso porque não gostam dos diferentes' é inevitável. Não estou querendo posar de rebeldinho, até porque eu não sou um nem um pouco, mas é fato: é muito raro achar outro (s) Kaio (s) por aí. Tanto que eu nunca encontrei até hoje uma garota que fosse compatível comigo. E provavelmente ainda vai demorar muito pra encontrar uma, porque a palavra 'reciprocidade' não existe na minha vida. Eu posso amar com todas as minhas forças alguém (já fiz isso 3 vezes), mas isso nunca vai sensibilizar ninguém. No máximo, a pessoa vai achar que é apenas uma forma nova de eu expressar um ideal de amor que não dá certo com a realidade.

É, talvez seja esse o meu problema-mór. Eu sou idealista demais. Eu sou estúpido o suficiente para achar que existem garotas realmente cool. Não perfeitas, até porque eu não estou falando em perfeição, mas sim 'reciprocidade'.
Algo do tipo:
- Oh, I think that you are very cool. I really like you.
- I like you too! You're awesome!

Póim. Se toca, Kaio. Faça um bullying consigo mesmo (até porque você nunca foi vítima de bullying, infelizmente, pois se você sofresse preconceito ou fosse humilhado por alguém você talvez fosse um pouco menos sonso) e encare o mundo - quem se interessaria por você? A maioria das meninas prefere cafajestes vulgares. Algumas gostam daqueles que gostam de magoá-las e traí-las. Existem até as pseudo-Cinderelas, que caem de amores pelos bad boys. E as 'descoladas', que curtem os indiezinhos (ou mesmo eminhos) estilosos. Ou mesmo as porra-loucas, que gostam dos caras hedonistas. Não poderíamos nos esquecer das que preferem garotos mais velhos. Ah, já falei de uma grande parcela delas que só leva em conta aparência e $?
E as que gostam de um sujeito (segundo o profile dele) "Assumidamente pseudointelectual, prolixo, arrogante, chato e metido a cult, denso e vanguardista" e "um pouco cínico, paranóico, esquisito e irritante, mas com quem goste de conversar, é até sociável"? Alguém?
Não.
A "girl of your dreams" é a definição perfeita. Só existe nos seus sonhos, ela jamais existirá no mundo real.

Eu tenho algumas opções daqui pra frente:
1. Ser normal e namorar com uma qualquer, com a qual eu teria um relacionamento curto e inexpressivo.
2. Ser normal e começar a sair mais, e beijar e ficar com alguma descartável em alguma balada.
3. Ser normal e usar drogas para ter prazer pela dor, e fugir da realidade.
4. Ser normal e começar a tomar bebidas alcoólicas, visando a ser uma pessoa sociável que encontre nos amigos a 'verdadeira felicidade', e também pra ser um "cara legal".
5. Ser Kaio e continuar insistindo no seu idealismo bobo.

What's your choice?

Escolho, sem dúvidas, a quinta opção. Quero perder essa batalha de cabeça erguida. Vou chegar aos 90 anos sozinho e dizer "Você não abandonou seus ideais pra se adequar à pretensa 'sociedade', e isso é motivo de orgulho. Você não lutou a luta dos outros, mas sim a sua".
Parafraseando e mudando uma palavrinha da letra de "Married with children", do Oasis - "And it will be nice to be alone for a LIFE or two..."